Os Sons do Mundo
por: autor desconhecido [*]
Antes mesmo de nascer, o bebezinho pode entrar em contato com a música, que ajuda a acalmá-lo e a fortalecer os vínculos com a mãe.
A pianista, grávida, ensaiava para o concerto. Sempre que chegava num determinado trecho de uma das músicas, suas mãos pareciam não querer obedecer ao comando do seu cérebro, e ela precisava se esforçar para conseguir tocar como devia. Depois de dar à luz, ela voltou aos ensaios, agora com o nenê ao lado. E, para sua surpresa, sempre que passava pelo trecho da música, antes tão difícil, o nenê começava a chorar. Essa história real, foi contada por Berry Brazelton, professor da Escola de Medicina de Harvard e do Children’s Hospital de Boston, Estados Unidos, durante uma de suas visitas ao Brasil. Serviu para ilustrar a comunicação que se estabelece entre mãe e filho bem antes do nascimento, e através de uma arte que é usada como terapia desde a Antigüidade: a música.
Antes de Cristo, o filósofo grego Platão já a recomendava para “equilibrar os humores do corpo”. A Bíblia também nos relata a proeza de Davi tocando sua lira para acalmar o rei Saul, durante suas crises. Sem falar nos povos indígenas da América, que também utilizavam o som com objetivos terapêuticos.
Crianças mais comunicativas. Hoje, a musicoterapia é, de fato, uma ciência paramédica que estuda a relação do homem com o som visando prevenir e tratar doenças, promover o desenvolvimento psicossocial do indivíduo e melhorar a sua qualidade de vida. O trabalho dos musicoterapeutas, que é uma profissão de nível universitário, se aplica tanto a deficientes físicos e mentais, como também a escolas e empresas.
Mas é na área de estimulação precoce do nenê, ainda na barriga da mãe, que se tem conseguido os resultados mais interessantes. “As pesquisas mostram que as crianças que foram estimuladas, com música, durante a gestação, cresceram mais criativas, comunicativas, atentas e mais perceptivas do que as que não passaram por esse processo”, diz Lílian Elgelmann Coelho, presidente da Comissão Científica da Associação de Profissionais e Estudantes de Musicoterapia do Estado de São Paulo.
Mas a partir de que idade o feto começa a ouvir? Segundo Lílian, esse é um tema controvertido. As pesquisas realizadas na década de 20 dizem que só a partir do sexto mês de gestação o bebê começa a desenvolver a sua capacidade auditiva. Já de acordo com o livro Os Modos de Comunicação do Bebê, dos psicólogos Widner, Cristiane e Trissot, publicado pela Manole, o feto sempre escuta a mãe. É uma tese comprovada pelos musicoterapeutas.
“Durante sessões, nós captamos o ritmo dos batimentos cardíacos do feto e da mãe. Com um aparelho especial. Após alguns minutos de relaxamento com música, há uma surpreendente sincronia de ritmo dos dois. É uma constatação emocionante”, define Fernando.
Para Fernando, que atende gestantes e casais em clínica, e também no Hospital-Maternidade Santa Brígida, “o musicoterapeuta trabalha o som como exercício de comunicação já a partir do quinto mês de gravidez. Se o objetivo for apenas o relaxamento, essa terapia pode ser aplicada desde o início da gestação, já que o bebê, na barriga da mãe, não está ainda distinguindo palavras, apenas o som embutido nelas. É como se a mãe falasse com ele de boca fechada”, explica.
Diálogo entre mãe e filho. Para estimular a comunicação do feto com os sons, os musicoterapeutas aplicam várias técnicas. Durante as sessões, por exemplo, orientam as mães a ouvir uma música e reproduzi-la, cantando, para seu bebê. Vale também tocar algum instrumento para que ele ouça, contar histórias, ou apenas conversar com ele. As técnicas mais sofisticadas incluem um trabalho de expressão corporal, respiração rítmica, imitação dos movimentos do feto e a composição de uma música-tema que irá marcar a relação mãe e filho. Alguns profissionais chegam até a usar um gravador com autofalante voltado para a barriga da mãe, durante os exercícios.
“Nas gestações normais, a musicoterapia ajuda a desenvolver a aproximação da mãe com o bebê. E naquelas onde há alguma dificuldade emocional ou orgânica, essa técnica pode ser aplicada em conjunto com a atuação do médico e do psicólogo, com ótimos resultados”, explica Engelmann. No trabalho com bebês de alto risco, por exemplo, o som da música ajuda a estabilizar os batimentos cardíacos, com reflexos positivos no ritmo respiratórios do feto e da mãe, além de acelerar as conexões neurológicas.
Quem já passou pela experiência, aprovou. É o caso de Alda Zonato, que se submeteu à musicoterapia durante a gravidez de Cássia, hoje com três anos. "Eu me senti muito segura e tranqüila. Fazia os exercícios com a participação do meu marido e eram momentos muito especiais. A nenê se mexia sempre durante as sessões, como se estivesse respondendo ao estímulo “, conta.
Até hoje, diz Alda, a música tem efeito tranqüilizador em Cássia, uma menina que apresenta uma grande percepção musical. Memória auditiva aguçada (guarda as letras das músicas com a maior facilidade) e um interesse incomum por livros e histórias.
“Mas o bonito mesmo foi no momento do parto. Quando ela saiu da minha barriga e dissemos “Oi, Cássia”, ela abriu os olhinhos e virou em nossa direção como se respondesse: Hei, eu já conheço vocês…”
[*] – Nota: Os editores do Música Sacra e Adoração não localizaram informações acerca do autor deste artigo. Qualquer contribuição acerca desta informação será bem-vinda.
Fonte: Revista Crescer, fev/99, pág.64.