Música – Melhores Relações Entre Pais e Filhos

por: Hélio Vieira dos Santos [1]

Solução fácil, antiga e econômica, a música ajuda a criar melhor entendimento entre pais e filhos, promovendo harmonia doméstica.

Desde os tempos primitivos, os fiéis em Israel haviam dado muita atenção à educação da juventude. O Senhor dera instruções quanto a ensinar-se as crianças desde a mais tenra idade. Cânticos, orações e lições das Escrituras deviam ser adaptados à mente que se ia abrindo”. – O Desejado de Todas as Nações, pág.47.[2]

Você ama seu filho, e às vezes deseja melhorar as relações do dia-a-dia com ele. Todos nós temos momentos em que queremos entender nossos filhos um pouco mais e melhor, fazê-los compreender o quanto nos preocupamos com eles, quão profundo é o nosso amor por eles. Todos os pais querem que os filhos sintam que o lar é como um paraíso de paz, um lugar de alegrias e entretenimento, e que nós, os mais velhos, estamos à sua volta para criar e preservar um coração feliz:

Você não precisa fazer um curso para estudar a criança, ou tirar umas férias da família, ou consultar especialistas para criar esses laços de estreitamento, pretendemos oferecer-lhe aqui uma solução diferente, uma solução fácil, econômica e antiga. Desde que Davi acalmou o rei Saul com música, os homens, mulheres e crianças descobriram que é possível criar melhor entendimento e harmonia doméstica através da música.

Uma solução maravilhosamente simples? Talvez. Mas menos de 1% das crianças brasileiras estão recebendo preparo musical adequado ou sendo treinadas em um instrumento musical. Isto significa que 99% dos pais não dão importância a esse eficiente e vital método para melhorar a vida de suas crianças e a sua própria.

Qual o Caminho?

Hoje em dia nós, pais, estamos preocupados com muitas coisas: disciplina (ou falta dela); falta de comunicação entre as gerações; estatísticas ameaçadoras sobre delinqüência juvenil, vadiagem, e uma variedade de males e vícios. E acima de todos os nossos receios, nos preocupamos com nós mesmos, como pais, indagando às vezes por que não vemos mais claramente o que os nossos jovens querem ou por que não entendemos o que eles realmente sentem.

É verdade que gastamos quase todo o nosso tempo cozinhando Para eles, conferenciando Sobre eles, planejando Em Torno deles, comprando Por Causa deles, vivendo Através deles. De fato, estamos tão atarefados Fazendo, que pouco tempo nos sobra para que, em casa, Simplesmente Fiquemos com Eles. Realmente nossos filhos também não param quase em casa. Eles ficam fora, estudando, convivendo com os amigos.

Podemos estar vivendo numa era que gira em torno da criança, mas, infelizmente, o centro dessa era raramente é o lar. A pressão das forças externas causa um impacto violento em nós e conduz os laços familiares a um ponto crítico. Sob essas circunstâncias a disciplina se torna cada vez mais difícil. Compartilhar ideias e interesses, demonstrar lógica e afeição torna-se quase impossível enquanto nossas gerações agirem como se estivessem em órbitas diferentes.

É muito constrangedor verificarmos que a juventude se torna espectadora passiva, que muito raramente participa daquilo que está fazendo. Sentada, olhando, falando e aplaudindo, a juventude tem pouca chance de exteriorizar sua energia interior… tem menos oportunidade para obras criativas.

À medida que os anos passam, nossa ansiedade vai aumentando. Não estamos certos de como essa mocidade está crescendo, ou para onde ela vai, ou que espécie de valores ela está colecionando para a vida por vir.

Se a Música é o Alimento do Amor, Vamos Fazê-la” – Shakespeare

Você perguntará agora o que isso tem a ver com música. Causar-lhe-á espanto como um instrumento pode unir um lar ou substituir um psicanalista.

Estudos recentes mostram que as famílias que cultivam a música e cujas crianças tocam algum instrumento são, de forma geral, mais unidas do que aquelas que não o fazem. Mostram também que os pais que orientam os filhos para a música tomam interesse também em todas as fases da vida deles. Esse procedimento produz calorosas e estreitas relações e reduz a ansiedade. Em síntese, a música parece ser a fonte do amor, ou pelo menos, uma das fontes onde o amor se abastece.

Isto não é mágica, é lógica. A música permanece como uma das poucas atividades cujo núcleo encontra-se no lar moderno. Todo o processo: a escolha do instrumento, sua compra e o estudo nele, envolve uma intensa relação entre pais e filhos.

Hoje em dia quase toda a educação se faz longe do lar. Mas os jovens músicos estudam onde os pais podem vê-los e ouvi-los. E os pais aprendem como o filho ataca um problema, enfrenta as frustrações, coordena e persevera. A observação dessas exteriorizações da personalidade permite melhor entendimento do caráter do filho e uma forma de tratá-lo mais sensatamente.

Neste ponto você talvez diga que a música também cria atritos. Você está certo neste ponto. Ninguém nega que para se conseguir harmonia deve-se começar por aquilo que não é perfeito. Ouvir-se-ão notas desafinadas e barulho, e algumas vezes relutância para uma prática constante. Mas, dias bons e maus, sons melodiosos e discordantes, encorajamento e repreensão, amor e ódio, todas essas forças antagônicas são uma parte normal da existência humana. Pais e filhos emocionalmente sadios não se assustam ou se ressentem por sentimentos discordantes, nem deixam de se amar, de praticar ou de melhorar por causa deles. A criança saberá que, se o pai a critica por uma nota desafinada, ele está dedicando seu tempo para ouvi-la; se ele insiste para que ela estude é porque está suficientemente envolvido para querer isso. Críticas construtivas não inibem a criança, mas a indiferença sim.

A música estreita as relações entre você e seu filho de uma outra maneira. Quando você comenta o progresso de seu filho com ele, demonstrando orgulhar-se disso, ele, por seu lado, sente-se estimulado para maior esforço por causa de seu orgulho. Essa integração e divisão se desenvolve em torno de sons e notas e traduz-se em afeição e harmonia humanas.

“A Música Tem Encantos que Enternecem o Selvagem”

A música tem muitas faces e virtudes. Pode manter Joãozinho mais em casa. Pode torná-lo desejoso de realizações ou compreensivo e obediente aos pais. E pode fazer mais.

Um instrumento musical ajudará Joãozinho a tornar-se: 1) um melhor irmão; 2) um indivíduo alegre e 3) um membro mais cooperador de um grupo. Ele reclama muito? Realmente não! Joãozinho é um ser emocional. Com o tempo ele começa a tocar um instrumento musical; ele provavelmente tem irmãos e irmãs em casa, rivais na escola e algumas dúvidas íntimas acerca de si mesmo. Ele terá que enfrentar ou não competições e brigas na escola; lutas com os irmãos e insegurança pessoal. Por seus momentos de ansiedade ou tensão Joãozinho será punido, apanhará ou sofrerá caçoada. Entretanto, quando ele recebe um instrumento musical, ele está pronto e amadurecido para ele e o receberá como uma fonte de conforto e de alegria. Esse inanimado amigo o ensinará a enfrentar a tristeza e a frustração de forma diferente, a assoprar sua fúria para fora, ao invés de se bater por ela com os punhos.

Assim que Joãozinho for se desenvolvendo no uso de seu amigo, ele também adquirirá nova segurança de si mesmo e incrementará seu respeito pessoal.

Em seu instrumento ele pode criar ou expressar grandes pensamentos, ou expelir grandes sons, ou se livrar de grandes problemas.

Aprendendo a viver consigo mesmo como um indivíduo, aprendendo a gostar de si mesmo, Joãozinho estará dando o primeiro passo num ajustamento bem sucedido no grupo. Ele verá que existem momentos em que compromissos, renúncias, ou cooperação são muito necessários.

“A Música é a Linguagem Universal da Humanidade”

Como os pais estão freqüentemente preocupados com a felicidade de seus filhos, deve-se dizer uma palavra sobre os instrumentos musicais como uma fonte de alegria e de prazer duradouro. Felicidade, na idade adulta, significa encarar a realidade; mas felicidade também significa encontrar um caminho aceitável, “quando estamos saturados do mundo”. Na infância, as bonecas e os amigos imaginários satisfazem essa necessidade. Mais tarde, quando essas fugas da infância precisam ser substituídas, um instrumento musical é o substituto ideal. Joãozinho, com seu instrumento, pode ir a qualquer lugar, fazer o que quiser, encontrar quem quiser, dependendo de sua imaginação e das músicas que ele escolher.

Por causa de seu instrumento ele encontrará amigos em todos os círculos, e suas chances serão muito maiores. Onde quer que esteja, todos entenderão o que ele diz por que seu instrumento tem uma linguagem melhor e mais profunda que a das palavras.

“Abre-te, Sésamo!”

Um instrumento musical é a chave que abre um tesouro: talento, engenhosidade, prazer, harmonia familiar, respeito pessoal, cooperação, expressão e entendimento.

Por que então, muitos pais negam essa experiência a seus filhos? Por que obstinadamente viram as costas para tanta riqueza potencial? As razões que os pais dão para essa petulância são inúmeras, e tivemos o trabalho de catalogar as principais:

1.Meu Filho Não Tem Talento!

Como pode você saber isto se ele não esteve submetido a uma situação de aprendizado em que a música estivesse envolvida? Mesmo que você esteja certo, deve a música ser uma espécie de caridade, isto é, dada somente aos necessitados e aos talentosos? Nem todas as crianças devem ter mais cultura? Não devemos dar a todas a oportunidade de uma aventura enriquecedora? Por que negar a seu filho a alegria da música? E ainda mais, se somente os talentosos se tornassem aprendizes de música, quem assistiria nossas sinfônicas, ou apreciaria nossos músicos ou compraria discos?

2.Meu Filho Não é o Tipo!

Deveríamos catalogar, rotular e enquadrar todo mundo? É natural desejarmos que nossos filhos tenham o que nós uma vez já desejamos e não tivemos, mas é perigoso colocar nossas necessidades na frente das deles. Talvez você ache que seu filho tenha o tipo “atlético”, por querer que ele seja o esportista que você nunca chegou a ser. Mesmo que ele se disponha a seguir os passos que você quer, significará isso que ele deve ser um atleta que não aprecia música?

Doutor, alfaiate, soldado, marinheiro, nenhuma carreira é um caminho para a música, mas cada uma delas é enriquecida pela recompensa que a música dá.

3.Meu Filho Não Demonstra Nenhum Interesse Pela Música!

Tem certeza? Quase toda criança se manifesta através de músicas e sons. Cante um acalanto e o bebê se acalma; dê uma caneta a um gurizinho e ele baterá um ritmo fascinante; castigue uma criança de 6 anos e ela cantará sua música privativa. As crianças gastam uma boa parte de seu tempo zunindo, dedilhando, batendo, assobiando, balançando e captando. O mundo da criança está saturado de ritmo e melodia.

4.Meu Filho Nunca Pediu Para Aprender Música!

Ele lhe pede permissão para ir à igreja? À escola?

Felizmente você assume a responsabilidade por essas decisões como uma parte de sua atividade de pai. As crianças não sabem que experiências ou aprendizados são bons para elas. Elas precisam de pais que façam as escolhas, que as conduzam em certas direções e lhes abram novos horizontes que facilitarão seu futuro.

Os psiquiatras sabem que uma boa parte da delinqüência e do desajustamento do indivíduo deriva de um lar em que os pais deixavam as atitudes ao livre arbítrio da criança, onde se dava inteira liberdade, nenhuma direção e nenhum controle. Agindo assim, você estará incentivando-o a seguir seu próprio caminho.

5.Eu Quero Uma Criança Varonil!

Numa época em que muitos pais lavam pratos e muitas mães são obrigadas a trabalhar fora, como podemos dizer qual o interesse ou atividade que é masculino ou feminino? Quer um exemplo mais positivo do que o fato de que um dos primeiros homens a pisar na Lua era músico e passou seu tempo de isolamento, ao regressar, tocando um instrumento?

6.Meu Filho Levaria Anos Para Aprender… E Provavelmente Desistiria!

As crianças, hoje em dia, aprendem música mais rapidamente. Nós, pais, lembramos da música como era em nosso tempo: uma enormidade de escalas, e anos de prática para que algum progresso fosse notado. A educação musical mudou bastante, e a criança adquire hoje um senso de empreendimento, de realização, em pouco tempo.

Mas vamos supor que seu filho tente e desista, ou deseje e falhe. É supondo sua reação que devemos negar-lhe essa agradável experiência? O contato com o aprendizado musical, mesmo que breve, dará nova dimensão à sua personalidade. Como podemos avaliar o que isso significará para ele quando adulto? Lembre-se, a música é uma das poucas coisas que a criança pode fazer, não pelos resultados, não pelas notas, não para um fim longínquo, não porque seus amigos fazem a mesma coisa, mas simplesmente pela experiência que dela emana.

Nunca se deve perder de vista o valor da Música como meio de educação. “Que haja música no lar e, canto de hinos que sejam suaves e puros, e haverá menos palavras de censura e mais de animação, esperança e alegria. Haja canto na escola, e os alunos serão levados para mais perto de Deus, dos professores e uns dos outros”. – Educação, pág. 167.

Nós, pais, damos desculpas e buscamos fracos argumentos para negar música a nossos filhos. É de se estranhar que somente 1% de nós veja a sabedoria, a profundidade desse caminho fácil, antigo e indubitavelmente econômico para a solidariedade familiar.


Notas:

[1] Agradecemos à Loide Simon por esta contribuição ao Música Sacra e Adoração.

[2] Para o leitor não familiarizado com os textos de escritores Adventistas do Sétimo Dia, avisamos que todas as referências localizada no texto sem o respectivo autor, são da escritora Ellen G. White (nota dos editores do Música Sacra e Adoração).


Fonte: Revista Adventista, Setembro, 1982, pp. 13-5.