Um Espetáculo de Culto!
por: Elias Teixeira
Esses dias, uma senhora ligou para pedir oração por seus netos. Eles já estão na fase de adolescência e, agora, estão frios na igreja. Perderam por completo a vontade de ir aos cultos. O motivo? A falta de atração que prenda a atenção dos jovens nas reuniões. “Não há nada de atrativo que desperte a vontade deles de irem à igreja”, dizia ela.
Pensando nisso, algumas igrejas investem em programações e eventos na tentativa de manterem os jovens firmes. Sim, firmes na igreja. E na fé? A maneira como nossos jovens são instruídos em relação ao culto a Deus dentro do templo é que pode fazer a diferença.
Fui criado num tempo em que meus pais diziam que íamos à igreja para prestar culto a Deus, para oferecer-nos em louvor e gratidão pelo que fez por nós. Não íamos à igreja criando expectativas sobre quem seria o pregador, se era famoso ou não, se era daqueles que pregavam para multidões e agradava a todos por sua eloquência e capacidade de se comunicar.
Não íamos à igreja à espera de um bom conjunto musical para tocar e cantar, para ouvir um bom cantor dando um show de interpretação com suas expressões e trejeitos devidamente ensaiados. Íamos à igreja unicamente para louvar agradecer a Deus. E lá estava gente como a gente, mesmo cantando sem ritmo e desafinados até; a eles não era negada a oportunidade de testemunhar; não precisavam pedir desculpas ao público pela voz rouca ou pela microfonia; eu não ouvia ninguém julgá-los por isso. Íamos louvar a Deus, cada um apresentando-se como, de fato, era. Sem envergonhar-se da roupa que tinha, do carro estacionado à frente do templo; sem vergonha da comida oferecida aos irmãos, ao convidá-los para almoçarem juntos. “Os verdadeiros adoradores O adoram em espírito e em verdade”. Hoje o testemunhar no templo torna-se privilégio dos mais preparados; daqueles que tecnicamente não fariam vergonha a algum visitante convidado.
De algum modo, hoje cria-se estereótipos de como deve ser o pregador, que características e que recursos homiléticos deve empregar para tornar mais interessante o sermão. Isso acaba tornando outros indesejáveis, os que não desenvolvem o mesmo perfil e surgem as comparações sob o ponto de vista meramente técnico.
Em alguns momentos, percebe-se que os corredores das igrejas transformam-se em passarelas da moda, e seus púlpitos, palcos de apresentações espetaculares.
Certa vez fiquei impressionado com um de meus sobrinhos ao dizer-me numa noite: “tio, Jesus tá na Igreja”, com verbalização de criança de seus 2 anos e pouco de idade. “Tio, Zezus tá na Igueza”.
Ele referia-se a um irmão, de cabelos brancos, agradável com as crianças, de fala mansa, que vez por outra agradava aos meninos com uma bala de banana.
Se meu sobrinho via Jesus naquele irmão, certamente tinha ouvido falar que Jesus era bom, exatamente pelo modo como ele tratava as crianças. A primeira coisa que ele fazia ao chegar à igreja era procurar aquele irmão. Seus olhinhos brilhavam ao vê-lo.
A pergunta: a quem procuramos na Igreja? Que motivo maior nos leva ao templo que não a esperança de encontrar Jesus em cada irmão?
Nossos jovens estão diante da espetacularização de tudo, talvez para preencherem um espaço para o qual não há substituto. Chega certo ponto que nem o espetáculo agrada mais, precisam sempre de uma dose mais forte.
Há uma mentalidade que permeia a sociedade moderna de que colocando jovens para ocuparem lugares de destaque na liderança de grupos ou instituições estaríamos criando meios de atrair mais jovens para Cristo, principalmente os que adotam jeitos e trejeitos joviais, atuais, com linguagem secularizada e que saibam discutir sobre os assuntos mais eletrizantes possíveis.
Ao contrário, a orientação Bíblica é “buscar nas veredas antigas o caminho a seguir”. Ou seja, por mais jovialidade que tenhamos em nossas ações, ou por mais jovens que sejamos em nossos postos de atuação, as raízes fincadas por Deus não devem ser desprezadas, pois são eternas.
O risco que se corre no estilo secularizado é que, em vez de instruirmos os jovens e plantar nesses corações a semente da restauração do verdadeiro culto a Deus, ao contrário, fazemos coro para que continuem buscando satisfazer sua própria vontade. Mas o Apóstolo Paulo alerta: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento para que experimenteis qual seja a boa, santa e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:1-2).
Em tudo o que se faça para melhorar o culto a Deus, nada pode tomar o lugar da abnegação e entrega pessoal, para que Deus opere no coração a transformação necessária para que o importante não substitua o imprescindível; que o sagrado não substitua o santo e que o temporal não tome, em nossa vida, o lugar do que é eterno.
Fonte: Jornal Órion – Junho/2010 – Ano VI – Nº 59 – Página 2 – 2º Caderno