Efeitos Psicológicos e Fisiológicos do Fenômeno Sonoro
por: Ana Luisa Miranda Vilela
No que diz respeito ao homem, o som tem a capacidade de afetá-lo sobre uma série aspectos psicológicos e fisiológicos.
Sons dentro da faixa de 0 a 90 decibéis (dB – unidade de medida da intensidade sonora) apresentam principalmente efeitos psicológicos no homem. Eis alguns exemplos:
- O som de uma música pode nos acalmar, nos alegrar ou até mesmo nos excitar.
- Um som desagradável como o raspar de uma unha sobre um quadro-negro pode “arrepiar”.
- O som intermitente de uma gota d’água pingando de uma torneira pode nos impedir de dormir, e são apenas 30 ou 40 decibéis.
- Não esqueçamos, contudo, que um som pode fazer desabar uma avalanche de neve nas encostas de uma montanha sob o efeito de ressonância.
Contudo, para o campo da acústica aplicada à engenharia e à arquitetura, nos interessa saber como o som pode tornar um ambiente mais adequado para o homem exercer suas ações de trabalho, lazer ou repouso. Surge então o conceito de “Conforto Acústico” ambiente. Para cada tipo ambiente um nível adequado para o seu ruído de fundo. Valores acima ou abaixo podem tornar o ambiente acusticamente inadequado para a finalidade a que se destina.
Entre 90 e 120 dB, além dos efeitos psicológicos podem ocorrer efeitos fisiológicos, alterando temporária ou definitivamente a fisiologia normal do organismo. Nessa intensidade de som os ambientes são considerados insalubres.
Sons repentinos (mesmo de intensidade reduzida), como o estouro de uma bombinha de São João, produzem uma reação de sobressalto e a complexa resposta do organismo a uma ocasião de emergência: a pressão arterial e a pulsação disparam; os músculos se contraem.
Acima de 120 decibéis o som já pode começar a causar algum efeito físico sobre as pessoas. Podem ocorrer numerosas sensações orgânicas desagradáveis: vibrações dentro da cabeça, dor aguda no ouvido médio, perda de equilíbrio, náuseas. A própria visão pode ser afetada pelo som muito intenso, devido à vibração, por ressonância, do globo ocular. Próximo aos 140 dB pode ocorrer a ruptura do tímpano.
Sons ainda mais elevados, como a explosão da partida de um foguete de veículos espaciais – que pode chegar até 175 dB – podem danificar o mecanismo do ouvido interno e causar convulsões.
A perda de audição pode ser ocasionada principalmente por dois fatores: o envelhecimento natural do ouvido (com a idade), denominada de presbicusia e a exposição prolongada em níveis superiores a 90 dB.
Presbicusia: ocorre mesmo em pessoas que não se expõem ao ruído prejudicial e aumenta com a idade, sendo esse aumento mais pronunciado para as freqüências mais altas.
Ocorre um fato curioso que a presbicusia para as mulheres é menos pronunciada do que para os homens. Por exemplo, um homem de 60 anos terá uma perda de audição devido à idade de cerca de 25 decibéis em 3.000 Hz; uma mulher nessa idade terá perdido apenas cerca de 14 decibéis nessa freqüência.
Exposição ao Ruído: a exposição prolongada a ruídos acima de 90 dBA é um fator inerente de nosso progresso tecnológico e muitas pessoas se vêem praticamente obrigadas a exercer suas atividades profissionais em condições acústicas insalubres. Pode-se estimar numericamente quantos decibéis uma pessoa perderá em sua audição em função do ruído a que fica exposta. Das diversas pesquisas realizadas hoje podem ser feitas as seguintes afirmações:
– Quanto maior o ruído, maior será o grau de perda de audição.
– Quanto maior o tempo de exposição ao ruído, também maior será o grau de perda de audição.
Geralmente o som em uma determinada freqüência ocasiona perda de audição em uma freqüência superior. Ruídos em 500 Hz ocasionam perdas entre 1.000 e 2.000 Hz. Ruídos em 2.000 Hz ocasionam perdas em 4.000 Hz.
A estimativa da perda em decibéis pode ser feita através de curvas determinadas através de experiências com um grande número de pessoas.
Tomemos como exemplo um ruído de 500 Hz e 85 dB. A pessoa, ficando exposta a ele durante as 8 horas diárias (40 horas semanais) terá, após 10 anos nessas condições, perdido 10 decibéis na sua audição. Isso significa que ela ouvirá os sons na faixa de 2.000 Hz atenuados em 10 dB em relação às pessoas com audição normal.
Se o ruído tiver 92 dB, ela perderá 15 dB. Assim, para estimarmos a perda total que uma pessoa terá, deveremos adicionar também a perda devido à idade. Por exemplo, se a pessoa que ficou exposta a ruídos de 92 dB durante 10 anos tiver uma idade de 50 anos e for homem terá uma perda total de 15 + 11 = 26 dB (na freqüência de 2.000 Hz), sendo 15 dB devido ao ruído e 11 dB devido à sua idade.
A ISO (International Organization for Standardization) em sua recomendação 1999-1975 indica como limites normais de níveis de ruído em regime de 40 horas semanais e 50 semanas por ano, como sendo de 85 a 90 dB. Acima desses limites corre-se o risco de perda de audição para conversação.
Testes Audiométricos – Graus de Perda de Audição
A primeira precaução visando a implantação de um programa de preservação auditiva é a realização do audiograma ou teste audiométrico que demonstra o estado da sensibilidade auditiva do indivíduo.
Classificação dos graus de perda de audição para conversação face a face:
Classe | Nome | Perda para Conversação dB | Observações |
A | Normal | Não mais do que 15 dB no pior ouvido. | Sem dificuldade para ouvir voz baixa. |
B | Quase Normal | Mais que 15, mas menos do que 30 em ambos ouvidos. | Dificuldade apenas para ouvir voz baixa. |
C | Perda / Dia | Mais que 15, mas menos do que 30 em ambos ouvidos. | Dificuldade para voz normal, mas não para voz alta. |
D | Perda Séria | Mais do que 45, mas não mais do que 60 no melhor ouvido. | Dificuldade mesmo para voz alta. |
E | Perda Grave | Mais do que 60, mas não mais do que 90 no melhor ouvido. | Só pode ouvir voz amplificada. |
F | Perda Profunda | Mais do que 90 no melhor ouvido. | Não pode entender nem mesmo a voz amplificada. |
G | Perda Total Em Ambos Ouvidos – Não pode ouvir qualquer som. |
Fonte: http://www.afh.bio.br