Respostas a Questões Importantes Sobre a Música Sacra
por: Levi de Paula Tavares
Freqüentemente surge, mas mentes das pessoas preocupadas com o assunto, a questão com relação às escolhas musicais.
O erudito adventista, Dr. Samuele Bacchiocchi, escreve em seu livro (ainda não editado em português, mas disponível na Internet, com a permissão do autor) O Cristão e a Música Rock, pág. 161:“Quando a música é orientada no sentido de agradar ao eu, então a adoração reflete a elevação de nossa cultura das pessoas acima de Deus. A tendência hedonística de nossa cultura pode ser vista na popularidade crescente de várias formas de música rock usada para adoração na igreja, porque elas fornecem uma auto-satisfação fácil.”
Pessoas que se deparam com esta afirmação, se perguntam: Aonde fica o divisor de águas? Quem define o tipo de música que agrada ao eu, que fornece uma satisfação fácil?
Maior ainda é a perplexidade quando consideramos algumas letras de música do Hinário Adventista e suas melodias. Muitas delas são canções folclóricas. Sendo que folclore é o conjunto de tradições do povo, essas melodias são ou foram populares em seus países, e claro, se foram ou são populares, pode-se entender que “agradavam ao eu” das pessoas.
Alguns ainda dizem que os ritmos, entre eles o rock, jazz, e outros, surgiram à medida em que os tempos foram mudando, bem como todos os ritmos de épocas antigas, que também eram considerados revolucionários em suas épocas. Certamente ritmos como os descritos, irão caducar em algum tempo. Será que em algum tempo no futuro teremos ritmos que hoje são condenados em nossos hinários com letras modificadas como acontece hoje?
Para uma análise adequada, que nos forneça respostas corretas, devemos separar as questões. Temos no mínimo três grandes questões interligadas. Vamos analisa-las separadamente, começando com a mais importante:
1- Como definirmos se uma música é apropriada ou não para a adoração? Quem faz esta definição?
Como em qualquer outra área da vida cristã, existem princípios revelados na Bíblia e nos escritos de Ellen G. White a respeito da música apropriada para a adoração e para o evangelismo. Estes princípios foram estudados e condensados em um documento publicado pela Associação Geral denominado de “Filosofia Adventista de Música”. Além desta importante fonte de autoridade doutrinária, é minha opinião que, devido a profundidade e abrangência da obra, a tradução e divulgação via Internet do livro escrito pelo Dr. Samuele Bacchiocchi, com a colaboração de vários eruditos adventistas, é uma contribuição importante para fornecer maiores subsídios teológicos com respeito ao assunto da música sacra a todos aqueles que se envolvem com o assunto e se preocupam em fazer uma música que agrade a Deus. Recomendo a leitura atenta dos capítulos 6 (Uma Teologia Adventista da Música Na Igreja) e 7 (Princípios Bíblicos de Música).
É claro que é necessário um constante exercício de humildade e bom senso, para que as decisões tomadas com respeito a este assunto estejam de acordo com a vontade divina, uma vez que Ele deixou instruções a este respeito. A música sacra não é uma questão de gosto pessoal. A este respeito o Dr. Samuele Bacchiocchi escreve em seu livro O Cristão e a Música Rock, p. 162 “O número crescente de igrejas cristãs em geral e de igrejas adventistas em particular que estão adotando estilos de adoração contemporâneos, onde várias formas de música rock religiosa são executadas, sofrem de uma condição que pode ser chamada de ‘empobrecimento teológico’. A característica que define esta condição é a escolha de música com base estritamente no gosto pessoal e tendências culturais, em lugar de convicções teológicas claras.”
2- Existe realmente um tipo de música na igreja, que é usada durante o culto de adoração, mas que tem como objetivo a satisfação do “eu”, em vez da adoração a Deus?
Creio que podemos concluir, sem medo de equívocos, pela análise das músicas que ouvimos, perante a luz dos princípios revelados na Bíblia e nos escritos de Ellen G. White, bem como dos conceitos delineados na “Filosofia Adventista de Música“, que a resposta a esta pergunta só pode ser afirmativa.
Esta resposta está de acordo com o que lemos no livro Patriarcas e Profetas, p.594. “Que contraste entre o antigo costume, e os usos a que muitas vezes é a música hoje dedicada! Quantos empregam esse dom para exaltar o ‘eu’, em vez de usá-lo para glorificar a Deus! (…) Assim aquilo que é uma grande bênção quando devidamente usada, torna-se um dos mais bem sucedidos fatores pelos quais Satanás distrai a mente, do dever e da contemplação das coisas eternas.
A música faz parte do culto de Deus, nas cortes celestiais, e devemos esforçar-nos, em nossos cânticos de louvor, por nos aproximar tanto quanto possível da harmonia dos coros celestiais. (…) O cântico, como parte do culto, religioso, é um ato de adoração, tanto como a prece. O coração deve sentir o espírito do cântico, a fim de dar a esse a expressão correta” (ênfase acrescentada).
Obviamente, não estou afirmando que toda música apresentada seja deste tipo. Também vemos músicas inspiradoras, que realmente elevam os pensamentos dos adoradores aos céus. Mas este tipo de música verdadeiramente sacra está sendo sobrepujado a uma velocidade galopante por uma música menos voltada à adoração e mais voltada ao entretenimento. E existem sérias implicações espirituais envolvidas nesta tendência. Veja o parágrafo abaixo:
“Teologicamente, a noção de que a música é uma coisa neutra é negada pelo chamado cristão à santificação (I Tessalonicenses 5:23) – um chamado que abrange todos os aspectos da vida, inclusive a música. Santificação pressupõe uma separação do mundo, para ser colocado à parte e consagrado para o serviço de Deus. Tudo aquilo que é usado para o serviço de Deus é sagrado, isto é, posto à parte para uso santo. Isto é verdade não apenas na música, mas na linguagem também. A linguagem profana usada na rua é imprópria na igreja. Da mesma maneira, a música rock usada em bares ou boates para estimular as pessoas fisicamente, não pode ser usada na igreja para elevar as pessoas espiritualmente. De uma perspectiva bíblica, a mistura do sacro com o profano é uma abominação ao Senhor (Provérbios 15:8; 15:26; Isaías 1:13; Malaquias 2:11). (…)A música sacra reflete a majestade, a harmonia, a pureza, e a santidade de Deus em sua melodia, harmonia, ritmo, texto, e práticas de execução. Seu objetivo não é entreter ou chamar a atenção à habilidade do artista, mas glorificar a Deus e inspirar os crentes para se amoldarem à imagem de Deus. Isto também é verdade na música evangelística que enfoca Deus na graça salvadora de Deus e no seu poder transformador na vida de pecadores penitentes.” O Cristão e a Música Rock, pp. 303-304
Tendo visto que existem campos opostos nesta questão, cumpre-nos escolher estarmos sempre no campo em que Jesus está. Os princípios foram deixados para nossa iluminação, para que saibamos tomar decisões e fazer escolhas que estejam de acordo com a vontade divina. Em questões espirituais, não devemos nos preocupar com a “linha divisória”, mas em estarmos o mais firmemente possível no terreno que seja claramente divino. A busca de compromissos nas áreas espirituais não tem dado bons frutos, como podemos ver por toda a história relatada na Bíblia. Um exemplo disso foi a mistura do sacro com o profano e a conseqüente introdução da idolatria no antigo povo de Israel.
3 – Tudo o que a igreja oferece como material de louvor pode ser considerado como perfeito para o crescimento espiritual de todos os crentes, ou devemos usar das verdades reveladas a respeito deste assunto e de nosso bom senso como cristãos para avaliarmos a validade deste material?
Uma resposta íntima, pessoal, diante de Deus, a esta questão, deve ser dada de forma sincera, à luz dos princípios que já analisamos. Não me cabe responder esta questão por você, uma vez que cada pessoa é responsável, diante de Deus, pelas escolhas que faz e pelas decisões que toma. Que Deus te ilumine a tomar e manter as decisões corretas neste campo!
Para uma análise mais detalhada da utilização na adoração a Deus de músicas que originalmente não eram sacras, recomendo um artigo que escrevi há alguns anos, entitulado Letra e Música.
Em Cristo!
Levi de Paula Tavares