Revendo Nosso Evangelismo
autor desconhecido [*]
“Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê […]. Porque no evangelho é revelada, de fé em fé, a justiça de Deus” (Romanos 1:16,17).
Sistema de Apelo (Apelo Irresponsável)
Há atualmente nas pregações e nos eventos evangelísticos de muitas igrejas o que podemos chamar de sistema de apelo: métodos e práticas que procuram produzir um resultado numérico satisfatório no momento do apelo. Quando falamos sistema de apelo não estamos nos referindo ao apelo em si (bíblico), mas a algo que procura tornar o apelo (mais) “eficaz“. É possível?
Os pilares desse sistema normalmente são a psicologia, a demonstração visual e o pragmatismo. Na verdade poderíamos colocar os dois primeiros como resultados do último. Quando falamos psicologia não estamos desmerecendo o trabalho dos psicólogos, mas apenas afirmando o óbvio: seu trabalho é humano. Os argumentos psicológicos geralmente contêm as seguintes ideias:
- A indisposição dos incrédulos é resolvida quando o pregador faz o apelo para “vir à frente” num momento em que a pressão sob a sua vontade é grande. Assim o apelo se torna uma saída emocional, o escape para a pressão. Isto é percebido, por exemplo, em filmes e novelas quando exercem, geralmente, efeito danoso, pois oferecem um alto grau de emoção sem um escape para isso. Isto é psicologicamente correto.
- Uma resposta que envolva uma ação diante de outros irá levar a um compromisso mais sério. Quando mais pública a atitude, menor o risco de recaída, maior o compromisso. Isto é psicologicamente correto também.
- As emoções, os sentimentos, a contrição são “a porta para o Espírito Santo entrar no coração do pecador”, pois é no momento de maior pressão e abalo emocional que o pecador está (mais) disposto e, portanto pronto a “vir a Cristo”. Isto é psicologicamente correto para produzir resultados ou decisões.
- Não importa inicialmente a profundidade do conteúdo da pregação, o objetivo é a disposição do ouvinte, através da emoção e dos sentimentos, pois quando ele está disposto a “vir a Cristo” emocionalmente (quebrantado), então está mais disposto a aprender e seguir a Cristo. A demonstração visual seria o argumento de que o fato de haver muitos se decidindo ocasionaria uma disposição naqueles que ainda não responderam ao apelo. E por isso o apelo não seria importante apenas aos que foram à frente, porém aos que estão vendo essas confissões públicas. Isto, inclusive, tem apoio psicológico. Mas com certeza não haveria outro motivo tão espúrio (superficial) quanto este!
O pragmatismo fundamenta esses argumentos porque seu lema é: “Produz resultados? Então deve ser adotado. É um sucesso? Então é bom”. Normalmente um pragmático é um liberal inconsciente, porque ele descobre que quanto menor o rigor (aprofundamento) do evangelho, maior é a aceitação e o crescimento da igreja, isto é, quanto maior a satisfação das necessidades emocionais, profissionais, físicas e sociais de cada um em detrimento do crescimento no conhecimento da Palavra, maior o “vir a Cristo” em seus sistemas de apelo. E à medida que os métodos psicológicos produzem mais resultados, a Bíblia então passa a ser usada como ilustração, pretexto de uma pregação “bíblica”, para se acomodar a uma sociedade viciada em auto-estima e entretenimento.
As opiniões seguintes resumem bem o que queremos dizer a respeito desse evangelismo moderno, cujo pilar é um sistema de apelo:
- “O Movimento de Crescimento de Igreja sempre enfatizou o pragmatismo, e ainda o faz, embora muitos o tenham criticado. Não é o tipo de pragmatismo que compromete a doutrina ou a ética ou que desumaniza as pessoas, usando-as como instrumento para um determinado propósito. Entretanto, é um tipo de pragmatismo consagrado que examina impiedosamente os programas e as metodologias tradicionais, questionando-as com severidade. Se algum tipo de ministério em uma igreja não está atingindo os alvos tencionados, o pragmatismo consagrado diz que há algo de errado e precisa ser corrigido.” (Peter Wagner)
- “Orgulho-me de estar entre os que advogam o evangelismo de poder como uma ferramenta importante para o cumprimento da grande comissão em nossos dias. Uma das razões por que estou tão entusiasmado é que o evangelismo de poder está produzindo resultados. Em geral, o evangelismo mais eficaz do mundo contemporâneo é o que vem acompanhado por manifestações de poder sobrenatural.” (Peter Wagner)
- “Com certeza, poderia qualquer outro procedimento estar mais predestinado à monotonia e à futilidade? Aliás, quem poderia afirmar que pelo menos um, dentre cem, dos ouvintes estaria preocupado com o que Moisés, Isaías, Paulo ou João queriam dizer naquela passagem específica ou que tenha vindo à igreja profundamente interessado em tais versículos? Ninguém que conversa com o público presume que o interesse vital das pessoas está centralizado no significado de palavras ditas há dois mil anos.” (Harry Emerson Fosdick)
Antes de avaliarmos os seus princípios, perguntamos quais estão sendo as conseqüências desse sistema de apelo? Numericamente benéfica e espiritualmente maléfica. Isto porque a cada dia cresce a quantidade de pessoas que entendem que devido a sua inexperiência ou resposta precipitada um truque vil foi-lhes aplicados por amigos do cristianismo, os quais em momentos de confusão e fraqueza emocional o lançaram em posições falsas. E concluem que o novo nascimento e o cristianismo são, no mínimo, ilusões. E, vacinados contra esse sistema, até ajudam os demais a pensarem assim e descobrirem a grande fraude do “evangelho”!
Evangelismo Bíblico
Em João 6:15-69 a multidão extasiada com o milagre queria proclamar Jesus como rei e profeta (v. 14, 15), mas o seguiam por causa dos pães que comeram (v. 26). Por isso, Jesus em seguida fala acerca do pão da vida, o que afugentou a grande maioria (v. 66) – que se consideravam discípulos – e só ficaram doze discípulos, pois sabiam quem era Jesus realmente (v. 68, 69). E ainda um destes doze era o traidor (v. 70).
Jesus procura discípulos em vez de consumidores. Em seu evangelismo Jesus conseguiu afugentar grande parte dos consumidores. Só um não foi afugentado, mas este já não era mais consumidor, porém um traidor. Este já vinha com más intenções contra Deus desde o início. O consumidor “segue” a Jesus como um meio de satisfazer suas necessidades. Com Jesus ele se sente mais feliz, mais saudável, em paz e fará qualquer coisa para não perder esses benefícios, como louvar a Deus – a multidão exaltava Jesus como rei. Mas quando os benefícios deixam de ser a razão da obediência – e até deixam de existir – e as necessidades deixam de ser satisfeitas, então já não O “seguem” mais. Muitos eram considerados (e se consideravam) discípulos por causa da obediência; contudo, quando as intenções da obediência são as mesmas de um consumidor, a Palavra (de Deus) se torna dura e insuportável para ouvir (v. 60). Nosso evangelismo esclarece bem isso? Portanto, conhecendo o temor do Senhor (II Coríntios 5:11), motivados pelo amor de Cristo (v. 14), tendo sido completamente transformados por Ele (v. 17), como embaixadores de Deus devemos implorar aos pecadores que se reconciliem com Deus (v. 20).
Essa reconciliação não é uma opção porque só por Jesus somos salvos (Atos 4:12) e pode não ser atrativa, porque pode ser “dura” (João 6:60) ou “pedra de tropeço e rocha de escândalo” (Romanos 9:33; I Pedro 2:8), porém para consumidores! Nem mesmo a pregação e os poderosos milagres de Jesus foram suficientes para trazer ao arrependimento os de Corazim e Betsaida (Lucas 10:13). Qual o benefício espiritual de uma multidão de consumidores?
Se o crescimento numérico de discípulos fosse um critério de sucesso, então Jeremias seria o exemplo mais evitado. Jeremias pregou durante quarenta anos sem obter qualquer resultado significativo. Não “ganhou uma alma” sequer num ano! Pelo contrário: ameaçaram matá-lo, se não parasse de profetizar (Jeremias 11:19-23); sua própria família e amigos conspiraram contra ele (12:6); houve conspirações secretas para matá-lo (18:20-23); foi ferido e colocado no tronco (20:1, 2); foi espionado por amigos que buscavam vingança (v. 10); foi consumido por desgosto e vergonha, chegando a amaldiçoar o dia em que nasceu (v. 14-18); injuriado e considerado um traidor de sua própria nação (37:13, 14) e açoitado e atirado em um calabouço, passando ali muitos dias sem comer (v. 15-21).
Como Paulo avaliava seu evangelismo? Seu critério era a exatidão bíblica: “E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com ostentação de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha linguagem e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder; para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” (I Coríntios 2:1-5). “Porque a nossa exortação não procede de engano, nem de imundícia, nem é feita com dolo; mas, assim como fomos aprovados por Deus para que o evangelho nos fosse confiado, assim falamos, não para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos corações. Pois, nunca usamos de palavras lisonjeiras, como sabeis, nem agimos com intuitos gananciosos. Deus é testemunha, nem buscamos glória de homens, quer de vós, quer de outros” (I Tessalonicenses 2:3-6).
Quando falamos exatidão bíblica então estamos nos referindo a apoiar o evangelismo no “poder de Deus”. Contudo, não falamos há pouco que manifestações de poder sobrenatural não são suficientes? Exato, porém quando Paulo fala nessa passagem de “poder de Deus” não está se referindo a poder sobrenatural, mas ao próprio evangelho. No primeiro capítulo de I Coríntios, Paulo fala de “sabedoria de palavra” (1:17) como sendo a “sabedoria dos sábios” e a “inteligência dos instruídos” (1:19), que é a “sabedoria do mundo” (1:20) que Deus tornou louca. Então quer dizer que qualquer sabedoria de palavra, de sábio, de instruído (aprofundado) é uma alusão à sabedoria do mundo que anula a cruz de Cristo? É assim que devemos entender? Não! Paulo enriqueceu os coríntios em toda a palavra e em todo o conhecimento (1:5) e, se fosse assim, ele estaria então atacando a si mesmo. Paulo ensinou na verdade toda uma sabedoria que é “loucura aos que se perdem” (1:18) e “poder de Deus” (1:18) para quem é salvo (ver Romanos 1:16). Ele ensinou a “palavra da cruz” (1:18), o evangelho (1:17) ou a sabedoria de Deus (1:21), que é o único instrumento de salvação do pecador, por isso Deus tornou louca a sabedoria do mundo, porque esta não é capaz de salvar o homem, isto é, não tem poder para salvar o homem como instrumento (I Coríntios 1:21 e Romanos 10:14).
Caminho da Conversão
Nos grandes avivamentos dos séculos anteriores, homens como Jonathan Edwards, Charles H. Spurgeon, George Whitefield entendiam que o “poder de Deus” era soberano para converter um pecador e, quanto maior o entendimento bíblico, maior era a convicção dos que se arrependiam. Eles entendiam que vir a Cristo era uma ação espiritual e nós, como evangelistas, éramos instrumentos dessa ação e não agentes, pois envolvia:
- O reconhecimento de uma necessidade espiritual (Mateus 11:28-29).
- A revelação de Cristo por Deus ao coração do pecador como único a suprir essa necessidade (Mateus 16:13-17; Gálatas 1:15-16; Mateus 2:11).
- Conseqüente, havia um compromisso com Cristo e, portanto, tinham o desejo e a alegria em confessá-LO publicamente. Por isso:
– Tomar como base Mateus 10:32-33 – “Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus” – para justificar que o “vir à frente” durante os apelos ao final do culto é uma forma de seguir a Cristo não tem apoio bíblico, porque o texto estava se referindo àqueles que já eram cristãos e estava falando de um dever cristão (marca indispensável de um cristão) e não uma condição de se tornar cristão. Ora, permanecer fiel à Palavra de Cristo não nos faz cristãos (João 8:31), nem tampouco o fato de produzirmos frutos é um processo para se tornar um cristão (João 15:8), mas são evidências de quem foi salvo.
– A forma de confissão pública descrita na Bíblia é o batismo, que também não se equivale ao “vir à frente” (sistema de apelo). Primeiro, porque esta prática (de “vir à frente”) não é dirigida primeiramente à mente e à compreensão – instrução para haver convicção – mas às emoções e à vontade como parte inicial de um processo para facilitar alguém a se tornar crente. Porém, o batismo era uma forma de confessar já ser cristão. Ora, freqüentemente vemos que, antes de Jesus fazer o convite, Ele pregava e ensinava (Mateus 28:20; Lucas 24:16, 25-27, 31, 45; Marcos 6:6; Atos 1:1; I Tessalonicenses 1:5). Este era o seu método de fazer discípulos: ensinando. O evangelho precisa ser aprendido (entendido). E o batismo normalmente se seguia após um ensino – resultado de ensino, curto ou longo conforme a situação – como ocorreu com o etíope evangelizado por Felipe (Atos 8:27-38).
O evangelismo moderno geralmente se apóia no texto “O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Salmos 51:17). Contudo, um coração não regenerado pelo Espírito Santo pode ter uma disposição favorável em aceitar o evangelho e professar a Cristo por um tempo (Mateus 13:20). E essa disposição de um coração não regenerado pode ser sincera. Ora, o jovem rico tinha uma disposição sincera em querer o céu (Marcos 10:17), contudo o seu problema não era a disposição, mas a sua natureza, escrava de certos pecados, e provavelmente motivado por várias razões não espirituais como amor próprio natural buscando a felicidade ou uma consciência perturbada buscando alívio por meio de um ato religioso.
Um ensino do evangelho buscando exatidão bíblica (evangelismo) ainda assim não é suficiente como já vimos, mas necessário para afugentar consumidores e haver verdadeiros discípulos. Por isso as exortações de Paulo quanto ao cuidado na pregação, para que o ouvinte não desse crédito ao evangelho pela sapiência do pregador (pregação) e não fosse convencido a vir a Cristo psicologicamente pelo pregador (seu método), pois convencimento e arrependimento que trás real conversão é feito exclusivamente por Deus (Atos 11:18) e não por uma ajuda nossa. Somos os instrumentos de Deus.
A revelação de Cristo ao coração do pecador como único a suprir sua necessidade espiritual é uma ação espiritual, sobrenatural. Portanto, seguindo o exemplo de Jesus, que estava num lugar onde a sua pregação foi rejeitada (Mateus 11:23), devemos:
- orar para Deus convencer o pecador (v. 25);
- confiar na soberania de Deus no convencimento do pecador (v. 27);
- fazer o convite, o apelo (v. 28-30).
Certa vez uma menina, almejando ser missionária em outro país, desabafou comigo o seguinte: “Poxa! Falei tanto de Cristo, do amor de Deus, de tudo e de todas as maneiras, mas a pessoa ainda assim não se convenceu. Onde eu errei?”. Impressionante a ingenuidade de alguns quanto à natureza pecaminosa: “mortos em vossos delitos e pecados” (Efésios 2:1), “obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus” (4:18), “não há justo, nem um sequer” (Romanos 3:10), “não há quem busque a Deus” (v. 11), “não há quem faça o bem” (v. 12), corrompido na mente e na consciência (Tito 1:15), escravos do mal (João 8:34)… E por isso a nossa “carne de nada aproveita” (6:63). Só Deus pode mudar isto.
Não é errado convidar o pecador, a crítica é feita em cima de se colocar o convite (apelo) como parte de um sistema para tornar eficaz a decisão do ouvinte. Aliás, erroneamente a decisão se tornou sinônimo de conversão. Como se por uma decisão fosse possível ver os frutos de uma conversão!
Considerações
É um desafio para o pregador ou o evangelista de hoje depender da prática do Espírito Santo. Deveríamos aprender mais sobre “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos” (1 Timóteo 5:22), pois o imediato reconhecimento público de Cristo deve normalmente ser testado com o tempo e o exame dos líderes (igreja).
Portanto, o erro não está em se engajar num evangelismo agressivo, desejar a conversão dos incrédulos ou desejar a apresentação de um evangelho claro e vigoroso o quanto possível. O problema fundamental é colocar técnicas e métodos próprios onde não é nossa responsabilidade, mas inteiramente de Deus. Não somos agentes do novo nascimento. Nossa responsabilidade é orar, pregar e ensinar, e depender da atuação soberana de Deus na conversão do pecador, que não se resumem a um ato (instantâneo) público e sincero. Não devemos confundir a obra real do Espírito Santo com remorsos naturais e excitação empática de sentimentos naturais.
Um efeito comum deste pensamento é tornar o evangelismo uma atividade dramática e como se feita por especialistas durante um evento, em vez de uma atividade simples de exposição do evangelho como dever de cada cristão. Isto não impede de cada um (ou em conjunto) encontrar sua própria forma de expor o evangelho. Paulo procurou parecer um judeu para evangelizar judeu, um gentio para pregar aos gentios, porém o enfoque do evangelista era sempre a exatidão bíblica do evangelho pregado ao maior número de pessoas possíveis. Com certeza a pregação e o evangelismo devem ser cada vez mais inteligentes e eficientes – não de nós mesmos eficazes. Nós tornamos o evangelho eficiente e Deus o torna eficaz. É este o entendimento do IDE: “E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mateus 28:18-20). Ora, perceba que antes do IDE é necessário vermos que “todo poder no céu e na terra” pertencem ao Senhor Jesus, por isso o conectivo lógico da palavra “portanto”.
Não devemos esquecer que a glória de Deus deve ser o motivo primário do IDE. Era esta a atenção de Spurgeon em seu famoso sermão “Apascentado ovelhas ou Entretendo bodes” disse: “Cristo poderia ter sido mais popular, se tivesse introduzido mais brilho e elementos agradáveis a sua missão, quando as pessoas O deixaram por causa da natureza inquiridora do seu ensino. Porém, eu não O escuto dizer: “Corre atrás deste povo Pedro, e diga-lhes que teremos um estilo diferente de culto amanhã; algo curto e atrativo, com uma pregação bem pequena. Teremos uma noite agradável para eles. Diga-lhes que, por certo, gostarão. Seja rápido, Pedro, nós devemos alcançá-los de qualquer jeito!”. Jesus compadeceu-se dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca pretendeu entretê-los”.
Conclusão
Preocupar-se em como melhor expor o evangelho é sadiamente bíblico. Preocupar-se em como atrair as pessoas à igreja (espiritual) ou a Cristo é ignorância bíblica e ofensa a Deus por não considerar a Sua soberania. Atrair pessoas para ouvir o evangelho na igreja é diferente de atrair pessoas para a igreja ou Jesus. Muitas vezes “atropelamos” a ação de Deus – e ofendemos a Sua glória dessa forma – em nosso desejo sincero de ver as pessoas convertidas.
Como sugestão prática aos pregadores, evangelistas e líderes que ao fazerem o apelo – algo do tipo “Quem quer aceitar a Cristo?” – também façam outras perguntas que tornem tal apelo claro, se já não o foi na própria pregação ou evento! As perguntas sugeridas seriam algo como:
- Você entende que “vir à frente” não salva ninguém? Que isto é uma confissão pública de quem agora confessa diante de todos que deseja ser discípulo de Jesus?
- E entende que ser discípulo significa…?
- E seguir a Cristo é servir a Deus e a Sua igreja…?
- Você entende que sem Cristo não há outro caminho?
- Você reconhece que sua justiça não tem aceitação em Deus, só a justiça de Cristo é que Deus aceita?
- Caso não tenha convicção do que está fazendo ou das perguntas que fizemos e deseja conhecer mais a respeito de Cristo, sugerimos a participação em nosso…
Essas são algumas perguntas ou conselhos sugeridos para dar uma ideia da necessidade de deixar claro ao ouvinte o que o ato de confissão pública (seja num batismo ou numa decisão) representa, caso seja realmente uma confissão pública e não uma forma ou parte de um sistema – sistema de apelo – para “ajudar” o pecador a ser salvo ou se converter.
[*] – Os editores do Música Sacra e Adoração não conseguiram informações sobre o nome do autor deste artigo.
Bibliografia
1. Quanto ao Vir a Cristo – Parte 1. Ernest Reisinger. Revista Fé para Hoje. Número 1, ano 1999. Editora Fiel.
2. Quanto ao Vir a Cristo – Parte 2. Ernest Reisinger. Revista Fé para Hoje. Número 2, ano 1999. Editora Fiel.
3. Sistema de Apelo. I.H.Murray. Os Puritanos.
4. Eu Quero a Religião Show – Retirado do livro Com Vergonha do Evangelho – Quando a Igreja se Torna Como o Mundo. John F. MacArthur Jr. Editora Fiel. Artigo eletrônico da Internet.
5. Adoradores ou Consumidores: O outro lado da herança de Charles Finney. Augustus Nicodemus Lopes. Artigo eletrônico da Internet.
6. O IDE baseado em Mateus 28:18-20 – Parte I, II e III. Charles L. Grimm. Artigo eletrônico da Internet.
Fonte: http://www.cidadeviva.org/