Parâmetros para a Música

Entrevista com o Pastor Erton Köeler


A música, para a maioria dos membros da igreja, deve ser encarada com mais seriedade. Para outros, é apenas uma questão de gosto. E o perigo reside no fato de que o gosto está se tornando um “padrão”.

Preocupada com isso, a Associação Geral preparou um documento sobre música, que foi votado pela Divisão Sul-Americana (DSA), após exaustivo trabalho de análise e detalhamento, sob a coordenação do Pastor Erton Köeler, líder de Jovens.

Esta entrevista, concedida a [os editores da Revista Adventista (RA)] Lubens Lessa e Michelson Borges, prepara o leitor para uma análise mais profunda e objetiva do documento Filosofia Adventista do Sétimo Dia com Relação à Música.


RA: Destaque três aspectos importantes no documento sobre música que estamos publicando nesta edição (*).

Erton Köeler: A produção deste documento era um desejo da Igreja. Músicos, líderes de música, diretores de departamentos e administradores participaram desde o preparo inicial, buscando expressar, com a máxima fidelidade, a importância da música e a visão da Igreja para os seus músicos. Acredito que a maneira harmônica e positiva como o documento foi elaborado é um aspecto muito importante.

Outro ponto que merece destaque é o fortalecimento do apoio e valorização aos músicos da Igreja. Através das orientações do documento, eles terão um crescimento maior e mais efetivo em seu ministério.

O aspecto mais importante, contudo, será o fortalecimento da qualidade musical, trazendo, como resultado, o crescimento espiritual da Igreja. Acredito que vamos ter momentos de louvor mais eficazes, músicas especiais mais edificantes, músicos mais direcionados, música mais construtiva nos programas da Igreja e, como resultado, uma visão mais harmônica.

RA: Como este documento deve ser usado?

Erton Köeler: Sem dúvida, precisa ser usado com humildade e oração, uma vez que ele toca em uma questão espiritual bastante sensível e importante. Sua publicação cria oportunidade para um debate saudável, buscando os melhores caminhos para implementá-lo e fazendo com que a música da igreja possa crescer. Não podemos correr o risco de imposição ou debates agressivos sobre o assunto.

A igreja deve aproveitar seus diversos encontros de liderança para analisar o documento e suas propostas. Recomendo que seja estudado nos concílios de pastores e anciãos, nas reuniões de comissão de igreja, em encontros de músicos e outros programas que reúnam pessoas direta ou indiretamente relacionadas com o tema.

RA: Faça uma rápida análise sobre o uso da música em nossas igrejas.

Erton Köeler: O espaço da música está crescendo. Nunca tivemos tantos músicos e tanta música como hoje, fazendo do Brasil uma referência mundial nessa área. Temos muitos compositores, vários deles jovens, muitas gravações de grupos e cantores, além de boas produções para serem usadas pela igreja. Temos um hinário variado, completo, e que atende bem a nossa necessidade musical. Esse é o panorama positivo. Aliás, tenho uma visão positiva da música. Sei que temos diversos desafios, mas não podemos usá-los côo referência para o nível de toda a nossa música.

Ainda precisamos crescer muito em duas áreas especiais: primeiro, na qualidade dos momentos de louvor, com a participação de toda a congregação. Precisamos explorá-los mais, não para cobrirem imprevistos, nem para esperar o início do programa, muito menos para realizá-lo de maneira fria, automática e despreparada, mas para conduzir os assistentes à verdadeira adoração e fortalecer a mensagem. Precisamos, também, fortalecer um padrão de música adventista, mais voltado para a nossa mensagem, e para um estilo que leve à adoração, e não à agitação ou apenas à satisfação pessoal. Temos que mudar o conceito de show para uma visão de culto, e a imagem de um artista para o papel de ministro. Na verdade, nosso grande desafio, em cada igreja e com cada músico, é fortalecer o conceito de ministério de música, ou seja, tudo focado na salvação de pessoas.

RA: Quais são os aspectos mais questionados atualmente?

Erton Köeler: As maiores polêmicas que ainda temos envolvem os estilos de música. Trata-se de um conflito entre conservadores e liberais, e o pior: como em muitos lugares essas diferenças são tratadas. Ainda existe muito enfrentamento, muita discussão e muita imposição. Sei que a música é um assunto sagrado, que tem forte influência pata a salvação ou para a perdição, mas não podemos defendê-la quebrando o princípio do respeito e do amor ao próximo, que são as bases de nossa fé. É preciso mais diálogo, mais oração e mais compreensão, para que a música se aproxime do ideal divino. Sempre me impressiona o que Ellen White diz no livro Primeiros Escritos, Página 119: “Se o orgulho e o egoísmo fossem colocados de lado, cinco minutos bastariam para remover a maioria das dificuldades.” Isso se aplica de maneira especial à música.

Existem várias outras questões que causam polêmica por aí. Duas porém, são muito fortes: o excesso de ritmo em muitas músicas, tirando o foco da adoração e da mensagem e criando uma forte associação popular; e a ida a shows evangélicos. Existem pessoas que avaliam a música apenas pelo nome de Jesus. Isso deixa portas abertas para mensagens perigosas, para um estilo carismático e uma proposta musical pop gospel. O resultado é um enfraquecimento da fé nos pilares da mensagem bíblica, a colocação da música numa posição recreativa e a valorização dos desejos e sensações do homem em lugar da adoração a Deus.

RA: De que modo os músicos e diretores de música podem contribuir para que esses problemas sejam resolvidos?

Erton Köeler: O principal segredo é estar em sintonia com Deus e com a Igreja. Quando o músico estiver preocupado em produzir, com oração, aquilo que vai ser edificante, e não apenas o que for ditado por sua criatividade ou gosto pessoal, isso resolverá a maioria dos problemas que ainda temos. Quando um líder de música trabalha com amor e oração e não com crítica ou imposição, reunindo os músicos para ouvi-los, orientá-los, ajudá-los e orar com eles, essa atitude cria um clima de harmonia. Quando ele não trabalha sozinho e evita usar seu gosto pessoal como regra para definir a música da igreja, mas trabalha de maneira organizada, com uma escala de música, providenciando sempre uma equipe para os momentos de louvor, instrumentistas ou sonoplastas para todos os programas da igreja e música especial para cada culto, esse líder contribui para tornar a música um veículo eficaz para a adoração e louvor.

RA: Quais são os critérios que os dirigentes devem levar em conta ao convidarem músicos e cantores para participarem no louvor a Deus?

Erton Köeler: A Igreja tem hoje um universo muito grande de grupos e cantores, entre os quais, muitos exercem verdadeiro ministério, cantando para louvar a Deus e edificar o Seu povo. Outros, porém, cantam movidos apenas por interesses pessoais. Em todas as áreas existem esses dois grupos: um com intenções puras e outro com intenções impuras.

Para nossos eventos ou mesmo cultos de adoração, não deveriam ser escolhidas ou convidadas pessoas apenas porque são famosas ou têm CD gravado, mas por aquilo que são e podem oferecer. Devem ser membros fiéis de alguma igreja adventista, tendo sempre uma recomendação de sua congregação. É importante destacar que essa postura não inibe o ministério de música, mas valoriza os bons músicos. Precisam ser envolvidos, também, aqueles que estão preocupados em produzir música para inspirar e salvar e não apenas para realizar espetáculos artísticos.

RA: O documento apresenta os músicos da igreja como ministros. O que isso diz acerca da responsabilidade de quem lida com música?

Erton Köeler: Ao considerar os músicos oficialmente como ministros, estamos reconhecendo a importância do trabalho que realizam, bem como a responsabilidade de cada um. Um ministério é o exercício de um dom concedido diretamente por Deus, ao passo que um ministro é alguém comprometido com a pregação da Palavra e com a salvação de pessoas. Não há espaço para a promoção pessoal, nem para rivalidades ou interesses comerciais. Existe, sim, um compromisso de falar de Jesus, estar envolvido com a missão da Igreja e apelar para que pessoas entreguem o coração ao Salvador. Todo ministério é um compromisso de vida. É estar focado no conteúdo e não na embalagem.

RA: Qual é o propósito da música no contexto da adoração?

Erton Köeler: Sem dúvida, o propósito principal é levar o adorador para mais perto de Deus, e a música é um dos elementos mais importantes para isso. Por outro lado, ela deve gravar mensagens espirituais no coração dos adoradores. Segundo Ellen White, a música “é um dos meios mais eficazes para impressionar o coração com as verdades espirituais.” – Educação, pág. 168.

RA: Que critérios devem ser adotados quanto ao uso de instrumentos?

Erton Köeler: Esta é uma questão sensível. Os instrumentos, dentro de nossa música, desempenham um papel de apoio. Dão o brilho, mas não concorrem com a mensagem. Devem destacá-la, tornando-a mais forte e tocante. Devem ser utilizados com equilíbrio, e discrição, sem imitações populares, mas produzindo acordes que aumentem o efeito da mensagem de salvação.

RA: Mencione alguns princípios que devem orientar o cristão ao escolher uma música saudável para ouvir.

Erton Köeler: Essa é uma questão simples, que deve ser resolvida com muita oração, pois a oração purifica o gosto musical. Mesmo assim, recomendo quatro critérios básicos. Quando uma música passa por eles, então sim, o gosto pessoal passa a ser usado como referência. 1) Letra – deve estar sempre em harmonia com o que cremos e pregamos; 2) Ritmo – Não pode concorrer com a mensagem da música nem apenar para a reação física, pois isso enfraquece a influência positiva da música; 3) Músico ou intérprete – como ele passa a ser admirado quanto à música que compõe ou interpreta, o ideal é ouvir músicas produzidas ou apresentadas por pessoas que tenham princípios e valores semelhantes aos nossos, para não se expor a influências perigosas; 4) Reação – é o que a música provoca. Por isso, precisamos ouvir músicas que despertem os sentimentos e a reações apresentados em Filipenses 4:8. Estes são parâmetros simples, mas que levam a uma escolha saudável.


O Pastor Köeler nasceu em Caxias do Sul, RS, e faz parte da terceira geração de obreiros de sua família. Formado em Teologia em 1988, atuou como pastor distrital em Jardim Lilah (90-91) e Alvorada (92-94), na capital paulista; foi líder de Jovens da Associação Sul-Riograndense (94-98) e da União Nordeste-Brasileira (1998-2002). Atuou como secretário da Associação Sul-Riograndense (2002) e, desde 2003 é o líder do Ministério Jovem da DSA. É casado com Adriene Marques Köeler, e tem um filho chamado Matheus.


Fonte: Revista Adventista, Agosto de 2005, págs 5-6


Nota dos editores do Música Sacra e Adoração:

(*) – O Documento citado, publicado na Revista Adventista de Agosto de 2005, págs 12-16, intitulado Filosofia Adventista do Sétimo Dia com Relação à Música está disponível neste espaço virtual, bastando clicar sobre o nome para acessá-lo. (voltar)