Reverência no Culto Evangélico
Entrevista com Manoel Canuto
Entrevista concedida pelo presbítero Manoel Canuto ao Jornal da UMP da Igreja Presbiteriana do Recife no ano de 2000.
Jornal da UMP: O Sr. concorda que o aspecto da reverência no culto evangélico é algo que precisa ser revisto e melhorado?
Presbítero Manoel Canuto: Sim. Há muito tempo venho pensando neste assunto, pois comparo os nossos dias aos dias que antecederam a Reforma Protestante do século XVI. Os crentes estão esquecidos de que culto é a razão da nossa existência. O Breve Catecismo (Westminster – feito pelos Puritanos) pergunta e responde: “Qual o fim principal do homem” O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre?. Os reformadores não faziam diferença entre o culto na igreja e a vida diária. É verdade que se deve manter distinção entre o que é secular e sagrado. Na verdade a Reforma não rejeitou tal distinção, mas rejeitou a hierarquia ligada a ela, como se uma fosse mais importante ou mais espiritualmente aceitável a Deus do que a outra. Não podemos negar que no culto judaico havia aquilo que era separado por Deus e santificado e o que era comum (louças, panelas, vasos). Os vasos do templo eram sagrados, mas os de casa eram comuns. Hoje muitos pensam que tudo é santo. O que os puritanos queriam era acabar com a ideia romana de que se podia viver duas vidas: uma secular e uma santa. Para o cristão tudo deve ser feito em santidade para a glória de Deus. Este é um princípio que devemos estar lembrados sempre.
Por outro lado, nos cultos e na adoração corporativa, em conjunto, do povo de Deus, na igreja, estamos vivendo uma época de grande irreverência. A nossa geração não sabe o que é ser reverente, não sabe o que é culto solene. O culto, com freqüência, tem sido um ajuntamento para um encontro social; a igreja é local de divertimento, lazer; o louvor apresentado a Deus tem sido uma ocasião de não glorificação do nome de Deus, mas primariamente um momento de entretenimento ou prazer humanos. Hoje, se vê adoração através de shows de bandas musicais, em que o “embalo” é a ênfase; as pessoas gritam, gemem; as letras dos cânticos são dúbias, você não sabe se é Deus ou um galã apaixonado o que é destacado nestes cânticos; os cantores e grupos musicais não têm vida espiritual (com exceções) e cobram ingressos para louvar a Deus, comercializando a adoração, e na maioria dos casos tudo é transformado em uma apresentação mundana. Nas igrejas se vende, se troca, se faz negócios (livros, bíblias, “presentinhos”, camisas, chaveiros, quinquilharias, etc.); as crianças não participam dos cultos porque não podem mais obedecer aos pais; as pessoas conversam, riem, dormem; uns ficam do lado de fora; as roupas são segundo o padrão do mundo, curtas, excitantes, etc. A moda agora é substituir a pregação por dramatizações e testemunhos. Nossa situação é muito grave. Não tenho me impressionado com o número de igrejas cheias. Pergunto sempre: cheias de quê? Lembro-me de Jesus dizendo: “Tirai daqui estas cousas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio”, e por isso os discípulos se lembraram de um preceito bíblico, esquecido hoje tanto quanto naqueles dias: “O zelo da tua casa me consumirá” (João.2:16-17). Onde está o nosso zelo?
Jornal da UMP: Em sua opinião o que tem contribuído para que algumas comunidades evangélicas enfrentem tantos problemas nesta área?
Presbítero Manoel Canuto: O primeiro ponto que quero destacar é que as pessoas pensam que podem cultuar a Deus da forma que acham melhor, como lhes agrada. Mas isso não é bíblico. A Confissão de Fé da nossa Igreja (Confissão de Fé de Westminster) diz no capítulo 21 que:
“… o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo e tão limitado pela Sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestão de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”.
Assim, temos de estar lembrados dos preceitos divinos de que: “Tudo o que eu ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás, nem diminuirás” (Deuteronômio. 12:32); “E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mateus 15:9).
Observo também que estamos vivendo a época do pragmatismo. Se der resultado, está certo. Este pensamento é maligno. A pergunta que fazem é: O que é melhor para se ter resultados? Mas a pergunta que temos de fazer é: O que Deus nos ensina? Como deve ser minha adoração? A grande preocupação hoje dos pastores e líderes no culto é agradar aos ouvintes e especialmente aos visitantes. Mas o culto a Deus é uma coisa exclusiva dos verdadeiros crentes; algo dos crentes para Deus e não para agradar a descrentes. Ímpio não adora a Deus ou sua adoração é abominação diante do Senhor. O desejo tem sido agradar a homens e não a Deus.
Isso tem muitas implicações:
I. O culto se transforma em entretenimento para agradar aos participantes e não a Deus.
II. A forma externa do culto tem sido negligenciada. É verdade que o culto tem de ser em espírito e em verdade, mas não podemos ser negligentes com o aspecto externo do culto, pois é através de nossas ações que a nossa alma é expressa a Deus. Não podemos esquecer que Satanás ao tentar Cristo impôs que Ele se prostrasse e o adorasse (Mateus 4:9). Esta é a forma externa de adoração. Nossa adoração deve ser aceitável diante de Deus na sua forma, não só interna, mas externa. Acrescentar elementos ao culto, não prescritos nas Escrituras, é violar a realeza de Cristo.
III. A centralidade do culto não tem sido a pregação e sim as coisas secundárias. A Reforma resgatou esta verdade. Esta é uma das marcas de uma igreja verdadeira: a pregação de todo desígnio de Deus; ela é central no culto. Por isso que as igrejas reformadas têm o púlpito no centro. Mas o que se vê hoje é “louvorzão” e quase nada de pregação. Aqui entra uma questão muito séria. Tenho visto pastores que são culpados de sua congregação nunca aprender o que é reverência, pois são verdadeiros “palhaços do púlpito”, são irreverentes. Usam a Palavra de Deus para contar piadas e ilustrações banais com o propósito de agradarem às pessoas e se fazerem admirados. Lembro de um puritano que, ao ser levado à morte por causa de sua fé, disse para todos que assistiam sua execução: “Eu não tive temor de subir estas escadarias para morrer. Mas eu tive sempre temor de subir as escadarias do púlpito da minha igreja, pois sabia que minha mensagem poderia, tanto salvar como condenar pessoas”. O que os pastores de hoje sabem disso? A pregação é coisa séria e nós não temos visto isso da forma como a Bíblia requer, especialmente no meio dos jovens. Os pregadores acham que falar para jovens implica em ser engraçado, divertido. Nada mais longe da verdade. A pregação da cruz, a morte de Cristo, Sua ressurreição e ascensão; a santificação do crente; a mortificação da carne; a luta contra Satanás e o mundo; a perdição dos ímpios, tudo isso, não tem nada de engraçado. Creio que o que precisamos hoje é de chorar e não de rir. “Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza” (Tiago 4:9). Ao invés de cantarmos: “Você tem valor”, deveríamos cantar: “Servo inútil sem valor, mas pertenço ao meu Senhor”.
Jornal da UMP: Será que a atitude irreverente no culto traz conseqüências na vida diária do adorador?
Presbítero Manoel Canuto: Sem dúvida. Não podemos esquecer que Deus matou Nadabe e Abiú por trazerem fogo estranho a Deus (Levítico 10:1-2). Não sabemos ao certo o que eles fizeram, mas sem dúvida foram irreverentes na forma de adorar a Deus como foram também os filhos do sacerdote Eli, Hofni e Finéias (I Samuel 2-4), e por isso Deus os matou. Você vai dizer que isso foi coisa do V.T., mas como explicar o que Paulo nos diz em I Coríntios 11.29-30: “Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem”. De Deus não se zomba, Ele não se deixa escarnecer, “…pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gálatas 6:7). “Deus é um fogo consumidor” (Hebreus 12:29)!! Nossa geração não sabe nada disso.
Jornal da UMP: A liturgia vibrante e mais participativa buscada hoje pela maioria dos evangélicos pode ser conquistada sem prejudicar a reverência do culto? Como?
Presbítero Manoel Canuto: A liturgia participativa é um legado da Reforma Protestante e dos Puritanos. Eles estavam reagindo ao culto formal, fixo, ininteligível e frio da Igreja Romana e da Igreja Anglicana (o povo ficava passivo). Eles estavam lutando contra todo tipo de tradição humana, extrabíblica. Eles sempre procuraram a autoridade da Bíblia para ter uma forma correta de culto. Há muita coisa escrita sobre isso. A Reforma e os Puritanos restauraram o direito do povo comum de se reunir e louvar conjuntamente a Deus. Mas quero colocar o pensamento de um puritano presbiteriano inglês,
Thomas Cartwright, com respeito aos critérios de um verdadeiro culto:
- Que não seja motivo de tropeço para ninguém (I Coríntios 10:32).
- Que tudo seja feito com ordem e decência (I Coríntios 14:40).
- Que tudo seja feito para edificação (I Coríntios 14:26).
- Que seja feito para a glória de Deus (Romanos 14:6-7).
Na verdade são princípios bíblicos que devem ser obedecidos. Por isso os puritanos quando escreveram a nossa Confissão de Fé afirmaram que todo conselho de Deus deve ser “expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela… quanto ao culto de Deus…”, tem de ser ordenado “…pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras da Palavra, que sempre devem ser observadas” (Cap. I p.VI).
O problema é que hoje muitos querem cantar, dançar, bater palmas, usar instrumentos de som estridente, cantar hinos sem conteúdo doutrinário algum, com sinais de uma influência mundana muito grande, onde a carnalidade se salienta travestida de religiosidade e espiritualidade. O cântico dos Salmos não existe em nossas igrejas – nossa maravilhosa herança Reformada nunca foi lembrada apesar de fazer parte dos nossos símbolos de fé: “o cântico de salmos, com gratidão no coração” (CFW cap. XXI.V). A diferença é grande do pensamento Reformado que questiona: “Isto glorifica a Deus?”. Muitos deveriam perguntar: “Este louvor, esta vibração, é para glorificar a Deus ou um fim em si mesmo?”. O que temos visto, infelizmente, é o desejo de se “sentir bem” na adoração. Este não é o propósito da adoração e do louvor, mas sim uma conseqüência. Creio que poderemos ser vibrantes, alegres, tendo a consciência do que Cristo fez por nós, da Sua misericórdia, Sua graça, Sua eleição, Seu chamado eficaz e a promessa da nossa glorificação, através de um culto participativo, onde a ênfase é na pregação, oração, leitura da Palavra e louvor com gratidão no coração. Tudo com ordem e decência, segundo as ordenanças de Deus. Nunca esquecer que a pregação é a mais solene e importante dessas atividades.
Se desejamos um culto vibrante, atraente, com danças, mímicas, música em exagero (com composições sem ensino doutrinário), cenários, bandas de rock, perguntamos: de onde provêm estas coisas? Da Bíblia? É claro que não. Não podemos concluir que os que advogam tais coisas o fazem por perderem de vista o poder e a glória de Deus e amor às Escrituras? Não é necessário enxergarmos que está havendo uma necessidade, não destas coisas, mas de um princípio bíblico que regule toda nossa adoração? Muitos oficiais da igreja hoje desconhecem o que é o Princípio Regulador do Culto, tão enfatizado e praticado pelos reformados do passado.
Jornal da UMP: Como entende qual deve ser a abordagem deste assunto atualmente, visto que nossas crianças, adolescentes e jovens, são a geração que se habituou em vidas com velocidades e inquietações dos vídeos-games, vídeos-clips e etc?
Presbítero Manoel Canuto: Respondo esta pergunta com pesar. O mundo tem ditado as normas para nossa vida e não a Palavra de Deus. O problema hoje é falta de fé. Mas não é falta de fé em Deus, mas falta de fé na Palavra. Ela não tem sido a “única regra de fé e prática” para nós cristãos. Temos procurado o padrão do mundo. O imediatismo dos nossos dias é uma afronta à providência de Deus; é uma parte do querer ver para crer e, se possível, logo. Nossos líderes e pais estão deixando seus filhos cada vez mais ignorantes da Palavra de Deus. Procuramos um jovem consagrado, que conheça a Palavra de Deus, a sã doutrina e que tenha uma vida santa e não achamos (com raras exceções). O imediatismo está patenteado até na forma de se evangelizar: “Venha para frente, levante a mão e estará salvo”. As crianças, os jovens, vêem isso e cada vez mais se afundam nesta concepção imediatista. As palavras paciência, perseverança, submissão, parece que não fazem parte do vocabulário dos nossos jovens. Nunca aprendemos a disciplina na vida cristã. Os jovens não são ensinados a terem “cuidado de si mesmo e da doutrina” (I Timóteo 4:16). As práticas mundanas estão entrando na igreja através de uma adoração carnal e os que a praticam são amantes de si mesmos e irreverentes (II Timóteo 3:1-5).
Jornal da UMP: O Sr. é um dos coordenadores do “movimento puritano”, há algo na história do puritanismo dirigido a este tema?
Presbítero Manoel Canuto: Não gosto desta expressão “movimento”. E não somos um “movimento”. Todos os movimentos que têm surgido na Igreja hoje são estranhos à Palavra de Deus, são inovações e geralmente heréticos. Na verdade somos um grupo de pessoas desejosas de que haja novamente uma reforma na Igreja. Temos um “projeto” (Projeto Os Puritanos) em mente: resgatar as antigas doutrinas da graça e despertar a Igreja para estas verdades reformadas que podem trazer um grande despertamento ao povo de Deus. São verdades que estão colocadas no “baú”, como dizia o grande pregador batista C. H. Spurgeon; estão esquecidas. Eu mesmo fui fruto deste esquecimento. A Igreja hoje está influenciada por um pensamento humanista, centrado no homem. É claro que a história nos mostra muitas coisas com respeito a esta questão de reverência e culto. Os puritanos foram um grupo de homens e mulheres que mais se preocuparam com a pureza do culto. Toda a Confissão de Fé de Westminster e os catecismos (breve e maior) foram feitos pelos puritanos. Mas não só isso, eles confeccionaram também um Saltério e um Diretório de Culto. O Diretório de Culto já foi publicado pela Editora Os Puritanos, mas infelizmente não temos nosso saltério brasileiro. O tempo não dá, mas poderíamos passar horas falando sobre esta questão da adoração e da reverência entre os puritanos. Posso dizer que, nesta área, o que restou de bom na igreja evangélica (e isto é muito pouco hoje, especialmente por causa da influência liberal, arminiana e do movimento carismático) é fruto das convicções e princípios abraçados pelos puritanos e reformados do passado. Quero sugerir que leiam um número do nosso Jornal que tem o título “Adoração Verdadeira”.
Os puritanos defendiam que adoração reverente era um exercício da “mente e do coração, sob forma de louvor, ação de graças, oração, confissão de pecados, confiança nas promessas de Deus e atenção à Palavra de Deus, lida e pregada”. Um puritano disse:
“A adoração abrange todo aquele respeito que o homem deve e confere ao Seu Criador… É o tributo que pagamos ao Rei dos reis, o meio pelo qual reconhecemos a sua soberania e a nossa dependência dEle…Toda reverência e respeito interiores, e toda a obediência e serviço externo para Deus, que a Palavra nos impõe, estão embutidos nessa palavra: Adoração”.
O chamado príncipe dos Puritanos, John Owen disse:
“… a adoração a Deus deve ser ordeira, decente, bela e gloriosa… E, de fato, qualquer adoração que fique aquém dessas qualidades bem pode levantar suspeitas de não ser segundo a mente de Deus… quanto à qualidade da adoração e do serviço que Lhes são prestados, o próprio Deus é o Juiz mais apropriado”.
Quero, no entanto, dizer que não queremos imitar em tudo os puritanos, pois eles viveram no século XVII. O Espírito Santo nos orienta para vivermos a vida cristã nesta geração e neste século, mas devemos aplicar nos nossos dias a Palavra de Deus e os princípios eternos derivados dela, coisa que eles tanto enfatizaram nos seus dias. O Movimento Puritano do século XVII foi um movimento de Reforma e é exatamente o que precisamos hoje na Igreja Brasileira.
Jornal da UMP: O movimento em sua forma atual tem alguma preocupação neste aspecto e prevê algum plano de ação neste sentido?
Presbítero Manoel Canuto: Temos muita preocupação com este tema e por isso já temos abordado a questão em vários de nossos Simpósios anuais (Projeto Os Puritanos), além de apresentarmos vários artigos no “Jornal Os Puritanos” que tratam deste particular. Criamos também a Editora Os Puritanos onde esperamos publicar material nesta área. Aliás, um dos slogans dos puritanos era “Liturgia Pura”. Os puritanos tiveram divergências quanto a tudo isso, mas uma coisa era comum entre eles: A verdadeira e reverente adoração é tirada das Escrituras e não das emoções ou das influências do mundo. O projeto Os Puritanos não estabelece normas cúlticas, mas deixa que as Escrituras falem livremente e com a autoridade devida sobre o assunto através de princípios que o próprio Deus estabeleceu.
Jornal da UMP: Por onde acha que nossas lideranças podem começar atuando de modo a motivar os evangélicos a oferecerem um culto a Deus com mais reverência.
Presbítero Manoel Canuto: O Princípio Regulador do culto é a Sola Scriptura na adoração e não as invenções humanas, a tradição dos homens, mesmo que estas façam as igrejas se encherem e ficarem muito animadas. Mesmo que um anjo do céu venha e nos ensine diferentemente da Bíblia. O movimento carismático católico é muito animado, mas nem por isso está certo. O segredo de tudo é a doutrina. Muitos não gostam quando falamos de doutrina. Mas a pergunta é: em que basearemos nossa adoração para que seja agradável a Deus? A recomendação de Paulo a Timóteo é esta: “… corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina…” (II Timóteo 4:2-3). A doutrina não deve ser algo que fique apenas na mente, mas deve ser experimental, vivenciada. Reverência está associada ao temor a Deus, ao reconhecimento da Sua soberania, da Sua majestade e grandeza. Nossa liderança deve ver com preocupação a influência dos chamados carismáticos. O problema é que hoje nós só sabemos a respeito do que é karisma, através de ensinos pentecostais e não reformados. Isso é muito prejudicial. Poucos professores e pregadores conhecem a verdade sobre a doutrina do Espírito Santo e os dons. Mas esperamos dar alguma contribuição ao traduzir livros e divulgar a literatura sobre o verdadeiro ensino do Espírito Santo. Calvino foi chamado de “O teólogo do Espírito Santo”, mas sabemos muito pouco dos seus pensamentos. Toda esta questão passa por este ensino.
Jornal da UMP: Com que palavras deseja concluir esta entrevista?
Presbítero Manoel Canuto: Quero terminar dizendo que somente uma pessoa regenerada pode adorar reverentemente a Deus. Deus não ouve a pecadores (João 9:31). Alguém já disse que: “Toda adoração que se origina na natureza morta é apenas serviço morto”. Um puritano disse que “adorar, como uma finalidade em si mesmo, é uma carnalidade; mas ter o desejo de adorar como meio de alcançar o fim, externalizando esse desejo por meio de atos que visam à comunhão com Deus, é algo espiritual, sendo fruto da vida espiritual…”.
Charnock (um grande puritano) disse:
“A adoração é um ato do entendimento, que se concentra sobre o conhecimento das excelências de Deus e sobre os pensamentos a respeito da majestade dEle…Também é um ato da vontade, por meio do qual a alma adora e reverencia a majestade de Deus, encantando-se diante de Sua amabilidade, abraça Sua vontade, entra em uma comunhão íntima… e deposita nEle todos seus afetos”.
Como podemos fazer tudo isso sem entendimento, reconhecimento, quebrantamento, santo temor, júbilo e sem reverência diante da majestade de Deus? Deus busca verdadeiros adoradores, mas não acha e não pode achar, não existem. Por isso Ele regenera, justifica, salva pecadores e os transforma em verdadeiros adoradores pelo Seu Espírito. Tudo é por Sua graça. Que Ele faça isso nos nossos dias; que Deus transforme pecadores e os faça reverentes adoradores.
“Servi ao Senhor com temor e alegrai-vos nele com tremor” (Salmos 2:11).
Amém.
Fonte: Publicado originalmente em: http://www.eleitosdedeus.org/adoracao/entrevista-sobre-reverencia-no-culto-evangelico-presb-manoel-canuto.html