Características dos Sons Agudos
por: Fernando Antônio Bersan Pinheiro
Os sons médios são aqueles compreendidos entre 200 a 1KHz (os médios graves), 1KHz a 2KHz (médios “médios”) e os médios agudos (de 2KHz até 5KHz). Os sons agudos são os de aproximadamente 5KHz para cima. Esses valores não são rígidos, podendo variar de autor para autor, mas isso não nos importa. O nosso interesse são os sons de 2KHz para cima, ou seja, os médios-agudos e agudos. Estes são os sons responsáveis por uma palavra difícil, tanto para escrever quanto para falar: “inteligibilidade”. Mas essa palavra é importantíssima para a qualidade do som.
Inteligibilidade quer dizer “clareza e definição”. Dela vem o termo inteligível, que quer dizer “o que é bem compreendido”, “o que é fácil de entender”. São os sons médio-agudos e agudos os grandes responsáveis pela inteligibilidade, ou seja, pelos ouvintes conseguirem entender o que está sendo falado, cantado, tocado. E também é o responsável pelo sentido de direção do som (saber de onde o som está vindo).
Claro que nenhum leigo (alguém da igreja que não seja músico ou cantor ou operador de som) vai dizer que o som está sem “inteligibilidade”. Eles vão dizer que o som está “como som de lata” (excesso de médios) ou “sem corpo” (falta de médios); “sem brilho” (falta de agudos) ou “muito brilho” (excesso de agudos), ou talvez de outra forma (alguns são bem claros: “não estou entendendo nada”). Independentemente da forma que reclamarem, com certeza vão reclamar, pois são esses sons que os farão entender ou não a mensagem.
Faça você mesmo o teste em casa. Pegue um CD cantado. Coloque no aparelho de som, qualquer um que tenha pelo menos equalização de agudos e graves. Toque a música normalmente para se ter uma referência. Agora, toque novamente, mas coloque a equalização assim: os agudos no máximo e os graves no mínimo. Você continuará conseguindo entender o que o artista canta. Agora, coloque os agudos no mínimo e os graves no máximo. Será muito mais difícil entender o que está sendo cantado.
Esse teste funciona também para vozes masculinas. Isso acontece por causa dos harmônicos, ondas sonoras que são múltiplas das fundamentais. Uma voz masculina do tipo baixo “começa” em 100Hz, mas chega a 5KHz com os harmônicos (um tenor chega a 8KHz, alguns até mais). Já uma voz feminina do tipo soprano pode chegar a 12KHz ou até mais, com os harmônicos.
Até quem não entende absolutamente nada de som sabe que os médios e agudos são importantes para a inteligibilidade. O exemplo acontece todos os dias, quando passam na porta das nossas casas vários veículos, anunciando diversos produtos:
– Olha o gás, “olhogáiz”
– Água mineral, apenas 5 reais.
– “Olha a pamonha, bem quentinha e gostosa”.
Os veículos invariavelmente são equipados com uma corneta. Lembram um megafone, desses que se vê mais em filmes que na vida real. Mas porque as cornetas? Porque elas reproduzem os sons médios (principalmente) e agudos. O som pode não ter “peso” (grave), ter som de “taquara rachada” (por causa do excesso de médios), mas permitem entender exatamente o que está sendo dito, o que está sendo falado. Se em vez de uma corneta usassem um woofer (alto-falante de graves e médios-graves) de 15″, ninguém conseguiria entender nada.
Uma outra característica dos sons agudos é a sua direcionalidade. Os sons são espalhados em uma só direção. Sons entre 2KHz e 4KHz se espalham em ângulos menores que 180º. Sons entre 5KHz e 10KHz se espalham com ângulos menores, entre 100º e 70º, e sons acima disso se espalham em ângulos muito restritos, às vezes 60º, 40º. Quanto mais próximo de 20kHz, menos o som se “espalha”, ou mais direcional o som é.
Nesses veículos, a direcionalidade do som é utilizada para sabermos se o veículo está se aproximando ou se afastando, e até mesmo a posição relativa. Está na rua abaixo, está na rua acima, etc. Já os sons graves são omnidirecionais, não dá para precisar de onde vem e para onde vão. O máximo que percebemos é a aproximação e o afastamento por causa do volume aumentando ou diminuindo. Outros bons exemplos são os alarmes. O som é médio-agudo porque precisamos saber a direção, saber qual é a casa ou o veículo onde o alarme disparou. Não existem alarmes com woofers.
Aproveitando o assunto dos alarmes, já notou como as sirenes utilizadas são pequenas? Essa é outra característica dos sons médios e agudos. Não há a necessidade de falantes grandes. Quanto menor o alto-falante, menos graves ele “falará”. São falantes pequenos e baratos também. Mesmo um bom driver titânio custa menos que um woofer “pesadão”. Os exemplos de pequenos falantes de médios e médio-agudos são milhares, pois toda a nossa vida é pontuada por pequenos dispositivos onde existem pequenos alto-falantes reproduzindo algumas freqüências médias e agudas.
Por último, outra característica interessante dos médios e agudos é que são sons facilmente absorvíveis. Qualquer roupa ou tecido (cortinas, etc.) ou espumas e esse tipo de som é bastante atenuado.
Agora que já sabemos a importância desses sons, é necessário observar alguns problemas sérios que acontecem nas igrejas.
O primeiro é a “queima” dos tweeters ou drivers (alto-falantes de médios e agudos). Eles param de funcionar devido a algum problema (em geral, por excesso de potência). Os alto-falantes de agudos, por causa do seu pequeno tamanho, são muito mais sensíveis que os woofers quanto à excesso de potência. Um “tiro”, “estalo” e uma microfonia mais forte podem levá-los a queimar. Isso não é raro de acontecer.
O termo é queimar, mas não há perigo de fogo nem fumaça. Existe uma peça dentro dos alto-falantes chamada bobina. Um fio enrolado várias vezes como se fosse um pequeno túnel. Quando existe um excesso de potência, a bobina esquenta demais e se rompe, como se fosse um fusível. Não há fogo.
Apesar do falante queimado, a caixa de som continua funcionando pelo woofer, com seus sons graves e médio-graves. O público (os membros da igreja) continua achando que está tudo funcionando, mas começam a acontecer reclamações diversas, de que não dá para entender o que está sendo dito, que o som está embolado, que está faltando “brilho”, que o som está ruim, etc.
Se existir uma caixa de som assim durante um culto, haverá reclamação de falta de “brilho”, som embolado, por parte das pessoas que sentam naquela região. A reação natural do operador de som é acrescentar agudos na equalização da mesa de som. Se outras pessoas passarem a reclamar que “tem brilho demais” (pessoas de uma região do templo reclamando de falta e pessoas de outra região do templo reclamando de excesso de agudos), é sinal com certeza de algum falante de agudo queimado.
Um teste fácil de ser realizado (com a igreja vazia, sem ninguém): peça para alguém tocar teclado, lá pelas últimas notas da direita (as notas mais agudas). Equalize o canal da mesa de som tirando todos os graves e todos os médios e coloque os agudos no máximo. Enquanto a pessoa toca, vá caixa por caixa do templo. Escute, preste atenção, compare todas. As que estiverem com falante de agudo queimado serão facilmente identificadas. Aliás, esse teste é tão simples que deveria ser realizado periodicamente, e não somente quando houver reclamações.
O segundo problema é a posição das caixas de som em relação ao público. Já que os agudos são facilmente absorvidos e muito direcionais, a influência do posicionamento será muito importante para o sucesso (ou insucesso da reunião).
A regra é simples: quem conseguir visualizar o alto-falante de agudos o escutará. Quem não conseguir ver, não conseguirá escutar. Essa regra explica porque colocamos alto-falantes no alto (sistema fly, line-array, clusters ou mesmo simples caixas penduradas nas paredes), acima das nossas cabeças, e inclinadas em direção ao público. Isso tudo para que os médios e os agudos percorram um caminho livre da caixa de som até os nossos ouvidos.
A posição errada das caixas de som pode estragar um evento. Um erro comum é colocar as caixas de som no chão. Nessa situação, o alto-falante de agudo fica abaixo ou no máximo no nível do ouvido de uma pessoa sentada. Resultado: quem está próximo às caixas, escuta bem, mas funciona como um absorvedor de som. Logo, quem está longe, perde inteligibilidade. Um simples e barato pedestal para caixa de som (entre 70,00 e 150,00 reais) melhora muito o som. Na falta de um pedestal, improvise com uma cadeira, uma mesa, um suporte qualquer.
Outro erro é caixa acústica instalada de “cabeça para baixo”. E caixa de som tem cabeça? Tem sim, é o lado dos falantes de médios e agudos. Estes precisam ficar para cima. É o mesmo erro que o anterior. Acontece muito com quem não entende absolutamente nada. E tem muita igreja assim, pode acreditar. Isso faz diferença mesmo com a caixa pendurada na parede, em posição mais alta.
Por último, todas as regras acima valem para o operador de som também. Ele, mais que todos, precisa ouvir bem o som que ele está “fazendo”. Sentar de preferência no meio do público, ou pelo menos que tenha disponível para seu uso uma caixa de som (para ouvir os médios-agudos), caixa esta que deve ser IGUAL E COM O MESMO SOM QUE O PA, que o público está ouvindo. Em inúmeras igrejas eu vi (e continuo vendo) o operador situado em posição totalmente inadequada, sem sequer uma caixa de som para sua referência. Até posições em que o equipamento ficava atrás do altar ou palco da igreja, em uma posição em que mal se vê o que está acontecendo, e pior ainda se escuta, já encontrei. Deus tenha misericórdia do seu povo em uma igreja dessas.
Por isso que, em igrejas com um mínimo de preocupação com sonorização, o operador está no situado no meio do público (melhor posição possível, mas em geral exige concepção desde a construção da igreja) ou lá atrás, no final da igreja (posição razoável, sofre um pouco com as reverberações da parede final, mas é mais fácil de implementar em lugares já construídos). Tudo isso para que a mensagem Divina seja transmitida da melhor forma possível, bem assimilada, para que aconteça o que todos desejamos: Salvação!
Fonte: Som ao Vivo