Natureza dos Sons

por: Demétrio Lima

Tenho observado, ao longo dos tempos de trabalho nas orquestras e conjuntos brasileiros, uma forma conceitual no tratamento dos diversos sons. Sons esses que, nas orquestras estrangeiras, diferem muito na qualidade, no que diz respeito à dinâmica natural dos sons e conceitos homogêneos da Soma Harmônica. Há uma diferença de timbres, articulações, interpretações, afinações, dinâmicas naturais e obrigatórias, que, confrontados com os sons de nossas orquestras, evidencia uma grande superioridade na forma técnica e filosófica.

Música é uma arte de produzir prazer, bem-estar e expressões inteligentes, através das combinações harmônicas e melódicas, e não por uma competição de valores pessoais. Suas propriedades físicas fundamentais são:

  • senso da qualidade do som
  • senso da qualidade da consonância
  • controle e equilíbrio da intensidade
  • segurança rítmica

Essas relações, em geral, são complexas, porque se faz necessário entendê-las e aplicá-las desprovidas de qualquer pensamento egocêntrico de superioridade ou amostragens públicas individualistas.

É comum (e estarrecedor) saxofonistas usarem boquilhas bastante abertas nas suas enumerações e palhetas duras, acreditando que esses requisitos básicos resultarão numa boa e forte “sonoridade”.

Infelizmente, falta a conscientização fundamental de que a música, na sua execução, tem como base a igualdade dos sons, similar ao Canto Coral. Note-se ainda que os instrumentos de sopro têm as seguintes especificações: soprano, contralto, tenor, barítono, baixo e contrabaixo.

A bateria também não é uma peça enorme de amostragem pública na sua beleza física, nas cores cintilantes e em seu poder de domínio do som sobre toda a orquestra, ou qualquer que seja o grupo orquestral.

Todo som tem uma intensidade e, uma vez percutido ou projetado, poderá ter maior ou menor quantidade de harmônicos. Nos instrumentos de sopro, um som diafragmal é responsável pelas somas perfeitas das harmonias orquestrais, com os seus devidos harmônicos, que, além de facilitar bastante na afinação coletiva, ainda são agradáveis para quem está ouvindo. Em todo instrumento de sopro ou de cordas, quanto melhor for o metal ou a madeira de sua fabricação, melhor será a forma de percutir uma sonoridade clara, bonita e bastante técnica.

Quanto às afinações coletivas que forem realizadas tendo como base um piano, ou um afinador eletrônico, é preciso lembrar que uma fonte referencial é apenas um ponto comum de convergência afinatória. É a partir dessa igualdade freqüencial que os músicos fundamentarão as harmonias vibratórias da música instrumental, para cantarem seus instrumentos afinados.

É bom observar que os instrumentos de sopro, principalmente os de fabricação metálica, estão sujeitos a modificações afinatórias pela introdução do ar quente na boquilha ou no bocal, que provocará inversões térmicas, tornando bastante oscilatórias determinadas notas. Somente o ouvido acústico ou musical do instrumentista poderá corrigir para mais ou menos essa modulante afinação.

Recomenda-se que se cante o instrumento ouvindo os parceiros. É uma forma lógica e bastante técnica de se auto-afinar nas harmonias decorrentes da música, a exemplo dos Cantos Corais. É bom lembrar que os cantores não têm boquilhas nem bombas afinatórias para abrir ou fechar quando estão cantando. Educar o ouvido acústico (sensibilidade) é um dever e responsabilidade de todo músico para evitar os sons desafinados que tanto incomodam e tiram a beleza das músicas executadas.


Demétrio Lima é professor e saxofonista.


Fonte: Publicado na Revista Weril n.º 123