Decibéis e Fé
por: Francisco Lemos
Em algumas igrejas mais, em outras menos, nossos cultos estão se tornando cada vez mais barulhentos. Isso sem falar nos mega-eventos e congressos, onde toneladas de som sacodem os ouvintes. Os ruídos aumentaram na congregação: os adoradores conversam cada vez mais e os cantores exigem som cada vez mais amplificado. não sei o que está acontecendo, mas gostaria de manifestar a minha preocupação sonora.
Nosso país é barulhento: motos sem escapamento, motores de ônibus desregulados, automóveis com caixas de som pesadíssimas e até a cachorrada da vizinhança. E as igrejas então… como disse o articulista de Veja Cláudio de Moura e Castro, “confundem decibéis com fé”.
Quando vou ao templo, vou ao encontro do Criador e de meus irmãos. Sempre imagino um ambiente silencioso, aconchegante, que contribua para acalmar os achaques de minha alma. Em algumas ocasiões, entretanto, me senti obrigado a sair, ou no mínimo, a me afastar dos primeiros bancos, onde, na maioria das vezes, ficamos expostos a quilos de decibéis nada crentes.
Não é possível adorar a Deus num ambiente tumultuado, com vaivém constante de pessoas, gente falando todo o tempo, cantores embalados por orquestras retumbantes e caixas de sons tonitruantes. Pode ser que eu esteja fora de moda, mas acho que precisamos nos lembrar do “aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus”. [1] Como se acalmar num ambiente com tantas interferências?
Também não quero admitir que o templo, um lugar onde Deus Se encontra com as pessoas, seja insalubre para o nosso corpo. E não deveria ser. O livro Conselhos Sobre Saúde, à pág. 28, diz que “a influência do Espírito de Deus é o melhor remédio para as doenças. O Céu é todo saúde”. Mas a Organização Mundial de Saúde afirma que, dependendo do tempo de exposição, o limite de decibéis que faz mal à saúde é 65. Um liquidificador produz 85 decibéis (ver quadro).
Ruído excessivo aumenta a adrenalina e a pressão arterial, estimula o estresse e a insônia. O excesso de ruído já levou cerca de 10 milhões de cidadãos americanos à perda da audição ou parte dela. Aqui no Brasil não temos estatísticas, mas o barulho e o ouvido deles não devem ser diferentes dos nossos. Gente surda e com zumbido no ouvido eu conheço muita.
Em relação aos freqüentadores dos cultos, os efeitos psicológicos do excesso de ruído são preocupantes. Os especialistas falam em perda de concentração (imprescindível num culto racional), irritação permanente, perda da inteligibilidade das palavras, dor de cabeça, fadiga, zumbido no ouvido e loucura. O excesso de ruído provoca interferências no metabolismo de todo o organismo, com risco de perda auditiva irreversível. A partir de 85 decibéis, não importa de o som é agradável ou não, se é produzido por música rock ou sacra, ele é, de qualquer modo, prejudicial ao corpo e em especial à audição. Devemos também nos lembrar dos vizinhos de nossas igrejas. Por que os imóveis próximos aos templos, em geral, têm baixa cotação no mercado imobiliário?
Em várias cidades de nosso país, existem leis reguladoras do barulho. Com respeito à nossa igreja, tenho duas sugestões:
1 – Melhorar a sonorização dos templos das comunidades menos favorecidas, com apoio técnico e financeiro do Departamento de Comunicação das Associações e Uniões. Grande parte de nossas igrejas instala duas potentes caixas de som, mais ou menos na linha de suas plataformas, viradas para a congregação. Ai dos ouvidos dos adoradores que se sentam nos primeiros bancos, porque o som é aberto para atingir toda a nave e atender aos solistas de playbacks (faltam caixas de retorno). Poderia ser esse um dos motivos pelos quais, instintivamente, os irmãos preferem os últimos bancos da igreja?
2 – Orientar nossa bem-intencionada turma que cuida do som da igreja. Cursos de sonorização ambiental e de liturgia do culto podem ajudar e muito.
Não devemos confundir alegria com barulho, decibéis com fé.
Casa Sossegada | 20 |
Murmúrio | 30 |
Música baixa | 40 |
Conversa em tom normal | 60 |
Televisão | 65 |
Restaurante | 70 |
Tráfego intenso | 80 |
Liquidificador | 85 |
Esquina movimentada | 93 |
Walkman no volume máximo | 110 |
Buzina | 110 |
Britadeira | 110 |
Show em estádio | 120 |
Avião a jato decolando | 130 |
Tiro | 140 |
Francisco Lemos é editor da revista Vida e Saúde, editada pela Casa Publicadora Brasileira
O presente artigo foi publicado na Revista Adventista de novembro/2006, pág. 38