Cultura, Música e Princípios do Reino de Deus
por: Por Valdeci Júnior e Marcos Alves
Cultura é o conjunto de padrões de comportamento, ideias e conhecimentos peculiares a um dado grupo social. Produto da ação criadora dos membros de uma sociedade.
Estes valores podem ser identificados local, étnica, lingüística ou geneticamente e têm como linha de transmissão, segundo Herdkovits, a família, os companheiros de trabalho, os professores, o esporte, a igreja, a escola, etc., sempre preservando a tradição do Patrimônio Cultural.
Um Patrimônio Cultural é composto de Fatores Culturais que determinarão o Padrão Cultural de uma sociedade somente através de seu inter-relacionamento. Esses Fatores Culturais podem ser, mitos, lendas, canções, folclore, costumes, crenças religiosas, sistemas jurídicos e outros valores éticos que refletem o conjunto de ideias que os homens dizem e fazem, bem como as formas de agir, pensar e sentir de um povo.
Não existe cultura mais importante ou menos importante, mas o Padrão Cultural é o determinante que indica o nível cultural dentro de uma escala do desenvolvimento das faculdades intelectuais do conhecimento.
A música também passa por um processo evolutivo. “Para os povos primitivos, a música representa a existência de umas forças misteriosas que, ao penetrar no homem, o converte em um ser superior.” Isto se dá nas origens das mais diferentes civilizações como a China, Austrália, América do Sul, etc.
A evolução musical pode começar a partir de expressões místicas relacionadas a espiritualismo e lendas passando por estágios crescentes como primeiramente gritos, depois batidas, seguindo-se de ritmos, sons, palavras sonorizadas, melodias, harmonias, etc., até chegar às músicas quase perfeitas que conhecemos. A estas determinamos ser a arte de expressar os mais profundos anseios da alma através do som.
Paralela a esta temos a evolução dos instrumentos musicais como objetos de madeira, metal, caixas de ressonância, tambores, até chegar a instrumentos de corda de mais alto nível como o piano, harpa, etc.
Se a música é a expressão dos “anseios da alma”, quando o povo canta, está expressando o que sente, o que pensa e o que é. Logo a música é um dos mais fortes expressivos da culturaa de uma sociedade. Esta é a explicação para a diversificação dos estilos musicais no mundo segundo a música em suas diferentes culturas.
Se música é o reflexo da sociedade, acompanhando a maneira de expressão cultural através da música na história, poderíamos dizer que o mundo cresceu em seus valores e hoje se encontra em um processo de regressão. Veja que o nível do padrão cultural pode ser facilmente espelhado segundo a música e seus instrumentos utilizados. Para uma exemplificação, comparemos a natureza musical de diferentes nações.
A música produzida na ex-União Soviética se reveste do academicismo que propunha o estado soviético, porém se admitem e praticam certas audácias (mais bem politonais ou de dissonâncias percursivas incluídas na tonalidade), como no estilo de Serge Prokofiev (1891-1953). O músico soviético por outro lado tem à sua disposição um fator rítmico que lhe permite trabalhar com certa indiferença pela estrutura diatónico-cromática dos baixos.
Nas diversas nações centroeuropéias a influência do atonalismo tem sido contrastada pelo vigor rítmico e a força folclórica de Bela Bartok, sofrendo, por último, uma influência jazziana.
Nesses diferentes países como Checoslováquia, Polônia, Romênia, etc., encontramos esta força folclórica bastante expressa através de óperas, cantatas, corais, orquestras filarmônicas, obras sinfônicas e grandes concertos.
Música nos países do norte europeu – Destacam-se as óperas, sinfonias e músicas de fundo para cine, oratórios, etc., cujo estilo alia um postromanticismo pessoal a uma modernidade refinada e profunda.
Na Inglaterra, a elaboração sinfonista da matéria folclórica já fora levada a um grau de perfeição e refinamento notáveis por Eduard Elgar. E acham-se em destaque as sinfonias, os concertos, a música religiosa e de câmara, bem como as óperas e músicas de fundo para grandes filmes como os shakesperianos.
Também se encontram sinfonias, obras de câmara, corais, cantatas edênicas, orquestras, óperas, ballets, estilos atonais livres e concertos para piano e vários quartetos de corda.
Existem ali os conservadores do duodecafonismo, e outros que buscam novas vias com maior liberdade apresentando óperas sensacionalistas, e outras formas de obras sinfônicas diversas e ballets.
A França é um país da maior importância no panorama da música do século XX.
Encontramos ali dramatismos sinfônicos, exosticismos, jazz e polifonia acompanhados de forças imaginativas, inquietude e apegos, no fundo, a certos valores de tradição. Existem também óperas, concertos e outras obras sinfônicas, músicas para filmes, corais, e gamas exóticas revalorizadoras do órgão do piano e da importância teórica.
Desde o uso do coro no emprego do folclore marcado pelas conseqüências pós-guerra, das orquestras e trabalhos para fundo de cinema, até as tendências mais vanguardistas, músicas aleatórias e outras modalidades experimentais.
Tem como símbolo o cavaquinho.
Quando grandes músicos começaram a americanizar-se a influência do Jazz já se havia amadurecido, pois esta categoria musical vinha tendo suas raízes construídas desde o século dezesseis e já se tornara um certo tipo de base da cultura musical americana.
De 31 para cá a música americana dá início a novos territórios sonoros com Ionização. Composições revolucionárias que ortogam o pleno predomínio do timbre e do ritmo, registros de ruídos, usa instrumentos extremos orientais, eletrônicos, de madeira e de metal que facilitam sons deformados e novos, surpreendentes.
Isto contribuiu para a adoção de um dos mais importantes tipos de música americana exportado para todo o mundo hoje, a saber o Rock, tendo como principais instrumentos; guitarra, contrabaixo, bateria e teclados sintetizadores.
Apresenta de tudo um pouco trazendo uma gama muito grande de característica mistura .
Para descrever os instrumentos da nossa cultura, Ernesto Veiga de Oliveira, em sua obra descreve o uso e origem os instrumentos musicais dos Açores. Ele classifica estes instrumentos como lúdicos (Viola e suas diferentes classificações, rebeca, violão, banjolim, bandola, bandolim, cavaquim, clarinetes, gaita) e cerimoniais (tambores, pandeiros, testos, chim-chins) que hoje são expressos por meio do carnaval, e os relaciona conosco dizendo que não somente os instrumentos e o mundo musical dos Açores são os mesmos da nossa tradição, mas mesmo que o seu contexto geral mais significativo é também idêntico àquele que definimos entre nós. Certo músico declarou que muitos de sua área são unânimes em aceitar que nosso instrumento principal é o tambor. Isto demonstra que estamos, como povo brasileiro, em um estágio de valor musical onde o ritmo é o que fala mais alto através do samba ou do pagode, ou vivemos o seu contraste por meio da melancólica nostalgia transmitida pela bossa nova. Em outras palavras, estamos muito aquém do topo da escada de evolução musical. Lembre-se que a música de um povo reflete suas ideias. Uma prova do nosso gosto musical está nos CDs mais vendidos em 1998, por exemplo, que foram de Leandro e Leonardo, do Padre Marcelo e do grupo “Só Pra Contrariar”, respectivamente. Em cada cd, o ponto de venda não foi seu tema, mas sim sua música mais ritmada. No CD “Um sonhador”, a música “Comadre e compadre”, no CD do SPC, a música “O Mineirinho”. Será isto o que o povo brasileiro gosta, absorve, pensa e é.
Nos últimos anos, podemos perceber a descaracterização local, étnica, genérica, ou lingüística isoladas da cultura dos povos sendo substituída pela massificação conseqüente da globalização. Os sociólogos determinam isto como tansculturação, que consiste na troca recíproca dos valores culturais pelo contato de culturas onde ao mesmo tempo as sociedades são doadoras e receptoras. As maiores máquinas desta “indústria de cultura mundial” são os veículos de comunicação como jornal, rádio, televisão, Web, etc.
Olhando sob o prisma do Nacionalismo Musical, ao se falar das Escolas Nacionais, é evidente que, em um mundo diminuído pela velocidade e pela informação, a tendência à fusão é cada vez maior.
São muitos os atributos de que a música se vale para se transculturar, mas gostaríamos de destacar um grande instrumento deste fenômeno, o estilo musical jazz.
“O Jazz é eminente das work songs, dance songs, spirituas e dos hollers” (fragmentos meio gritados, meio cantados de que os braçais serviam-se para comunicar-se e entrar em relação emocional, que mais tarde contribuiu para a origem do Rock in Roll). “É a canção do século XX” e está presente em bailes, canções modernas e até nas músicas sinfônicas” e gospels, pelas mais variadas localidades do mundo como por todo o continente europeu e americano. “Em sua mais ampla acepção, o jazz está em todas as músicas afroamericanas”.
Como características peculiares o jazz apresenta improvisação, blue notes, exaltação do ritmo mais que a letra, e outros.
“A improvisação e o dom rítmico são, possivelmente, junto com o calor “hot” e a qualidade “swing”, os fatores mais profundamente negros da música do Jazz e a dão um feitio característico”.
“Blues notes” se consiste na queda de um semitom no terceiro e no sétimo graus de uma escala maior. Exemplo: em uma escala natural de Dó maior fazer o uso de Mi e Si bemóis. “Esta alteração das notas reduz o valor estritamente tonal da escala”. “Estas quedas cromáticas são chamadas de antonomásia na forma blues, mas também nos spirituas e em outras formas musicais afroamericanas” em que elas aparecem.
Outra característica mundial do uso da música secular é que faz parte de praticamente todas as culturas a apresentação dos números por artistas que interpretam cantando ou tocando assistidos por ouvintes que apenas os prestigiam, mas não participam do serviço musical.
Isto condiciona as maneiras de pensar, pois a música é uma forma psicológica não neutra. As pessoas sempre estarão cantando para dentro ou para fora, ou seja, se ao cantar não estou expressando sentimentos meus, estarei então inserindo em mim pensamentos que a música em si transmite. Este é um fato que faz com que a transculturação através da música tenha resultados que não podem ser medidos.
Talvez seja por conseqüência disto que as músicas quase sempre são feitas ou apresentadas para um objetivo e não por um objetivo .
Em primeiro lugar, devemos fazer lembrar que na eternidade, tanto antes da queda do homem, quanto depois de sua restauração, o reino dos céus é um lugar de perfeição. Se é um lugar de perfeição seus padrões éticos e costumes podem e devem servir-nos de exemplo.
Conscientes de que a música expressa Padrões Culturais, ao observarmos as formas de execução das músicas do céu, podemos, de longe, imaginar o nível cultural que devemos procurar imitar.
Outras duas razões para tomarmos a música do céu como modelo, é que, a “música tem sua origem no céu”, e o homem foi criado para viver em um ambiente semelhante .
E esta música tem como características o coral, o louvor, a alegria, a felicidade, a doçura, a harmonia, a melodia, a glorificação de Deus, a gratidão, a espontaneidade, a regozijo, o triunfo, o a presença de acordes, a riqueza e a perfeição musicais e a ordem.
Vale a pena comentar algumas destas características.
Em praticamente todas as citações de música executadas no céu não existe uma apresentação dos números por artistas que interpretam cantando ou tocando assistidos por ouvintes que apenas os prestigiam, mas não participam do serviço musical. Pelo contrário, são os redimidos que cantam. Todos cantam e tocam sem a presença de improvisos ou melancolia, pois nota-se habilidade, ordem, preparo e alegria. “Do mesmo modo os anjos trouxeram as harpas, e Jesus apresentou-a também aos santos. Os anjos dirigentes desferiram em primeiro lugar o tom, e então todas as vozes se alçaram, em louvor grato e feliz, e todas as mãos habilmente deslizaram sobre as cordas da harpa, emanando uma música melodiosa, com acordes abundantes e perfeitos”.
Quanto aos instrumentos utilizados vemos a música do céu sobre o topo da ordem musical, pois o instrumento mais usado que podemos ver nas referências é a harpa . Em contraste a isto não encontramos referências a uso de instrumentos de percussão algum.
O tipo de som emitido nas canções é constantemente descrito como melodioso , harmonioso, e com acordes. Melodioso nos indica ser agradável aos ouvidos, suave, com uma série de sons que resulta um canto regular, agradável e harmonioso. Harmonioso destituí a possibilidade de atonação, característica inexistente nas descrições da música no céu. Este aspecto de desafinação através de semitons contrasta com o dito dos “acordes perfeitos” tocados pelos remidos. Segundo os peritos e os dicionários um acorde perfeito deve ser definido como afinado e concordado. Uma sonoridade resultante da união coordenada e simultânea de dois ou mais sons. Um conjunto perfeito e harmonioso; que está de acordo.
As melodias celestes entram em choque com as músicas dos nossos dias que são feitas ou apresentadas para um objetivo e não por um objetivo. Praticamente, sempre que presenciamos seus relatos elas partem de um motivo. Como por exemplo, no ministério dos anjos: “…se, porém, os santos fixavam os olhares no prêmio que diante deles estava e glorificavam a Deus, louvando-o, então os anjos levavam as alegres novas à cidade o os outros que ali estavam tocavam suas harpas de ouro e cantavam em alta voz…”.
Como cristãos vivemos em um paradoxo. Somos emergentes de alguma cultura deste planeta que logicamente deixa muito a desejar se colocada em comparação com aquela que almejamos um dia alcançar no céu. Vivemos no mundo. As mais simples coisas que fazemos como comer, andar, vestir e falar, em seu modo refletem a nossa cultura.
As músicas evangélicas também sofrem esta influência. Algumas vistas como pertencentes a um estilo mais conservador, como por exemplo, A quiet place, de Ralph Richard Carmichael, caracterizada por sua marcação jazziana ou He Touched Me de Willian J. Gaither com o aspecto blue-note, também do jazz. Além do jazz, em nossa hinodia há canções que, se originaram de estilos Negro Spiritual, Country, Rock, etc ,.
Outras mais liberais como a grande quantidade de Gospels Musics em que o ritmo corre o risco de se destacar demais em relação à letra e à própria melodia. Ou mesmo alguns Negro Spirituals acompanhados de sons que possuem mais parecidos com manifestações gritantes do que com uma caracterizada melodia . E que diremos das maneiras: como são feitos os serviços de cânticos, como são realizadas as apresentações e de que modo e quais instrumentos musicais são executados?
É certo que nem toda a música que necessitamos cantar aqui será própria para ser cantada no céu. Mas até onde vai o equilíbrio de sermos cultos cidadãos da terra e do Céu ao mesmo tempo? Se queremos esquecer das coisas que para trás ficam e prosseguir para o alvo, devemos estabelecer como padrão, o alvo.
Somos nós que determinaremos o que irá pesar mais na balança de acordo com o valor que atribuirmos às coisas. Deus aprova nossos costumes uma vez que sigamos o conselho dado através de Paulo: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” . Estas são ferramentas de origem celeste que devemos usar para talhar nossas músicas. Uma vez que observarmos os diferentes aspectos das canções que usamos, como ritmo, harmonia, melodia, instrumentos, maneira de interpretação, acordes, etc., e deixarmos que suas influencias seculares sejam moldadas e substituídas pelas celestes estaremos em conformidade com o padrão que devemos ter: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais, qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus” . Se é Ele o dono do céu, um lugar que almejamos, é Ele quem deve ditar as regras.
Se a música espelha o Padrão Cultural, nossa expressão do Reino dos Céus através do canto se dará à proporção da adoção de seus Fatores Culturais em nossa vida.
Se não a temos, sejamos receptores da transculturação entre a nossa cultura e a do céu ao selecionarmos músicas que consigam inserir em nós os seus atributos culturais.
Referências/Bibliografia:
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Idem.
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