Por Que Nem Todos Chegam Lá?

por: autor desconhecido [*]

Detalhes à respeito dos fracassos de quem tentou aprender música e não conseguiu.

Qual é o segredo dos músicos? Seria o “dom natural” que determinadas pessoas têm ao passo que falta deliberadamente em outras? Determinação por si só é o bastante? Por que tantos tentaram e não chegaram a um nível satisfatório?

Estas questões são comuns. As respostas, contudo, nem sempre são plausíveis. Quem espera, lendo esta matéria, soluções prontas e fórmulas padronizadora para as indagações acima irão se decepcionar. Eu não as tenho, ma proponho uma reflexão sobre o tema.

Ao longo de anos dedicados à arte musical e esporadicamente atuando como instrutor, eu pude me deparar com diversos tipos de aprendizes — alguns deles nem passaram desta fase. Conheci ainda outros que, apesar de professar adorar música e dispor pagar altas quantias, se quer se aventuraram a pôr um dedo numa corda de violão ou numa tecla de um piano. Portanto, há também aqui, o drama de quem ensina sem conseguir transmitir seu conhecimento para o aluno. Fracasso do professor?

É bem verdade que nosso espírito consumidor nos estimula ao comodismo. Acostumamos-nos a ir ao supermercado, escolher o produto na prateleira, pagar seu preço e irmos embora pra casa devorá-lo. Em matéria de arte isso é impossível. O caminho lógica a seguir é o da “dedicação” e esta por sua vez, é intransferível.

Tenho dom ou não?

Dom é dádiva, mérito, merecimento, dote natural, aquilo que se herda do nascimento. Ter ou não ter é dom musical é sempre um referencial para fadar o destino de um aprendiz. Mas o que é de fato esse “dom musical?” São duas as propriedades básicas de um recém-nascido, saber: pureza e insciência. Ninguém nasce sabendo nada. Todos têm de passar pelo estágio do aprendizado. Ocorre que o simples fato de gostar de música é um dom. Entender a variedade dos tons é outro. Não menos importantes são os dons de domínio prático da fórmulas teóricas (incluindo matemática), agilidade corporal (da parte que se usa para tocar o instrumento), paciência, persistência, disciplina entre tantos outros. É imprescindível, portanto, ter não um mas vários dons. O dom de “saber música” simplesmente não existe. Nem é transferível geneticamente. Desta forma, um descendente de um grande músico teria grandes chances de ser outro bom músico pela vantagem de já estar cercado de música, incentivo, material acessível e um professor em casa. Mas não herdaria um só gene de conhecimento. Ele terá de passar pelo mesmo bê-a-bá os demais.

Teoria ou prática?

Outra briga — desnecessária, por sinal — é quanto a definição do que teria supremacia, teoria ou prática? Ambos, peremptoriamente. Ao iniciar o treinamento, faça-o usando a mesma medida para a prática e a teoria. Um distúrbio comum é pegar certos “vícios” no início que mais tarde poderão se transformar em grandes entraves. A teoria ensina a pratica correta.

Há que se ter disciplina

É preciso dar crédito ao treinamento e ser disciplinado. É regra que quando o aluno sentir-se no nível ou superior ao nível do seu instrutor é hora dele deixar a sala de aula. Em muitos casso isso ocorre apenas na pretensão de quem está aprendendo ou quando ele perde a confiança no mestre. O mesmo se dá até quando o professor é um livro. O aprendiz começa a pular páginas e subestimar certas regras e dicas recomendadas ao longo do curso. Sabe aqueles exercícios bobos que mais parecem ensaios para teatro infantil? Eles funcionam. Seja disciplinado.

Uma constatação relevante que tenho apurado é certa resistência que muitas pessoas fazem em cima de uma teoria que corrige uma estudada anteriormente. Alguém que aprendeu ao longo da vida que respirar (erradamente) é secar a barriga e encher o peito na hora de captar oxigênio tem dificuldades de adotar uma nova ordem disciplinadora. Desta forma, é mais cômodo para o mestre trabalhar com os principiantes.

E o tempo passa…

Você já sentiu algo parecido ao que sentiu um iniciante de técnico de hardware depois de concertar o primeiro computador? Executar dois ou três compassos e as pessoas ao seu redor reconhecer imediatamente a música é a mesma sensação. Só que isso pode demorar o suficiente para desestimular o iniciante e comprometer a certeza de sua vocação. Pensando nisso, uma técnica usada para o instrutor motivar o aluno é fazê-lo executar pequenos trechos práticos de músicas conhecidas, ligando uma seqüência de notas a vários exemplos.

Pressa é uma prerrogativa dos tempos modernos. Todo mundo tem. Por trás dela está algo camuflado: impaciência. Uma coisa é você ter que fazer as coisas rapidamente pela própria exigência da natureza e outra é não ter paciência. Desejar dominar música o mais depressa possível não é errado. Mas neste caso, não há carência de urgência — a menos que se esteja a caminho da cadeira elétrica.

Importar-se com o tempo demasiadamente só vai atrapalhar. Todos os meu alunos me perguntam no primeiro dia de aula “quanto tempo vai demorar pra aprender”. Respondo perguntando: “Se eu disser dez anos você desistirá?”. Se ele desistir a década passará tenha ele aprendido ou não. E no décimo ano ele lamentará não ter continuado.

Acessibilidade

Nos tempos de Mozart, Beethoven ou Sebastian Bach música era destinada aos nobres. Até mesmo dar uma espiada em um instrumento musical era digno de cerimônia. Nunca foi tão acessível aprender música e praticar instrumentos. Talvez por isso deu-se a banalização e hoje em dia proliferou-se assaltantes dizendo-se “artistas musicais”.

No entanto, a geração atual o tem e você é mais uma esperança para que a Música — pura arte — possa ser bem explorada. Não desperdice sua chance.


[*] – Nota: Os editores do Música Sacra e Adoração não localizaram informações acerca do autor deste artigo. Qualquer contribuição acerca desta informação será bem-vinda.


Fonte: Publicado originalmente em: http://www.filomusicologia.hpg.com.br/artigo2.html”>