O Ministério Levítico e a Influência do Humanismo na Música Evangélica Contemporânea

por: Rubens Ciqueira

Terceira Parte: A Influência Humanista na Música Evangélica Contemporânea

Capítulo 01: O Secularismo e Sua Influência

I. Definição

Sistema ético que rejeita toda forma de fé e devoção religiosas e aceita como diretrizes apenas fatos e influência derivados da vida presente[1] .

Modo de vida e de pensamento que é seguido sem referência a Deus ou à religião. A raiz latina saeculum referia-se a uma geração ou a uma era “secular” veio a significar “pertencente a esta era, mundana”. Em termos gerais, o secularismo envolve uma afirmação das realidades imanentes deste mundo, lado a lado com uma negação ou exclusão das realidades transcendentes do outro mundo. É uma cosmovisão e um estilo de vida que se inclina para profano mais do que para o sagrado, o natural mais do que o sobrenatural. O secularismo é uma abordagem não religiosa da vida individual e social[2] .

Historicamente “secularização” referia-se primeiramente ao processo de transferir os bens da jurisdição eclesiástica para o estado ou outra autoridade não-eclesiástica. Nesse sentido institucional, “secularização” ainda significa a redução da autoridade religiosa formal. A secularização institucional tem sido alimentada pelo colapso de um cristianismo unificado desde a reforma, por um lado, e pela racionalização cada vez maior da sociedade e da cultura desde o iluminismo até à sociedade tecnológica moderna, por outro. Alguns analistas preferem o termo “laicização” para descrever essa secularização institucional da sociedade, ou seja, a substituição do controle religioso oficial pela autoridade não eclesiástica.

Uma segunda maneira de se entender “secularização” está ligada a uma mudança nos modos de pensar e viver, para longe de Deus e em direção a este mundo. O humanismo renascentista, o racionalismo iluminista, o poder e a influência cada vez maiores da ciência, o colapso das estruturas tradicionais (da família, da igreja), a tecnização da sociedade e a competição oferecida pelo nacionalismo, o evolucionismo e o marximo, todos têm contribuído para aquilo que Max Weber chamou de “desencantamento” do mundo moderno[3] .

O Secularismo carrega uma falha fatal pelo seu conceito reducionista da realidade, porque nega e exclui Deus e o sobrenatural numa fixação míope naquilo que é imanente e natural. Na discussão contemporânea, o secularismo e o humanismo são abordagens da vida e da sociedade que glorifica a criatura e rejeita o criador. O secularismo, como tal, constitui-se num rival do cristianismo.

Sproul comentando a respeito desse assunto diz que “a cultura em que vivemos no momento atual oferece pouco espaço para pensamentos referentes à providência de Deus. Na melhor das hipóteses, vivemos em uma atmosfera moderna de neodeísmo; na pior, a cultura é definida por uma atmosfera de neopaganismo. A suposição que predomina em nossos dias é que vivemos em um universo mecânico e fechado, onde as coisas acontecem por meio de leis impessoais e fixas impostas por forças impessoais – ou simplesmente por acaso. É a era do secularismo, onde parece não haver acesso ao transcendente ou ao sobrenatural. A religião, se é permitida, fica relegada a um compartimento isolado, uma reserva com limites bem definidos. As pessoas ainda podem se entregar à atividade religiosa objetivando bem-estar pessoal e realização psicológica; contudo, a religião não tem papel relevante na praça pública ou nas reflexões sérias sobre a natureza do cosmos ou o curso da história do mundo. O Deus do cristianismo está no exílio[4] .

Russel Shedd fazendo uma análise sobre isso diz que: “A igreja se confronta com um desafio de proporções gigantescas. Se os grandes inimigos do cristão são desconhecidos ou passam despercebidos, resta-nos esperar as conseqüências. O mundo se infiltra na Igreja, tornando-a indistinguível da cultura e dos valores ao redor. O que sobrevive é a cristandade com vestígios dos tempos passados. Os templos servem de museus e pontos turísticos. A mentalidade aberta acomoda novas crenças, tais como espiritismo e a macumba, dentro de sua estrutura teológica. O mundanismo, a carnalidade e o demônio conquistam a Igreja de forma tão sutil e paulatina que as defesas são ineficazes. Para vencer tais forças do mal, os cristãos precisam conhecer profundamente esses inimigos e criar planos para se manterem incontaminados”[5] .

Nós hoje colhemos os resultados do fracasso. O adorador ordinário quando ele usa ou escuta uma passagem da bíblia pode dar a isto um significado quase o oposto de seu significado original ou pode não ser possível a ele dar ao que leu nenhum significado. Os homens hoje raramente estão preparados para aceitar alguma coisa, eles desejam ver a declaração examinada ou a sugestão colocar a teste e avaliar para só depois dar o seu parecer e concordar. Há uma consciência crescente disto entre esses que são agora responsáveis para preparar formas de adoração, mas tem as concepções “podres”[6] . Caminhando nesta perspectiva, conhecemos qual é a via por onde entram tantas influências no meio cristão. A secularização com toda certeza não se resume apenas na área da música, que é o nosso objetivo, mas atinge de modo avassalador todas as áreas de atuação da igreja. Mas nos manteremos no nosso propósito de mostrar no meio da música aquilo que a tem afastado da proposta inicial, mostrada na primeira parte deste trabalho que é uma adoração através da música, totalmente teocêntrica.

Notas:

[1] Dicionário Michaelis – UOL.

[2] ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. p. 364.

[3] Ibid. 365.

[4] SPROUL, R.C. A Mão Invisível. São Paulo, Bompastor, 2001. P. 24.

[5] SHEDD. Russel. O mundo a Carne e o Diabo. São Paulo, Vida Nova, 2001, p. 121.

[6] KIRBY, John C. Word and Action, Canadá, Seabury,1969, p. 06.


Fonte: Publicado originalmente em http://www.textosdareforma.net


Terceira Parte – Capítulo 02

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