A Música na Adoração – Parte 2b

por: Adrian Ebens

Fontes Para um Modelo Cristão de Música na Adoração – A Razão

Um dos muitos legados deixados ao cristianismo por João Wesley é o seu modelo para a determinação de uma correta teologia. Conhecido como “Quadrilátero Wesleyano”, este modelo sugere quatro fontes para o desenvolvimento de uma teologia cristã. Eles são: As Escrituras (a Bíblia, dentro de uma exegese apropriada), A Razão (as descobertas da ciência e do raciocínio humano), A Experiência (encontros individuais e coletivos com a vida) e A Tradição (os ensinamentos da igreja através da história). (16) Estas quatro fontes sugerem uma base apropriada para o desenvolvimento de um modelo cristão para a música na adoração.

As Descobertas da Ciência e do Raciocínio Humano

As descobertas da ciência no contexto musical estão relacionadas ao estudo dos efeitos da música sobre a mente e o corpo. Por que estudarmos os efeitos da música sobre as pessoas? Lloyd Leno sugere que tal estudo deveria formar a base de uma filosofia de música. (42) Stefani sugere duas razões para isso: 1) Fornece uma base mais objetiva para discussão. 2) Remove a arbitrariedade de padrões e fornece um padrão que é relevante para todos os indivíduos, porque aparentemente a música afeta todas as pessoas… de uma forma semelhante. (43) Em segundo lugar, dentro desta seção queremos examinar o raciocínio humano em relação à música. Os gregos tinham muito a dizer sobre música (especialmente Platão e Aristóteles) e nos fornecem uma excelente fonte para o nosso estudo.

Os Gregos e a Música

A moralidade e a música, na cultura grega, estavam inseparavelmente conectadas através da sua doutrina do ethos. (44) No pensamento grego, as mesmas leis que governam o mundo físico também governavam a área mental. Em termos musicais isto significava que um compositor que trabalhasse dentro destas leis estava construindo uma sociedade com elevados valores morais. A quebra destas leis atacava o próprio fundamento da sociedade, ou a sua espinha dorsal moral. A doutrina do ethos mantinha a convicção de que a música afeta o caráter e que diferentes tipos de música o afetam de maneiras diversas. (45) Uma revolução musical aconteceu na Grécia (veja nota 45) a qual preocupou a Platão e a Aristóteles com respeito ao declínio de sua cultura. Platão foi a ponto de colocar a música em uma ordem de importância superior ao das leis públicas.

“Para falar brevemente, a isto os guardiões do estado devem opor-se, para que não possa, esquivando-se de sua atenção, ferir a constituição… pois receber um novo tipo de música é guardar-se contra ela, como que colocando em perigo toda a constituição.” (46)

Platão também é relatado como tendo dito: “Deixem-me compor os cânticos de uma nação e não me preocuparei com quem faça as suas leis.” Walter Dinsdale, um membro do parlamento Canadense sugere que “a música é a melhor maneira de determinar a saúde espiritual de uma nação. Se temos música doente, talvez seja porque vivemos em uma sociedade doente.” Ao comentar a afirmação de Platão, Dinsdale afirmou:

“Este é um adágio difícil para os legisladores engolirem, porque ele fala, efetivamente, que os músicos da nação, os compositores da nação tem uma influência mais poderosa em moldar a vida de seus dias e de sua geração do que os políticos e legisladores. Isto é verdade, a partir de uma perspectiva histórica, assim como de uma perspectiva contemporânea.” (47)

Platão e Aristóteles foram incapazes de deter a tendência declinante que resultou na derrocada do Império Grego. Embora não aprovemos completamente a metodologia de Platão e Aristóteles no seu trato com a música, a sua experiência nos confronta mais uma vez com os efeitos positivos e/ou negativos da música sobre o comportamento humano. (48)

A Pesquisa Científica

Música como Terapia

A música tem sido usada como terapia por longo tempo. Lemos na Bíblia como Davi tocava música para acalmar o Rei Saul. (49) A terapia musical foi usada para tratara melancolia de Felipe V da Espanha e George III da Inglaterra. (50) A musicoterapia tornou-se hoje mais cientificamente orientada do que nunca antes. Dolan definiu a musicoterapia moderna como uma “aplicação científica da música por um terapeuta, o qual busca alterações específicas no comportamento dos indivíduos.” (51) A musicoterapia tem uma ampla gama de programas para os idosos, surdos, retardados mentais, paralíticos cerebrais, cegos, perturbados emocionalmente, culturalmente excluídos, com problemas de fala, deficientes físicos e pessoas com dificuldades de aprendizado. Um ramo de estudos da Musicoterapia chamado de Cinesiologia Comportamental revela o fato de que a música pode afetar os níveis de energia no corpo. John Diamond, em seus estudos, descobriu que certas formas de música rock e música de arte moderna causam notável enfraquecimento na energia corporal. (52) Uma característica comum desta música é o ritmo anapéstico (da da DA). Este ritmo seria aparentemente contrário ao ritmo fisiológico normal do corpo. (53) Além do enfraquecimento causado por este tipo de música rock, Diamond descobriu um fenômeno que ele chamou de alteração, onde a simetria entre os dois hemisférios cerebrais era perdida. (54) Parece que para manter um senso de bem-estar e integração, é essencial que as pessoas não sejam sujeitas em demasia a quaisquer ritmos que não estejam de acordo com seus próprios ritmos corporais naturais. (55)

Sêntico

O termo Sêntico, cunhado por Manfred Clynes explorou o relacionamento entre a música e a comunicação das emoções humanas. Clynes descobriu que cada expressão dinâmica de emoção humana (alegria, ira, ódio, tristeza) é governada por um programa ou algoritmo cerebral específico para cada estado, chamados de formas essênticas. A música tem a capacidade de imitar estes algoritmos e, portanto, transmitir a emoção e falar sobre a emoção de maneiras precisas. (56) Desta forma, um bom músico pode comunicar emoções a seus ouvintes. Seria, portanto, possível comunicar uma filosofia ou uma cosmovisão? Sim. Wolterstorff afirma claramente que sempre existe um mundo por detrás da obra. (57) Rookmaaker concorda afirmando que “Às vezes até o nosso estilo de vida é formado ou influenciado pelos artistas.” (58)

Resumo

Há muito mais que poderia ser dito a respeito dos efeitos da música sobre as pessoas e seu poder e capacidade para influenciar o comportamento e afetar nossa capacidade de tomada de decisões, mas o espaço não permite. (59) Do material apresentado até aqui emerge o conceito de que as pessoas podem ser positiva ou negativamente afetadas pela música. A utilização da música em terapia nos dá evidências de sua capacidade para modificar o comportamento. Estudos mostram que certas formas de música rock podem enfraquecer os níveis de energia corporal e causar alterações hemisféricas no cérebro. O efeito destas “alterações” causa vários efeitos negativos no organismo humano. A música tem a capacidade de imitar as formas algorítmicas humanas de emoção e assim as emoções podem ser comunicadas através da música. É possível até mesmo comunicar a cosmovisão de uma pessoa ou a sua filosofia através da música. Tais observações sugerem que a música pode ter um impacto sobre o caráter (60) de uma pessoa, o que está em consonância com a doutrina grega do ethos. Tais descobertas reafirmam a necessidade de uma crítica e também identificam certas formas musicais que são não apenas impróprias, mas destrutivas ao desenvolvimento cristão.


Próxima parte: Fontes Para um Modelo Cristão de Música na Adoração – A Tradição – A Prática Histórica da Igreja