Falando Para “Bom Entendedor”
por: Ministério Luzes da Alvorada
Dois garotos estavam voltando da escola quando um convidou o outro para brincarem em um córrego que passava não muito longe dali.
– Não posso, respondeu o segundo.
– Por que? indaga o primeiro.
– Se eu fizer isso, minha mãe “me mata”. Foi a resposta.
Será que a mãe daquele menino iria, de fato, matá-lo? É claro que não. Creio que todos nós, assim como os meninos, compreendemos bem o significado daquelas palavras.
Observemos o significado da expressão “para sempre” em alguns textos bíblicos:
Êxodo 21: 6: “então seu senhor o levará perante os juízes, e o fará chegar à porta, ou ao umbral da porta, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre.”
I Samuel 1: 22: “Ana, porém, não subiu, pois disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então o levarei, para que apareça perante o SENHOR, e lá fique para sempre.”
Em Filemon 1: 15 o apóstolo Paulo, escrevendo a respeito de Onésimo, servo de Filemon, disse: “Porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o recobrasses para sempre”.
Algum desses textos está afirmando que aquelas pessoas viveriam para sempre, que não morreriam nunca? Todos nós sabemos que não. Para sempre, em todos esses casos, significava: enquanto eles vivessem. Nem sempre uma expressão pode ser interpretada ao pé da letra, para não criar tremendas confusões.
O livro dos Salmos está repleto de expressões que precisam ser interpretadas corretamente e, muitas vezes, de maneira bem diferente do seu significado literal ou do que possa parecer à primeira vista. Esse livro da Bíblia foi escrito em linguagem poética, usando muitas expressões figurativas. Vejamos alguns casos:
Seria absurdo interpretar literalmente o Salmo 129: 3 “Os lavradores araram sobre as minhas costas; compridos fizeram os seus sulcos.”
Qual seria o significado do Salmo 116 verso 15: “Preciosa é à vista do SENHOR a morte dos seus santos”? Significaria que DEUS se alegra ao ver um de Seus filhos morrer? Ou significaria que Ele, embora não tenha prazer na morte, Se alegre porque estão contados entre os santos e irão ressuscitar?
O Salmo 82:6, onde está escrito: “Vós sois deuses, e filhos do Altíssimo, todos vós” teve seu significado discutido nos dias de JESUS, em S. João 10: 34-36.
Se esses textos contêm expressões intrigantes, analisem o que significaria interpretar erroneamente estes: “devoraram a Jacó”, Salmo 79: 7; “Tu os alimentaste com pão de lágrimas, e lhes deste a beber lágrimas em abundância”, Salmo 80: 5; “tenho comido cinza como pão, e misturado com lágrimas a minha bebida”, Salmo 102: 9; “nos teriam tragado vivos… como presa, aos dentes deles.” Salmo 124: 2, 3 e 6.
Entre os texto citados por aqueles que gostariam que a bateria fosse admitida na igreja, além dos casos que já vimos, os principais são os Salmos 149 e 150, onde se diz para louvar ao SENHOR com adufe, que é uma espécie de tamborim.
Qual o objetivo desses Salmos? O que eles estão ensinando na realidade?
O grande ensino de todo o livro de Salmos é que devemos encher nossa vida de louvores. Louvar ao SENHOR deveria ser algo praticado em toda a nossa vida. Esse é também o ensino do novo testamento, em I Tessalonicenses 5: 18: “Em tudo dai graças; porque esta é a vontade de DEUS em CRISTO JESUS para convosco.”
O bom estudante da Bíblia observará que esses salmos usam linguagem poética, ou figurada, para enfatizar a importância de louvar ao SENHOR. Já no verso 5 do salmo 149 encontramos uma expressão difícil de ser colocada em prática: “Exultem de glória os santos, cantem de alegria nos seus leitos.” Como isso deveria ser posto em prática? Deveríamos nos deitar em nossas camas só para cantar ou deveríamos começar a cantar no intervalo do nosso sono, às 2 ou 3 horas da madrugada? Será que esse verso estaria recomendando aos que forem hospitalizados para que cantem em seus leitos enquanto o vizinho da cama ao lado estiver tendo um enfarte? Nada disso, é claro.
Observemos ainda como seria complicado interpretar tal salmo fora da linguagem poética, especialmente os versos 6-9: “Estejam na sua garganta os altos louvores de DEUS, e na sua mão espada de dois gumes, para exercerem vingança sobre as nações, e castigos sobre os povos; para prenderem os seus reis com cadeias, e os seus nobres com grilhões de ferro; para executarem neles o juízo escrito; esta honra será para todos os santos. Louvai ao SENHOR!”
Alguém seria louco o bastante para afirmar que o salmo 149 estaria mandando os filhos de DEUS o louvarem enquanto se transformam em um grupo de extermínio ou em um novo esquadrão da morte? É bom observar no entanto que, embora cite o adufe, o salmo não diz que o mesmo devesse ser tocado no templo. Será que as pessoas que desculpam o uso da bateria com esse texto gostariam de levar armas de guerra para a igreja? E os grilhões de ferro citados no salmo, seriam para ser usados na igreja também?
O mesmo se dá com o salmo 150. Já no primeiro verso encontramos a frase: “louvai-o no firmamento, obra do seu poder!” A Bíblia nunca usa a expressão firmamento para o lugar em que DEUS está, no céu; tampouco o salmo foi escrito para ensinamento dos anjos. Se o firmamento é esse céu que nós vemos, onde estão as nuvens, e o avião não havia sido inventado quando o salmo foi escrito, o que o salmista pretendia dizer? Será que as pessoas daquela época tinham a capacidade de usar os braços como asas e voar até as nuvens para cantar?
E o que vocês achariam de uma mensagem musical apresentada por um quarteto bem diferente? Já pensaram se alguém levasse para a igreja um cavalo, um gambá, uma onça e um sapo, colocasse um microfone na frente de cada um e anunciasse: “em cumprimento à ordem do salmo 150 verso 6, esses seres que estão vivos e respirando vão abrilhantar nosso culto de adoração com seus louvores”… O que vocês diriam? Não é possível? Por que? O verso 6 do salmo 150 não diz: “Todo ser que respira louve ao SENHOR”? Se não podemos interpretar o texto dessa maneira, porque desculpar os tambores com o salmo 150, sendo que o mesmo não diz para usar o adufe na igreja?
Vejam: Se um texto que usa linguagem figurada não pode ser interpretado em sentido literal, muito menos pode uma citação poética ser interpretada transformando um claro ensino bíblico em regra contrária. Seria o mesmo que tomar um texto, como a parábola do rico e Lázaro, proferida por JESUS, e transformá-la em uma tese sobre vida após a morte, afirmando que o texto quer dizer que os mortos vão para o céu ou para o inferno. Todo cristão bem informado sabe que tal ensino não teria apoio no restante da Bíblia e que o SENHOR JESUS baseou tal parábola em uma fábula bem conhecida pelos judeus daquela época.
Em lugar de cometer tal atrocidade, torcendo um texto bíblico a fim de contrariar preceitos que já haviam sido fixados anteriormente, não seria menos irreverência, embora não menos absurdo, interpretar literalmente o Salmo 98 verso 8 e tentar gravar um CD com um quarteto de montanhas, pois o texto diz: “juntos cantem de júbilo os montes”? Não seria igualmente difícil imaginar os rios batendo palmas, como manda o mesmo verso?