Ênfase e Efeitos da Música Religiosa
por: Pr. Gérson Jorge Quiles
Música é algo que está intrinsecamente ligado à vida humana. Ela está presente em todos os lugares e em quase todas as ocasiões da vida. Por isso, exerce uma influência muito grande sobre nós.
Dificilmente lembramos das palavras proferidas em ocasiões e ou por pessoas importantes, como por exemplo, as palavras do Pastor da Igreja no sermão do nosso batismo, discursos de formatura, etc. No entanto, com muita facilidade, nos lembramos das primeiras melodias que ouvimos e aprendemos, mesmo que remontem à infância. Isto é um pequeno exemplo do seu poder em nossa mente.
Há algumas que nos fazem chorar, rir, refletir, outras nos lembram pessoas, lugares, circunstâncias, e ainda há aquelas que conseguem despertar desejos. Sua influência é grande, a tal ponto de ser sentida também pelo mundo animal e vegetal, conforme alguns estudos tem demonstrado [1].
O próprio objetivo da música “é evocar sentimentos e traduzir emoções” [2], e para isto acontecer não é necessário que ela tenha uma letra, pois, por si só, desperta sentimentos e emoções. Notamos isso, quando vemos grande número de músicas instrumentais que fazem sucesso. A letra, na realidade, complementa a pauta musical, dando o toque do intelecto ao sentimento, e quando ambos se combinam bem, o resultado é algo marcante para os que ouvem.
Ela também ajuda no combate ao stress, a depressão, e outros males. A Bíblia se refere a esse poder calmante da música, quando cita a experiência de Saul, que era aliviado pela melodia de uma harpa [3].
No entanto, a música pode ser a causa de muitos males. Pode, por exemplo, seduzir, levando ao pecado CEGANDO o entendimento, como aconteceu com o povo de Israel no Jordão. Estavam prestes a entrar em Canaã, mas “iludidos pela música… romperam sua fidelidade para com Jeová” [4]. O seu poder é tão grande, que em alguns casos seu efeito pode ser hipnótico, como acontece com o Rock.
Mas, Que efeito possui a música religiosa sobre as pessoas? Qual é o seu poder e influência?
Nos escritos de Ellen White encontramos indicações do maravilhoso poder através do canto e da boa música:
- Poder para alegrar – “Assim como os filhos de Israel, jornadeando pelo deserto, suavizavam pela música de cânticos sagrados a sua viagem, Deus ordena a seus filhos que alegrem a sua vida peregrina” [5]
- Poder para “fixar Suas palavras na memória” [6]
- Poder “para subjugar as naturezas rudes e incultas” [7]
- Poder para “erguer os pensamentos a coisas altas e nobres, a inspirar e elevar a alma” [8]
- Poder para “suscitar pensamentos e despertar simpatia, para promover a harmonia de ação e banir a tristeza e os maus pressentimentos, os quais destroem o ânimo e debilitam o esforço” [9]
- Associada a oração e estudo da bíblia tem Poder para “banir os anjos maus” e “repelir o poder de Satanás”[10]
Por todas estas razões devemos sempre ter um cântico no coração. No entanto, também devemos admitir que as “músicas religiosas” ou “cristãs” são bem diferentes umas das outras, e algumas, até mesmo de natureza espiritual duvidosa, mas, certamente, aquela que agrada a Deus deve ter uma característica que a diferencie das demais que professamente são utilizadas para o louvor.
Assim como a Bíblia aponta as características do dom de profecia, falso e verdadeiro, do dia de descanso, falso e verdadeiro, do dom de línguas, falso e verdadeiro, também aponta as características do louvor, verdadeiro e espúrio, o que agrada a Deus, e o que não o agrada. Isto coloca o assunto da música no Cenário do Grande Conflito entre o bem e o mal, entre a adoração ao verdadeiro Deus e ao falso deus.
Ellen White afirma: “A Música faz parte do culto de Deus, nas cortes celestiais, e devemos esforçar-nos, em nossos cânticos de louvor, por nos aproximar tanto quanto possível da harmonia dos coros celestiais…” [11].
Aí está o diferencial do verdadeiro Louvor: “nos aproximar tanto quanto possível da harmonia dos coros celestiais”. Quando pensamos nisso, lembramos que Existe um número muito grande de músicas tão belas na sua composição, que se perpetuaram pelas décadas e séculos, e ainda hoje quando as ouvimos e cantamos, sentimos o seu poder de nos tocar lá no íntimo, muitas vezes produzindo um bem estar geral, nos aproximando de uma forma inigualável de Deus. Também existem as mais recentes, que produzem o mesmo efeito. Quando lembramos do que sentimos ao ouvir algo assim, podemos afirmar que o efeito da boa música, é o de nos fazer sentir o Céu bem perto de nós, e produzir um bem estar físico, mental e espiritual.
Por outro lado, há músicas “cristãs” que despertam em nós os mesmos sentimentos que uma música profana, cujo efeito, pode ser prejudicial. Hoje, podemos ouvir nas rádios evangélicas, músicas “cristãs” com estilos os mais diversos – sertanejo, samba, rock, etc. Muitas delas, estão misturadas com o estilo popular de nosso tempo, e são cantadas e tocadas abertamente e das mais diferentes maneiras em varias igrejas e rádios. Como definir este tipo de música? São músicas que combinam letra sacra com música profana e “Embora, às vezes, seja apresentada com o nome de Sacra Contemporânea, Música Jovem, Música Moderna, etc., etc., na realidade não passa de música popular que serve apenas para reviver a interpretação dos ídolos da música popular dentro da igreja, sem cogitar no que Deus pensa sobre o assunto” [12].
Embora se discuta muito isso, acredito que a melhor definição de Música sacra seja “Aquela que não se mistura com o popular, nem em estilo nem em composição”, pois, segundo a bíblia, “que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial” [13].
E quando analisamos a música cristã de hoje, percebemos que ela está fora do contexto de música sacra, pois há uma mistura de estilos que se manifestam em formas de interpretação, as mais irreverentes. A música cristã parece ter seguido o rumo da, “Globalização”, criando um Guarda Chuva sob o qual se aglomeram vários estilos profanos de música com o pretenso objetivo de louvar a Jesus. Hoje, já existe até o “Carnaval para Jesus”, e talvez tenha sido isto o que Ellen White viu em visão referente ao fim, e que a levou a escrever “As forças das agências satânicas misturam-se com o alarido e barulho, para ter um carnaval…” [14].
O problema é que muitas músicas não diferem em nada da maior parte das músicas populares que se vê por aí, além de teatralizarem o louvor a Deus. E muitos podem estar cantando e ouvindo, sem pensar que isto pode não estar sendo aceito por Deus, assim como a oferta de Caim, e sem pensar em seu efeito maléfico sobre a vida e a dos crentes em geral. Sem dúvida, o êxtase emocional experimentado por muitos adoradores em reuniões religiosas, os leva a pensar ser isso “operação do Espírito Santo” [15], e se torna um dos efeitos que podemos constatar.
Precisamos entender bem este assunto, pois a música, tal como é utilizada em nosso meio hoje, apresenta características populares, e por isso temos que ficar alertas. Dentre outras, existem duas características nas músicas cristãs que são acentuadamente profanas, e os efeitos decorrentes são maléficos:
1. Movimentos corporais – Pode parecer estranho para muitos, mas “a movimentação física no cantar é de pouco proveito” [16]. No entanto, esta característica está excessivamente presente nas apresentações musicais hoje em dia. Abrir os braços, levantar as mãos, virar o pescoço, são exemplos disso. Ainda podemos citar outras manifestações como bater palmas, pular e dançar. “Entre os anjos não há tais exibições musicais… gesticulações exageradas não são exibidas entre os componentes do coro angelical” [17].
2. Música estridente – Geralmente, se associa com gritos, Instrumentos eletrônicos, bateria e volume altíssimo de voz. Ocorre muito em grandes eventos musicais, como os “camp meetings”(reuniões campais). “Essa maneira de cantar é defeituosa, e não aceitável a Deus como acordes musicais perfeitos, suaves e melodiosos… O cântico deles (dos anjos), não irrita os ouvidos. É suave e melodioso” [18]. “o culto religioso deve ser elevado, solene e impressivo” [19], e a música estridente, bem como “qualquer coisa estranha e excêntrica no canto, diminui a seriedade e o caráter sagrado do culto” [20]. Além de tudo isso, é importante que saibamos que o fato de estarmos vendo essa característica nas músicas cristãs hoje, é um forte indicio do fim. “As coisas que descrevestes… o Senhor revelou-me que haviam de ter lugar imediatamente antes da terminação da graça. Demonstrar-se-á tudo quanto é estranho. Haverá gritos com tambores, música e dança” [21].
A ênfase que a música tem no meio cristão hoje, também deve ser considerada. Existem muito mais solistas, do que quartetos, conjuntos e corais. Se fizermos uma visita a uma loja evangélica, facilmente perceberemos que há muito mais material musical para solistas. Se visitarmos várias igrejas, poderemos notar que nos cultos regulares, existem mais solos do que músicas coletivas. O problema de haver muita ênfase em músicas solo, é que exalta muito o indivíduo, e o individualismo, e pode levá-lo a jactância e ao estrelismo. “Quantos empregam este dom (a música) para exaltar o eu, em vez de usá-lo para glorificar a Deus!” [22]. “Em geral” a música sacra deve ser praticada “por todos; raramente por uns poucos ou por um só” [23]. Quando a Bíblia fala da música celestial, ela fala de uma “multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus” [24], e que “as estrelas da alva JUNTAS alegremente cantavam…” [25]. Além disso, quando procuramos desenvolver na igreja corais ou grupos musicais, ajudamos a promover o companheirismo, a fraternidade, a integração e a união dos membros, alem do desenvolvimento musical na igreja.
Hoje notamos também uma grande ênfase em programas musicais. Muitas vezes, estes programas, têm tomado o lugar do culto evangelístico, não permitindo mais espaço para o estudo da palavra e o testemunho. Não há problemas em termos programas dessa natureza, mas a ênfase deve mudar. “As formas, cerimônias e realizações musicais não são a força da igreja. No entanto, estas coisas tomaram o lugar que deveria ser dado a Deus…” [26].
Devemos buscar a orientação de Deus, antes de darmos ouvidos a tendência cristã moderna, de unificar estilos mundanos de cantar e de tocar, para louvar ao Senhor. Em nome do puro Louvor, “fogo estranho” tem sido colocado sobre o altar, e o efeito disso pode estar sendo uma adoração defeituosa, irreverente, bem como uma ênfase equivocada que não pode obter a aprovação de Deus. Devemos nos consagrar antes de apresentar uma música a Deus. “A música só é aceitável a Deus quando o coração é consagrado, e enternecido e santificado por sua docilidade.” [27].
Que Deus nos permita através desta consagração obtermos o privilégio de “Naquele dia”, nos unirmos aos coros celestiais em louvor a Deus para todo o Sempre. “Aprendamos o cântico dos anjos agora, para que o possamos entoar quando nos unirmos a suas fileiras resplendentes” [28]
Pr. Gérson Jorge Quiles é Distrital de Cidade Jardim Cumbica – São Paulo
Notas:
[01] Dario Pires de Araújo, Música Adventistmo e Eternidade, 28 (voltar)
[02] Samuel Archanjo, Lições Elementares de Teoria Musical, 16 (voltar)
[03] Bíblia Sagrada, I Samuel 16:14-23 (voltar)
[04] Ellen White, Patriarcas e Profetas, 479 (voltar)
[05] Ellen White, Mensagens aos Jovens, 291 (voltar)
[06] Idem (voltar)
[07] Idem (voltar)
[08] Idem (voltar)
[09] Ellen White, Mensagens aos Jovens, 292 (voltar)
[10] Ellen White, Meditações Matinais 2002, 243 (voltar)
[11] Ellen White, Patriarcas e Profetas, 637 (voltar)
[12] Dario Pires de Araújo, Música, Adventismo e Eternidade, 32 (voltar)
[13] Bíblia Sagrada, II Coríntios 6:13 e 14 (voltar)
[14] Ellen White, Mensagens Escolhidas, Volume 2, 37 (voltar)
[15] Idem (voltar)
[16] Ellen White, Evangelismo, 512 (voltar)
[17] Idem (voltar)
[18] Idem (voltar)
[19] Ellen White, Mensagens Escolhidas, Volume 3, 333 (voltar)
[20] Idem (voltar)
[21] Ellen White, Mensagens Escolhidas, Volume 2, 36 (voltar)
[22] Ellen White, Mensagens aos Jovens, 293 (voltar)
[23] Dario Pires de Araújo, Música, Adventismo e Eternidade, 41 (voltar)
[24] Bíblia Sagrada, São Lucas 2:13 e 14 (voltar)
[25] Idem, Jó 38:7 (voltar)
[26] Ellen White, Evangelismo, 512 (voltar)
[27] Idem (voltar)
[28] Ellen White, Patriarcas e Profetas, 289 (voltar)