Dominante Substituta

por: Fábio Cavalcante

1. O trítono

O acorde de dominante com sétima é aquele que melhor define a tonalidade. Auditivamente, ele cria a tensão tão característica do sistema tonal. Um G7, por exemplo, é naturalmente resolvido em Dó Maior ou menor.

Neste acorde é o intervalo de três tons – o trítono – o responsável pela tensão criada e é ele que tende para a tônica. O trítono é o mesmo que a quinta diminuta ou a quarta aumentada. Ele divide a oitava em duas partes iguais e a sua inversão possui a mesma distância intervalar.

Qualquer outro intervalo deste acorde sozinho não surte o efeito de atração que o trítono tem. Se ele for usado isolado, mesmo assim a vontade de se resolver vai persistir.

O trítono define tão bem a tonalidade porque cada intervalo desse só pode ser encontrado em uma armadura de clave. Vou pegar inicialmente o trítono visto acima: fá-si. Ele afirma muito bem o tom pois mesmo nas tonalidades vizinhas não poderá mais ser encontrado. Se seguirmos o ciclo de quintas ascendentes, a primeira alteração será o fá sustenizado. Se for o ciclo de quintas descendentes, será o si bemolizado. O intervalo si-fá portanto, não pode ser encontrado em nenhuma outra armadura, já que todas as demais terão ou o Fá# ou o Sib.

Este trítono característico de cada tom que se encontra em todas as dominantes é constituído sempre pelo quarto grau da escala e pela sensível. No caso, fá é quarto grau de dó e si, sensível. Além disso, este intervalo é característico tanto no modo maior quanto no menor. Si-fá tem tendência resolutiva tanto em dó-mi quanto em dó-mi bemol. Lembre que no modo menor o sétimo grau é elevado para que a tensão resolutiva (que caracteriza o sistema tonal) seja criada.

Outros exemplos: Em lá: O trítono ré-sol#. Ré: quarto grau. Sol#: Sensível. No acorde de dominante com sétima deste tom – E7 – sol# é a terça e ré a sétima. Assim como em dó maior si era a terça e fá a sétima do acorde de dominante com sétima – G7.

Em Sib: O trítono Mib-lá é encontrado no acorde de dominante com sétima deste tom – Fá.

OBS: Nesses exemplos – em lá e em Sib – eu coloquei a armadura de clave referente ao modo maior de cada tom. Você deve ter em mente que se a armadura for do modo menor, nada vai mudar na constituição do acorde de dominante com sétima e no posicionamento do trítono. E7 é dominante de Lá menor e F7 é dominante de Si bemol menor também.

2. Uma segunda dominante.

A dominante substituta é assim chamada pois é um acorde que, apesar de não ser aquele construído sobre o quinto grau da escala, têm as duas principais características da dominante:

  1. É maior com sétima e
  2. Possui o trítono referente ao tom.

Para melhor visualização, vou usar o tom de Dó pois não tem nenhum acidente de clave.

Em dó, o trítono característico é o si-fá. Fá é quarto grau e si é a sensível. No acorde de G7 – a dominante com sétima – ele está presente: terça e sétima, respectivamente. Este trítono que marca tão bem o tom de dó, pode ser também encontrado no acorde maior com sétima construído sobre o segundo grau rebaixado, no caso; ré bemol. Este é um acorde cromático.

O trítono que pede a resolução no tom de dó continua lá. Ele agora está encaixado em outro acorde e a necessidade de resolução continua, ainda que não tão forte quanto no acorde de dominante tradicional. Compare o posicionamento e a resolução do trítono nas imagens abaixo.

Este padrão que foi usado em dó serve, claro, para todas as tonalidades. Ou seja, em qualquer tom, o acorde maior com sétima sobre o segundo grau rebaixado pode ser usado como dominante substituta. Este acorde vai sempre ter o trítono característico do tom, e neste caso, o quarto grau da escala vai ser a terça do acorde, e a sensível será a sétima do acorde – ao contrário da dominante tradicional onde essas posições estão invertidas (sensível como terça do acorde e a quarta da escala como sétima do acorde).

Outro exemplo: Em Lá maior: O segundo grau rebaixado é o Si bemol. A dominante substituta será o acorde maior com sétima construído sobre este grau: Sib7. O trítono (ré-sol#) está lá: ré é a terça do acorde e sol# é enarmônico de lá bemol – sétima de si bemol.

Este trítono é o mesmo que está no acorde com sétima sobre o quinto grau – E7, a dominante tradicional.


Fonte: Publicado originalmente em http://www.fabiocavalcante.hpg.ig.com.br/textos/arquivos/sub_v/dominante_substituta.htm