O Jazz, seu nascimento e seus desdobramentos
por: Quinzinho de Oliveira
Assim como a música erudita teve seu ápice nos séculos 16 a 19 na Europa, o jazz foi o ápice cultural ocorrido no século XX nos Estados Unidos. A mistura de hinos brancos e o som da comunidade negra resultariam em um choque entre culturas mudando e transformando hábitos e costumes de uma geração.
Em busca de uma condição melhor de vida, os Estados Unidos foi palco de uma grande migração de todas as partes do mundo e, com eles, vieram suas culturas e tradições musicais, fazendo do jazz a matriz de todos os híbridos.
Surge de duas culturas completamente opostas a fusão da descendência negra, fator crucial para este desenvolvimento, que começou nas canções de trabalho nas plantações de algodão até as excitantes músicas de salão de bailes. Com o crescimento dessa música, as tendências para novas formações de grupos evoluíram também. Mais orquestral, a big band foi o primeiro grupo após a orquestra sinfônica a usar uma gama maior de instrumentos divididos em seção de metais, palhetas e uma seção rítmica.
Várias foram as mudanças ocorridas no jazz, muitas vezes gerando atritos e discussões, e grandes músicos e arranjadores contribuíram para que isto ocorresse.
O fato é que há duas vertentes, uma pela tradição e conservação de suas raízes, e outra pelo comercial, ultrapassando fronteiras e integrando-se a world-music. A arte, de uma maneira geral, evolui, e precisamos de ambas as vertentes. Em qualquer manifestação cultural que envolva um choque entre raças, costumes e crenças diferentes, surgirão atritos e fragilidades.
Dessas mudanças e atritos nasceu uma música que existe há mais de 100 anos, o Jazz.
Blues, a manifestação mais significativa que precedeu e influenciou o jazz
Constituído de vários elementos e formas como o Spiritual (manifestação religiosa) e o Work Songs(Cânticos nas plantações) entre outros, o blues reuniu todos esses elementos e os transmitiu ao jazz. Marca a transição da trajetória do negro, que nesse momento encontrava-se com sua individualidade, e a retratava na sua música.
Momentos importantes do Blues: Anos 20 – Clássico e Rhythm & Blues, que originou o Rock&Roll nos anos 50.
Expoente: Blind Wille Mc Tell (Bluesman)
New Orleans, o berço do jazz
Possui uma característica formação instrumental: expondo o tema e no papel principal da melodia está o trompete; fazendo o contraponto na região grave, o trombone; e completando a “linha de frente”, improvisando e contraponteando na região aguda, o clarinete. Algumas vezes o papel de solista é alternado. Na retaguarda a tuba, o banjo e a bateria; mais tarde, o piano integraria o grupo.
Havia um esquema rítmico que, balanceado pela intensidade, provocava um calor emocional e grande excitação. Daí nasceu o termo “HOT” para esta música.
Outros vários elementos influenciaram essa fase: sonoridade, entonação, fraseado, articulação de frase e vocal. Todos esses elementos (o trio solista que improvisava, o caráter alegre da música, e a sensação do instrumento ser usado como linguagem) ficaram para sempre incorporados ao jazz, influenciando todas as outras escolas jazzísticas que vieram depois dele.
Um elemento importante de conhecimento e até para entendermos o nascimento do jazz é o fato de quer no princípio ele era tocado pelos negros africanos, que possuíam talento natural, porém não liam partituras e nem conheciam a teoria da técnica. Mais tarde o creoulo (que era a junção do branco-europeu com o escravo), trouxe o conhecimento da técnica, mas não conhecia o improviso. Essa fusão foi fator vital para o nascimento do estilo (New Orlens).
Expoente: Louis Armstrong e Jelly Roll Morton
Dixieland, o período de transição do New Orleans para o Swing
No Dixieland os músicos brancos copiavam a música dos negros de New Orleans e utilizavam recursos extra-musicais, também copiados de espetáculos de variedades, como imitações e animais com instrumentos.
Embora a primeira gravação com o termo ‘jazz’ tenha sido realizada pela “Original Dixieland Jass Band” (Banda Branca), não havia nada de original no trabalho do músico branco, tudo o que ele fazia era copiar em partitura o que o negro fazia em improviso.
Havia já nesta fase uma rivalidade dos músicos brancos com os músicos negros.
Chicago, outro caso de imitação do jazz negro, que mais tarde veio a ser considerado uma adaptação do jazz de New Orleans
A cidade de Chicago foi considerada a segunda capital do jazz, por receber inúmeros músicos de New Orleans, que por várias razões emigraram para lá. Porém, ao contrário do Dixieland, o músico de Chicago mostra claramente sua admiração em relação à música negra de New Orleans.
A convivência dos músicos de Chicago com os mestres negros fez com que fosse construído um estilo particular – o Chicago. Nele, os músicos adotaram uma só linha melódica em contraponto, apresentadas em conjunto, e no restante da música eram feitos solos individuais, ao contrário do New Orleans, onde várias linhas melódicas se contraponteavam.
Swing 1930, uma espécie de segundo momento na história do jazz
O rápido desenvolvimento da indústria fonográfica entre os anos 20 e 30 foi decisivo na propagação do jazz. Nesta época, muitos jazzmans trabalhavam como atores em filmes, e complementando o ambiente musical era comum a presença de bandas e orquestras tocando ao vivo nos cinemas antes da sessões. Ao mesmo tempo, os salões de dança tornaram-se cada vez maiores e mais luxuosos, onde as bandas também tocavam. Daí dizer-se que o maior veículo propagador do jazz foram as Big Bands.
O elemento swing torna a música mais atrativa tanto em sua melodia quanto em seu ritmo. O papel do jazzman era “swingar”, ou seja, produzir o “Swing”.
Esse movimento destacou vários jazzmans, showmans e band leaders como Duke Ellington, Benny Goodman, Benny Moten, Walter Page, Natto Wels, Tommy Dorsey, entre outros.
Quinzinho de Oliveira é trompetista, arranjador, professor e regente da Banda Musical do Colégio Termomecânica, em São Bernardo do Campo (SP).
Fonte: Publicado na Revista Weril n.º 146