Louvar a Deus Acima de Todas as Coisas
Entrevista com o Prof. Ênio Monteiro
O tema “Música na Igreja” sempre provocou controvérsias. A busca do equilíbrio no louvor a Deus é um anseio antigo. Para buscarmos mais alguns parâmetros para nossas conclusões sobre este assunto, conversamos com o prof. Ênio Monteiro de Souza, dedicado pesquisador deste assunto. Formado em matemática pela UFRJ, com pós-graduação em Análise de Sistemas, o prof. Ênio atua como consultor de empresas na área de informática e professor universitário. É filho do compositor sacro prof. Jonas Monteiro e, com o dom herdado do pai, já compôs mais de 100 músicas, 3 delas fazem parte do hinário Adventista. Residente em Santos, casado com Vilma Monteiro, é pai de Suzana e Sandro, ambos casados, e avô da pequena Ana Carolina.
JORNAL ADVENTUS: O tema “Música na Igreja” tem levantado grandes polêmicas. Historicamente falando esta divergência de opiniões sempre ocorreu com esta mesma intensidade?
Prof. ÊNIO: Sempre aconteceu. Porque a linguagem muda e existe uma certa dificuldade da Igreja em se adaptar às novas linguagens. Este é sempre um processo doloroso, a começar por Lutero.
J.A.: A seu ver, qual o papel principal da música na Igreja?
Prof. Ênio: Louvar a Deus e comunicar a mensagem. Não se deve fugir disto.
J.A: O senhor acredita que a música que tem sido tocada em nossas Igrejas está dentro dos princípios bíblicos
Prof. Ênio: Nem toda. Acho que estamos perdendo de vista os princípios, a comunicação da mensagem e o louvor a Deus, e trocando isso por objetivos menos nobres. Lembremos sempre que os princípios não mudam, eles são os mesmos sempre, os padrões, que são a aplicação prática dos princípios, é que variam. E não podemos basear nossa religião, nossa música, em padrões.
J.A.: Quais seriam estes princípios?
Prof. Ênio: São cincos princípios básicos: o primeiro refere-se ao conteúdo da música que deve ser cristocêntrico, comunicar a Cristo; o segundo determina que a música deve ser adequada ao público que a está recebendo, temos que pensar nos outros e não em nós; em terceiro lugar é preciso ter tolerância, aceitação da diversidade; a clareza é o quarto fator , a mensagem precisa chegar clara ao ouvinte; e o quinto aspecto refere-se aos resultados proporcionados. Todos estes princípios são bíblicos, como exemplo podemos citar Paulo que disse ter se tornado grego para com os gregos , judeu para com judeus, e assim por diante, não que ele tivesse um evangelho para cada um, o evangelho era o mesmo, mas a linguagem para transmiti-lo variava.
J.A.: É normal que a música da Igreja sofra influência da música secular?
Prof. Ênio: Sim, no sentido de que a música secular define a linguagem que o povo entende, e que , como conseqüência nós devemos usar. Logicamente que sempre com cuidado, pedindo discernimento do Espírito Santo, para não permitir que no processo de adaptação da linguagem elementos que tenham uma conotação negativa indesejável venham junto.
J.A.: É possível avaliar o quanto a música atinge nossos sentidos e influencia nossas decisões?
Prof. Ênio: Não saberia avaliar exatamente o quanto. Mas certamente a música tem um poder fantástico para atingir nossos sentidos e influenciar nossas decisões pela capacidade que ela tem de mexer com as nossas emoções. A música atinge diretamente o hemisfério direito do nosso cérebro, que é o hemisfério da intuição, da sensibilidade. O importante para a comunicação da mensagem, é que atinja os dois lados do cérebro: emoção e razão.
J.A.: A música é uma somatória de vários itens: como encontrar o equilíbrio entre eles para erguer um louvor adequado a Deus?
Prof. Ênio: Principalmente buscando equilibrar emoção e razão. A razão deve ser usada com muito critério. A letra tem que ser um elemento fundamental no processo, ela faz muita diferença para contrabalançar o lado emocional que é natural da música. É como um pregador o mesmo cuidado que ele tem ao escolher suas palavras e preparar o seu sermão, devemos Ter nós músicos, ao compormos e apresentarmos nossas músicas. Ao escolher uma música para cantar, escolha pela letra, pelo tema, pelo assunto, pense na mensagem que será transmitida, e não na emoção contida nos aspectos musicais.
J.A.: Como avaliar se uma música é ou não apropriada para o louvor a Deus e a pregação da sua mensagem
Prof. Ênio: Pelo efeito que causa nas pessoas. A avaliação é pelos frutos: “Pelos frutos os conhecereis”. É assim que os conflitos sobre a música na Igreja no decorrer da história tem sido resolvidos. Não é uma avaliação fácil, mas ela acaba acontecendo através da ajuda de Deus. O número de transformações e conversões é que deve ser nosso critério, e não a quantidade de aplausos ou CDs vendidos
J.A.: Já vimos que a forma como a música atinge o receptor tem a ver com sua cultura musical. Como fazer então para atingir públicos diferenciados? Devemos adaptar a música ao público, ou este recurso jamais deve ser utilizado?
Prof. Ênio: Temos que falar uma linguagem que seja entendida pelo público. Devemos adaptar a linguagem, não o gosto. O gosto não é um bom juiz, não é um bom critério de julgamento. Sem dúvida é importante que nossos Diretores de Música se lembrem dos diversos segmentos da Igreja, fazendo um rodízio. Já tenho visto alguns dizerem que os músicos esqueceram dos velhos”; isso tem uma explicação: A maioria das pessoas que estão se propondo a fazer um trabalho na área de música são jovens, que escolhem a linguagem deles. Já outras Igrejas definem padrões mais apropriados para os mais antigos. O correto é haver um certo balanceamento e muita tolerância.
J.A.: Nossos jovens, em especial, recebem uma grande carga musical de solistas, grupos e corais internacionais. A seu ver, esta influência é positiva ou negativa?
Prof. Ênio: Trata-se de uma cultura diferente e, o que acaba acontecendo é que faz-se um uso indiscriminado do que chega por aqui.O uso da cultura estrangeira sem uma avaliação adequada do quanto ela vai ser útil é perigoso. Simplesmente imitar porque é bonito não quer dizer que vai ter o mesmo poder de comunicação.
J.A.: O que nossos irmãos Diretores de música podem fazer no sentido de estarem bem orientados quanto a estes aspectos da música na Igreja?
Prof. Ênio: Nossas Igrejas devem com freqüência, promover eventos e palestras sobre este assunto para manter nossos irmãos constantemente atualizados e esclarecidos. Onde este trabalho tem sido eficiente, verificamos é que a Igreja tem sido ricamente beneficiada.
J.A.: Deveria existir em nossas igrejas uma Comissão específica para música? Que acompanhasse bem de perto este setor?
Prof. Ênio: Um trabalho neste sentido seria muito positivo, especialmente se este grupo trabalhasse com objetivos de orientação na questão dos princípios, da finalidade da música, e de avaliação e acompanhamento dos resultados para verificar se estão na direção pretendida.
J.A.: Que mensagem o Senhor gostaria de deixar para os leitores que de alguma forma, estão ligados à música na igreja?
Prof. Ênio: Que voltemos às finalidades, aos valores fundamentais e aos princípios. A partir disto, uma série de problemas que se tem nesta área serão evitados. Temos certeza de que o nosso Deus é um só, que nos ama, e aceita o nosso louvor incompleto e inadequado porque sabe que somos falhos. Mas façamos o nosso melhor em Seu nome!