O Bode Expiatório da Cultura (Bode Preto)
por: Ministério Luzes da Alvorada
Para termos uma melhor noção dos limites da reverência e do que é apropriado para a adoração precisamos ir um pouco mais fundo na análise do histórico de certos instrumentos musicais. Veremos algo também sobre as influências culturais.
De fato a cultura tem sido o “bode expiatório” para muitas práticas musicais duvidosas. Costuma-se dizer que as músicas e certos hábitos religiosos são adaptáveis à cultura e à época. É lamentável, mas estão “colocando o carro na frente dos bois”.
A primeira coisa a ser compreendida é que as palavras “cultura” e “culto” estão muito mais relacionadas do que parece. Quando o cristão moderno admite adaptar sua adoração à cultura local, está, na realidade, adaptando sua religião às crendices e ao culto dos seus antepassados. Não é a cultura que dá forma à religião; a religião é que dá forma à cultura.
O Dr. Wolfgang H. M. Stefani, quando em visita ao Brasil, por ocasião do lançamento do seu livro, “Música Sacra, Cultura e Adoração”, fez o seguinte comentário: “O teólogo Paul Tillich fez uma profunda declaração sobre a cultura, a qual nos ajuda a compreender melhor essa questão: ‘A religião é a essência da cultura, a cultura é a forma da religião!’ Ele esta dizendo que a religião é, no seu sentido mais amplo, aquilo que dá sentido a cultura, e que a cultura é o modo como o fundamento da religião se expressa. Isto significa que todos os produtos culturais já incorporaram em si valores metafísicos. As artes e especialmente a música refletem e comunicam esses valores. … ‘O que governa o coração forma a arte'” – Revista Adventista, março de 2002, pág. 6.
O folclore está diretamente ligado às características culturais de um povo e aos seus costumes, que podem, por sua vez, ser herança de outros povos. No Brasil, lendas como a do saci-pererê, curupira, Iara e boitatá, entre outras, derivam de crendices herdadas dos índios e dos escravos. Poucos observam que, essas lendas estão, em sua maioria, ligadas a seres estranhos e sobrenaturais.
Na música, o samba é, indiscutivelmente, parte da cultura brasileira, mas, como já vimos em nosso segundo tema, acredita-se que o próprio nome “samba” surgiu de uma homenagem ao deus-demônio “Simbi”, deus da sedução e da fertilidade nos rituais vodu, assim como o “congado” seria uma homenagem ao deus demônio “Congo”. Qual o berço de tudo isso? Indiretamente, a África, de onde foram trazidos os escravos, não somente para o Brasil, como para tantos outros países.
Em cada lugar para onde foram levados os escravos africanos, desenvolveram-se variações e derivações de seus cultos primitivos, como o vodu haitiano e o candomblé brasileiro. Tudo isso passou a ser considerado parte da cultura local.
Os tambores africanos que, depois de passarem por uma série de mudanças em uma verdadeira metamorfose musico-cultural, acabaram gerando a bateria moderna, eram elementos essenciais da adoração pagã. Maya Deren, em seu livro “Divine Horseman–The Living Gods of Haiti”, (New Paltz: McPherson & Co., 1953) págs. 244-246, falando sobre derivações de cultos africanos diz: “São os tambores e a batida dos tambores que são, em si, o som sagrado”.
O Pastor e Professor Vanderlei Dorneles, em seu artigo “A bateria à luz da antropologia e da Bíblia”, diz que: “Um estudo dos cultos de mistérios, das cerimônias nativas e dos rituais da África esclarecem que (1) a música ritual é basicamente o som do tambor, (2) essa música é acompanhada de dança e (3) o transe é o objetivo pretendido e alcançado com o ritual primitivo.” – Vanderlei Dorneles – A Bateria à Luz da Antropologia e da Bíblia
Se analisarmos os escritos de diversos autores e pesquisadores modernos, citando entre eles os livros: A Dança dos Orixás: as relíquias brasileiras da Afro-Ásia pré-bíblica (São Paulo: Harder, 1970), do antropólogo Francisco Sparta; Os Cultos Mágico-Religiosos no Brasil (São Paulo: Hucitec, 1979), de Aguiar Bastos, também antropólogo; História das Crenças e das Idéias Religiosas, (Tomo I, Vol. II – Rio de Janeiro: Zahar, 1983) e Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase (São Paulo: Martins Fontes, 1998), ambos de Mircea Eliade; e outros ainda, veremos que o tambor está claramente relacionado com o transe místico, o fenômeno de possessão ou ainda a perda da consciência.
Para citar apenas uma das referências, transcrevemos aqui duas frases de Mircea Eliade, de seu livro: Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase, págs. 200 e 205: “Uma coisa é certa: o que determinou a função xamânica do tambor foi a magia musical”. “De qualquer modo, trata-se sempre de um instrumento (o tambor) capaz de estabelecer algum contato com o ‘mundo dos espíritos'”.
Usar tambores na música religiosa é usar os moldes dos demônios na adoração a DEUS. E isso já aconteceu em nosso meio no passado. Em Indiana, nos Estados Unidos, durante um movimento denominado como da Carne Santa, as músicas tinham, entre outros instrumentos, tamborins e um grande surdo ou bumbo. Mais detalhes podem ser encontrados no livro Conselhos Sobre a Música, publicado pelo Instituto Adventista de Ensino de S. Paulo (UNASP Campus 1), no qual Athur L. White, além de uma compilação dos escritos de Ellen G. White que falam sobre a música, transcreve depoimentos de testemunhas oculares de fatos relacionados.
Se alguém ainda acha que o uso de tambores ajudando a levar ao transe é uma teoria sem fundamento, observe o que Ellen G. White disse, falando sobre o ocorrido em Indiana: “Alguns pareciam estar em visão, e caíam por terra. Outros pulavam, dançavam e gritavam.” – Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 34. Ela disse coisa mais ainda séria: “Esses (em Indiana) foram arrastados por um engano espírita.” – Evangelismo, p. 595. Lembram-se também daquele outro texto que vimos em nosso tema anterior: “Fui instruída a dizer que, nessas demonstrações, acham-se presentes demônios em forma de homens…”? Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 37.
A essa altura não seria possível deixar de mencionar uma frase atribuída a uma filha-de-santo de um terreiro de Salvador, Bahia, encontrada no jornal Folha de São Paulo, no caderno Folha Ilustrada, em 17 de junho de 2000. Ela disse: “Que gostoso é o candomblé! Mesmo se você não tem nada a ver com a religião, quando escuta os tambores não tem jeito: começa a balançar os ombros.” Sem dúvida, os tambores não são instrumentos musicais adequados à adoração; são ferramentas empregadas pelo inimigo para perverter nossos louvores.
Está escrito: “Não podeis beber do cálice do SENHOR e do cálice de demônios; não podeis participar da mesa do SENHOR e da mesa de demônios. Ou provocaremos a zelos o SENHOR? Somos, porventura, mais fortes do que Ele?” I Cor. 10:21-22.
Talvez haja pessoas que acreditem que, quando Ellen G. White escreveu aquelas palavras de advertência a respeito de coisas que aconteceriam “imediatamente antes da terminação da graça”, estivesse falando somente sobre coisas relacionadas ao movimento da carne santa, sem ter nada haver com o que está acontecendo com a nossa música hoje. Eu perguntaria a essas pessoas: O que mais estaríamos esperando? Será que alguém espera ver pessoas desmaiando ou entrando em transe dentro da igreja para acreditar que a profecia está se cumprindo? Creio que o que estamos presenciando cumpre plenamente o que foi anunciado.
Falando sobre o uso da bateria na igreja, o Dr. Wolfgang H. M. Stefani disse o seguinte: “Da mesma forma que a música em si não é neutra, tanto no significado como na estrutura estilística, os instrumentos também não são neutros. Diferentes instrumentos foram feitos e aperfeiçoados para propósitos específicos. Quando as pessoas me perguntam sobre o uso de bateria na igreja, primeiramente sugiro: ‘Por que não usar um tímpano? É um tipo de percussão. Se tambores são neutros, então o tímpano deveria ser tão bom quanto o tambor de uma bateria?’ Eles olham para mim perplexos e dizem: ‘Bem, não era esse o tipo de tambor que eu tinha em mente. Eu quero a bateria que é usada numa banda de música popular.’ É claro que a razão pela qual querem esse tipo de tambor é o fato de desejarem tocar determinado tipo de música.
“Há razões pelas quais determinados instrumentos são mais apropriados para certos propósitos. A bateria foi desenvolvida para produzir um som agressivo, fortemente rítmico, a fim de ser cultivado na música popular. Mas, pela mesma razão que as pessoas normalmente não querem órgãos de tubo em bandas de rock, uma bateria não é apropriada para a igreja, especialmente quando sentimentos como reverência e contemplação estão em jogo. O som percussivo ‘pesado’ produzido por esses instrumentos, não se harmonizam com o tipo de música que deveria ser enfatizado na adoração de Jeová (ver Isaías 6:1-8), onde reverência, paz, alegria, arrependimento e compromisso formam a essência das emoções apropriadas.” – Revista Adventista, março de 2002, pág. 6.