A Dualidade Divina para a Música e Adoração
por: Adrian Theodor
Inicio minhas considerações com uma pergunta: Qual a função da música dentro da igreja? Adoração? Culto a Deus? Entretenimento? Elemento para passar o tempo entre os anúncios e o culto?
Responder a essas inquietações, na minha modesta opinião, parece ser central quando o assunto é música na igreja! Se a música for para a adoração e culto ao Altíssimo, deve possuir elementos para tal função. Se a música serve para entretenimento e simples fruição do tempo, os elementos são, obviamente, completamente diversos. Para o primeiro uso, a música seguirá princípios revelados nas Escrituras e no Espírito de Profecia[1] ; buscando ao máximo os desígnios de Deus para a elevação espiritual dos participantes e ouvintes. Já, para o segundo uso, o do entretenimento, será orientada pela vontade do homem e seus desejos momentâneos.
Estabeleci, nestes primeiros parágrafos, uma dicotomia. Partindo do princípio de que a música tem várias (ou simplesmente duas) possibilidades de utilização, pode-se determinar qual desses usos é o apropriado para o recinto sagrado. Se apontarmos um desses tipos como o adequado para o templo, mas nos utilizarmos de qualquer outro, a dicotomia se transforma em paradoxo, e é justamente esse o cuidado a ser tomado.
Essa dualidade não foi inventada por mim, ao acaso, mas foi apresentada pelo próprio Deus, no livro de Gênesis, ao registrar, para nossa edificação, a história de dois irmãos: Caim e Abel[2] . Nós já conhecemos a história desses irmãos (Gênesis 4:3-5). Deus pede uma oferta, um deles oferece exatamente o pedido do Criador, o outro, seguindo seu próprio coração, oferece oferta indigna. Ele ofereceu seu melhor! Seu melhor dom e sua melhor safra, todavia não atendeu aos desígnios de Jeová!
Está aí, mais uma vez, o ponto central sobre a música em solo sagrado! Devemos, contrariando o hedonismo, o humanismo, os individualismos, os “ismos” contemporâneos, oferecer a Deus um culto digno! Seja através da pregação, seja em oração, seja durante a nossa comunhão, ou seja pela música, tudo, TUDO, deve ser oferecido ao Senhor como foi o sacrifício de Abel!
É possível perceber, por esta linha de pensamento, que a base desta questão não é técnica, do ponto de vista musical. Antes de tudo, é uma questão teológica que envolve nosso conceito da divindade, do próprio Deus. Mais do que isso. Notamos que o ato da adoração em si não é erigido por regras (ou pelo simplório “certo X errado”), porém sim composto de princípios, como será posto a seguir.
“Mas – o leitor desatento poderia me interromper – a bíblia não me apresenta nada sobre ritmo, notas musicais, melodias, ou som adequados!” Sim, é fato! Contudo isto não quer dizer que somos deixados sem uma direção neste sentido, pois a Bíblia nos dá princípios claros sobre nossa relação com Deus! Gostaria de citar alguns textos bíblicos os quais podem deixar uma luz sobre esse ponto:
Filipenses 4:8 “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.”
I Coríntios 10:31 “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais, qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.”
II Coríntios 6:14-18 “Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos; pois que sociedade tem a justiça com a injustiça? ou que comunhão tem a luz com as trevas? Que harmonia há entre Cristo e Belial? ou que parte tem o crente com o incrédulo? E que consenso tem o santuário de Deus com ídolos? Pois nós somos santuário de Deus vivo, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Pelo que, saí vós do meio deles e separai-vos, diz o Senhor; e não toqueis coisa imunda, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso.”
I João 2.15 “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele.”
I João 2:5-6 “mas qualquer que guarda a sua palavra, nele realmente se tem aperfeiçoado o amor de Deus. E nisto sabemos que estamos nele; aquele que diz estar nele, também deve andar como ele andou.”
Mateus 15:8 “Este povo honra-me com os lábios; e o seu coração, porém, está longe de mim”
I Coríntios 3:16-17 “Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá;”
I Coríntios 6:19-20 “Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo.”
Provérbios 4:23 “Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.”
Mateus 15:18-20 “Mas o que sai da boca procede do coração; e é isso o que contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos, isso não o contamina.”
I Pedro 1:14-16 “Como filhos obedientes, não vos conformeis às concupiscências que antes tínheis na vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento; porquanto está escrito: Sereis santos, porque eu sou santo.”
Levítico 20:26 “E sereis para mim santos; porque eu, o Senhor, sou Santo, e vos separei dos povos, para serdes meus.”
Tiago 4:4 “Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.”
Romanos 14:23 “Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque o que faz não provém da fé; e tudo o que não provém da fé é pecado.”
Devo ressaltar, ainda, que o prazer não pode ser excluído da adoração. Para cumprir sua função planejada, o canto deve expressar gozo, alegria, e ação de graças: “Cantai ao Senhor com ações de graças” (Salmos 147:7). “Eu também te louvo com a lira, celebro a tua verdade, ó meu Deus; cantar-te-ei salmos na harpa, ó Santo de Israel. Os meus lábios exultarão quando eu te salmodiar; também exultará a minha alma, que remiste” (Salmos 71:22-23). Mas este prazer, sem sombra de dúvida, é muito diferente dos prazeres mundanos incitados pelas músicas de entretenimento.
Concluo o raciocínio com outra pergunta: “Como deve ser a música na igreja?”. Deve ser na medida, se não exata, o mais próxima possível daquilo que adora a Deus com dignidade! Uma música capaz de nos emocionar racionalmente (conforme Romanos 12:1 e 2). Uma música com o devido equilíbrio entre os elementos melódicos, harmônicos e rítmicos; de forma que a melodia (aquela que conduz a palavra) seja dominante. Uma música com melodia capaz de envolver o ouvinte, não emocionalmente, mas de forma a faze-lo pensar no amor infinito de Deus (melodia que consiga iniciar um processo de “novidade de vida”, de transformação duradoura, uma semente em solo fértil)! Com ritmo que propicie adoração e não a pura cadência dos corpos. Com volume que ocasione paz e tranqüilidade, ao invés de algo que nos ensurdeça e nos irrite os ouvidos e o corpo. Não podemos nos esquecer que nossos corpos são o ‘templo do Espírito Santo’ (I Coríntios 6:19). Certamente esse texto se aplica também a esse ponto: devemos ser bons mordomos de nossos tímpanos, também.
Um grande abraço em Cristo!
Notas:
[1] Os Adventistas do Sétimo Dia consideram como “Espírito de Profecia” os escritos deixados por Ellen G. White. Podemos dizer que se faz uma alusão a Apocalipse 19:10: “Então me lancei a seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: Olha, não faças tal: sou conservo teu e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus; adora a Deus; pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia“.
[2] Ao apresentar esse exemplo sigo um caminho já trilhado por Flávio Garcia, em uma palestra por ele ministrada à Associação Coral Adventista de São Paulo (ACASP).