Expressão Musical II
por: Mônica Giardini
Síncopas
A síncopa é mais um assunto difícil de se abordar, mas que possui muita importância expressiva. Ela é que dará o caráter e a cor específica de determinado tipo de música. Foi utilizada nas composições antigas e ainda mais nas modernas, sem distinção de popular ou erudita. Podemos até dizer que é uma das características marcantes da música popular brasileira. Por isso, não podemos generalizar sua interpretação, pois esta sofre mudanças de intenções, de acordo com o estilo e o gênero.
Aplicar o acento e a ênfase a uma passagem musical requer um bom conhecimento de estilos, o que torna o assunto muito complexo. Muitos acham que é somente uma questão de gosto. Músicos de várias nacionalidades normalmente executam as mesmas peças de forma diferente. Porém, podemos admitir que o acento que parece sumamente pesado a um músico, parecerá bastante normal a outro. O principal ponto a ser lembrado, sempre, é evitar monotonia, sem ficar sensacionalista. O acento deve ser variado, razoável e inteligente.
Devemos, no entanto, partir de um princípio básico ao iniciar o estudo das síncopas. Esta é, por definição, uma mudança do acento métrico que, ao invés de cair em tempos fortes do compasso, é deslocado para partes fracas. Existem inúmeras maneiras de representar a síncopa, mas nos limitaremos a falar apenas daquela que gera mais polêmica e dúvida ao interpretá-la. Ela é pouco entendida quando construída em forma simples, como no Exemplo 1.
Mas, para muitos, é fácil interpretá-la à primeira vista. Não é difícil fornecer a quantidade certa de acento para todas as mínimas e evitar enfatizar as semínimas. O problema ocorre quando ela é tocada com maior rapidez, como no Exemplo 2. Neste caso, a melodia no. 1 foi escrita numa forma que requer ser tocada no dobro do tempo.
Ao tocar este trecho, é comum se ouvir a nota sincopada com menor duração e sua ênfase reduzida, assim como as notas que a precedem e a seguem ficam com ênfases semelhantes. Isso cria um defeito que soa como se tivesse sido escrita assim:
O exemplo 3 altera o efeito pretendido. Reduzindo a duração das notas sincopadas e diminuindo o acento exigido, a passagem muda de sentido e se torna monótona.
Quando a melodia é escrita em colcheias e semicolcheias e se toca mais rapidamente, ela deve soar como se tivesse sido escrita como se vê no Exemplo 4.
Muitos tocam o Exemplo 4 apoiando o primeiro tempo e diminuindo a ênfase da nota sincopada, o que resultará numa descaracterização do seu efeito original, soando como se estivesse sido escrita de acordo com o Exemplo 5.
O aluno deve ter como princípios básicos as seguintes concepções de estudo:
1) As notas que antecedem e seguem a nota sincopada devem ser tocadas mais curtas do que está escrito e cerca de três vezes mais leve que a nota sincopada ou enfatizada.
2) A nota sincopada deve ser tocada próxima do seu valor completo e receber três vezes mais volume do que a nota precedida e a seguinte.
3) A nota sincopada não deve ser tocada displicentemente, de maneira rude e inacabada. Quando tiver uma colcheia, deve-sa tomar cuidado ao tocá-la, para que ela não seja atacada de forma tão árdua, no lugar de ser enfatizada.
No início, o aluno deve praticar bem devagar, dando especial atenção nos volumes relativos a cada nota, concentrando-se nos resultados até que se torne um hábito acentuá-las corretamente e sustentá-las no exato valor de cada nota escrita.
Gostaria de encerrar nosso assunto por aqui, mas não posso deixar de orientar o estudante sobre o muito que ele tem que estudar a respeito, para realmente tocar em bom estilo.
Para compreender melhor a complexidade do assunto, é bom acrescentar que Debussy sofreu forte influência da música norte-americana de sua época, o jazz.
Muitos gêneros musicais populares executam as síncopas mais curtas ou com ataques mais exagerados em função do swing e de seu característico ritmo.Não podemos generalizar que todas as músicas populares tocam-nas mais curtas, porque isso não é verdade. No choro rápido, por exemplo, ela é curta, em função da ginga que o estilo pede. Já no choro lento, notaremos que são tão sustentadas como o ‘dito’ erudito onde o pandeiro até ajuda a sustentar a síncopa. Mesmo dizendo isso, só quem escuta e o entende bem saberá dar ao choro seu correto sotaque.
Uma coisa é verdade: não tocaremos em bom estilo uma determinada música sem antes ouvi-la bastante e estudar a fundo seu estilo e origem.
Mônica Giardini é maestrina da Banda Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo.
Fonte: Publicado na Revista Weril n.º 124