Expressão Musical I

por: Mônica Giardini

Figuras Pontuadas

Nas partituras, freqüentemente aparecem figuras pontuadas como uma colcheia seguida por uma semicolcheia que, muitas vezes, são tocadas incorretamente. Muito se deve observar antes de executar tal figura:

1o. – Verificar se a música é popular ou erudita.

No popular:

É muito comum um aluno que estuda erudito ter dificuldades em executar um trecho musical popular, para o qual muitas vezes é tachado de “duro” ou “travado”. Por outro lado, o que estuda popular pode ser repreendido por não ter precisão ao tocar um erudito.

Isso acontece porque as concepções de interpretação do erudito e do popular muitas vezes são opostas. Veja o exemplo a seguir:

O que seria proibido na música erudita é justamente a característica principal para se executar este trecho musical popular, sem deixá-lo pesado. Isso significa que, para tocar em bom estilo popular, devo ler “tercinando” a colcheia pontuada seguida da semicolcheia, assim:

No erudito:

Muitos são os cuidados:

a) Não se deve tocar com o mesmo volume de som a nota que segue a figura pontuada. A colcheia pontuada, por exemplo, é mais forte que a semicolcheia que a segue.

b) Observe que, apesar dos números de volume do início estarem constantes (3-1), existe uma dinâmica indicada de que cada grupo será progressivamente mais forte que o outro. Mesmo que a dinâmica não estivesse marcada, o intérprete faria o crescendo naturalmente. Quando temos a repetição de um mesmo grupo ou mesma nota por mais de duas vezes seguidas, cria-se uma tensão gerada pela insistência. É de bom estilo interpretá-las com um crescendo.

c) Em oposição ao estilo da música popular, não se pode executar como tercinas. Deve-se respeitar o valor integral de cada nota.

d) Sempre que estas figuras, colcheia pontuada mais semicolcheia, aparecem numa passagem duas ou mais vezes seguidas, a corrente de ar deve parar por um instante depois de cada colcheia pontuada. Em outras palavras, cada colcheia pontuada é separada da semicolcheia e com menor duração que o escrito. Porém, à semicolcheia é dado o valor total e ela é tocada legato.

Quando somente uma dessas figuras aparecer na melodia, a colcheia pontuada deverá ser tocada legato (dando seu valor integral). Neste caso, a colcheia pontuada deve soar como uma semínima seguida por uma pequena apoggiatura. Portanto, a melodia dada anteriormente deve ser tocada como se tivesse sido escrita assim:

Observe que no início aparecem quatro vezes seguidas esses grupos de notas, e as colcheias pontuadas são tocadas um pouco mais curtas. Já nos compassos dois e três, elas devem ser tocadas com total valor, porque as figuras ocorrem separadamente. Nestes casos, deve-se tomar cuidado para não quebrar o som entre a colcheia pontuada e a semicolcheia.

e) Na última nota desse trecho, no 4º compasso, o volume da semínima não deve diminuir até que seu valor total termine. Ela é executada numa dinâmica mais baixa porque é final de frase, mas deve-se posteriormente sustentá-la ou mesmo crescê-la até que conclua sua total duração. O hábito de diminuir o volume de notas longas antes de concluir sua total duração é um descuido cometido por artistas que tocam metais, madeiras, cordas e até mesmo por cantores. Isso não significa que uma nota longa não deva ser diminuída quando assim for indicado, mas na maioria dos casos soa como se o artista não tivesse ar suficiente para terminar a frase.

f) A semínima pontuada seguida por uma colcheia deve ser tratada da mesma maneira descrita nos itens anteriores. Se mudarmos a unidade de tempo do exemplo citado, deverá soar como a anterior:

São atitudes altamente essenciais para quem deseja executar com expressão: observar conscientemente as regras aqui citadas, ter controle absoluto do som e habilidade para tocar suavemente.

Referência Bibliográfica : VanderCook – “Expression in Music”


Mônica Giardini é maestrina da Banda Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo.


Fonte: Publicado na Revista Weril n.º 123