Música Durante a Oração?

por: Kenneth H. Wood [1]

Um ministro aposentado escreveu-nos acerca da “perturbadora” prática que, diz ele, “se está insinuando em nossos cultos”. O procedimento ao qual ele se refere é “oração e leitura da Bíblia, acompanhadas de música de órgão ou piano”. Pergunta: “Não estamos captando as notas do melodramático, que são características das estórias da ‘ópera-sabão’, que se apoderaram do rádio, e do ritual católico, que ninam o povo fazendo-o dormir, com seus apelos aos sentidos? Essa música impede nossas congregações de cultivar a arte do santo silêncio, da meditação, do exame próprio, tão essenciais ao crescimento espiritual”.

Vivemos num século de música. Há grande procura de discos de toda sorte. Vendem-se aos milhões. Os concertos atraem multidões. A música tornou-se popular mesmo nas fábricas, nos consultórios de dentistas e supermercados – onde é provida para aumentar a produção, melhorar a moral ou simplesmente para entreter. Há mesmo adolescentes que insistem em que precisam do impacto de berrante música do rádio para estudar bem!

Em face de tudo isto, provavelmente não é de surpreender que certos eclesiásticos apreciem a música suave no sábado durante a oração, ou enquanto se lê um trecho da Escritura. Acham que isso favorece a atmosfera e promove a reverência nos cultos de adoração.

Mas (e dizemo-lo embora amemos a música) dir-se-ia que, quando uma congregação ou um indivíduo está falando a Deus não deveriam prevalecer influências que desviassem a atenção. Todas as faculdades da mente deveriam enfocar-se na oração. O ser todo deveria concentrar-se em comungar com o Eterno.

E isso dificilmente é possível quando, nos fundos da igreja, se faz música, por suave que seja.

Uma Experiência Santa

Sugerindo que não haja música durante a oração, cremos estar reconhecendo a oração como o serviço sagrado que é. Que coisa solene, dirigir-se o homem mortal ao Deus imortal! Comungar a criatura com o Criador! Aquele que busca poder e sabedoria, falar com a Fonte de sabedoria e poder!

Durante essa santa conversação, poderá haver um fundo melhor do que o silêncio absoluto?

Alguns expoentes do pensamento religioso contemporâneo consideram a oração como simples questão de estética. Conquanto acreditem que a consciência de estar o homem falando com o Infinito tenha efeito saudável tanto sobre o corpo como sobre a mente, rejeitam a ideia de que um Deus pessoal ouça a oração e atenda conforme Ele haja por bem. Para eles o benefício da oração está meramente no efeito psicológico que possa ter sobre o indivíduo, o apresentar ele sua petição à “imagem paterna” de alguma espécie.

Para quem tenha este ponto de vista quanto à oração, não há dúvida de que a música suave é de considerável valor.

Mas, para nós que cremos que “a oração é o abrir do coração a Deus como a um amigo” (Ellen White, Caminho a Cristo, p. 93), será mesmo necessária a música durante a oração? Não é; antes pelo contrário, é “perturbadora”, como nosso missivista sugeriu.


Nota:

[1]Agradecemos à Loide Simon por esta contribuição ao Música Sacra e Adoração.