A Música na Adoração – Capítulo 10
por: Scott Guiley
Os Instrumentos Musicais na Adoração
Ó filhos de Sião, honrai o Rei dos reis;
Louvores altos Lhe cantai, louvores altos Lhe cantai,
Guardai as santas leis, guardai as santas leis.
Os que do mundo são a Deus não dão louvor;
Mas filhos do celeste Rei, mas filhos do celeste Rei,
Louvai ao Salvador, Louvai ao Salvador
Ó venham-nO louvar os que Seus filhos são,
E se ergam já a demandar, e se ergam já a demandar
As plagas de Sião, as plagas de Sião.
Sião é a nossa santa e gloriosa cidade,
Também perene morada dos crentes em nosso Jesus.
Isaac Watts (1674-1748).
O propósito deste capítulo é examinar principalmente o uso – e abuso – dos instrumentos musicais na adoração das igrejas do Senhor. Este é um grande assunto e temos convicções pessoais fortes que ansiamos expressar, mas intencionalmente nos limitamos. Não espere que cheguemos nem mesmo à superfície. Algumas áreas de consideração – tais como orquestras da igreja, bandas de adoração, grupos instrumentais, sistemas de som, teclados eletrônicos e música com play-back – serão completamente excluídas, salvo esta menção. Obrigado e seja benvindo!
Os Instrumentos Musicais São Bíblicos?
Há referências na Bíblia, inclusive vários exemplos, do uso de instrumentos musicais na adoração (2 Samuel 6:5; 1 Crônicas 15:16, 16:4-6, 25:1 e 6; 2 Crônicas 29:25, 28; Neemias 12:27; Salmo 33:1-3, 68:24-25, 71:22, 150:1-6; Apocalipse 14:1-3, etc.). Há quem argumente que sendo estes instrumentos incorporados como parte da adoração no templo, durante o período do Velho Testamento – e já que a adoração no templo foi abolida em Cristo – não existe a necessidade de instrumentos musicais nas igrejas hoje. Por outro lado, a crença mais comum é que os instrumentos de música (embora não requeridos) são permitidos. É esta segunda opinião que defendemos neste capítulo.
Este capítulo teve a maioria do conteúdo retirado do livro “Adorar em Espírito e em Verdade” por John M. Frame.
1. Os instrumentos, sem dúvida, foram usados na adoração no templo durante o Velho Testamento, mas também eram usados em outras ocasiões. Por exemplo, depois que Deus libertou a nação de Israel da escravidão egípcia e a fez atravessar o Mar Vermelho a salvo, o povo cantou ao Senhor o hino de Êxodo 15, sendo acompanhado evidentemente com tamboris (v. 20). Não era esta uma forma de adoração pública? Mas não foi um ritual do templo; aconteceu anos antes do templo ser construído.
2. Em nenhum lugar as Escrituras ensinam que cada parte do culto do templo foi abolida pela obra de Cristo. A lei – com o sacrifício de animais e cerimônias de adoração – se cumpriu em Cristo. O véu do templo se rasgou ao meio quando Jesus morreu (Mateus 27:51), indicando que um novo e vivo caminho se abrira à presença de Deus. O próprio templo foi destruído no ano 70 d. C. quando o exército romano conquistou Jerusalém. Mas muitas coisas associadas à adoração no templo são praticadas ainda hoje. Por exemplo: o templo era uma casa de oração (1 Reis 8:28-53; Isaías 56:7; Mateus 21:13) e um lugar onde Deus ouve os votos e confissões de Seu nome (1 Reis 8:31-33). Os sacrifícios de comida e bebida não fazem parte mais da adoração nas igrejas do Novo Testamento, mas as orações, votos, confissão e ensino, com certeza, ainda continuam. Portanto, não podemos argumentar plenamente que a adoração completa, como feita no templo, foi abolida.
3. Um propósito para o uso de instrumentos musicais no templo era guiar os cantores no louvor (2 Crônicas 29:26-28). O louvor é algo que continua claramente nas igrejas do Novo Testamento.
4. Às vezes, argumenta-se que as sinagogas judaicos no tempo de Jesus não usavam instrumentos musicais. Talvez seja verdade. Não queremos criticar as sinagogas judaicas. O próprio Senhor Jesus assistia costumeiramente os cultos na sinagoga (Lucas 4:16). Por outro lado, as Escrituras mantêm silêncio quanto à origem das sinagogas. Evidentemente, surgiram durante o cativeiro babilônico, mas não há indicação que Deus tenha dado instruções específicas para tal sistema. Em relação à música – seria interessante saber por que os instrumentos foram excluídos, mas já que não sabemos, devemos ter cautela ao pressionarmos a restrição dos mesmos nas igrejas de Deus.
5. Outra observação é que a maioria das igrejas que se recusam a usar instrumentos musicais ainda permitem o uso de flauta, a fim de fazer a congregação começar na nota correta. Mas se uma igreja usa um instrumento para ajudar o povo a achar a primeira nota, por que não usa também para achar a segunda e a terceira? E se a nota principal do soprano é dada, por que não as notas do contralto, do tenor e do baixo? E se os instrumentos podem reger a melodia e harmonia, por que não podem também ajudar a congregação a manter o ritmo e o tempo certos?
6. Por que Deus permitiria instrumentos musicais no templo e os proibiria nas igrejas? É lógico que Deus tem todo o direto de fazer o que Lhe agrada – mas geralmente não daria uma ordem nem a retiraria sem designar uma razão. Há quem especule que Deus permitiu uma forma mais complicada de adoração no Velho Testamento, com instrumentos e rituais específicos, por causa da imaturidade do povo e dureza de coração, mas prescreveu os cânticos espirituais sem acompanhamento no Novo Testamento, porque esse tipo de música é mais “simples” e “puro”. Mas a Bíblia nunca disse isso! Ela nem sugere que cânticos sem acompanhamento sejam de algum modo mais simples ou mais puros do que os acompanhados com instrumentos, nem mesmo que uma simplicidade assim é exigida na adoração. Sem dúvida, as Escrituras nunca comparam o valor do cântico com acompanhamento com o do que não tem acompanhamento.
O argumento de rejeitar o uso de todos os instrumentos musicais nas igrejas – parece a este autor – é de um silêncio que não pode ser provado.
Instrumentos Apropriados
Contudo… há questões legítimas sobre o tipo de instrumentos musicais apropriados e bíblicos. Aceitamos piano e órgão? E o que dizer de violão e banjo? E gaitas e flautas? Permitimos baterias e pandeiro? E trombetas e sinos? Não nos esqueçamos dos instrumentos caseiros? Qualquer tipo de instrumento é permitido?
Os instrumentos musicais indicados no tempo do Velho Testamento pertenciam a três grupos: cordas, sopro e percussão.
- Os instrumentos de corda eram principalmente as harpas e os saltérios – mas qualquer uma das palavras pode representar uma variedade enorme de instrumentos. Por exemplo: as harpas variavam de tamanho e estilo. Algumas talvez fossem enormes, mas a maioria era pequena e bem leve. Salmo 137:2 fala de pendurar as harpas nos salgueiros, indicando que elas não eram instrumentos grandes. Normalmente a harpa podia ser tocada enquanto era levada em procissões ou marchas (ver 1 Samuel 10:5; 1 Crônicas 13:7-7; Isaías 23:16). Certa Enciclopédia (The International Standard Bible Enclyclopedia) sugere que “instrumentos com arcos eram desconhecidos; as cordas eram tangidas com os dedos ou com um plectro”. Não com arco! Os saltérios também possuiam muitas variedades: gaita de foles, alaúdes e instrumentos parecidos com o violão. O Salmo 33:2 parece indicar que alguns saltérios tinham dez cordas – provavelmente uns tinham mais e outros menos.
- Os instrumentos de sopro incluiam flautas, cornetas (trombetas) e órgãos. Mais uma vez, parece haver muita incerteza quanto às descrições, mas os órgãos (mencionados pela primeira vez em Gênesis 4:21) eram, sem dúvida, instrumentos simples de junco, de algum modo semelhante aos oboés de hoje – e feitos de madeira, marfim ou osso. Devia haver uma variedade de formas e estilos. As cornetas (trombetas) eram feitas geralmente usando-se os chifres de carneiros e bodes, mas pelo menos em uma ocasião, usava-se a prata (ver Números 10:1-10; Josué 6:4-7; Juízes 7:16-23). As gaitas eram variedades diferentes de flautas.
- Os instrumentos de percussão eram principalmente os tambores, tamboris e címbalos. Certa Enciclopédia (The International Standard Bible Enclyclopedia) sugere que no Velho Testamento os tambores eram usados em muitas ocasiões festivas, mas nunca são mencionados em conexão aos cultos divinos. Os címbalos, embora usados às vezes na adoração, eram usados principalmente pelos chefes da música (regentes do coral) como meio de reger (1 Crônicas 15:19).
Com toda honestidade, muitas igrejas hoje aumentaram tanto o volume que dá para rachar a parede do prédio da igreja. A Bíblia nos ensina a louvar “ao Senhor com harpa, cantai a Ele com saltério de dez cordas….. tocai bem e com JÚBILO”(Salmo 33:2-3). Mas, nesta época quando o som é amplificado eletronicamente e somos bombardeados por todos os lados, muitas vezes se torna impossível até pensar. Portanto, é a opinião deste autor que o uso de instrumentos musicais na adoração pública deve ser limitado em número – e com certeza o volume nunca deve chegar ao ponto de atrapalhar a adoração verdadeira que sobe do coração e da mente. Como já vimos antes, a adoração não é para exibição do homem – não é para ele aparecer nem ser admirado por sua capacidade artística. Nunca se deve permitir que os instrumentos transformem a adoração em divertimento. Jamais devem interferir no caráter espiritual da adoração.
Então, como vamos responder à pergunta sobre que tipos de instrumentos são permissíveis? Os instrumentos designados por Davi para serem usados na adoração eram os saltérios, as harpas, os címbalos, as cornetas e trombetas (1 Crônicas 15:16, 24, 28). Deviam ser tocados pelos sacerdotes e levitas. No reinado de Ezequias estas regras foram reiteradas em 2 Crônicas 29:25: “E pôs os levitas na casa do Senhor com címbalos, com saltérios, e com harpas, conforme ao mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque este mandado veio do Senhor, por mão de seus profetas”.
Pessoalmente, então, (cada homem seja persuadido por si próprio), achamos que a Bíblia deixou estas diretrizes:
- São permitidos instrumentos musicais das três categorias: cordas, sopro e percussão, na adoração pública.
- Embora os instrumentos de percussão sejam permitidos, os tambores são notáveis por sua ausência na Bíblia. Estes instrumentos de percussão especificamente mencionados – principalmente os címbalos – eram provavelmente mais para o propósito de reger do que para enfatizar ritmo forte. É difícil ler na Bíblia o som alto e o ritmo forte.
- Os instrumentos musicais devem ser tocados por pessoas espirituais que dão evidência de terem sido separadas pelo Senhor.
- Os instrumentos musicais devem ser tocados para a glória do Senhor como acompanhamento à verdadeira adoração (2 Crônicas 29:27-29).
Fonte: http://www.palavraprudente.com.br