Sagrado ou Profano? – Parte II
por: Hugo Dario Riffel
Para compreender o lugar da música no culto e escolher a espécie de música apropriada para ser usada nos serviços religiosos, é necessário focalizar o problema sob dois aspectos: a história e as funções da música religiosa.
No artigo anterior procuramos fazer um comentário sobre o aspecto histórico, e em outros artigos, consideramos as funções da música na religião. Repetimos algumas considerações, por serem fundamentais:
1. A música possui grande poder de evocação e traz à memória dos ouvintes os pensamentos que anteriormente se haviam relacionado com essa melodia.
2. Através dos séculos, a música religiosa tem-se enriquecido, graças à adoção de trechos profanos, cujo uso continuado os tem identificado tão plenamente com os usos litúrgicos, que no presente evocam nos fiéis ideias religiosas.
Estes fatos são importantes e devem ter mais valor do que nossas preferências pessoais na seleção da música a ser usada nas horas de culto tendendo sempre para maior objetividade.
Ao procurar os limites atuais entre a música apropriada e a que convém evitar, deparamos com as mais diversas opiniões e costumes. Alguns, talvez, para atrair o público, usam música popular e abrem as portas da igreja para qualquer melodia, sem se preocupar com o que isto possa significar para os crentes. Outros, pelo contrário, cerram as portas da igreja a tudo que lhes pareça mundano ou tenha origem secular, alegando que muitos dos trechos de música sacra baseiam-se em melodias profanas. Por fim, há os “indiferentes”, às vezes demasiado numerosos, que não percebem a importância da música.
Sugerimos uma posição flexível adaptada às condições de cada lugar. Esta posição se deduz da resposta dada a seguinte pergunta: Que evocará essa música nos fiéis? Formulamos esta pergunta por ser esta a função primordial da música religiosa – evocar pensamentos santos e elevados. Portanto, aceitaremos todos os trechos que nessa congregação e nesse momento determinado cumpram com o seu objetivo, e rejeitaremos as melodias e os ritmos mundanos e também as obras cuja execução distraia a atenção dos fiéis com a destreza do executante ou a novidade do instrumento.
Qual é a importância da origem de uma melodia? A importância da origem é muito relativa e provavelmente mínima, visto que a música profana atual evocará pensamentos inconvenientes e será rejeitada, enquanto as obras originalmente profanas, mas que os séculos têm incorporado a igreja serão aceitas, pois hoje evocam ideias religiosas. [1]
Nosso maior desejo é que os ministros e outras pessoas responsáveis tenham recebido alguma orientação na tarefa de escolher a melhor música para ser apresentada como oferta aceita ao Senhor.
Nota:
[1] Percebem a palavra “séculos”? Pensamos ser bastante arriscado aplicar este método de “se não evoca coisa ruim, tá bom”, para músicas muito recentes historicamente. Não há dúvida de que o popular, tão recente no tempo, irá causar sérios problemas de associação com o mundano em muitos membros da igreja. Mais uma vez perguntamos: por que não ficar no terreno seguro? Por que forçar o limite da aceitação do membro da igreja? (nota dos dos editores do Música Sacra e Adoração).
Fonte: Revista O Ministério Adventista maio – junho 1967, p.22.