Expressão Musical III
por: Mônica Giardini
Ligaduras
O maior obstáculo para uma boa interpretação é o fato de alguns estudantes tocarem muito forte, com ênfase em todas as notas e sentirem-se satisfeitos com isso. Eles nunca educaram seus ouvidos para o que é correto e artístico. A conseqüência dessa errônea satisfação é que a quase impossibilidade de o professor corrigir esta falha. Não é exagero. Com experiência própria, percebo que, por mais que o ensinemos, esse aluno que não adquire o hábito de ouvir boas interpretações permanece com a satisfação de tocar todas as notas fortes. Essa é uma característica que ocorre principalmente nos alunos de instrumentos de sopros.
Para resolver isso, o primeiro passo é desenvolver o hábito de ouvir grandes intérpretes, incluindo grupos vocais e, se possível, acompanhando com a partitura, para se observar a expressão de cada nota.
O aluno atento observará que as regras básicas sobre ligaduras, a seguir, aparecerão com muita clareza nas boas interpretações.
1) Ligadura de notas iguais
Quando duas notas de mesma altura são ligadas, a segunda deve receber quase o mesmo volume da primeira.
2) Ligadura de notas de alturas diferentes
Quando duas notas de alturas diferentes estão ligadas, a segunda deve receber menos volume que a primeira, independentemente do intervalo ser ascendente ou descendente.
Partindo-se dessas duas regras básicas, o próximo passo é distinguir o esqueleto da música, ou seja, as notas que realmente são importantes para a melodia das que são acrescentadas para enriquecê-la.
No exemplo a seguir, veremos que as notas ligadas são pronunciadas, pertencendo à melodia básica.
Na mesma melodia, podem ser acrescentadas notas para enriquecê-la. Estas deverão ser tocadas mais leves e com acentos reduzidos em relação às notas principais.
Seguindo os fundamentos acima e os de redução de valores já estudados em capítulos anteriores, este Allegro Marziale deve soar como se estivesse sido escrito assim:
Repare que as primeiras notas das ligaduras são mais pronunciadas e as segundas mais curtas, assim como as colcheias pontuadas e também as semínimas (neste caso, por se tratar de uma passagem em staccato e em tempo rápido).
O músico que só se preocupa em tocar notas e não conhece esses pré-requisitos de interpretação tocará esta melodia assim:
Infelizmente, é comum ouvir estudantes tocarem como no exemplo anterior, ou seja, pesado e tudo forte. Isso só mudará, como já dissemos, quando eles desenvolverem o gosto pela boa interpretação e o respeito por cada detalhe da música.
Mônica Giardini é maestrina da Banda Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo.
Fonte: Publicado na Revista Weril n.º 125