A Música no Serviço Religioso
por: Ana Ruth Lust
“O dom da música tem sido concedido ao homem por Deus com o sagrado propósito de erguer os pensamentos a coisas altas e nobres, a inspirar e elevar a alma.” – Mensagem aos Jovens, p. 291.
Através dos séculos a música tem estado intimamente relacionada com o culto divino. O salmista diz: “Louvai ao Senhor. Louvai a Deus no Seu Santuário… Louvai-o com instrumento de cordas e com órgãos” (Sal. 150:1, 3 e 4).
O canto é conhecido como um dos meios mais eficazes de gravar o amor de Deus em nossas almas. O espírito de profecia nos diz: “como parte do culto, o canto é um ato de adoração tanto como a oração. Isto é aplicável tanto à música vocal, quanto à instrumental”. – Mensagens aos Jovens, p. 290.
Quão grande é nossa responsabilidade para com os membros pela música que apresentamos em nossas igrejas! Que espírito de devoção devia acompanhar-nos no canto, assim como em cada nota instrumental para que nosso culto fosse agradável ao nosso Pai celestial.
Quase toda pessoa possui em maior ou menor grau, certo ouvido musical. Temos normalmente o sentido da percepção dos sons e vamos nos acostumando aos fundamentos de certas harmonias. O simples fato de que nos agradam certas harmonias e melodias, não nos capacita apresentá-las ao Criador como oferta de louvor e adoração[1].
Consideramos o grande conselho: “Cada um deve aperfeiçoar ao máximo os seus talentos.” Quem cultiva com amor este precioso dom que nos é dado; quem busca a melhor aprendizagem, sempre irá desenvolvendo o gosto e achará novos e belos horizontes. Seu interesse aumentará, seu gosto se refinará até chegar a sentir amor unicamente pela boa música que edifica a alma e a eleva para o divino. Assim então estará em condições de oferecer ao Senhor em Seu templo a oferta musical em que se pode comprazer. Temos o dever de oferecer ao Senhor o melhor. O orador deve ser convincente e espiritual, e a música não pode ser menos, já que está à altura da oração em importância.
Nos serviços religiosos do rei Davi, o doce cantor de Israel havia designado um grupo de levitas, profissionais da música, para tocar instrumentos e cantar. Estes músicos se aperfeiçoavam para serem eficientes em suas responsabilidades. Uma das matérias fundamentais das escolas dos profetas era a música. Como pode sentir-se honrado nosso Pai celestial quando louvamos Seu nome em um instrumento mal tocado, ou mediante um canto deficiente?
Os que tomam parte de um serviço religioso devem ser pessoas consagradas ao Senhor para que, ao fundir-se seu espírito com a música, possam contribuir para a salvação de outros.
A música apresentada no serviço religioso deve ser mais perfeita possível e muito profunda em espiritualidade. O céu dotou a alguns homens que consagram sua vida ao estudo, brindando o mundo com música apropriada para nossos cultos. Façamos uso deste material musical para oferecer o melhor ao Senhor. Tenhamos em conta a origem e o motivo de cada composição.
Existem alguns hinos de origem frívola e até há alguns que são tirados de óperas. Isto, certamente, pode desviar a mente do objetivo sagrado. A música de teatro é altamente artística, porém carece de espiritualidade. Saibamos estabelecer a diferença entre uma música e outra. Daí surge a necessidade de pessoas preparadas, a fim de que toda música apresentada na igreja dignifique os cultos. Um hino de boa harmonia, com letra, bem interpretado, de forma simples, sem mudanças de ritmo, pode ser muito eficaz para os serviços da igreja.
O organista ou pianista deve ser muito cuidadoso em não fazer de sua arte uma rotina sentimental. É a música fundamental a que dignifica o serviço religioso. Quantos pianistas se deleitam em fazer soar fortemente o instrumento, empregar todas as teclas possíveis para dar colorido, e até ritmos populares! Deve-se isto a que não tenham recebido uma educação musical correta. Não basta ter bom ouvido. Este problema ficaria reduzido ao mínimo se todos os pastores tivessem uma profunda cultura musical.
O instrumento mais indicado para o culto é o órgão. Através dos tempos, sua harmonia tem elevado a alma do homem em reverência a seu Criador. Oxalá todas as nossas igrejas pudessem possuir um bom órgão! Sem dúvida, outros instrumentos bem tocados podem ajudar na adoração e louvor ao Senhor. Os instrumentos que se usam comumente nos clubes populares não são apropriados para a igreja.
Não resta dúvida de que o acordeão tem sido de ajuda espiritual em pequenas reuniões ao ar livre, porém não é um instrumento para ser usado no templo.
Não permitamos que os que não conhecem a verdade presente tenham normas mais elevadas que as nossas, sem cair no extremo de pensar que o piano é um instrumento condenável porque algumas denominações não o usam. Um bom piano pode substituir em grande parte ao órgão. Cada igreja adventista grande deve possuir um bom piano e um bom órgão. O primeiro, corretamente tocado, acompanhará com mais facilidade a certas partes corais, escritas por homens dirigidos pelo Espírito de Deus. Não nos deixemos impressionar por gostos não corretamente cultivados para acompanhar alguma parte nos serviços religiosos.
Que digno louvor ao Criador é um coro formado por membros que sentem o fervoroso desejo de participar dessa maneira nos cultos da igreja! Numa igreja grande deve-se apresentar cada sábado um número coral. A dificuldade não reside na música, que é muito apreciada na casa de Deus, mas no espírito que a mesma encerra e a forma em que é apresentada. Um coral muito simples pode ser tanto ou mais edificante que uma obra que oferece muitas complicações. Em realidade, esta última deve ser apresentada em um concerto e não em um serviço religioso.
O ambiente pode facilmente rebaixar nossos princípio e perverter nosso gosto musical. Há quem pense que se o coro intercalasse música em latim, seria considerado de maior categoria; e se estes números fossem antigos, ou da Idade Média, seria ainda daquela época e somente de compositores católicos. As composições de Palestrina figuram entre esses números.
Os reformadores protestantes se opuseram firmemente a apresentar tal música em suas igrejas. Tanto Martinho Lutero como outros, afastaram o espírito católico de suas composições para louvar a Deus com singeleza e rica harmonia.
Quero citar alguns parágrafos de eruditos em música, de igrejas protestantes. “Ao introduzir práticas que não estão de acordo com a singeleza da música da religião protestante, os dirigentes têm apresentado seus serviços como num idioma não aceitável e compreensível… Por agradar ao ouvido, querendo fazer melhores apresentações, serviços musicais elaborados parecem verdadeiramente pobres, comparados com outros simples que apelam ao espírito da natureza do homem. Esta classe de música coral em vez de ser uma ajuda ao serviço da igreja, pode ser um estorvo ao objetivo de nosso culto.” – R. B. Daniels
“Alguns diretores de coro pensam que se seu programa coral não tivesse algo de latim, seria de pouca hierarquia. Não seria melhor cantar os corais de Bach em alemão? Seria mais lógico, sendo que Bach foi uma das grandes figuras da música protestante.” – H. A. Miller, Professor de Música do Union College, Lincoln, Nebraska, EUA.
Acaso a música católica atrai as almas para a nossa verdade? Os que dedicam seu precioso tempo ao aprendizado de coros em latim, estão alimentando sua mente e espírito com amor do evangelho? [Aqueles da congregação que ouvem a música em Latim são tão edificados quanto seriam se a ouvissem do amor de Deus em sua própria língua?].
Oxalá Deus ilumine a todos os diretores de coro para que encontrem beleza e riqueza na luminosa senda da música que edifica e eleva às gloriosas alturas onde mora nosso Pai celestial. Queira o Senhor ajudar a tomar as devidas precauções contra toda exaltação própria. Que a música dos serviços religiosos seja substancial e cheia de beleza digna para honra e glória de Deus.
Nota:
[1] Os negritos deste texto foram adicionados pelos editores do Música Sacra e Adoração, destacando o texto que já existia no original. Os trechos entre [colchetes], todavia, não constam no artigo original e são adições dos editores do Música Sacra e Adoração.
Fonte: Revista O Ministério Adventista, julho-agosto, 1962, pag. 7, 8.