“O Messias” – Oratório de Georg Friedrich Handel

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O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Em verdes prados ele me faz repousar. Conduz-me junto às águas refrescantes, restaura as forças de minha alma. Ainda que eu atravesse o vale escuro da sombra e da morte, nada temerei, pois está comigo. Salmo 23

Assim como Davi, Haendel foi também um músico das Sagradas Escrituras. Ainda que, quase por acaso tivesse sido levado a optar por um tipo de música em forma de oratórios.

Pode-se dizer que o compositor experimentou as palavras do salmo. Pelos idos de 1740, sua vida ia de mal a pior. A empresa teatral que dirigia, a Royal Academy, acabara de fracassar pela segunda vez. Além disso, uma paralisia facial o privara de toda atividade. Como se não bastasse, viu-se abandonado por todos os seus amigos. Sem dúvida, o compositor atravessava o vale escuro da sombra e da morte. Seu gênio criador tendia a se tornar estéril em meio a tantas contrariedades.

No entanto, é justamente numa noite escura de desespero e desalento que a Luz invade a alma, a vida e a arte de Haendel, que experimenta, a exemplo de Davi, ser guiado pelo Pastor junto às águas refrescantes.

Sentindo-se restaurado, o compositor escreve em apenas vinte e quatro dias seu mais célebre oratório, o Messias. Um canto de júbilo, que celebra o poder salvífico e renovador de Cristo, o qual, certamente, se fazia sentir em sua vida naquele momento.

A peça, composta em 1741, é uma importante e inspiradora antologia do Velho e do Novo Testamentos. Haendel começou a escrevê-la no dia 22 de agosto, terminando sua composição a 14 de setembro. O texto foi literalmente extraído das Escrituras Sagradas, sendo o libreto arranjado por Charles Jannens. O oratório se divide em três partes: a primeira ilustra a ânsia do mundo pelo Messias, profetiza sua vinda e anuncia o seu nascimento; a segunda é dedicada ao sofrimento, morte e exaltação de Cristo e desenvolve o amplo triunfo final do Evangelho; a terceira é preenchida com a afirmação das mais altas verdades da doutrina cristã (a fé na existência de Deus, a crença na imortalidade da alma, na ressurreição e na felicidade eterna).

Não foi por acaso, pois, que entusiasmou sobremaneira o público inglês. O rei Jorge II, por exemplo, ao assistir a uma apresentação do Messias em Londres, diante da força do coro Aleluia!, pôs-se de pé. O gesto acabou sendo seguido por todos os presentes, constituindo-se, em prática comum até os dias de hoje. Já Haydn, numa visita a Londres, ficou igualmente impressionado: Pensei que os céus tinham-se aberto, comentou.

Empolgação e entusiasmo parecem ser, portanto, palavras mágicas, que nos conferem a certeza de que o Messias não perdeu, ao longo de todo esse tempo, seu poder renovador, tal como sentira Haendel. A pedida, então, é relaxar. Deixar-se invadir pela beleza, doçura e imponência da obra, onde os corais, os solistas, a orquestra e, principalmente, o regente ocuparão o lugar de Pastor, buscando conduzir cada um de nós às águas refrescantes, restaurando a força de nossa alma.


Fonte: Publicado originalmente em http://www.movimento.com/site_movimento/mostraconteudo.asp?mostra=5&codigo=3