A Música

por: João Kattwinkel [1]

De todas as artes criadas para o recreio do espírito, nenhuma satisfaz mais cabalmente a esse fim, nenhuma tem poder tão suggestivo e exerce influencia tão absoluta sobre a alma e a imaginação, como a musica.

Não se lhe póde, no entanto, estabelecer com segurança a origem. Os historiadores divergem quanto a sua proveniência, a qual deve jazer na mais remota antiquidade.

Afirma um jesuíta que a musica começara a estabelecer-se no Egypto logo depois do diluvio, concebendo-se a primeira ideia do som pelo ruido atraves dos canaviaes que cresciam ás margens do Nilo. Pretende outro historiador que a musica tenha sua origem no canto das aves, e querem outros que ella tenha surgido da própria natureza.

Os princípios da musica, porém, encontram-se ainda hoje envolvidos nas mais densas trevas. O que está demonstrado, no entanto, é que as Indias, o Egypto, a Assyria, a Pérsia e a China, já na sua antiga cultura, muito anterior ao periodo grego, possuíam arte musical desenvolvida. Isso se avalia pelos baixos relevos, pinturas e afrescos, e alguns papyros que se admiram nos museus, os quaes testemunham o uso que os antigos povos orientaes faziam dos instrumentos de corda, vento e percussão, desde os mais simples até os mais complicados. Nada se sabe, porém, da maneira como delles se serviam, e até falta em absoluto a prova de que os povos do Oriente tivessem escripta musical.

Nos templos, as vozes angelicais dos crentes, unindo-se ao som majestoso do organ ou do piano, desprendem a alma da terra e a fazem pairar nas regiões serenas da paz e da felicidade eternas.

A musica tem grande poder sobre homens e animaes. Já se viram alguns destes esquecerem sua ferocidade natural, submissos ao irresistivel poder desta arte magica.

A boa e verdadeira musica exerce tenta e tão proveitosa influencia para determinar o caracter de um povo como qualquer outro elemento. O jazz, e os sons de sua especie, porém, exercem a influencia mais corrupta que se possa imaginar porque tanto a melodia, como a letra ajudam a tornar o vicio muitíssimo atraente.

Quantas pessoas infelizes, a ponto de desesperar, não se teem sentido confortadas por um hymno cantado, e quantas não teem sentido renascer no coração a esperança e a inspiração expressas pela letra de um cântico! A musica comove-nos a alma, faz-nos sentir bem.

Muitas vezes, nos momentos mais dolorosos e crueis da vida, a musica, enxendo-nos o coração de suavissimas ondas de harmonia, é como que um balsamo consolador para nossa magua.

Tem ela também o mágico poder de nos inspirar sentimentos nobres. Todos se deliciam com seus encantos: a inocente criança em seu alvo bercinho adormece docemente embalada pelo canto materno. O operario ao entregar-se ao seu trabalhoso officio, entoa a popular modinha ou a ária aprendida nos dias da infância, e menos duro e afanoso lhe parece o labor. As mais esplendidas festas, os salões mais ricamente ornados, perderiam grande parte de seus attractivos, se a musica não viesse dar-lhes realce.

Cada povo tem seu hymno nacional, que entoa, jubiloso, em suas alegrias e triumphos, e cujas modulações harmoniosas fazem palpitar o coração.

Todos os grandes hymnos, toda musica suave, sahiu das profundezas da provada alma humana. Os mais elevados espiritos do todos os seculos teem falado das profundidades e das alturas de suas humanas emoções.

“A musica é o eterno amigo da saudade”. “Assim como a rosa é a rainha das flores; a musica é a rainha do sentimento”. “Os pensamentos exprimem-se pelas palavras, e os sentimentos, pela musica”. A flor mais bella… Murcha, o odor do cravo se desvanece com o tempo, porém a musica nunca morre!

Por isso, jovens deveis começar na juventude a louvar o Senhor com um instrumento.

Por isso, queridos leitores, vamos louvar o Senhor, com nossa voz e tambem com nossos instrumentos, a fim de usar o dom que Deus nos tenha dado.


Notas:

[1] Agradecemos à Loide Simon por esta contribuição ao Música Sacra e Adoração. Algumas palavras deste texto parecerão aos leitores como incorretas, mas isto é uma ilusão, pois o texto foi escrito em 1936, antes de inúmeras mudanças gramaticais e lexicais empreendidas na língua portuguesa. Partes deste artigo as quais eram muito específicas ao contexto da Igreja Adventista do Sétimo Dia no período no qual foi escrito, foram retiradas.


Fonte: Revista Adventista, Outubro de 1936, p. 07 e 08.