O Ministério Levítico e a Influência do Humanismo na Música Evangélica Contemporânea

por: Rubens Ciqueira

Primeira Parte: O Ministério Levítico

Capítulo 03: A Música no Antigo Testamento

3.1 – Características da música judaica

Quando olhamos para a história percebemos que religião e arte andam quase sempre juntas. A relação Criador/criatura foi estabelecida através de ofertas e cultos a partir da necessidade de transposição para uma esfera diferente da natural cotidiana, o comportamento do ser humano transformou a vulgaridade dos gestos naturais, dando a esses gestos novas significações diante do divino, tornando-os assim ritualizados.

Entre o povo judeu, a maneira de se expressar veio a ser conhecida, já no presente século, pelo vocábulo “cantilena”, técnica algumas vezes denominada de salmodiai, ou de recitativo, e ainda de declamação. Esse processo declamatório diferenciado, classificado entre a fala e o canto, é relevante para a compreensão dos registros bíblicos do Antigo Testamento (AT) sobre música, pois diferem da concepção que hoje os ocidentais têm do que seja melodia. Melodia para o povo hebreu era um tipo de recitativo ou declamatório, como hoje se vê entre os árabes.[1]

A literatura rabínica advertia que os textos das Escrituras fossem não só lidos, mas também cantados, seguindo os modos indicativos do canto, que podiam variar de acordo com a liturgia ou com o texto a que aludiam. A música empregada para essa finalidade era, por excelência, de caráter improvisatório, cabendo ao executante conhecer e ser muito hábil dominando as estruturas “melódicas” cabíveis no texto. Sem dúvida, o texto era o condutor de todo o processo de execução de uma cantilena. Partindo desse conhecimento, havia uma margem de liberdade possível para a ornamentação musical.

A música judaica tem características da música semítica oriental, que é modal[2] em sua forma e cujo sistema está baseado em quartos de tom. A composição dessa música é feita de motivos, conhecidos ainda como pequenas células musicais de uma certa escala, e não existe harmonização. Porque a música oriental tem características populares, suas frases são curtas, o que facilita a sua apreensão pela maioria do povo e é transmitida oralmente.

O canto judaico empregava sinais “efonéticos”, denominados “acentos” pelo texto bíblico dos massoretas. Nesse sistema, a entonação usa sinais que indicam quando levantar e quando abaixar o tom da voz durante a leitura do texto bíblico. Esses sinais foram adaptados dos acentos gramaticais greco-romanos, que foram inventados por Aristófanes (450 ou 445- 388 a.C.). A entonação é dada pela estrutura frasal e pelas relações sintáticas e lógicas dos elementos da frase, contribuindo ainda para fluência rítmica da mesma. Só muito mais tarde é que os sinais efonéticos foram usados para indicar a fluência da cantilena.

Os chamados acentos bíblicos foram, desde cedo, relevantes para a leitura do Pentateuco, regida por regras precisas, e, ainda importantes para a manutenção da tradição oral. O propósito desses acentos era ressaltar o significado do texto e tornar clara sua compreensão. A sabedoria rabínica considera que esse tipo de leitura modulada teve seu início com Esdras, na ocasião em que fora concluída, a reconstrução do Templo e o povo se reuniu para a leitura do Pentateuco. Além do componente musical, usava-se o recurso da quironomia, que, no caso, era a arte que o líder utilizava de gesticular as mãos a fim de traduzir a altura dos sons e o ritmo para a pessoa que interpretava o discurso musical. Hoje, é conhecido por nós como regente, que na maioria das vezes só é usada para os corais separados para essa finalidade, ao contrário do outro que regia toda a congregação.

Os registros que aparecem no AT a respeito de música abordam tanto a música secular quanto a sacra. As narrativas do primeiro livro da Bíblia relatam os acontecimentos dos antepassados do povo judeu, conhecidos como a história dos patriarcas. Entretanto, a história da relação de Deus com o “povo eleito” tem seu início descrito no Êxodo.

É na pré-história do povo judeu que se fala de Jubal, descendente de Caim, que seria “o antepassado de todos os que tocam harpa e flauta”. Uma canção secular registrada nesse mesmo capítulo é um canto lúgubre, em que Lameque explica o homicídio de alguém que o havia ferido. A última referência sobre música nesse primeiro livro da Bíblia relata a censura que Labão fez a Jacó, que fugia dele, sem permitir uma festa de despedida, “com canções acompanhadas de pandeiros e harpas”.

Algumas canções falavam de guerras, vitórias e outros assuntos da época heróica de Israel[3] e, juntamente com outros dados históricos, eram registradas em livros. Dois desses livros são citados na Bíblia: os “Livros das Batalhas do Deus Eterno”, “Pelo que se diz no livro das Guerras do Senhor…”, e o “Livro do Justo”, “…não está isto escrito no Livro dos Justos?…”[4]

O AT apresenta outros registros de música secular: Isaías fala da canção da prostituta[5] , de canções da bebida, como a da plantação de uvas e do vinho na festa[6] . Barzilai, convidado por Davi para ir morar em Jerusalém, abdicou do convite por ser velho e já não poder mais ouvir a voz dos cantores[7] . Salomão, descrevendo suas riquezas, fala dos homens e mulheres que cantaram para diverti-lo[8] .

Essas canções seculares também podiam ter um caráter melancólico. Davi entoou lamento por Saul, Jônatas[9] e Abner[10] . Jeremias conclamou as carpideiras e compôs uma canção de enterro em honra ao rei Josias.

Quando analisamos estes textos fica muito difícil e quase não é possível caracterizar com rigor as diferenças entre música secular e sacra no AT. Naquela época os limites de cada tipo de música ficam difíceis de serem determinados. Alguns profetas associavam a música com a corrupção dos ricos, conforme Amós 6[11] . Schleifer considera que a música só veio a ser parte integrante do culto a partir da transferência da arca para Jerusalém. Todas as alusões anteriores feitas ao trompete e ao shofar indicam que eles pertenciam às funções dos sacerdotes durante os sacrifícios, funções essas não musicais[12] .

No Livro do profeta Daniel fica mais fácil identificar um tipo de música secular, pois estava tratando de uma nação pagã. Vemos claramente a figura de uma orquestra, que trabalhava em prol das vontades do rei Nabucodonosor tocando músicas para determinadas ocasiões[13] .

3.2 – Salmos – A Maior Expressão da Música do Povo Hebreu.

Passados mais de 2000 anos o Livro de Salmos tem sido a coletânea mais popular de escritos das Sagradas Escrituras. Os salmos eram usados nos cultos de adoração dos israelitas desde os tempos davídicos. A Igreja Cristã incorporou os Salmos na liturgia e no ritual, através dos séculos. A popularidade dos salmos reside no fato de que refletem a experiência comum da raça humana. Tendo sido compostos por numerosos autores, os vários salmos expressam as emoções, os sentimentos pessoais, as atitudes, a gratidão e os interesses do indivíduo comum. Universalmente, os povos têm identificado sua sorte na vida com a sorte dos salmistas[14] .

Recebeu o nome hebraico seper tehillîm, livro de louvores, usado principalmente sob a responsabilidade dos músicos levitas durante a liturgia hebraica. O nome “Salmos” veio da versão grega do AT. Sua estrutura atual só foi definida no século IV da era cristã, quando passou a ser lido como extensão da lei mosaica e dividido em cinco livros. Essa divisão levou em consideração a expressão “Bendito seja o Senhor Deus de Israel”, elemento divisor dos cinco livros dos Salmos, por analogia com o Pentateuco. Sua colocação litúrgica poderia ser ou no início ou no fim de uma oração. Supõe-se que os escribas a tenham registrado no final de pequenas coleções de salmos. O Livro I abarca os Salmos 1 a 41 e a grande maioria deles pode ser catalogada como “orações de pequenos grupos”; o Livro II, contendo os Salmos 42 a 72, é conhecido como o saltério “eloístico”, porque há 164 ocorrências da palavra Elohim, em contraste com 30 menções de “Javé”; o Livro III tem duas seções: de 73 a 83 são salmos eloísticos e de 74 a 89 são javísticos; os Livros IV (Salmos 90 a 106) e V (Salmos 107 a 150) englobam uma série de salmos dos mais variados assuntos. O último bloco mostra uma linguagem de júbilo, na sua maioria, sendo que os cinco últimos salientam o tom de louvor enaltecedor a Javé. No Templo, um salmo era destacado para cada culto diário e, nas grandes festas, o grupo dos salmos conhecidos como Hallel ganhava destaque. Não são todos os títulos que contêm os nomes dos autores, mas quando consta o nome, produz-se o seguinte quadro tradicional: um Salmo de Moisés (Sl 90); setenta e três de Davi (a maioria se acha nos Livros I e II); doze de Asafe (50, 73-83); dez dos descendentes de Core (42, 44-49, 87,88); um ou dois de Salomão (72?, 127); um de Hemã o Ezraíta (88); um de Etã o Ezraíta (89)[15] .

Os salmos de louvor são mais numerosos. Essas expressões de exultação e gratidão com freqüência surgiram como seqüência natural de algum grande livramento. O louvor a Deus muitas vezes foi exprimido por indivíduos que se punham a contemplar as obras criativas de Deus na natureza.

São considerados salmos de louvor todos os que iniciam com uma expressão hebraica traduzida por “canção de louvor”. Encontram-se classificados aqui os hinos que usam o modo imperativo (como “Louvai o Senhor”), os hinos individuais, os que aclamam Javé como rei, os que o louvam como Criador, as canções de colheita e os hinos para o início do culto. Entre os cantos de oração incluem-se os salmos para oração individual (em que o pronome pessoal é “eu”), os cantos para oração coletiva (em que o pronome usado é “nós”) e os de ações de graça. Os salmos reais são os que falam de reis e contêm elementos literários encontrados na literatura do antigo Oriente Próximo: o oráculo, a prosperidade para o rei, a intercessão que profetas e sacerdotes fazem a Javé em favor do rei bem como elementos que descrevem ritos, como os do Salmo 101 em que o rei declara sua lealdade a Deus. As canções de Sião estão baseadas no Salmo 137.3 e eram conhecidas por todos, no exílio, pela expressão “cânticos de Sião”. As canções didáticas são aquelas em que aparecem os termos hebraicos equivalentes a sabedoria e entendimento, sendo os salmos da Torá um exemplo. Alguns salmos que narram vidas a serem imitadas e seguidas como exemplo incluem-se aqui, como o Salmo 78. Outros traços retirados da sabedoria proverbial também ilustram esse tipo de salmos: a efemeridade da vida humana (Salmo 90), a construção da casa e a proteção da cidade (Salmo 127) e a vida de comunhão que deve existir entre irmãos (Salmo 133). Quanto aos salmos de festivais e de liturgias, Kraus mais uma vez expressa-se cautelosamente ao afirmar a dificuldade de reconstituição integral dos cultos do AT, mas aponta fragmentos que ajudam a conceber, mesmo que parcialmente, esses rituais. Ele retira do Livro dos Salmos três festivais ali narrados: Salmos 50, 81 e 95, sendo que somente o 81 define o local do acontecimento. Avaliando a relação dos Salmos com a história de Israel através da análise de quatro características: a linguagem e o estilo dos salmos; a história dos rituais religiosos de Israel; a observação de fatos históricos antigos e sua adaptação à narrativa vigente nos salmos e as referências diretas a um determinado evento histórico, sobretudo as “canções de oração comunitária”.

3.3 – Implicações da Música Sacra no Antigo Testamento

A Antropologia nos diz que todas as pessoas adoram, as sociedades primitivas faziam seus rituais e sacrifícios a algum ser que para a cultura de cada um era transcendente.

Mas precisamos fazer uma distinção bem clara do que é música de adoração a Deus (sacra) e música que tem única finalidade de distrair, divertir e fazer com que as pessoas se sintam bem. A adoração cristã é a nossa resposta afirmativa á auto revelação do Deus trino. Diferentemente dos primitivos, não estamos procurando conhecer um ser obscuro e amedrontador a fim de tentar aplacar sua ira.

O hino cantado pelo coro, o solo ou o número apresentado por um conjunto não é planejado principalmente para o prazer da congregação, ou gratificação dos cantores ou músicos. Esperamos que estes estejam ao cantar ou tocar, expressando o seu louvor pessoal a Deus, mas eles estarão também expressando-o no lugar de cada adorador que não faz parte do coro.

Adoração tem que ser como uma oferta a Deus, e sendo assim tem que partir de corações gratos e realmente satisfeitos com o ato que estão propondo. Quando olhamos para os exemplos de adoradores no Antigo Testamento percebemos que o caráter da mesma era estritamente teocêntrico não cabendo neste meio qualquer outro tipo de expressão que não evidenciasse isto[16] .

A distinção podia não ser tão clara quando se tratava do povo hebreu, olhando a música como um todo fazendo uma análise geral. Mas quando estudamos as cerimônias e os rituais do povo de Deus, percebemos isto claramente. Porque mesmo que fosse para festejar, celebrar as vitórias, agradecer pelas colheitas as letras eram voltadas para Aquele que era capaz de lhes proporcionar isto, ou seja Deus. Contudo, quando se tratava de uma adoração no templo em forma solene: A música tinha que ter suas letras voltadas exclusivamente para enaltecer e engrandecer o nome de Deus e neste ponto não tinha espaço para improvisos. A música tinha que ser bem trabalhada e acima de tudo muito bem tocada, para isso eram separados músicos que se dedicavam exclusivamente para esta obra, cabendo a eles executar uma música da melhor qualidade possível.

A música também deve ser cantada com a mente. Um hino, um solo, um número coral ou uma cantata, é antes de tudo um conceito teológico expresso em palavras. Conseqüentemente toda a adoração musical deve envolver e transformar a mente. É claro que este processo deve começar com os planejadores da adoração. Eles devem escolher uma peça musical tomando como base não as suas ideias e conceitos, mas os conceitos bíblicos que normatizam a adoração.

O relacionamento entre emoção e a compreensão tem sua importância na esfera total da adoração. A verdade de Deus pode ser entendida pela mente, acontecendo às vezes um envolvimento emocional sem que isso seja a regra para todas as experiências.Um indivíduo pode ter uma experiência emocional; mas se ela não for baseada em conceitos bíblicos, depressa ela é esquecida na desesperada corrida de buscar um episódio emocional ainda mais intenso.

Na tradição litúrgica, os dirigentes da adoração seguem a liturgia de confissão e preparação antes de começar o culto público, para assegurar-se de que os seus corações estão puros diante de Deus. Ocasionalmente um ministro de música deve lembrar a si próprio e aos coristas, o propósito e a forma de se chegar a Deus para adorá-lo lembrando das palavras de Deus ao profeta Amós “Aborreço e desprezo as vossas festas solenes e com as vossas assembléias não tenho nenhum prazer. E, ainda que me ofereçais holocaustos e vossas ofertas de manjares, não me agradarei deles, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais cevados. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos porque não ouvirei as melodias das tuas liras”[17] .

Nessa passagem, o profeta narra a censura de Deus à artificialidade dos atos litúrgicos empreendidos por quem não está vivendo sob a retidão exigida por ele. Com exceção da menção dos instrumentos usados e das indicações litúrgicas do uso da música para os levitas, o AT nada mais oferece em relação ao modo do canto.

O mais importante em relação à exposição veterotestamentária sobre música sacra são, os exemplos retirados da vida humana. Pelo que se pode depreender da leitura desses relatos bíblicos, a preocupação divina gira em torno da conduta de quem está na liderança da execução musical.

3.4 – Estabelecimento da Música Sacra.

Davi era um musicista consumado como podemos perceber em I Samuel 16:14-23[18] e anelava por melhorar o aspecto musical do culto divino. Davi veio a ser uma espécie de patrono da hinologia judaica. Os arqueólogos têm descoberto monumentos e documentos que confirmam a importância da música em Israel e nos países em redor. Há monumentos mesopotâmicos do século XIX a. C. que provam isso. Os artífices semitas levaram instrumentos musicais com eles, quando entraram no Egito, segundo se vê nos relevos de Beni-Hasã. Esses ficam cerca de duzentos e setenta quilômetros do Cairo. A literatura religiosa épica, encontrada em Rãs Shamra, fala sobre os sharim, “cantores”, informando-nos de que eles formavam uma classe, em Ugarite, desde 1400 a. C. Portanto,nada há de anacrônico acerca da ênfase de Davi sobre a Música. Os próprios salmos confirmam o ponto, pois muitos deles eram musicados e de fato, compostos como peças musicais[19] .

Só na era da instituição do Templo por Davi e por seu sucessor Salomão é que a música de Israel mudou significativamente. É nessa ocasião que o canto começou a atrair o foco do interesse musical, com toda a organização profissional que demandava. É no relato da mudança da arca para Jerusalém que os nomes dos levitas foram listados. Eram homens com treinamento e habilidade musicais de tal envergadura que foram selecionados por Davi para essa tarefa. Os primeiros a serem mencionados são os cantores solistas Hemã, Asafe e Etã, certamente os mais dotados e que foram indicados tanto para o canto quanto para a execução dos címbalos, função que denotava grande distinção. A seguir mencionam-se grupos de um escalão mais baixo, como os instrumentistas líderes da melodia e outros instrumentistas acompanhadores do canto, todos liderados por Quenanias[20] . Além dos cantores levitas, alguns sacerdotes mais ligados à parte litúrgica também atuavam como trompetistas. O número total dos músicos levitas era de 24 mil[21] , os quais ficaram responsáveis pela música do Templo e seguiam um plano bem elaborado para atuar em todos os cultos ali efetuados. É de extrema relevância constar que a Bíblia diz que esses levitas utilizavam-se de instrumentos inventados pelo próprio Davi[22] .

Os pertencentes ao coral foram distribuídos em 24 grupos, cada um formado por 12 coralistas, num total de 288 componentes[23] . Os três cultos diários para os sacrifícios juntamente com os cultos do sábado exigiam que todos os grupos estivessem atuando de alguma forma durante a semana. É provável que para as grandes festividades anuais fossem todos chamados à participação conjunta. Os músicos levitas só eram admitidos para atuarem nos cultos com a idade de 30 anos[24] , portanto, só faziam parte dessa categoria profissional os já amadurecidos e longamente treinados na prática musical. O tempo de serviço era de 20 anos e o tempo anterior de aprendizagem específica levava cerca de cinco anos, não contados os anos de infância dedicados à memorização de todos os detalhes ritualísticos. A música do Templo era feita em uníssono, em volume alto e agudo, grande parte do tempo.

Os levitas, portanto, foram os responsáveis pela manutenção de uma tradição musical, pois eram os que possuíam habilitação e domínio das técnicas requeridas para a execução da música litúrgica. Além disso, segundo a compreensão do AT, eles foram investidos por Deus nessa função.

“Exaltar-te-ei, ó Deus meu e Rei; bendirei o teu nome para todo o sempre” – Salmo 145:1.

Este Salmo como muitos outros na Bíblia, registra o caráter da verdadeira adoração a Deus. Mostra com clareza o objeto de toda adoração e como deve ser a música de louvor ao Senhor.

Quando olhamos para o Ministério Levítico, é impossível não encher nossos corações de alegria e plena certeza de que Deus instituiu a forma que Ele deseja ser adorado. Em todos os textos que utilizamos percebemos a organização, a seriedade, o preparo e acima de tudo o caráter teocêntrico que a música sacra possuía.

O mais interessante é observar que o modelo de coral, com divisões de vozes; a orquestra fazendo a base para o coral; dirigentes dos cânticos; e instrumentistas que ensaiavam constantemente para estarem habilitados para o louvor. Se notarmos bem esta forma instituída no tempo de Davi vigora até hoje e tem dado certo se com a mesma seriedade for feito.

Por mais que os músicos fossem exímios peritos na arte de tocar seus instrumentos, em momento algum nas Escrituras percebemos alguma forma de “humanismo” vigorando no meio do povo. A noção da centralidade da adoração a Deus era entendida e praticada através da vida de cada músico. As letras das músicas ressaltavam isto, glorificando, exaltando a majestade do Deus vivo.

No Antigo Testamento, portanto, a adoração era um dos alvos centrais na vida do povo de Deus. Os feitos de Deus, a salvação que Ele proporcionara ao seu povo era cantado e geração após geração e em forma de canto, a história da salvação divina era passada às novas gerações em diferentes ocasiões.

“Rendei graças ao Senhor, invocai o seu Nome, fazei conhecidos, entre os povos, os seus feitos. Cantai-lhe, cantai-lhe salmos; narrai todas as maravilhas. Gloriai-vos no seu santo nome; alegre-se o coração dos que buscam o Senhor. Ele é o Senhor nosso Deus; os seus juízos permeiam toda a terra.” – Salmos 105. 1-3,7.

Notas:

[1] http/www.textosdareforma.net.

[2] DELVINCOURT, Delvincout. DUFOURCQ, Nobert. La Musique Des Orígenes a Nos Jours (Lê Musique Hèbraïque). Ed. Librairie Larousse – Paris 1946

[3] Êxodo 15:1 “Então, entoou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao Senhor, e disseram: Cantarei ao Senhor, porque triunfou gloriosamente; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.” – Números 21:17. “Então cantou Israel este cântico: Brota, ó poço! Entoai-lhe cânticos!” – Deuteronômio 31:19. “Escrevei para vós outros este cântico e ensinai-o aos filhos de Israel; ponde-o na sua boca, para que este cântico me seja por testemunha contra os filhos de Israel” – I Reis 4:32. “Compôs três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco”.

[4] Números 21:14 e Josué 10:13.

[5] Isaías 23:15 “Naquele dia, Tiro será posta em esquecimento por setenta anos, segundo os dias de um rei; mas no fim dos setenta anos dar-se-á com Tiro o que consta na canção da Meretriz“.

[6] Isaías 5:1 “Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu amado a respeito da sua vinha…”

[7] II Samuel 19:35 “Oitenta anos tenho hoje; poderia eu discernir entre o bom e o mau? Poderia o teu servo ter o gosto no que come e no que bebe? Poderia eu mais ouvir a voz dos cantores e cantoras? E por que há de ser o teu servo ainda pesado ao re, meu senhor?”

[8] Eclesiastes 2:8 “Amontoei também para mim prata e ouro e tesouros de reis e de províncias; provi-me de cantões e cantoras e das delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres”.

[9] I Samuel 1:17-27 “Pranteou Davi a Saul e a Jônatas, seu filho com esta lamentação, determinando que fosse ensinado aos filhos de Judá o hino ao Arco, o qual está escrito no livro dos justos. A Tua Glória, ó Israel, Foi morta sobre os teus altos! Como caíram os valentes! Não noticieis em Gate, nem publiqueis nas ruas de Asquelom, para que se alegrem as filhas dos filisteus nem saltem as filhas dos incircuncisos. Montes de Gilboa, não caia sobre vós nem orvalho, nem chuva, nem haja aí campos que produzam ofertas, pois neles foi profanado o escudo dos valentes, o escudo de Saul, que jamais será ungido com óleo. Sem sangue dos feridos, sem gordura dos valentes, nunca se recolheu o arco de Jônatas, nem voltou vazia a espada de Saul. Saul e Jônatas, queridos e amáveis tanto na vida como na morte não se separaram! Eram mais ligeiros do que as águias, mais fortes do que os leões. Vós, filhas de Israel, Chorai por Saul, que vos vestia de rica escarlata, que vos punha sobre vestidos adornos de ouro. Cmo caíram os valentes no meio da peleja! Jônatas sobre os montes foi morto! Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; tu eras amabilíssimo para comigo! Excepcional era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres. Como caíram os valentes, e pereceram as armas de guerra!”

[10] II Samuel 3:33 “E o rei, pranteando a Abner, disse: Teria de morrer Abner como se fora um perverso? As tuas mãos não estavam atadas, nem os teus pés, carregados de grilhões; caíste como os que caem diante dos filhos da maldade!”

[11] Amós 6:5 “…que cantais à toa ao som da lira e inventais, como Davi, instrumentos músicos para vós mesmos;”

[12] http//www.textosdareforma.net

[13] Daniel 3:5 “no momento em que ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de música, vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor levantou”.

[14] SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testamento. São Paulo, Vida Nova Pg.271.

[15] ARCHER, Gleason L. Jr. Merece Confiança o Antigo Testamento?. São Paulo, Vida Nova, 1991. p. 390.

[16] HUSTAD, Donald P. Trad. Adiel Almeida de Oliveira, Jubilate! A Música na Igreja. São Paulo, Vida Nova, 1986. p.72.

[17] Amós 5:21-24.

[18] “Tendo-se retirado de Saul o Espírito do Senhor, da parte deste um espírito maligno o atormentava. Então, os servos de Saul lhe disseram: Eis que, agora, um espírito maligno, enviado de Deus, te atormentava. Manda, pois, Senhor nosso, que teus servos, que estão em tua presença, busquem um homem que saiba tocar harpa; e será que, quando o espírito maligno, da parte do Senhor, vier sobre ti, então, ela a dedelhará, e te acharás melhor. Disse Saul aos seus servos: Buscai-me, pois, um homem que saiba tocar bem e trazei-mo. Então, respondeu um dos moços e disse: Conheço um filho de Jessé, o belemita, que sabe tocar e é forte e valente, homem de guerra, sisudo em palavras e de boa aparência; e o Senhor é com ele. Saul enviou mensageiros a Jessé, dizendo: Envia-me Davi, teu filho, o que está com as ovelhas. Tomou, pois, Jessé um jumento, e o carregou de pão, um odre de vinho e um cabrito, e enviou-os a Saul por intermédio de Davi, seu Filho. Assim, Davi foi a Saul e esteve perante ele; este o amou muito e o fez seu escudeiro. Saul mandou dizer a Jessé: Deixa estar Davi perante mim, pois me caiu em graça. E sucedia que, quando o espírito maligno, da parte de Deus, vinha sobre Saul sentia alívio e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele”.

[19] CHAMPLIN, Russel Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. p.20, vol. 2 (D-G).

[20] I Crônicas 15:22.

[21] I Crônicas 23:4.

[22] I Crônicas 23:5 “Quatro mil porteiros e quatro mil para louvarem o Senhor com os instrumentos que Davi fez para esse mister”.

[23] I Crônicas 25:7.

[24] I Crônicas 23:3.


Fonte: Publicado originalmente em http://www.textosdareforma.net


Segunda Parte – Capítulo 01

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