Cuidados e Manutenção na Trompa
por: Carlos Gomes
Para manter sua trompa no melhor estado possível e para eliminar e prevenir falhas potenciais do instrumento, o músico responsável deve manter seu instrumento sob um programa de manutenção geral e preventiva.
Inspeção geral da trompa
Bocal – Deve ser dada atenção ao banho de revestimento do bocal e também à sua borda. O espigão do bocal deve ser reto e cilíndrico, para se encaixar perfeitamente no instrumento, sem vazamentos.
Cano de embocadura – Atente para o aparecimento de pequenas manchas rosadas, originária da parte interna do tubo, que indicam um avançado processo de corrosão. Nesse caso, um técnico especializado deve substituir o cano de embocadura.
Válvulas Rotativas – Os cilindros podem tornar-se frouxos ou emperrados. As causas são:
- Necessidade de limpeza e lubrificação;
- Se o mecanismo das alavancas for do tipo de acoplamento mecânico, ele pode estar quebrado ou desajustado;
- O estojo do cilindro pode ter saliências internas ou estar torto;
- O cilindro pode estar deformado. Ele deve estar firmemente ajustado. As molas das válvulas devem ser balanceadas de modo que todas as válvulas apresentem a mesma velocidade de resposta. Não deve haver ruído quando trabalham rapidamente. A superfície polida do cilindro não pode ter arranhões, desgastes ou corrosão.
Com um check-up das válvulas rotativas, certifique-se de que as chaves estejam ajustadas em um ângulo que facilite uma posição confortável da mão do executante.
Bombas de afinação – As bombas de afinação devem estar lubrificadas para que possam ser facilmente movidas com uma leve pressão do dedo. Essa lubrificação deve ser feita pelo menos uma vez por semana, usando-se graxas especiais. A superfície interna da volta deve ser livre de excesso de lubrificante, condensação do vapor d’água e corrosão. Como check-up adicional, examine a montagem da “chave d’água” (ajustamento da mola, lubrificação, estado da cortiça e folgas no encaixe dos tubos). As bombas de afinação que mais freqüentemente se tornam emperradas são as mais expostas à condensação do vapor d’água. Ela deve ser controlada através de esvaziamento freqüente usando-se as chaves d’água. A remoção das peças emperradas deve ser feita por um técnico especializado, que possua as ferramentas e a habilidade necessária ao trabalho.
Corpo da Trompa – Quando todas as bombas de afinação e válvulas tiverem sido removidas, observe a parte interna do corpo do instrumento, procurando sujeiras, resíduos e quaisquer sinais de corrosão. Examine a conexão da solda das braçadeiras e os pontos onde as mãos tocam no instrumento.
Estojo do instrumento – Deve ter uma estrutura sólida e ser acolchoado internamente e também ter trincos de segurança. Para evitar amassados na trompa, guarde-a no estojo sempre que não a estiver usando.
Montagem da válvula rotativa – A montagem e desmontagem de uma válvula rotativa é mais complicada que no caso da válvula tipo pistão. O músico deve ter conhecimento do mecanismo rotativo antes de tentar qualquer trabalho:
– Retirada da corda ou desconexão do acoplamento mecânico
- Desaperte os parafusos que retêm as cordas e retire-as.
- Não deixe que a chave livre arranhe as bombas de afinação e adjacências enquanto as cordas são soltas.
- Reaperte os parafusos para evitar que se percam nas operações seguintes.
– Desaperto do parafuso que retém a guia limitadora do movimento do cilindro
- Caso o parafuso esteja emperrado, posicione a chave de fenda no parafuso e imprima um leve golpe com a ajuda de um martelo de madeira na ponta da chave de fenda. Isso vai “quebrar” a possível adesão metal com metal que possa existir.
- Gire a chave de fenda.
– Remoção do capuz da válvula
- Vire o instrumento para o outro lado e retire o capuz da válvula.
- Uma pancadinha angular com um pequeno martelo de madeira é suficiente para libertar capuzes um pouco presos.
- Nunca use alicates.
– Remoção do suporte e cilindro da válvula
- Mais uma vez, vire o instrumento para baixo e, com um pequeno bastão ou martelo, golpeie a cabeça do parafuso que retém a guia limitadora do movimento do cilindro que foi previamente desapertado em 3 ou 4 voltas. Isso vai, certamente, provocar a saída do suporte da base, permitindo que o cilindro da válvula seja facilmente removido através do desaperto total do parafuso que retém a guia limitadora do movimento do cilindro. Nesses dois passos relatados, leve uma de suas mãos ao estojo do cilindro para colher as peças que cairão ao se soltarem.
- Guarde todas as peças em lugar seguro.
– Pequisas de resíduos e corrosão nos cilindros
- Não polir o cilindro rotativo.
- A maior parte dos resíduos pode ser retirada deixando a peça mergulhada em vinagre durante toda a noite. Isso geralmente remove todos os resíduos sem danificar ou alterar as dimensões exatas do cilindro.
- Se o tempo é um fator, a corrosão pode ser removida mergulhando o cilindro em uma solução de ácido crômico, por exemplo, por 10 (dez) segundos mais ou menos. Uma solução fraca de ácido clorídrico (HCL, 20% por volume) também resolverá.
- Limpe o cilindro com um detergente suave e água morna.
– Pesquisa de resíduos / corrosão no estojo da válvula
- Para remover resíduos e corrosão do estojo, envolva uma pequena haste de madeira com gaze macia ou esponja e, cuidadosamente, comece a polir as superfícies com um polidor de metal não abrasivo.
- Cuide para não arranhar a superfície interior do estojo.
- Umedeça os orifícios e superfícies adjacentes com água morna (não quente) e um detergente suave. Finalmente, enxágüe todas as partes com água limpa.
– Montagem
- Lubrifique o estojo da válvula e o cilindro. Os pontos importantes de lubrificação são as superfícies de suporte (acima e abaixo). Use um óleo de baixa viscosidade, especial para rotores.
- Insira o cilindro da válvula dentro do estojo. Ambos, a válvula e seu estojo devem estar lubrificados e livres de sujeira e resíduos para que funcionem adequadamente.
- Instale o suporte no estojo. Confira se a marca na orla do estojo coincide exatamente com a marca no suporte respectivo. Uma vez no lugar, ajuste adequadamente o suporte com delicadas pancadas, por meio de um martelo que não danifique o material (martelo de madeira).
- Instalação da guia limitadora do movimento do cilindro. Geralmente pode ser colocado na válvula de um único modo. Depois disso feito, coloque o parafuso que retém a guia limitadora do movimento do cilindro (lubrifique as roscas do parafuso ligeiramente).
- Ajuste a cortiça da guia limitadora do movimento do cilindro. Os amortecedores da guia estão ajustados para limitar o movimento rotacional do cilindro da válvula. Esse movimento deve ser ajustado de modo que as marcas na haste do cilindro da válvula (separados em 90°) coincidam exatamente com a marca central no suporte inferior da válvula, quando o cilindro é girado completamente em cada direção. Quando as cortiças forem substituídas, exerça uma leve compressão.
- Instalação do capuz da válvula. Lubrifique levemente a rosca do capuz.
- Instalação da corda da válvula. Afrouxe o parafuso de fixação da corda. Passe a corda da válvula através do orifício localizado na direção do centro do braço da chave. Prenda com um nó múltiplo a extremidade dessa corda, ou com um parafuso pequeno (se houver um adequado) linha de pescar 30 libras funciona bem como corda rotora. O ideal são as cordas empregadas no dial dos rádios.
Equipamentos de reparos, limpeza e conservação
- Escova com cabo longo e flexível, especial para limpeza dos tubos.
- Escova específica para limpeza do bocal (pequena e flexível).
- Óleo de válvula.
- Óleo para bombas de afinação (tipo óleo para arma de fogo) ou graxas especiais lanolina, etc.
- Pano limpo, que não solte pelos, para secar as válvulas e bombas.
- Chave de parafuso pequena.
- Pedaços de corda para o mecanismo das chaves, cortadas no tamanho adequado.
- Pedaços de cortiça cortados no tamanho certo, para a guia limitadora do movimento do cilindro.
- Elásticos de escritório, para substituir, numa emergência, as molas das alavancas.
- Todo esse material deve ser guardado num pequeno estojo que possa ser carregado facilmente.
Carlos Gomes é Professor de Trompa da Escola de Música da UFRJ
Fonte: Publicado na Revista Weril n.º 139