Educação Musical x Musicoterapia
por: Claudia Drezza Murakami
A educação musical e a musicoterapia não se contradizem, e sim se potencializam e complementam.
Elas estão muito próximas porém com enfoques diferentes, pois na educação musical o enfoque é pedagógico e na Musicoterapia é terapêutico.
A musicoterapia na educação musical pode auxiliar no desenvolvimento psicopedagógico e em dinâmica de grupo em sala de aula.
Mostra Rosa (1990, p.18) que:
Ao longo de toda a história, o conhecimento da música se faz presente no ser humano que, de início, descobre os sons e os ritmos em seu próprio corpo e natureza ao seu redor, depois desenha nas pedras, de forma rudimentar, a presença da música no seu cotidiano e registra nas pedras o uso de instrumentos de percussão, como tambores, e de sopro, como a flauta de bambu.
Ao nascer, a criança entra em contato com o universo sonoro que a cerca, ou seja, com os sons produzidos pelos seres vivos e pelos objetos. Sua relação com a música é imediata, seja por meio do acalanto da mãe e do canto de outras pessoas, seja por meio dos aparelhos sonoros de sua casa. Antes mesmo de nascer, ainda no útero materno, a criança já toma contato com um dos elementos fundamentais da música, o ritmo, por meio das pulsões do coração de sua mãe.
Por isso, a musicoterapia associada á educação musical, forma uma metodologia que permite vivenciar situações concretas que desenvolvam o pensamento e a linguagem musical, sensibilidade, criatividade e auto-conhecimento.
As crianças gostam de acompanhar as músicas com movimentos do corpo, tais como palmas, sapateado, dança, volteios de cabeça, mas, inicialmente, são esses movimentos bilaterais que irão realizar. E é a partir dessa relação entre o gesto e o som que a criança, ouvindo, cantando, imitando, dançando, constrói seu conhecimento sobre a música, percorrendo o mesmo caminho do homem primitivo na exploração e nas descobertas dos sons.
É por isso que os jogos ritmados, próprios dos primeiros anos de vida, devem ser trabalhados e incentivados na escola. Ao musicoterapeuta/ educador, caberá compreender em que medida a música constitui uma possibilidade expressiva privilegiada para a criança, uma vez que atinge diretamente sua sensibilidade. Música é linguagem. Assim, em relação à música, devemos seguir o mesmo processo de desenvolvimento que adotamos quanto à linguagem falada, ou seja, devemos expor à criança a linguagem musical e dialogar com ela sobre a música e por meio dela. O musicoterapeuta/educador, antes de transmitir sua própria cultura musical, deve pesquisar o universo musical a que a criança pertence e encorajar atividades relacionadas com a descoberta e com a criação de novas formas de expressão.
A criança, de certa maneira, reproduz a própria história do desenvolvimento: ela cresce em seu conhecimento da música, descobrindo sons e ritmos, desenhando, experimentando e confeccionando instrumentos. A música pode contribuir bastante para que ela interaja com o mundo e seus semelhantes, expressando seus sentimentos e demonstrando como percebe sua sociedade. “A música é uma linguagem expressiva e as canções são vínculos de emoções e sentimentos e podem fazer com que a criança reconheça nelas seu próprio sentir” (ROSA, 1990, p.19).
Uma aprendizagem e vivência voltada apenas para os aspectos técnicos da música é inútil e, até prejudicial, se ela não despertar o senso musical e não desenvolver a sensibilidade. Diante disso fica claro os benefícios da musicoterapia associada á educação musical.
A música afeta de duas maneiras distintas no corpo do indivíduo: diretamente, com o efeito do som sobre as células e os órgãos, e indiretamente, agindo sobre as emoções, que influenciam numerosos processos corporais provocando a ocorrência de tensões e relaxações em várias partes do corpo. Para GAINZA (1988), a música é um elemento de fundamental importância, pois movimenta, mobiliza e, por isso, contribui para a transformação e o desenvolvimento, ela atinge a motricidade e a sensorialidade por meio do ritmo e do som, e por meio da melodia, atinge a afetividade.
STEFANI (1987), a música afeta as emoções, pois as pessoas vivem mergulhadas em um oceano de sons. Em qualquer lugar e qualquer hora respira-se a música, sem se dar conta disso. A música é ouvida porque faz com que as pessoas sintam algo diferente, se ela proporciona sentimentos, pode-se dizer que tais sentimentos de alegria, melancolia, violência, calma e assim por diante, são experiências da vida que constituem um fator importantíssimo na formação do caráter do indivíduo.
Gainza (1988) afirma que as atividades musicais na escola podem ter objetivos profiláticos, nos seguintes aspectos:
Físico: oferecendo atividades capazes de promover o alívio de tensões devidas a instabilidade emocional e fadiga;
Psíquico: promovendo processos de expressão, comunicação e descarga emocional através do estímulo musical e sonoro;
Mental: proporcionando situações que possam contribuir para estimular e desenvolver o sentido da ordem, harmonia, organização e compreensão.
Os objetivos da Musicoterapia trabalhados na educação musical vão além dos processos de ensino-aprendizagem, aquisição de conhecimentos musicais e padrões estéticos, pois visam também desenvolver a criatividade, estimular a comunicação; Desenvolver auto-conhecimento e Promover socialização;
O Processo e as atividades musicais devem ser de caráter lúdico envolvendo as vivências dos alunos.
Além de contribuir para deixar o ambiente escolar mais alegre, podendo ser usada para proporcionar uma atmosfera mais receptiva à chegada dos alunos, oferecendo um efeito calmante após períodos de atividade física e reduzindo a tensão em momentos de avaliação, a música também pode ser usada como um recurso no aprendizado de diversas disciplinas.
A associação da musicoterapia á educação musical realizadas na escola não visam a formação de músicos, e sim, através da vivência e compreensão da linguagem musical, propiciar a abertura de canais sensoriais, facilitando a expressão de emoções, ampliando a cultura geral e contribuindo para a formação integral do ser.
Algumas das atividades que podemos trabalhar com o grupo: deixar instrumentos musicais à disposição e levar acriança á explorar, expressar e produzir sons variados, possibilitando-a reconhecer, utilizar os sons do silêncio, centrar-se na experimentação e imitação, improvisação livre, composição e interpretação; canto grupal; diálogos sonoros vocais e instrumentais; representação musical, históriae desenhos cantados; percussão e expressão corporal; Memória Musical, Brincadeiras e cantigas de roda jogos de Percepção auditiva exemplo: Que som é esse? Telefone sem fio sonoro, Bingo dos instrumentos, utilizando instrumentosmelódicos, de percussão, o corpo e a voz.
Ao expressar-se musicalmente em atividades que lhe dêem prazer, a criança demonstra seus sentimentos, libera suas emoções, desenvolvendo um sentimento de segurança e auto-realização.
Referências bibliográficas:
GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de Psicopedagogia Musical. 3. ed. São Paulo: Summus, 1988.
Benenzon, Roland O., La Nueva musicoterapia,
Claudia D. Murakami ( [email protected] ) é musicoterapeuta clínica e professora de musicalização para portadores de deficiência