Superagudos no Sax II
por: Ivan Meyer
Prosseguindo a exposição iniciada no último encarte (Superagudos no Sax I), já estamos na porta para os agudos. Porém, antes de continuarmos, peço que você releia o texto da edição passada, solicitando ao seu professor ajudá-lo na tarefa de entender a afinação real e relativa. Trata-se de uma matéria complexa, até mesmo para saxofonistas mais experientes. Não existe quase nada escrito sobre isso. Vale então a experiência pessoal de cada professor na hora de falar ou ensinar sobre os superagudos e, principalmente, a concentração do saxofonista na hora dos estudos, para que possa perceber as mudanças sutis que ocorrem na embocadura: velocidade do ar, espaço interno na boca e posicionamento da língua dentro da cavidade bucal. Esses fatores geram os harmônicos e consequentemente os superagudos e os supergraves.
Este processo de aprendizado dos harmônicos envolve toda uma parte orgânica: irá mexer com os músculos faciais, o apoio do diafragma, o apoio dos dentes superiores na boquilha e a altura da correia. A correia alta forçará um maior contato entre boquilha e dentes, para que o lábio inferior possa ficar completamente livre e realizar seu trabalho de pressão na palheta, com um maior controle sobre as mudanças no som. O problema em manter a correia baixa é que, além de fazer com que o pescoço dobre, prejudicando o fluxo de ar, ela fecha o ângulo entre boquilha e palheta. Isso devido ao próprio peso do sax, que transfere todo o seu apoio sobre o lábio inferior, atrapalhando todo o trabalho do maxilar sobre a palheta. Isso, nos agudos, é fatal.
Quer um conselho? Levante a correia do sax e você verá que isso facilitará os agudos. Observe os grandes saxofonistas que dominam os superagudos: quase todos usam a correia bem alta.
No inicio de meus estudos, quando falhava uma nota aguda, levantava a correia e ela saia. Hoje, tenho um ponto certo para a correia. Ela fica bem mais alta que a posição de correia que a maioria dos saxofonistas usam. Esse detalhe quase nunca é observado no ensino do sax. Todo o trabalho de graves é feito com a mobilidade do maxilar inferior. Repare nos videos do saxofonista Charlie Parker: acelere a imagem e tera uma surpresa! O mestre parece estar mastigando a boquilha.
Na embocadura do saxofone, o maxilar inferior precisa ter grande mobilidade para tocar os agudos (projeção para frente) e para os graves (projeção para trás). Na projeção para tras, é como se você quisesse encostar o queixo na garganta e o nariz na boquilha, o que chamamos de impostação para graves. Diferente do clarinete, que tem o corpo mais cilindrico e mantém sua embocadura mais estável, o sax ê cônico, causando assim variação na embocadura do instrumento, o que assegura suas caracteristicas sonoras (bem mais variáveis), vibrato e afinação.
Devemos saber que para tocar nos agudos é preciso manter a coluna de ar sem interrupção e dar velocidade ao ar, a fim de gerar os harmônicos.
Muitos músicos interrompem esse processo na hora de fazer o agudo. Vou dar um exemplo para tentarmos visualizar esse procedimento: é como se fôssemos saltar um buraco. Eu venho correndo e, quando chego beira do buraco, tenho a velocidade que irá me impulsionar. Assim, sem hesitar, salto e não caio no buraco. Porém, se eu vier correndo e, ao chegar no buraco, parar, olhar para ele, fechar os olhos em busca de concentração e, com bastante confiança, pular, sera que conseguirei chegar ao outro lado?
Resposta: Não, porque antes tinha um aliado, que era a velocidade com a qual me deslocava. Ao chegar na borda com este impulso, o buraco não era problema. Mas, sem a velocidade, o buraco torna-se um problema, pois não terei impulso suficiente e cairei nele. Isso é grave – ‘”muitos graves”.
Não interrompa o som para fazer o agudo, aproveite o impulso (os harmônicos que já estão no ar) e salte para os agudos.
Espero que este “Dicas e Técnicas” o auxilie a conseguir êxito em seus estudos de agudos.
Para facilitar, preparei uma tabela com as posições que mais utilizo nos agudos.
Atenção: as posições nos agudíssimos para o sax alto e tenor são diferentes. Geralmente, ocorrem entre as posições Fá#, Sol e Sol#, notas de difícil emissão, pois exigem mudanças sutis na embocadura. No inicio, é mais fácil tocar notas mais agudas do que estas mencionadas acima. Agora, é com você.
Ivan Meyer é professor e autor de métodos de ensino de saxofone, além de ser responsável pelo site www.explicasax.com.br
Fonte: Publicado na Revista Weril n.º 122