O Significado da Música

Entrevista com o Dr. Herbert Blomstedt [*]

Entrevista preparada e conduzida por Wolfgang Lepke e Martin Pröbstle para a revista judaico-cristã Shabbat Shalom

Shabbat Shalom: Dr. Blomstedt, o que é música para o senhor?

Herbert Blomstedt: Antes de tudo, a música é uma grande parte da minha vida. Não é toda a minha vida, mas ocupa a maior parte da minha vida – ou seja, por muitas horas a cada dia. A razão pela qual eu gosto tanto da música é porque a considero uma forma muito maravilhosa de comunicação. Não apenas eu me comunico com outras pessoas através da música,mas também recebo ideias de outras pessoas – neste caso, dos compositores. Quando leio uma partitura musical, sou como um médium. A mensagem do compositor é passada através de mim: através do meu mundo, através das minhas possibilidades, inclusive minhas limitações. Tento apanhar o que o compositor buscou expressar e passar isso para outros. Como eu sou um regente, minha tarefa é comunicar minha ideia da música primeiramente aos meus companheiros músicos que tocam ao meu redor – que podem ser 20 pessoas, 100 pessoas ou 200 pessoas – e então, juntamente com eles, para um público de muitas outras pessoas.

Como um meio de comunicação, a música é extremamente fascinante, especialmente uma vez que a música é um símbolo da vida. A arte da música na tradição ocidental tem um princípio, ou nasce – do nada – e então tem um desenvolvimento em direção a um objetivo, algum ponto alto, algum clímax, e termina ou morre. Podemos ver como, sendo uma peça de arte, a música é um símbolo da vida. Ela nasce, tem as suas complicações e suas possibilidades que são trabalhadas mais ou menos de forma completa, ou apenas indicadas,e  então termina com um conflito final, ou em um final trágico, em um nada, em um nirvana, ou em um triunfo, em um Aleluia triunfal, A arte da música reflete as milhões de possibilidades na vida humana.

Não é a parte mais interessante de nossas vidas podermos nos encontrar com outras pessoas, receber a influencia delas sobre nossas ideias e noção de vida e, talvez, dar-lhes algo em troca? A música é o meio perfeito de fazer isso. Como ela cruza as fronteiras da linguagem e das diferentes culturas, a música é uma maneira ideal de comunicação. Existem, é claro, algumas limitações. A menos que ela tenha um texto, a música não pode comunicar fatos, por exemplo, com que velocidade a luz viaja. Ela não consegue comunicar ideias abstratas, por exemplo, a ideia de um santuário celestial, alguns outros conceitos teológicos sofisticados, ou fórmulas e estatísticas das ciências naturais. Assim, com a música não podemos comunicar fatos. Mas, embora os fatos sejam necessários, eles não constituem as coisas mais importantes em nossas vidas. O que é importante em nossas vidas é como nos relacionamos uns com os outros, com os nossos ancestrais e com Deus. E aqui entramos no mundo real da música, com uma comunicação melhor do que por qualquer outra linguagem. Isso faz da música um elemento central, não apenas para o músico profissional, mas também para qualquer pessoa que tenha um mínimo talento musical. E é minha firme crença que praticamente todos possuem tal talento musical mínimo. Bach, Beethoven e Bruckner não são apenas um punhado de especialistas. Você não tem que ir à universidade e tirar um doutorado para desfrutar da música de Bach. Só tem que permitir a si mesmo algum tempo e despender algum esforço próprio – o esforço de sentar-se e ouvir, de abrir os seus ouvidos e refletir com tranqüilidade, sem ser pressionado por outras tarefas. A música de Bach tem uma mensagem que vai diretamente ao coração. É claro, Bach é apenas um exemplo. Também poderia ser uma música que é mil anos mais antiga, ou uma música que está sendo escrita hoje. Portanto, a música é muito central, não apenas para o músico, mas para todos. Como cada um lida com a música é outra questão, mas a música é parte da vida de todos.

Shabbat Shalom: Podemos encontrar música em diferentes contextos, mas como o senhor descreveria o papel da música na vida religiosa?

Blomstedt: Uma vez que a música é uma questão espiritual, ela é uma das principais formas de testemunho. Você não pode provar a existência de Deus da mesma forma que verifica alguma coisa no laboratório. Isto simplesmente não é possível, nem para os teólogos, nem para qualquer outra pessoa. Mas há testemunhos da existência de Deus. A Bíblia certamente é a testemunha principal. Além da Bíblia, a música é. para mim, a melhor testemunha. Há outras testemunhas também. Toda a criação é uma testemunha de Deus, e especialmente a sua criação principal – os seres humanos. Pois como poderíamos ter uma ideia de Deus sem as outras pessoas? Por exemplo, para muitas pessoas a sua ideia a respeito de Deus é muito influenciada pela maneira como percebem os seus pais biológicos. Este é um primeiro ponto de referência. Com efeito, aquilo que vemos nas outras pessoas molda muito de nossa futura compreensão de Deus.

Para mim, o testemunho da música pode ir muito além disso, porque a música pode te dar pelo menos uma ideia da infindável grandeza de Deus, um Deus que não tem limitações de tempo e espaço – um conceito que vai além de nossas possibilidades de compreensão. A música pode apresentar a grandeza de Deus e nos dar um senso de temos que talvez pessoas individualmente não podem criar tão facilmente em nós. A razão para isso repousa no fato de que a música pode apelar para todos os níveis do nosso intelecto e, ao mesmo tempo, ser muito emocional. A uma vez que os seres humanos são uma mistura de cérebro e sentimentos, a música pode envolver a pessoa como um todo, da forma como ela foi criada por Deus. Certamente Deus não criou os seres humanos como uma máquina, ou mesmo como animais espertos. A combinação humana de intelecto e emoções não tem comparação no mundo animal. Ao comunicar-se com estas duas capacidades, a música pode nos dar uma ideia, ou um vislumbre daquilo que o Criador deve ser.

É claro, quando ouvimos canções simplórias, ou cantamos cânticos religiosos sentimentais, é difícil ter uma ideia apropriada de como é o grande Deus. O texto daquela música pode ser muito bom e verdadeiro, mas a música e si mesma não inclui qualquer coisa da grandeza de Deus. Este efeito é muito melhor conseguido por um hino da época da Reforma, ou uma fuga de Bach, ou uma sinfonia de Beethoven. E existe música na qual os grandes compositores combinaram suas habilidades musicais com seus intensos sentimentos religiosos, para criar uma música religiosa com texto que se classificam entre os maiores testemunhos daquilo que Deus pode fazer através de um ser humano individual.

Shabbat Shalom: Isto nos leva à próxima pergunta: Existe música religiosa por si mesma? Como o senhor a definiria?

Blomstedt: Eu não creio que exista música religiosa por si mesma. Um tempo lento, a ausência de ritmos dançantes, o uso do órgão, etc. não torna automaticamente uma música em religiosa. Nem mesmo a presença de um texto religioso torna automaticamente um cântico em religioso, se a música em si mesma não é de um caráter espiritual mais elevado. O efeito é que, ao menos para as mentes mais sensíveis musicalmente – e não estou falando de especialistas como eu, mas de pessoas em geral, que gostam e estão acostumadas a ouvir boa música – será um elemento de distração ouvir um texto religioso aplicado a uma música que não está nivelada espiritualmente com aquele texto. Mas em outro sentido, quase toda a música artística ocidental (incluindo os cantos Gregorianos medievais, um Quarteto de Cordas de Haydn, um Concerto de Bartók) é, de fato, “religiosa” quando alcança aquela qualidade duradoura que marca o produto de uma profunda visão e do mais alto esforço.

O que dá à música um caráter religioso é a sua capacidade de nos trazer em contato com algo que é infinitamente maior do que nós mesmos. Não podemos nos elevar a um nível mais alto se lidamos apenas com trivialidades, com produtos comerciais baratos. Tais coisas nunca podem elevar. A elevação sempre inclui um elemento de esforço, um esforço da parte daquele que quer ser elevado. Neste sentido, creio firmemente que uma sinfonia de Bruckner ou uma fuga de Bach é muito mais religiosa do que uma canção trivial cantada na igreja. O texto religioso de tal canção pode ser aceitável, mas a música está traindo o que o texto diz. Freqüentemente o conflito entre o texto e a música pode perturbar a pessoa musicalmente sensível se ela não for dotada  de uma quantidade quase sobre-humana de tolerância e paciência. Mas, felizmente, você não precisa ir a uma sala de concerto para experimentar música religiosa do mais alto calibre. Existe um tesouro de músicas religiosas nos melhores hinos cristãos, abrangendo cinco séculos ou mais. Eles estão aí para que nós os usemos e assim, sejamos abençoados.

Shabbat Shalom: Então, em sua opinião, existe uma música que eleva e uma música que não eleva?

Blomstedt: Certamente.

Shabbat Shalom: Como isto funciona?

Blomstedt: Penso que o propósito da música é elevar – e, novamente, estou falando da arte musical da sociedade ocidental. Se a música não cumpre este propósito, ela não é realmente boa. Bach, que era uma pessoa muito emocional, uma vez expressou este conceito com palavras tipicamente suas. Mas deixe-me primeiro fornecer uma contextualização, já que poucos hoje têm alguma ideia de quem realmente era Bach. Freqüentemente as pessoas imaginam Bach como alguém extremamente enfadonho e preso aos padrões tradicionais, que usava uma peruca e não tinha contato com a vida. Gostaria de lembrá-los que Bach tinha vinte e dois filhos. Como alguém pode ser sem emoções, quando tem vinte e dois filhos? E ele os criou como bons cristãos. Era um homem profundamente religioso e muito emotivo. Podia ficar com muita raiva e tenho certeza de que ficava especialmente irado seus filhos e filhas não viviam de acordo com os padrões de música que ele buscava estabelecer. Quando aqueles garotos da escola de São Tomás, em Liepzig não respeitavam os padrões musicais que ele estava tentando lhes ensinar, ou quando ouvia nas ruas ou nas altas sociedades, músicas que não eram da melhor qualidade, podia ficar muito perturbado. Bach disse que a razão final para a música é dar glória a Deus e restaurar a mente e a alma. Para ele, a música que não faz uma dessas duas coisas não é digna nem de ser chamada de música. Não é melhor do que “gritos e arroubos demoníacos”. Havia tal música demoníaca no tempo de Bach. Certamente existe música barroca que se encaixa bem nessa descrição. A música que é cheia de repetições, sem variação ou desenvolvimento. De fato, há muita música barroca que não é particularmente boa. E também existe muita música contemporânea que é música ruim – superficial, trivial, banal. É apenas comum, sem valor, como se estivesse girando um moinho, não sendo digna da emoção ou do intelecto humanos. Este tipo de música era demoníaca para Bach. É claro, Bach era exigente. Mas se você quer ter uma discussão em termos como esses, precisa ser um pouco “preto-ou-branco”. Não á lugar para meio termo aqui. Na música não há forma de ser neutro. “Toda música é boa”, é a filosofia padrão de hoje. Muitos crêem que uma peça de música escrita para a Broadway em Nova Iorque poderia elevar tanto quanto uma sinfonia de Bruckner, ou que uma canção religiosa sentimental poderia ser tão boa quanto o hino “Castelo Forte”, de Martinho Lutero. Em geral, as pessoas evitam avaliar a música. Eles simplesmente vão em busca daquilo que gostam, de qualquer coisa que lhes agrada os ouvidos. Hoje tudo parece estar certo. Considero isto como um conceito dos mais perigosos, crer que qualquer coisa é tão boa quanto qualquer outra. Existem critérios distintos de porque alguma coisa é um pouco melhor, não tão boa, muito ruim, desprezível ou deveria ser evitada a qualquer custo. Porém, tal distinção não é uma ideia muito favorita para a maior parte das pessoas hoje em dia, nem nas igrejas, nem no mundo da arte.

Shabbat Shalom: Quais seriam alguns desses critérios, de acordo com os quais o valor da música pode ser determinado?

Blomstedt: Quando escolhemos música, deveríamos ser pelo menos tão críticos quanto quando compramos um carro novo ou a nossa comida diária. É bem feita? É funcional e durável? É nutritiva, saborosa, não tóxica? Atende às minhas reais necessidades?

A música que vem de fontes populares [*] raramente é de qualidade duradoura. É escrita rapidamente, agrada os ouvidos, sacode as tripas, mas perde valor rapidamente e nos deixa espiritualmente vazios. É como doce – não é adequado para comida. E se você comer muito, vai acabar com você.

A música que vem de fontes “clássicas” é sempre uma escolha mais segura. Seu valor já foi provado pelo tempo, e a sua mensagem é atual para hoje assim como há dez, cem ou trezentos anos atrás. Ela pode ser simples na superfície, mas no seu interior – depois de ouvir repetidamente – há uma rica teia de associações que finalmente tocam todos os níveis da nossa personalidade: corpo, mente e alma.

Esta é a música que também tem um impacto ético, capaz de elevar o ouvinte. Ouça somente estações de música clássica! Evite as coisas ruins. Elas podem ser danosas para a sua saúde. A escolha é sua!

Shabbat Shalom: Se compreendi corretamente, o papel principal da música religiosa é elevar. O senhor vê alguma outra função para a música religiosa, por exemplo, inspirar a comunhão, as emoções, criar associações?

Blomstedt: Permita-me moldar um pouco a pergunta. Se você perguntasse “A única razão para a música religiosa em um culto é elevar?”, então eu diria que sim. Mas, é claro, os crentes, como todas as outras pessoas, ajuntam-se de muitas formas, por muitas razões diferentes. Às vezes nos ajuntamos para tocar um Quarteto de Cordas de Haydn, ou nos ajuntamos para cantar músicas folclóricas com um violão, ou, como era praticado antigamente, fazemos algum trabalho juntos e cantamos canções rítmicas para que possamos fazer o trabalho de forma mais fácil. Assim, existem muitos propósitos para a música. Mas com respeito ao culto, aonde Deus é Aquele que deve ser adorado, sinto que apenas a mais alta definição de música pode ser utilizada. Existem muitos estilos diferentes de adoração e, é claro, existem muitos estilos étnicos diferentes, porque existem muitos contextos diferentes. Mas qualquer que seja o nosso contexto, a ideia principal é que quando fazemos música diante de Deus, em Sua presença, ela deve equiparar-se à nossa imagem de Deus.

Um efeito recíproco é que a música utilizada no culto está, por sua vez, nos ajudando a moldar a nossa imagem de Deus. Se a música que fazemos para os cultos é simplesmente a mesma coisa que ouvimos na rua, no rádio, no salão de dança, então Deus se torna simplesmente mais um camarada, nosso amigão. De certa forma, Ele certamente é isso, mas este quadro de Deus nos dá apenas uma visão muito limitada daquilo que Deus realmente é. Ele é muito mais do que nosso irmão ou nosso amigão. A imagem que temos de Deus deveria ser uma imagem muito rica. Ele não é somente Aquele sobre quem inclinamos a nossa cabeça quando estamos cansados, e Ele nos conforta dizendo, “Tenha conforto, Eu estou sempre com você. Tenha coragem, Eu sempre te perdoarei. Apenas seja sincero e apenas Me ame, e você estará bem”. Esta é apenas uma parte de Deus. Deus é infinitamente mais. Ele é o Criador. Ele é o nosso empregador. Ele é aquele que te disse “Vá e seja uma testemunha para Mim, e tome cuidado com o que você fala, como se expressa. Lembre-se que você foi criado à Minha imagem. Não faça coisa alguma que posa distrair da mais alta ideia que você tem de mim, quando falar sobre Mim com outras pessoas”. Ele é o nosso Juiz. Devemos ter o mais alto respeito para com Ele. E, para que possamos ter alguma ideia de quão grande Ele é, devemos passar tanto tempo quanto possível procurando lugares onde possamos ter um vislumbre de quem Ele realmente é: na natureza, nos livros da melhor categoria e no melhor tipo de música. Não simplesmente olhar em volta na rua, mas erguer os olhos para as montanhas, onde Deus está. É isto que te ajudará a criar uma imagem madura de Deus.

Shabbat Shalom: Onde o senhor vê a conexão entre a música e a espiritualidade? Qual é esta conexão, se é que ela existe?

Blomstedt: Há uma clara conexão. Lembro-me de que, em uma entrevista há muitos anos atrás, recebi uma pergunta semelhante. Respondo que conheço muitos companheiros artistas – pintores, escritores e, especialmente, músicos – do mais alto gabarito, e pendo que, de uma forma ou de outra, eles são religiosos em seus corações. O que eu quis dizer é que todas essas pessoas são profundamente espirituais. Eles não precisam ser cristãos, podem muito bem ser judeus ou muçulmanos, ou qualquer outra coisa, mas são pessoas espirituais. Porque a arte é uma questão espiritual. A música lida, de uma forma semi-abstrata, com as realidades da vida. Como disse antes, a música é um símbolo da vida. E Deus é o doador da vida. Se você lida com um símbolo da vida – a música, no caso – não pode se ocupar com ela sem lidar com o Doador da vida, de uma forma ou de outra. Você está procurando por Ele. Mais cedo ou mais tarde todos nós buscamos respostas para as perguntas “Qual é a origem de tudo isso? Quem sou eu e onde estou? Como me relaciono com isso? O que existe por trás de tudo isso?” A música não pode dar a resposta completa, assim como a teologia não pode dar a resposta completa, porque ambas não são ciências exatas. Ambas lidam com assuntos profundamente espirituais e estão buscando a verdade final am uma área que sabemos que o nosso conhecimento permanecerá “apenas em parte”. Contudo, a música, melhor do que ciência, pode nos dar uma ideia da infinita grandeza de Deus. Quando você ouve certas músicas, é como se o horizonte fosse levantado, como “Ahhhhhhhh”. Todo o teu ser está sendo preenchido com algo que infinitamente maior do que você mesmo. Isto não pode ser obtido pela música que age nas tuas pernas ou que apanha os teus ouvidos como uma melodia agradável, como “pá-pára-pá-pá-rara…” Isso é bom. Eu sinto o ritmo no meu corpo. Mas então, Pare. Não há mais nada. Pare. Nada que revitalize a mente. Nada que eleve a alma. Esta música pode ter uma função nos barzinhos ou no salão de dança. Mas não tem absolutamente qualquer lugar na adoração.

Shabbat Shalom: O que o senhor pensa do movimento atual que integra cada vez mais música popular e étnica “contemporânea” nos cultos de adoração?

Blomstedt: Antes de tudo, pude ouvir que você colocou a palavra “contemporânea” entre aspas. E o fez corretamente, porque a palavra “contemporânea” é usada de forma completamente errada, particularmente quando se compara “contemporânea” com “apropriada” para a época atual. Deixe-me dar um exemplo. Tenho ido a cultos onde o programa diz que seria tocada “música contemporânea”. Porém, o que eles realmente querem dizer é: “Venha e ouça música do mesmo tipo que você ouve a semana inteira nos barzinhos, nas estações de rádio de música popular, música que evita os sons grandiosos do órgão e a ressonância da antigas catedrais. Venha e fique “ligado” seja como todos os outros, seja você mesmo, seja ‘contemporâneo’.” Realmente, “contemporâneo” é uma palavra positiva demais para ser usada para tal filosofia.

Todas as outras pessoas que apreciam a música realmente boa são vistos como totalmente “caretas”, como se não tivessem contato com a vida real. Essas são as pessoas que gostam de Bach ou de Canto Gregoriano, o até mesmo recitam os Salmos. Com relação aos últimos, alguns dizem “Termos os Evangelhos é o bastante. Por que ler os Salmos se temos os Evangelhos? Jesus é tudo o que precisamos.” Isto também está, é claro, completamente errado. Os Salmos são tão contemporâneos quanto qualquer canção escrita ontem. Assim, contemporâneo não é uma qualidade que poderíamos discutir sem qualificar cuidadosamente o que queremos dizer com esta palavra.

Quando você me pergunta sobre o valor da música contemporânea, tanto existe música contemporânea que é muito boa, quanto música contemporânea que é muito ruim. Quero enfatizar que existe muita música contemporânea de grande valor sendo escrita atualmente. Tal música, contudo, raramente é executada nesses cultos de adoração “contemporâneos”. Por outro lado, existe música antiga que é vulgar – especialmente música do século dezenove – mas que, mesmo assim, é executada em muitos cultos.  Esta música é completamente banal e tem muito pouco a ver com a mensagem bíblica. É claro que também existe música antiga que é do mais alto gabarito, música de valor que se aproxima do valor do texto religioso.

Estou pensando em uma frase dita por Abraham Joshua Heschel, o grande pensador religioso e rabino judaico da Polônia, educado em Berlim, e que ensinou no Seminário Teológico Judaico até a sua morte em 1972. Ele não era um músico treinado, mas gostava de música. Heschel podia expressar-se maravilhosamente bem com as palavras. Ele é um doa escritores e filósofos religiosos que leio, com grande benefício para mim. Ele disse certa vez que gastava horas e horas, dia após dia, tentando com enorme esforço encontrar as palavras certas para expressar algumas ideias válidas a respeito de Deus. “E então,” Heschel diz, “à noite eu podia ir a um concerto, com música de Bach, Mozart, Beethoven, Brukner, Mahler, etc. E eu pensava: Essas pessoas disseram [o que eu queria dizer] muito, muito melhor.”

Shabbat Shalom: O que o senhor acha da, assim chamada, “terceira corrente”, que combina música clássica, popular e étnica, e que pode ser vista entre muitos dos músicos e compositores atuais de música clássica?

Blomstedt: Não estou muito certo de qual é o objetivo da pergunta. É claro, conheço muito bem que essas tendências existem no âmbito da música artística. Este tipo de cruzamento é típico dos nossos tempos. Ele deriva, em muito, da filosofia atual de que toda música é de igual valor, o que eu acho que é um entendimento completamente errado, mesmo se um bom compositor pode integrar em sua música elementos de muitas fontes diferentes. Mas penso que a verdade básica de que todas as pessoas tem o mesmo valor é aplicada aqui de forma equivocada. O teu valor, como ser humano, é o mesmo se você for um Ph.D. ou um varredor de ruas. Qualquer que seja a cor da pele, isso não faz diferença quanto ao valor da pessoa. Mas, mesmo assim, o valor do produto daquilo que realizamos não é o mesmo. O mesmo é verdade com relação à música. A música que é escrita para consumo diário, que você ouve nos restaurantes, nos elevadores, no rádio, ou quando um carro passa com o seu “tum-tum-tum-tum-tum” [tons graves] pesado, não tem o mesmo valor do que uma canção folclórica ou de uma sinfonia de Brahms. Precisamos atribuir valores às coisas com as quais estamos lidando.

Desta forma, o esforço para combinar diferentes tipos de música – música que tem exigências muito modestas com respeito ao intelecto (por exemplo, música de dança, música de trabalho) com música que tem as mais altas ambições no campo da música (por exemplo, uma sinfonia, uma ópera, uma fuga, ou um oratório) – está fadado a ser apenas moderadamente bem sucedido, dependendo do grau de integração que o compositor pode conseguir. Esses cruzamentos podem certamente ser uma influência positiva e criar algumas ideias interessantes. Tome, por exemplo, Bach. Ele era um cadinho de influências, embora nunca tivesse deixado a sua região natal da Turíngia, na Alemanha central. Ainda assim, por causa de seu talento e da seriedade de seu trabalho, mas também porque ele estava embebido por diferentes influências, Bach se tornou o maior músico de igreja que já viveu. Sua música não seria o que ela é sem a influência italiana ou francesa. Não há nada que possamos dizer contra obter ideias de todas as partes à sua volta.

Penso que a grande questão no cruzamento que vemos hoje na música de arte é resultado de frustração. Nos anos cinqüenta, sessenta e setenta, a música de arte estava se tornando cada vez mais intelectual, tão super-intelectual e vazia, correspondentemente, de emoção, que as pessoas pararam de ir a este tipo de concertos. A música havia se tornado complexa demais. Compositores sérios, muitos deles os melhores de sua geração, perderam o seu público; e quando você perde o seu público, perde a principal razão pela qual ser músico. Você quer se comunicar alguma coisa, mas se não há alguém que receba, qual é a vantagem? Foi então que os compositores descobriram seu novo objetivo: “Vamos escrever música que as pessoas possam compreender.” Estamos no meio desta tendência agora. Ela começou no final dos anos oitenta. “Oh,” as pessoas disseram, “isto é chamado de música moderna. E eu gosto disso. Eu acho que sou bastante musical!” Elas estavam felizes por descobrir que havia uma música contemporânea que não era tão completamente cerebral que havia perdido o seu contato com a emoção humana. Este é um dos contextos dos cruzamentos contemporâneos. Os compositores sérios querem se tornar conhecidos. Querem usar as suas habilidades como compositores que estudaram muito para alcançar o público. Não vejo coisa alguma de errado nisso. Afinal de contas, este sentimento brota de uma necessidade muito legítima de se comunicar. Quanto desta tendência moderna está negando os verdadeiros objetivos dos compositores sérios, para tornar-se uma coisa barata, para praticamente prostituir-se, para agradar e se tornar conhecido, isso deve ser julgado apenas por especialistas. É claro, toda música religiosa comercial que temos hoje é deste tipo. Há, talvez, um por cento que poderia suportar um teste sério. A maior parte da música religiosa comercial é fabricada.É muito fácil escrever música deste tipo. Eu mesmo já tentei. Posso escrever uma música assim em dez minutos. Sem problema. É claro, logo ela é esquecida, em talvez dez minutos, uma semana, um ano ou dois. Em contraste, é raro que um compositor com as mais altas ambições e com o mais alto estudo, escreva uma peça para comunicar algo de uma forma que um público muito grande capte e compreenda imediatamente. Encontrar um produto que possa satisfazer tanto as necessidades intelectuais quanto as emocionais exige um compositor realmente grande e um esforço sincero por um longo tempo, e uma longa experiência. Há poucos que podem fazer isso.

Shabbat Shalom: Como o senhor vê as diferenças entre a música cristã e a música judaica?

Blomstedt: Eu não conheço a música judaica muito bem, devo confessar. A maior parte das pessoas, assim como muitos músicos e musicólogos, não conhecem a música judaica. Mas o que é “judaico”? Certamente, estamos acostumados com a música escrita por judeus – por exemplo Felix Mendelssohn Bartoldy, Gustav Mahler, Giacomo Meyerbeer, Leonard Bernstein, Aaron Copland, George Gershwin. A música deles é, logicamente, variada e diversa. Assim como há uma enorme diferença entre a música de Gershwin e a de Mendelssohn, também existe uma enorme diferença entre Mendelssohn e Mahler. Todos eles são judeus. O que eles tem em comum? Você deve definir mais claramente o que quer dizer com “música judaica”. Se está se referindo a música religiosa judaica, então os próprios judeus dificilmente tem uma ideia de como a antiga música judaica realmente soava e como ela era. Sabemos muito pouco sobre como os salmos eram cantados no tempo de Davi. O mais próximo que podemos chegar na comparação com a tradição ocidental é o canto Gregoriano. Sabemos que o canto Gregoriano, o qual é a expressão mais antiga de música artística cristã – desenvolvendo-se do terceiro ao sexto séculos e então codificada por volta do ano 600 – tem as suas raízes no cântico das sinagogas. Tem havido antigas comunidades judaicas isoladas na Diáspora, especialmente na Península Arábica, que mantiveram a sua tradição e os seus rituais praticamente intactos durante séculos. No século dezenove, estudiosos modernos, incluindo estudiosos judeus, tomaram consciência disso e começaram a compreender melhor a ligação entre o canto Gregoriano e o canto bíblico. Certamente, o canto Gregoriano é uma forma de arte praticamente esquecida atualmente. Os musicólogos sabem disso; muito poucos sacerdotes católicos o executam atualmente, mesmo nas grandes catedrais católicas. Existem alguns que o cultivam – em algumas catedrais na Alemanha, mas especialmente na França – e eles o fazem de uma forma maravilhosa. É uma revelação ouvir esta música que cresce a partir do texto e o segue. Mesmo a atmosfera desta música te dá uma ideia da grandiosidade de Deus. O canto Gregoriano consiste de uma linha; é desacompanhado, apenas uma voz sendo entoada por vários monges juntos. Ele está em perfeita harmonia com a nave igreja que é preenchida por ele, com as altas abóbadas da igreja e suas infinitas acústicas. Ali está Deus. O cristão medieval também sabia que Deus não está ali fisicamente, mas em espírito. Este era o Seu mundo. A igreja conduzia ao crente a ideia da grandeza de Deus. Parece que a música que foi escrita para esses Salmos – a maioria dos textos vem dos Salmos, apenas alguns dos profetas e do Novo Testamento – aproxima-se bastante da ideia que os judeus dos tempos bíblicos deviam ter sobre música. Quando Jesus levantou-se na sinagoga em Cafarnaum e “leu” uma passagem de Isaías, certamente Ele não estava lendo como lemos hoje. Ele estava cantando com uma voz elaborada, porque as palavras de Deus não deveria ser falada no estilo quotidiano. E ainda assim, podemos apenas especular como isto era realmente feito. Em contraste, a música praticada nos dias de hoje nas sinagogas é bem conhecida, mas até onde sei, a maior parte dela foi moldada pela prática do século dezenove.

Shabbat Shalom: Como o senhor explica a importância da música para os cristãos?

Blomstedt: A música é importante para qualquer pessoa. Mas por que ela é especialmente importante para os cristãos? A única resposta é que a música pode ajudar a formar uma imagem mais completa, mais profunda e mais verdadeira de Deus. A música em si mesma ajuda de muitas maneiras. Da maneira mais primitiva, ela ajuda a fazer o trabalho – são as músicas rítmicas de trabalho. Ela ajuda a expressar contentamento e sentimento de comunidade, por exemplo, quando alguém executa uma dança – e estou falando aqui de danças folclóricas, não da dança aos pares, americana ou ocidental. Esta é uma função maravilhosa da música. A música em sua forma mais elevada, como nós ocidentais a compreendemos, pode ajudar de maneiras ainda maiores: a formar a personalidade, a aprofundar a nossa visão de vida, e, sobretudo, a entrar em contato com o Eterno. Søren Kierkegaard, o grande filósofo dinamarquês, e pai da facção moderna de filósofos existencialistas descreve em um de seus principais trabalhos, Estágios no Caminho da Vida, três níveis de vida: os estágios estético, ético e religioso. O estágio puramente estético parece maravilhoso, mas o que Kierkegaard quer dizer é o estético em um sentido quase idólatra. É a respeito de coisas que agradam apenas aos sentidos: como você experimenta o cheiro, o sabor, a visão. A avaliação estética é: o que é agradável de se ver é bom, o que é gostoso é bom, o que é bonito é bom, o que soa bem ao teu ouvido é bom. A questão ética chega apenas em um estágio mais elevado, quando o homem amadurece um pouco mais. Neste nível, os seres humanos se perguntam: “Tudo o que é gostoso é realmente bom? Tem um bom propósito? É bom para você, inclusive no longo prazo? Te ajuda a ser bom para os outros?” Esta é a questão ética. Finalmente chega a questão mais elevada: Se você acha que é bom para você e para outros seres humanos, o que Deus acha, Ele que conhece melhor? Muito poucas pessoas perguntam a si mesmas este tipo de pergunta. É triste dizer que a maior parte das pessoas de hoje em dia permanecem no nível estético, quando se trata de música. O que soa bem e agrada ao ouvido é considerado ser bom. O lema é “Se eu gosto, é bom.” Mas as pessoas deveriam fazer as outras perguntas: “O que é realmente bom para você? O que e ajuda a desenvolver a personalidade, a desenvolver o melhor de você?” É o nosso dever desenvolvermos os talentos musicais que nos foram concedidos e, como disse antes, todos têm talentos. Finalmente, a maioria das pessoas não faz a pergunta final, nem mesmo as pessoas religiosas: “O que Deus pensa?” Apenas umas poucas pessoas chegam a este estágio onde elas lutam com Deus, para chegarem a um tipo de visão mais clara daquilo que Deus quer de nós. A maior parte das pessoas passa as suas vidas apenas no nível estético. Para usar uma parábola de Kierkegaard, é como se os seres humanos passassem toda a sua vida no porão de suas casas de dois andares, porque é ali que guardaram todas as suas provisões, carne, bebidas, etc. Porém, esses seres humanos raramente vão até mesmo ao primeiro andar, onde há luz, onde podem olhar um pouco à sua volta e expandir seus horizontes. E eles nunca vão até o segundo andar, de onde poderiam ter esta linda visão – poderia ser uma visão do céu. Passam toda a sua vida no porão. Que triste!

Shabbat Shalom: Está muito claro que o senhor defende um padrão bastante alto de música. Deixe-me fazer uma pergunta diferente, mas de certa forma relacionada. Considerando o efeito da música, como o senhor comentaria o fato de que nos campos de concentração os oficiais da SS podiam ser ouvintes de boas músicas e ainda serem capazes de perpetuar atrocidades?

Blomstedt: Bem, a música não é uma fórmula de magia, A música é como um catalisador. Ela age dentro de você. Algumas das pessoas mais terríveis da história da humanidade foram alguns papas. Aparentemente, a fé cristã não os ajudou a serem pessoas decentes. Eles não tomaram a mensagem cristã em seus corações; simplesmente a usaram como uma forma de conseguir poder. Da mesma forma, a música não te transforma se você não permite que ela te transforme. Assim como o evangelho. Não é uma fórmula. Uns poucos textos bíblicos não garantem a salvação. Esta é uma maneira muito primitiva de ver a mensagem cristã. Isso é superstição. Assim como a crença de que o pior criminoso seria salvo quando o sacerdote chegasse e fizesse o sinal da cruz sobre ele. Ou a crença de que uma criança iria para o inferno se não fosse batizada quando tivesse um dia. A mensagem cristã é para a pessoa como um todo – para a mente, para a alma, para as emoções. Ela deve ocupar a pessoa por inteiro. A boa música pode ser usada por profissionais em uma demonstração de poder. Mas desta forma, não se permite que ela transforme a personalidade. Estou convencido que a boa música em uma influência que pode elevar qualquer pessoa que realmente abra a sua alma a ela mas, novamente, não é uma fórmula. De fato, algumas das piores figuras que conheço são músicos.

Shabbat Shalom: Qual é o seu mais profundo desejo com relação ao seu envolvimento pessoal na vida musical? Qual é a sua maior frustração como músico?

Blomstedt: Talvez seja mais fácil começar com a última pergunta. A nossa discussão revelou algumas das minhas frustrações. Minha maior frustração na música é ver como o talento musical não é utilizado e, desta forma, desperdiçado. Todos nós temos talentos em algum grau; mesmo aqueles que nunca sonharam em tocar um instrumento, tem talentos. Você pode discernir níveis de afinação, ouvir a diferença entre o forte e o suave, ou a diferença entre um homem e uma mulher cantando. Muito poucos, menos de um milésimo de um por cento não possui estas habilidades. Portanto, todos nós somos musicais. Mesmo que nem todos de nós tenham desejado desenvolver-se e tocar como músico, todos nós temos a possibilidade de desenvolver pelo menos uma apreciação pela música. Vejo muitas pessoas que nunca irão sair de seus porões, que estão ficando lá em baixo com a música mais vulgar e banal possível, porque pensam que ela soa bem e é gostosa, mas não percebem que, na realidade, esta música não é boa para eles. Já houve muitas pessoas que proclamaram que não é bom para você viver apenas com doces, simplesmente porque ele é gostoso. A maior parte das pessoas em nossa cultura tem uma ideia bastante boa de como deveria ser a sua dieta. Certamente não há qualquer adulto que coma doces no desjejum, almoço e jantar. Contudo, existem milhões e milhões de pessoas que ouvem música de doce de manhã, à tarde e à noite, na rua, no salão de baile, na igreja, em toda parte. Musica de doce, música de doce. E acham que isso os leva para mais perto do que é bom, e até mesmo mais perto de Deus, porque nunca provaram outra coisa. Isso é trágico. Esta é a minha maior frustração, musicalmente falando.

Falando do ponto de vista religioso, penso que a imagem que temos de Deus é criada principalmente pelo ambiente em que vivemos. Por exemplo, se temos uma mãe e um pai maravilhosos, poderemos certamente ter uma boa ideia básica do que Deus deveria ser, ou seja, amoroso, sabedor de todas as coisas, digno de confiança, ajudador – e nosso justo juiz. Da mesma forma, outras pessoas que não tiveram bons pais, ou que perderam seus pais, podem crescer e se tornar boas pessoas de qualquer forma, porque tiveram outros que serviram de modelo e que lhes deram uma ideia daquilo que eles poderiam ser. Musicalmente falando, a forma pela qual cantamos a respeito de Deus na igreja ajuda a criar uma imagem de Deus. Creio que, quanto melhor for a música, mais elevadas e mais ricas serão as ideias que poderão ser transmitidas sobre Deus. Não estou afirmando com isso que apenas um musicólogo poderá ter uma ideia apropriada sobre como é Deus. Assim como o estudo de teologia não te torna, necessariamente, um melhor cristão. Mas a música é uma ferramenta maravilhosa para ajudar a alargar o nosso horizonte, para criar espaço para alguém que é infinito para nós – Deus. Muito das músicas preferidas nas nossas igrejas tem limitado a ideia que podemos ter de Deus. Isto também é trágico.

Meu desejo mais profundo é revelar a Deus na música. É por isso que eu me concentro nos grandes mestres em meus programas de concerto. Deus fala mais claramente através deles. Também existem profetas menores no Cânon musical, mas eles devem falar a mesma mensagem. O propósito final deve ser, como disse Bach, “para a glória de Deus e restaurar a mente e a alma.” Pelo menos, a música do cristão não deveria ter outro propósito.


[*] O termo usado na expressão “fontes populares” denota aqui o sentido de música comercial, e não o sentido de música folclórica (nota do tradutor).


O Dr. Herbert Blomstedt nasceu em Springfield, MA, EUA e se criou na Suécia e na Finlândia. Estudou na Academia Real de Música de Estocolmo e na Universidade de Upsala. Mais tarde tomou aulas de regência com Leonard Bernstein, Igor Markevitch e Jean Morel, Em 1954 foi escolhido como Regente Principal da Orquestra Sinfônica de Norrköping, Suécia (1954-61). Blomstedt assumiu o posto de Regente Principal de orquestras escandinavas muito conhecidas – como a Orquestra Sinfônica de Oslo, Noruega (1962-67), a Orquestra Sinfônica da Rádio Dinamerquesa, em Copenhagen (1967-77) e a Orquestra Sinfônica da Rádio Sueca, em Estocolmo (1977-83) – Enquanto ainda ensinava como Professor de Regência na Academia Real de Música, na Suécia (1961-71). De 1975 a 1985 foi o Regente Principal e Direetor Musical Geral da Orquestra Estatal de Dersden (“Staatskapelle“) com a qual excursionou por vinte países europeus, bem como EUA e Japão. Tornou-se então Diretor de Música da renomada Orquestra Sinfônica de São Francisco (1985-1995), a qual ele levou a excursões bem recebidas a aclamados centros musicais internacionais. Desde 1986 é o Regente Honorário da Orquestra Sinfônica NHK, de Tókio e, desde 1995, Regente Laureado da Orquestra Sinfônica de São Francisco. Depois de três anos como Regente Principal da Orquestra Sinfônica NDR, de Hamburgo (1996-98), foi escolhido como Regente Principal (“Gewandhauskapellmeister“) da famosa Orquestra do Gewandhaus de Leipzig (1998-até hoje).

Seus muitos prêmios incluem quatro doutorados honorários, Cavaleiro da Estrela do Norte (agraciado em 1971 pelo Rei da Suécia), e Cavaleiro do “Dannebrogen” (agraciado em 1978 pela Rainha da Dinamarca). Recebeu o Prêmio Grammy pela óperaCarmina Buranade Orff e pelo Réquiem Alemão de Brahms.

Depois de morar na Suécia, atualmente mora há muitos anos em Lucerne, na Suíça. (voltar ao topo)


Fonte: Revista Shabbat Shalom – Outono de 2002 – Volume 49, nr. 2, pp. 8 – 17

Traduzido por Levi de Paula Tavares em Março/2006