Musicoterapia e a Terceira Idade
por: Lúcia Maria Chaves Tourinho
Musicoterapia: Corpo Sonoro
O envelhecimento populacional é hoje um fenômeno universal e uma experiência individual que faz parte da aventura humana confrontada à finitude, no contexto de um grupo social, cultural e afetivo.
Qualquer grupo social atribui algum papel a seus idosos e organiza alguma forma de responder às suas necessidades e à sua vulnerabilidade, pela inclusão ou exclusão.
Os idosos e seus problemas têm tido pouca importância nos debates éticos e bioéticos, provavelmente devido ao “recalque ” da morte na cultura contemporânea simbolizado pelas metáforas da “juventude eterna” e da “saúde perfeita”, que implicam na ideia de que a velhice é uma doença a ser prevenida e tratada. A velhice da falta de dinheiro, da solidão, da aposentadoria e da viuvez, muitas vezes considerada um problema social, constitui-se em fonte para matéria jornalística sempre explorada pela mídia ao bel prazer do editor.
Minha experiência em instituição asilar, em ambulatórios e em clínica particular me asseguram a utilização da musicoterapia como uma saída criativa e primordial para melhora global de todas as pessoas que tenham acesso a esse tipo de atendimento.
A musicoterapia é mais um canal, uma saída para beneficiar a todos e principalmente a pessoa idosa na recuperação e reabilitação, na prevenção, promovendo saúde.
O Idoso e Suas Perdas
“A doença tem uma função iniciática: através dela se pode chegar a um maior conhecimento de nós mesmos. Assim, se você ficar amigo de sua doença, ela lhe dará lições gratuitas sobre como viver de maneira mais sábia.” (Rubem Alves).
Há dificuldades por parte dos brasileiros em apreender e aceitar que o Brasil, com grande proporção de jovens, conviva ao lado de expressivo grupo etário de mais de 60 anos. Isto é um grande desafio, pois há carência de recursos e grande demanda de serviços para todas as faixas etárias (Veras, 1997p. 54).
Velhice deve ser entendida como uma etapa da vida onde acontecem modificações que afetam a relação do indivíduo com o meio, dentro de um tempo.
Que será tempo?
Para Lygia Clark, artista plástica:… “a matéria orgânica provém desse impacto. O tempo é o novo vetor da expressão do artista. Não o tempo mecânico, é claro, mas o tempo-vivência que traz uma estrutura viva em si.”
Na opinião da autora, o tempo tem um espaço indefinido e por vezes não pode ser medido, se confundindo com o ontem, o hoje e o amanhã.
O Brasil está fazendo sua transição demográfica de “país jovem” para “país idoso” porque a taxa de nascimentos diminuiu em virtude do controle da natalidade e a expectativa de vida aumentou face às melhorias sanitárias, ao aumento progressivo da qualidade da alimentação e ao progresso da medicina, destarte todas as dificuldades conjunturais por que vem passando o país.
Independente da classe social, a velhice é representada como um processo contínuo de perdas e ausência de papéis sociais e nada pode comparar-se à perda do seu papel maior no núcleo familiar. Todos enfrentam e sofrem a segregação, tanto decorrente de uma instituição asilar quanto daquela sentida nos atendimentos ambulatoriais ou mesmo aqueles que estão sendo cuidados em suas residências, onde a queixa a esse assunto é uma constante. Esses idosos se sentem isolados, sós, sua auto-estima diminui, sentem-se desvalorizados, chegando à perda de sua identidade. Entram facilmente em depressão, pois sentem-se “não valendo nada”.
A depressão é, principalmente entre os idosos, uma doença com importantes repercussões sociais e individuais, de difícil diagnóstico, devido ao fato de afetar não somente o convívio social, impossibilitando uma rotina de vida satisfatória, mas também pelo risco inerente de morbilidade e cronicidade. Existem muitas dificuldades em discernir os fatores psicológicos dos orgânicos e, em se tratando do paciente geriátrico, estas são ainda maiores, não só relacionadas à etiologia mas também ao próprio reconhecimento de sua existência.
A depressão costuma ser subestimada pelos profissionais de saúde e familiares, como também pelo paciente. “Os idosos tendem a preservar uma imagem de saúde, justificando suas limitações através da doença” […] ” É mais fácil acreditar que estão doentes e não velhos” (Papaleo, 1996).
A importância do seu reconhecimento é que, ao estabelecer a terapia indicada, devolvemos ao indivíduo a capacidade de amar, pensar, interagir e cuidar de pessoas, trabalhar, sentir-se gratificado e assumir responsabilidades. Todo ser humano experimenta, de diferentes maneiras, as várias crises de sua existência à medida que evolui e as enfrenta. Quanto mais capaz de enfrentar e sobrepujar essas crises, menos sintomas desenvolverá.
… “o idoso não raramente é portador de uma ou mais doenças crônicas que são relacionadas com manifestações depressivas como, por exemplo, doença cerebrovascular, doença reumatóide etc. Além disso, é oportuno lembrar a associação de depressão e demência (pseudo demência depressiva). Falar de velho implica em problemas de ordem biológica, social e psicológica, que podem ser considerados fatores facilitadores da depressão no idoso.” (Papaleo, 1996 p. 160).
Dentro desse contexto, a musicoterapia mostra-se um tratamento eficaz na elaboração e resolução de conflitos internos e emoções, trazendo-os à tona, podendo então ser expressos e reativados por meio da música.
Nas clientelas, as pessoas mais simples, menos capacitadas intelectual e culturalmente, têm um menor grau de crítica à exposição e ao ridículo. São em geral mais espontâneas e têm menos dificuldades de interagir com os companheiros do seu grupo e o terapeuta. Não ficam bloqueadas e as atividades fluem com facilidade, sendo os objetivos terapêuticos mais rapidamente alcançados.
… ” muitas vezes os mais gabaritados intelectualmente (e mais racionais) percebiam e captavam menos do outro e de si mesmo. Outros, mais simples na sua forma de ser, culturalmente mais empobrecidos, apresentavam alto grau de sensibilidade e ‘apreendiam’ o processo (ou tinham maiores insights dramáticos) com mais facilidade (Sene Costa, 1998).
Não é regra geral. Há também os intelectuais espontâneos e os simplórios inespontâneos.
Esta confusão referente a quem somos e o que deveríamos fazer é o aspecto mais penoso do “viver”.
Nossa tarefa é mostrar como reconhecer e como enfrentar alguns problemas de maneira construtiva. É, portanto, reforçar a consciência de nós mesmos, encontrar forças integradoras que nos permitam resistir, apesar da confusão que nos rodeia.
” Quanto mais forte o nosso eu – isto é, quanto maior a capacidade para preservar a consciência pessoal e do mundo objetivo que nos rodeia – tanto menos seremos dominados pela ameaça.” (May, 2000).
Saídas Criativas Para Depressão: Música – Musicoterapia
Há saídas criativas para promovermos nossa saúde e obtermos melhor qualidade de vida.
Atentando para dentro de nós mesmos, descobriremos através da nossa respiração, dos batimentos cardíacos, dos nossos sons viscerais, uma verdadeira “orquestra” interior onde cada um com seu corpo sonoroatravés dos seus mais variados ritmos internos, poderá detectar algum mal funcionamento físico ou mental, pois esses instrumentos corporais que muitos mal conhecem, nos possibilitarão o reconhecimento de disfunções.
Ruud (1991) salienta que a saúde é um fenômeno que se estende além do indivíduo para abranger a sociedade e a cultura. Como saúde individual, ela não poderia ser higidez do corpo, mente e espírito em uma sociedade e em uma cultura que não são saudáveis. Por outro lado, uma sociedade e uma cultura não podem ser saudáveis se os indivíduos em seu interior não são hígidos de corpo, mente e espírito.
Bruscia (2000) afirma que a saúde de cada indivíduo, a sociedade e cultura estão completamente vinculadas ao meio ambiente. Assim, a saúde abrange e depende do sistema ecológico completo, desde o corpo, a mente e o espírito com suas interações no indivíduo até os contextos mais amplos das relações do indivíduo com a sociedade, a cultura e o meio ambiente.
“O corpo ocupa o espaço na natureza e as ideias e emoções é que fazem, junto com o corpo, o contato do ser-no-mundo.” (Barcellos, 1992). Ela nos diz ainda que:
…”a música acompanha cada homem desde antes de seu nascimento até o momento em que morre […]; é utilizada como elemento de expressão individual e coletiva e se insere em quase todas as atividades do homem.”
Pode ser aplicada como terapia e ser uma das saídas para o homem contemporâneo que vive nesta sociedade conturbada.
Durante o século presente se abandonou e perdeu quase toda a crença na música como força capaz de mudar o indivíduo e a sociedade. Na relativa falta de importância que o homem do século XX atribui à música, a nossa civilização subsiste virtualmente só. Isto é uma questão controvertida pois pode ser resultado do progresso tecnológico ou supermaterialista do mundo. Nem todos os homens modernos ignoram as possíveis relações entre música e civilização e seus efeitos.
Ratificando essas observações, David Tame (1997 p. 26) dá vários exemplos que reforçam a nossa crença em que a música tem uma força que age sobre o mundo a nossa volta. Uma força que exibe um aspecto físico visível e audível e talvez um aspecto místico.
A música é um estímulo potente para a evocação de lembranças e é lembrando que podemos avivar fatos inconscientes que ampliam o significado do “ser velho”.
O velho sente as transformações físicas acarretadas pelos anos e precisa adequar-se sempre. Contudo é na rejeição da sociedade em relação a ele que começa a conceber-se como idoso. Por isso Sartre afirma ser a velhice um “irrealizável”:
…” é uma situação composta de aspectos percebidos pelo outro e, como tal, reificados que transcendem nossa consciência. Nunca poderei assumi-la, tal como ela é para o outro, fora de mim”.
A memória, reativada pela música, faz a senescência ser encarada como tempo de lembrar. Momento em que o idoso pode reconstruir e reviver passagens significativas de sua mocidade e resgatar sua identidade.
Lembrar, muitas vezes, não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar com as imagens e ideias de hoje as experiências do passado. Memória não é só sonho, é trabalho. Esse trabalho que emerge através do fazer musical, além de prazeroso, nos leva a elaboração consciente de material inconsciente que vem à tona, impulsionado pela música.
As possíveis releituras durante a vida são como um “abrir de baús” de que nos falam tantos poetas e escritores. Uma apreensão do tempo dependente da ação passada e da presente e um tempo que fosse abstrato e a-social nunca poderia abarcar lembranças e não constituiria a natureza humana.” (Bosi, 1987 p. 344)
Numa sociedade pobre em rituais públicos de passagem, sobretudo de passagem para a velhice, nos momentos em que os velhos se entregam às reminiscências, podem construir pequenos rituais de reforço à sua identidade e a seu papel no grupo social. O ritual está presente como tema das lembranças dos tempos de menino/a, nas festas familiares, nos rituais religiosos etc. Esses ensinamentos, que serão possivelmente reconhecidos por outros, constituem-se num verdadeiro acervo moral para aqueles que o ouvem e pretendem transmiti-los, sendo uma importante experiência de vida.
Através do rememorar, podemos voltar ao tempo passado e tornar presentes fatos possíveis que, reelaborados, nos sirvam de introspecção, que nos levem a outras saídas.
Essas saídas são oportunidades e esclarecimentos que passamos a conhecer. Cada qual deve fazer suas próprias opções e o passo fundamental para a conquista da liberdade interior é optar por si mesmo. A liberdade não chega automaticamente: é conquistada, e não é de uma só vez. Precisa ser conseguida dia-a-dia.
A responsabilidade para consigo mesmo assume novo significado. A pessoa aceita as responsabilidades da própria vida não como uma carga e sim como um valor por ela escolhido. “A liberdade e responsabilidade andam juntas: quem não é livre é um autômato, não tem responsabilidade e, se não é responsável por si, não pode ter liberdade.” (May, 2000). Ao optar por si mesma, a pessoa se torna cônscia de ter escolhido, conjuntamente a liberdade pessoal e a responsabilidade.
Todos nós estamos envolvidos e devemos ser responsáveis pelas escolhas que fazemos. Quando aceitamos as realidades, a liberdade está implícita, não por cega necessidade e sim por opção. Quero dizer que a aceitação de limitações não precisa ser uma “rendição” , mas pode e deve ser um ato livre e construtivo.
” Talvez tal opção tenha resultados mais criativos para a pessoa do que se esta não precisasse lutar contra nenhuma limitação.” (May, 2000)
Posso assegurar que a musicoterapia auxilia no processo de vida e também quando esse processo está “perturbado”.
A maioria das pessoas tende a assumir certas regras que se originam em sua conformidade inconsciente com o que espera a sociedade. Para May (2000), “conformidade” e “dogmatismo” serve de estrutura inconscientemente assumida por muita gente, hoje em dia. De qualquer modo é melhor indagar a si mesmo, bem consciente, qual a estrutura que se adotou (May, 2000 p. 139).
Os atendimentos com clientes institucionalizados, do ambulatório e do consultório, me fazem entrar em contato com muitos migrantes de diversas regiões do Brasil e cada grupo deve ser compreendido com suas características únicas.
O respeito às características individuais de cada sujeito, devem ser somadas as responsabilidades para consigo mesmo e liberdade para optar pelas saídas a fim de enfrentar as intempéries da vida. “Não há dúvida que quem pensa compreende teoricamente que a liberdade e a responsabilidade andam juntas” [… ]” é uma lição em que todos progressivamente aprendem na luta pela conquista da maturidade”. (May, p. 144).
MUSICOTERAPIA COM O IDOSO
(Michael Foucault 1994).
Nada deve ser feito ao acaso nem de qualquer forma.
As atividades conscientes nos levam a alcançar com facilidade os objetivos que desejamos.
Perceber o nosso corpo, nossos sons internos e externos, os sons que nos cercam, o que esses sons querem e podem nos dizer será uma conquista diária e fundamental para mantermos nosso equilíbrio.
Uma dificuldade rítmica provavelmente virá de um desequilíbrio emocional que poderá estar relacionado com alguma patologia. Essa disfunção musical evidencia a existência de problemas como nos é ratificado por Gainza (1988) e Milleco(1992).
Usando música com prazer, fazendo dela uma linguagem, estaremos conscientemente contribuindo para maior compreensão do mundo e de nós mesmos. Estaremos evitando somatizar patologias. Estudos comprovam que a atividade muscular, a respiração, a pressão sangüínea, a pulsação cardíaca, o humor e o metabolismo, são afetados pela música e pelo som. O corpo funciona como caixa de ressonância onde o som é produzido e de onde é lançado no espaço. O corpo é um instrumento. A voz, o som singular de cada um de nós.
A musicoterapia pode lançar mão de técnicas, facilitando diversos processos: reabilitação, readaptação, prevenção, promoção de saúde.
Vemos então as seguintes definições:
Musicoterapia
Definição da Comissão de Prática Clínica da Federação Mundial de Musicoterapia – 1996 (Bruscia, 2000).
” Musicoterapia é a utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, num processo para facilitar e promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, a fim de atender às necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas.
A Musicoterapia objetiva desenvolver potenciais e restabelecer funções do indivíduo para que ele/a possa alcançar uma melhor integração intra e interpessoal e, conseqüentemente, uma melhor qualidade de vida pela prevenção, reabilitação ou tratamento”.
Podemos conceituar de outra forma, sabendo-se que é sempre um grande desafio definir musicoterapia e como nos diz Bruscia, ” ela é transdisciplinar por natureza […]não é uma disciplina isolada e singular claramente definida e com fronteiras imutáveis”.(2000 p.7-8).
Musicoterapia é o desenvolvimento de um processo de tratamento em que se usa basicamente como elemento principal de trabalho, a música. Música no seu mais amplo sentido (som, ritmo, melodia, harmonia), com uma intenção.
E música?
Filósofos, psicólogos e estudiosos de música estão às voltas com a dificuldade de definir música, há séculos. Na forma mais simples, para Bruscia, ” música é a arte de organizar sons no tempo” (p.9) para Costa, “é a organização de relações entre sonoridades simultâneas ou não no decorrer do tempo. Sons e silêncio são combinados e encadeados entre si, formando ritmos, melodias e harmonias”.
Como a música é usada de diversas formas em diferentes contextos, vamos clarificar sua utilização.
Quando a música é utilizada como terapia, a música assume o papel principal na intervenção e o terapeuta é secundário; quando a música é utilizada na terapia , o terapeuta assume o papel principal e a música é secundária. Quando a música é utilizada sem um terapeuta, o processo não é qualificado como terapia; quando o terapeuta ajuda o cliente sem utilizar música, não se trata de musicoterapia. As intervenções de musicoterapia são singulares por centrarem-se no som, na beleza e na criatividade. (Bruscia p. 23)
O que será então , música em terapia? E como terapia?
Barcellos (1992 p.20), ratifica, e nos diz que música em terapia é a utilização da música como uma técnica de mobilização da emoção e de sentimentos. É utilizada aqui, em geral, a chamada “música morta”, isto é, discos, fitas ou rádio. O paciente ouve músicas e depois fala sobre os aspectos que foram mobilizados por elas. Ou ainda, a música como mobilização psíquica para quaisquer outras técnicas expressivas como o desenho, a pintura ou a modelagem.
A utilização da música como terapia difere da anterior porque em geral se utiliza “música viva” ou seja, o próprio paciente comprometido no processo de “fazer música” junto com o musicoterapeuta. (p.21) A música não será só uma técnica de mobilização, mas irá além disso. O paciente se expressará através da própria música e podemos enfatizar também a capacidade simbólica da música. Barcellos(p.21) cita Byinton: a ” função consteladora da energia psíquica lhe confere o status de linguagem simbólica”.
Muitas atividades utilizam música, mas nem todas podem vir a ter efeitos terapêuticos. A música que tem objetivos terapêuticos e se constitui como terapia é a musicoterapia como mostra Barcellos (1999 p.44) no seguinte gráfico:
Utiliza música? |
Pode vir a ter efeitos terapêuticos |
Tem objetivos terapêuticos |
|
Atividades musicais |
+ |
+ |
– |
Educação musical |
+ |
+ |
– |
Aprendizagem de um instrumento musical |
+ |
+ |
– |
Musicoterapia |
+ |
+ |
+ |
+ (sim) e – (não)
Toda e qualquer manifestação sonora do paciente é valorizada e durante o processo musicoterápico. Pode-se escutar música, cantar, dançar, tocar.
A pessoa não precisa ter conhecimento prévio de música. O musicoterapeuta sim, precisa conhecer música, cantar e tocar algum instrumento.
Mário de Andrade (p. 50) nos diz:
” A terapêutica musical é o contrário da terapêutica de origem física. Se nesta aos doentes insensíveis aumenta-se a dose, na musical aos insensíveis deve-se diminuir a dose, músicas mais fáceis, sem grande complexidade, de mais modestas exigências estéticas. A música é equiparável aos medicamentos que se utilizam, como agentes terapêuticos, dos elementos vibratórios, luz, calor, raios X, e portanto, como se dá com estes e principalmente com a eletricidade, a dosificação tem de a princípio tatear terreno e deverá ser estabelecida para cada caso em particular.”
Atualmente é utilizada em educação especial, reabilitação, psiquiatria, geriatria e gerontologia. Outras áreas: acompanhamento às mães e pais no pré-natal; estimulação essencial com bebês em creches e outras instituições; atendimento a deficientes mentais e sensoriais; clínicas e hospitais na área da saúde mental; recuperação de dependentes químicos(drogas e álcool); na assistência à deficientes físicos em instituições de reabilitação; atendendo pessoas com câncer e AIDS; atuando com idosos; no desenvolvimento pessoal, aprofundando a vivência do processo criativo e as relações interpessoais; área social, com meninos e meninas de rua e menores infratores.
Os objetivos e métodos de tratamento variam de um setting para outro, de acordo com a clientela e de um musicoterapeuta para outro. Os objetivos podem ser educacionais, recreativos, de reabilitação, preventivos ou psicoterapêuticos e podem atender a necessidades físicas, emocionais, intelectuais, sociais ou espirituais do cliente.
Na musicoterapia com o idoso utilizamos a bagagem musical que o indivíduo experimenta no decorrer das etapas da sua vida (infância, adolescência, vida adulta e velhice) assim como também dos ritos de passagem tais como: aniversários, casamentos nascimentos, mortes, acontecimentos políticos, e outras ocasiões nas quais a música era um veículo de divulgação crítico e caricatural dos anseios da coletividade.(Souza et al, 1988)
A juventude dos idosos de hoje era cercada de ambiente sonoro rico, onde o rádio era o principal veículo de comunicação e ainda hoje continua sendo, até onde não há eletricidade (uso do rádio à pilha) tendo portanto a predominância das mensagens a nível auditivo e pouco visual.
É muito importante para a pessoa idosa a utilização da linguagem verbal, pois é esta que ela utilizou durante toda a sua vida, apesar das dificuldades de reter e recordar informações, em virtude do declínio da capacidade de captar e estruturar dados. O musicoterapeuta deverá estar aberto e flexível para receber e atuar com a linguagem verbal como forma de comunicação.
O tempo de captação e estruturação dos dados por parte do idoso é lento. É importante a verbalização pausada, articulando bem as palavras, utilizando corretamente as inflexões para o ritmo bio-psíquico ser naturalmente acompanhado.
A memória recente no idoso se encontra em geral prejudicada. Deve-se resgatar então suas vivências sonoras anteriores, facilitando a abertura dos seus canais de comunicação.(Souza et al,1988 e Tourinho, 1999)
O processo de recordação não é fazer com que o idoso se isole no passado, porque esse era o “bom tempo “. É resgatar do passado os pontos saudáveis para que ele possa reutilizá-los no presente.
Quando o idoso traz as músicas do “seu tempo” elas vêm carregadas de elementos anteriores e também atuais, pois a música é uma arte temporal que transcende o tempo.
O idoso tem o seu ritmo orgânico e físico alterado. Isto é perfeitamente normal, e explica sua preferência por andamentos mais lentos, levando o musicoterapeuta a regular seu tempo pelo tempo do paciente com quem ele estiver trabalhando.
Parte considerável dos idosos de hoje lembra sempre seu tempo “antigo”, onde suas músicas preferidas são as marchinhas de carnaval , algumas de cunho político ; sambas retratando fatos da vida real ; canções românticas; boleros; tangos; polcas; maxixes; baiões; chorinhos; valsas; cantos patrióticos; comédias musicais; hinos religiosos , paródias e repentes (, Souza et al 1988, Assumpção 1999, Tourinho 1999 -2000).
As músicas folclóricas, as brincadeiras de roda e jogos cantados em geral se referem às próprias lembranças de infância. Os acalantos e canções de ninar, relacionam-se às vivências dos papéis nos quais atuam como pais, mães, avós, avôs, bisavós, bisavôs.
Neles o interesse por músicas atuais é menos freqüente. Sua memória recente, no momento em que é ativada, é extremamente gratificante, pois ele passa longo tempo tentando lembrar de determinadas letras de músicas e, quando consegue, realimenta-se, impulsionando-se a novas manifestações expressivas, indo daí para novas conquistas. Isto favorece o aumento da sua auto-estima, proporcionando mudanças de comportamento.
Certas músicas, por si só, produzem estímulos para a mobilização corporal. São escolhidas para auxiliarem no relaxamento e na estimulação rítmico-sonora que proporcionam movimentos corporais ajudando a melhorar os problemas ósteo-musculares e reativando as funções motoras.
O instrumento fundamental do idoso é a sua voz e a escolha de qualquer outro instrumento é feita pela facilidade de manuseio, pela menor amplitude de movimento e pelo pouco esforço requerido, como, por exemplo: o chocalho, os guizos, o reco-reco, a clava, etc. A escolha criteriosa do instrumento auxilia o idoso a sentir mais segurança quando manipula e tira som do instrumento no início das atividades. Posteriormente, instrumentos de grande porte podem ser utilizados, tais como, bumbos, tambores, atabaques e outros, proporcionando descarga de energia e surgimento das lideranças (Ibid).
No desenvolvimento do trabalho, o espaço físico utilizado é chamado “setting” e fazem parte do setting musicoterápico tudo que pode estar envolvido com o desenvolvimento do processo de tratamento: sala de atendimento, instrumentos, gravadores, fitas, músicas, musicoterapeuta, clientes.
O “setting musicoterápico” é um espaço sagrado que se constrói para a promoção da saúde, independente do lugar ser rico, mais bem equipado, com instrumentos caros ou não. Claro que se tivermos à nossa disposição tudo aquilo que há de nova geração, sempre será de grande valia. Neste “espaço físico”, os instrumentos e demais seres inanimados, só terão importância se “animados” pelas pessoas e suas relações interpessoais.
Depois de estabelecido o vínculo, deve haver um envolvimento e uma responsabilidade que Bruscia (p. 25) nos descreve como relações intrapessoal, intramusical, interpessoal, intermusical e sócio-cultural. A relação do cliente com o terapeuta e com a música tem significação central no processo terapêutico.
O musicoterapeuta, de forma verbal ou não-verbal, deve sempre se apoiar no trinômio: escuta clínica, olhar clínico e tato clínico.
A escuta clínica, seria a audição cuidadosa, o ouvir atenciosamente o paciente quando este se expressa, procurando ouvir todos os sons emitidos por ele. Sons verbais ou não verbais (Tourinho, 1999-2000)
Segundo Tomatis que é citado por Ruud (p.113) o homem evoluído caminha em direção à escuta e para ele o ouvido é uma antena aberta para a comunicação no
sentido mais amplo do termo. Não devemos nos limitar ao órgão anatômico, como muitos poderiam fazê-lo. Schafer também alerta: “Os ouvidos de uma pessoa verdadeiramente sensível estão sempre abertos. Não existem pálpebras nos ouvidos“.
Escuta clínica portanto, seria a recepção por parte do terapeuta, de toda emissão sonora produzida pelo paciente, no seu mais amplo sentido.
O olhar clínico, seria a visão cuidadosa do terapeuta para seu paciente.
O olhar/observar com todos os órgãos dos sentidos, com uma intencionalidade, sem pré-conceitos, aceitando seu paciente com suas dependências físicas e/ou emocionais, procurando através desse olhar, descobrir a melhor comunicação com este paciente, independente de idade, sexo, cultura ou religião. Um olhar/observar com abrangência para poder dar, junto com a escuta que é fundamental e característica primordial de um musicoterapeuta, o continente seguro de que cada paciente precisa.
O tato , que é um dos cinco órgãos dos sentidos, pode ser visto, fisiologicamente e no sentido figurado da palavra, segundo o Dicionário enciclopédico brasileiro, organizado pelo professor Alvaro Magalhães et al.(1964).
Tato, fisiologicamente, é um dos sentidos externos, impressionável por contato direto. Compreende sensações de contato e de pressão térmicas com calor e frio. Essas sensações se combinam freqüentemente, pois o tato, em seu exercício normal, é inseparável do movimento.
Tato, no sentido figurado, é sagacidade, intuição segura e delicada da ação e do pensamento, convenientes em determinadas situações.
De uma ou de outra forma, poderíamos nos apossar de ambas as explicações e utilizá-las em musicoterapia e poderíamos ampliar dizendo que tato clínico seria o cuidado, a intuição, a maneira “humana” (com tato, com jeito, o contato) com que se procura escutar e olhar o paciente para melhor podermos conduzi-lo (ibid op.cit.).
O musicoterapeuta, além de sua formação equilibrada, na sua práxis, deveria desenvolver esse sentido sensorial. Deveria ter essa sagacidade, na condução dos procedimentos musicoterápicos, visando alcançar da melhor forma seus objetivos.
Portanto, tomando consciência na prática clínica poderíamos resumir a conduta clínica nesse triângulo eqüilátero:
Nas sessões musicoterápicas (atendimentos) são feitas em primeiro lugar as entrevistas iniciais e logo a seguir a testificação (seguindo os passos sugeridos por Benenzon 1985(p.82) e Barcellos 1999 (p.34-35) para preenchimento da ficha musicoterápica.
Os instrumentos utilizados vão do mais primitivo como o chocalho, até os eletrônicos como os teclados e sintetizadores. Segundo Kurt Sacks são divididos em: idiófonos, membrafones, aerofones, cordofones. Nos grupos de musicoterapia um instrumento pode converter-se rapidamente em guia dos outros instrumentos e por outro lado , podem aglutinar ao redor deles mesmos o resto do grupo. O objeto integrador, então é aquele instrumento musical que num grupo musicoterapêutico, liderando sobre os demais instrumentos e absorvendo, em si mesmo, a dinâmica de um vínculo entre os pacientes de um grupo e o musicoterapeuta. ” Este objeto integrador está ligado intimamente ao ISO Grupal e ao ISO Cultural.” (Benenzon p.49).
Todo o envolvimento: cliente, terapeuta e música, está regido por teorias e técnicas musicoterápicas que devem ser conhecidas e dominadas para serem utilizadas da maneira mais adequada.
Há um embasamento filosófico que fundamenta as teorias psicoterápicas e o caminho realizado pelo musicoterapeuta é a sua trajetória. Uma teoria ajuda a explicar o que acontece na terapia, ajuda a fazer prognósticos e a avaliar e aperfeiçoar resultados. Segundo Steffire, “como um bom mapa, uma teoria nos indica o que procurar, o que esperar, e onde ir”. (Wheeler 1972)
Em uma sessão, quando o cliente fala ou age, o terapeuta reage e responde da forma que ele creia que seja a melhor para o cliente, com base na sua sensibilidade e compreensão do cliente. Grande parte daquilo que o terapeuta percebe ser o melhor para seu cliente, reflete na verdade uma teoria pessoal. Não importa se o terapeuta tem ou não consciência desta teoria. Escolhendo uma entre tantas respostas possíveis, o terapeuta está pondo a teoria em prática, ao decidir o que o cliente está querendo expressar, o que as afirmações do cliente significam em sua vida, quais os objetivos adequados para essa terapia, qual a função do terapeuta e qual a melhor técnica a ser utilizada para atingir seus objetivos.
A principal abordagem teórica utilizada foi a humanista existencial. De acordo com a concepção humanista existencial, a experiência de cada pessoa é única e todas as pessoas têm dentro de si mesmas uma força que as conduz ao crescimento.
Entre os maiores teóricos desta escola incluem-se Carl Rogers, Abraham Maslow e Frederick Perls (Wheeler 1981, p. 4). C. Rogers dá maior ênfase à relação terapêutica. Em sua abordagem que tornou-se conhecida como “terapia centrada na pessoa” (Rogers 1992), o potencial individual para o crescimento tenderá a ser liberado numa relação na qual a pessoa que ajuda é percebida pelo cliente como autêntica, dotada de calor humano e jamais se coloca como juiz dos atos alheios. O crescimento do cliente leva-o a uma maior consciência de suas experiências internas e a um comportamento determinado por tais experiências. Um musicoterapeuta que se identificar com uma linha rogeriana teria por objetivo, a interação terapêutica numa relação na qual o cliente é livre para crescer, com o terapeuta ajudando a clarificar e conscientizar suas experiências internas, podendo ser aplicada numa variedade de situações musicoterápicas.(Wheeler) O terapeuta aceitará qualquer desempenho musical ou não musical que o cliente escolha e então ajudará o cliente a expressar musical ou verbalmente suas experiências internas. Se for feita, por exemplo, uma improvisação, como uma comunicação não verbal, o terapeuta não poderá guiar o cliente em determinada direção, mas poderá sustentar e refletir a improvisação do cliente das duas formas: musical e verbal.
Em vista da abertura científica da abordagem humanista existencial, seu “respeito pelo valor da pessoa” e respeito pelas diferenças de abordagem, tende a compartilhar outras abordagens ou outros movimentos no campo da psicologia científica.
Na abordagem humanista existencial, “o terapeuta tem o papel de facilitador, daquele que se “introduz” no mundo perceptivo do cliente e partilha com ele seus sentimentos e percepções” (Barcellos 1994, p.12).
As técnicas de abordagem mais empregadas foram a re-criação, a improvisação, a composiçãoe audição musical.Essas técnicas podem ser usadas cada uma de “per si” ou combinadas, dependendo da situação que emergir.
Como o ponto de partida para uma terapia deve ter como base as experiências musicais do cliente, o terapeuta deve saber selecionar e saber planejar suas atividades musicais terapêuticas tendo o cuidado em relacioná-las com os problemas do paciente, suas necessidades e os efeitos potenciais que estas poderão lhe trazer.
Na re-criação os candidatos potenciais à técnica de re-criação são clientes que necessitam: desenvolver habilidades sensório-motoras, aprender comportamentos adaptados, manter a orientação de realidade, dominar diferentes papéis comportamentais, identificar-se com sentimentos e ideias de outros, ou trabalhar cooperativamente em metas comuns. Esses aspectos são considerados como requisitos básicos de cantar ou tocar músicas já compostas.
A improvisação, indiscutivelmente na música,tem uma larga história. Tão larga quanto a música em si mesma. Temos através das diferentes épocas e diferentes lugares, funções bastante menos simplistas que as que se lhe querem atribuir hoje, tais como funções de ordem estética, também sociais, religiosas e ritualísticas.
Vamos tratar aqui da improvisação como produto da intuição e da emoção inconsciente.
“Dessa maneira a improvisação é uma aparição efêmera, sempre diferente Ela não existe antes do ato em si e nem depois dele. Ela é o produto da intuição, da emoção do inconsciente”(Globokar, p.11)
Gainza (1981)A improvisação se aplica a todo processo de desenvolvimento e pode promover a expressão e “descarga pessoal”. A desinternalização de materiais e estruturas utilizadas permite que se conheça melhor e mais rapidamente a pessoa que improvisa, ao mesmo tempo que lhe traz um efeito benéfico, resultado da ação expressiva e comunicativa.
Barcellos (1994 p.13) nos fala da utilização desta técnica num dos casos por ela tratados, nos relatando como técnica principal a “Improvisação Musical Livre” e em outros a “Improvisação Musical Orientada” e conclui que “… numa situação musical improvisada há lugar para que qualquer coisa aconteça e que num sentido amplo, improvisar é sinônimo de “brincar” musicalmente.
Não se trata de julgarmos se a improvisação é boa ou má e sim estimularmos nosso saber e informação. A improvisação não deve ser vista só pelo ângulo musical, mas também pelo ângulo psicológico, sociológico, terapêutico, religioso, filosófico e também político e cultural.
Acreditamos que poderemos resumir essa questão da improvisação com o que nos diz Bruscia (1991) em seu livro. Para ele os candidatos a esta técnica, são clientes que necessitam desenvolver a espontaneidade, iniciativa, criatividade, liberdade de expressão, senso de identidade ou habilidades interpessoais e tomadas de decisões. Além disto ajuda ao terapeuta a estabelecer um meio de comunicação com o cliente e o habilita a expressar sentimentos que são difíceis de expressar verbalmente. Produz um lugar seguro de experimentação de comportamentos, papéis ou modelos de interação, enquanto desenvolve a habilidade de fazer coisas e tomar decisões dentro de limites estabelecidos. Acreditamos ainda que mesmo as pessoas que participam desta técnica tendo antecedentes musicais diferentes podem estabelecer situações onde sejam capazes de interagir ou de se comunicar.
Diferentes clientes manifestam estas necessidades terapêuticas. Desde crianças, adolescentes e adultos com desordens da personalidade, ou obsessivos, agressivos ou impulsivos até os que se apresentam deprimidos, inibidos , com alguma incapacidade física ou mesmo aqueles livres de impedimentos.
São portanto, candidatos à improvisação musical, todos os seres humanos independentes de idade, sexo, cor, raça, religião, cultura.
Na composição, candidatos a esta técnica, são clientes que precisam de organizar a sua tomada de decisão, aprender a selecionar e a se comprometer, desenvolver os sentidos, identificar e desenvolver temas, organizar sentimentos e pensamentos internos, ou ter evidência tangível de realização pessoal, já que estes são alguns aspectos básicos do compor. (Bruscia)
Com os idosos, através nossa experiência clínica, sempre depois de efetuarem seus resgates de acontecimentos e fatos passados, emergem situações correlatas atuais que através improvisações que aparecem, muitas vezes terminam por se consolidarem em composições.
Na audição musical, os candidatos à esta técnica são clientes que necessitam ser estimulados ou acalmados física e emocionalmente, intelectual ou espiritualmente, pelo fato de que estes são os tipos de respostas que o ouvir música traz à tona. Por exemplo, pacientes hospitalizados encontram no ouvir a música ajuda no relaxamento, na redução do estresse, no controle da dor, e na regulação das funções corporais, tais como batimento cardíaco e a respiração. Pode ser também estimulante, energizante e tranqüilizador.
Esta técnica, é utilizada no Brasil mas nunca sozinha. Aparece combinada com outras técnicas como a improvisação e a re-criação.
Considerações Finais
A gerontologia e a geriatria são especialidades novas e a musicoterapia também.
A musicoterapia tem provado sua eficácia no tratamento, na prevenção e na reabilitação em diversas patologias, e vem promovendo a saúde daqueles que dela se utilizam.
Com o avanço acelerado do número de pessoas que estão envelhecendo, a musicoterapia se mostra fundamental, sendo de eficácia comprovada no exterior bem como no Brasil.
Entre nós ela já é utilizada em vários hospitais, centros psiquiátricos e casas gerontológicas e geriátricas.
Sofremos pressão da sociedade e estando alerta, conhecendo o nosso corpo sonoramente, poderemos melhor decodificá-lo, auxiliando-nos e podendo dar aos profissionais que nos tratam dicas mais exatas para que eles também possam detectar com mais segurança o que estiver acontecendo conosco.
O homem pode se expressar através da música e pode provocar respostas em vários níveis. Pode ser usada de forma compatível com a cultura do indivíduo, viabilizando todos aqueles envolvidos com essas questões, seja abrindo os canais de comunicação através do processo não-verbal (característico da musicoterapia), ou mesmo abrindo os canais de percepção que muitas vezes se encontram bloqueados e dos quais a música é a ponte.
A música – elemento e agente de cultura – , pode ser utilizada como elemento terapêutico, pois é uma linguagem estruturada. Pode ser utilizada não só para auxiliar no processo de vida e, principalmente, quando este processo se desfaz, interrompe, por aspectos ou problemas internos e externos.
Posso com essa estratégia prevenir, reabilitar, readaptar o indivíduo biopsicossocialmente, promovendo sua saúde através do canal som-música-emoção. Desta maneira estaremos contribuindo para termos uma sociedade com uma visão mais ampla e humana permitindo a nós mesmos, aos idosos e aos jovens que irão envelhecer melhores condições de vida e com qualidade, ao longo de nossas existências.
Este trabalho, mais do que fechar questões, pretende abrir possibilidades e metas, mostrar saídas para que os indivíduos se integrem vivendo assim com melhor qualidade de vida.
Bibliografia
ANDRADE M. Namoros com a medicina. 4 ed.Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; 1980.
ASSUMPÇÃO, M.T.V.: A musicoterapia na prática interdisciplinar. Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Especialização em Envelhecimento e Saúde do Idoso, Rio de Janeiro, Ensp/Fiocruz, 1999.
BARCELLOS, L.R.M.: Cadernos de musicoterapia 1, 3 e 4. Rio de Janeiro, Enelivros, 1992, 1994, 1999.
BARROS, M. org: Velhice ou Terceira Idade?Rio de Janeiro, Ed. FGV, 1998.
BENENZON R. O Manual de musicoterapia. Rio de Janeiro: Enelivros;1985.
BOSI, E.: Memória e sociedade. São Paulo, USP, 1987.
BRUSCIA, K. E.: Definindo musicoterapia. Rio de Janeiro, Enelivros, 2000.
CLARK, L.: Cartas : 1964 -74.Rio de Janeiro,UFRJ, 1998.
COSTA , C M. O Despertar para o outro. São Paulo: Summus; 1989.
DEBERT, G. G.: Velhice ou Terceira Idade? Rio de Janeiro, Ed FGV, 1998.
FOUCAULT M. O Nascimento da clínica. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária;1994. p. xiv.
GAINZA V H de. Fundamentos, materiales y técnicas de la educacion musical.Buenos Aires: Ricordi; 1977.
_____________.La Improvisacion musical.Buenos Aires: Ricordi; 1981.
_____________.Estudos de psicopedagogia musical. Buenos Aires: Summus; 1988.
____________.Nuevas perspectivas de la educacion musical. Buenos Aires: Ricordi; 1990.
GLOBOKAR, Vinko – Reflexiones sobre la Improvisacion. Trad: Saavedra, Leonora –Muziekuitgeverij S. B. Groen, Amsterdam, 1981..
MAY, R.: O homem à procura de si mesmo. Petrópolis, Vozes, 2000.
MILLECO R P e BRANDÃO MR. O cantar humano e a musicoterapia. Monografia apresentada ao Conservatório Brasileiro de Música como conclusão de curso. Rio de Janeiro; 1992.
PAPALEO, org.: Gerontologia. São Paulo, Atheneu, 1996.
PEIXOTO, C.: Velhice ou Terceira Idade?. Rio de Janeiro, Ed F GV, 1998.
ROGERS, C R . Terapia centrada no cliente. São Paulo: Martins Fontes; 1992.
RUUD, E.: Música e saúde. São Paulo, Summus,1991.
SENE COSTA, E.: Gerontodrama: a velhice em cena.São Paulo, Agora, 1998.
SCHAFER, M.: O Ouvido pensante.São Paulo, UNESP, 1991.
SOUZA, M.G.C., LANDRINO, N. e VIANNA, M.T.: Musicoterapia com a 3a idade. Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Musicoterapia do Conservatório Brasileiro de Música. Rio de Janeiro, 1988.(digitado)
TAME, D. : O poder oculto da música. Rio de Janeiro, Cultrix; 1997.
TOURINHO, L.M.C.: Musicoterapia com o idoso: uma experiência clínica na CGABEG.Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação-Especialização em Musicoterapia do Conservatório Brasileiro de Música. Rio de Janeiro,1999. (digitado)
TOURINHO, L.M.C. O Idoso e a musicoterapia: promoção de saúde. “Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação-Especialização em Envelhecimento e Saúde do Idoso”. Rio de Janeiro, Ensp/Fiocruz, 2000.
VERAS, R.: Cadernos do IPUB, 1997, 10: 49-54.
WHEELER B. A relação entre musicoterapia e teorias de psicoterapia. Trad: Barcellos L R (The Relationship between Music Therapy and Theories of Psychotherapy In: Music Therapy). The Journal of American Association for Music Therapy. New York; summer, 1981, 1(1): 32-41.