Os Cuidados com a Música na Igreja
por: Rev. Adalgiso do Vale
O mundo inteiro gira imerso em sons. Há música no vento, no ritmo da vida, nas cidades nos campos. Há enorme beleza nos sons da vida. Na sepultura não há sonoridade. No túmulo paira o silêncio mortal. Som é vida.
O homem é uma unidade que não consiste de partes independentes. Para ministrar ao homem, a igreja precisa se preocupar com a sua totalidade. A Igreja nasceu num momento de êxtase no Pentecostes. Seus mais antigos documentos fazem referência ao uso de música na vida comunitária. A primeira fase do crescimento da música na Igreja teve início com o final das perseguições e terminou com o papado de Gregório I quando o Imperador Constantino assegurou tolerância ao cristianismo. Iniciaram-se então as grandes construções de templos e basílicas e foi natural a tendência de obter uma música cada vez mais elaborada. No final do séc. XIV, a decadência da Igreja trouxe uma decadência em toda a música. A esta altura, os coros eram compostos apenas por homens e meninos. As vozes femininas nem mesmo poderiam ser ouvidas no canto da liturgia.
Com a Reforma, o coro cede lugar à congregação. Não que Lutero assim pretendesse, pois era músico e queria preservar as formas corais conhecidas, relacionando-as com o canto congregacional. No espírito reformista, duas correntes aparecem: os luteranos que usavam qualquer melodia popular com textos sacros; por outro lado, os calvinistas que seguindo os passos de Zwinglio destruíram órgãos, queimaram manuscritos para expurgar a música de qualquer aspecto secular. Somente o que foi inspirado por Deus, isto é, os Salmos, pode ser usado para o louvor de Deus, era o lema calvinista.
Foi no período barroco que a música alcançou dentro da igreja seu ponto mais alto, principalmente devido a J.S. Bach. Nela encontramos o secular dominado pela expressão religiosa, o popular tratado com sobriedade. Bach era um músico e protestante sério e isto o levou a ser profundo conhecedor da Bíblia e da Teologia. Nesta época, as mulheres foram admitidas nos corais. Bach foi repreendido certa vez por ter convidado uma donzela a participar no coro sob a alegação de que a mulher, no coro, servia de distração para a congregação.
No final do séc. XVIII o Iluminismo (racionalismo) dominou todas as esferas da vida inclusive a Igreja. Foi uma revolta contra a religião sobrenatural e a Igreja, em favor de uma religião natural, contra a metafísica em favor do bom senso e liberdade para o indivíduo. Com a morte de Bach a música na igreja tornou-se cada vez menos distinta da secular. Seguiu-se o período chamado de Romantismo, onde a razão cedeu lugar à emoção. O sentimento foi supervalorizado e com todas as manifestações artísticas e religiosas. No Brasil, se por um lado herdamos suas virtudes, por outro lado, herdamos seus problemas.
O Princípio. (Jó 38.4-7)
Deus aprova a música da criação (Salmos 98.7-8; 103.22) e de todos os habitantes da terra (Salmos 66.1-4).
A música é arte, mas também é dom. “Calvino – todas as artes procedem de Deus”. A Bíblia faz apenas 4 menções da Ceia, mas quando fala de música é diferente – 550 referências.
Os pioneiros na terra (Gênesis 4.20-22) – um fazendeiro (Jabal); um ferramenteiro (Tubalcaim) e um músico (Jubal).
A música no VT.
Quando elogiamos a esposa e filhos estamos dando valor a algo positivo que vemos neles e comunicamos com palavras e ações. Louvor significa reconhecer as virtudes de Deus. Adorar a Deus é atribuir a Ele o maior valor, pois é digno (Salmos 145.1-3; 147.1). Moisés na ação de graças a Deus canta pela vitória (Êxodo 15.1-2). Mais tarde o rei Davi ao passar o trono ao filho, recomenda que dos levitas (38 mil) 4 mil sejam escolhidos cantores no futuro templo, acompanhados de 3 instrumentos básicos: cordas, sopro e percussão (I Crônicas 23.5; 25.7).
Aqui aprendemos uma lição: Quer na música ou qualquer área da vida, Deus jamais nos autoriza a fazermos o que bem entendemos. O serviço que lhe devemos prestar é o que estabeleceu – a forma, estrutura, conteúdo e propósito. O som musical deve estar associado ao senso da presença de Deus (II Crônicas 5.13-14).
A música no NT.
O nascimento de Jesus foi anunciado por uma explosão de cânticos angelicais. Desde então a fé cristã tem sido expressa com música sem correspondente em qualquer outra religião. Os crentes se reuniam festivamente (agape) e no final cantavam (Marcos 14.26). Paulo e Silas (Atos 16.25); A instrução de Paulo (Colossenses 3.16) e sugestão de Tiago (5.13).
Adoração e cântico não eram mais o ministério dos levitas profissionais; agora é congregacional, mais livre e participativo. É o verdadeiro coração do programa de música da igreja. É para ser feito pelas pessoas e não para as pessoas. É o elo que liga a mente, coração e voz numa expressão de adoração a Deus.
A NOSSA CONSTANTE PREOCUPAÇÃO
1. Não basta a correção da letra, mas melodia ou ritmo também. O tipo de música que selecionamos e o modo como nós a usamos torna-se para aqueles que nos ouvem nossa música, numa demonstração de nosso conceito de Deus e nossa espiritualidade. Não existe música sacra e profana. Existe é música profanada, adulterada (joio-trigo). O próprio Deus é o originador da música, o diabo é o imitador. O diabo apenas a usa para seu propósito destruidor. (Êxodo 32.17-18, 35). (Amós 5.21-23). Há muita música no céu, no inferno não. (Apocalipse 5.9)
2. A minha preocupação é saber o poder que a música exerce, pois tem uma grande influência, principalmente na vida dos jovens. A Banda Gospel é um disfarce da Banda Rock que tem invadido as igrejas, com a finalidade de incutir na mente dos jovens princípios de rebelião contra Deus. A movimentação corporal e o som intenso estimulam a sensualidade imoral.
A grande preocupação:
a) Que a música pop gospel band promova o mundanismo. Os jovens deveriam levar ao mundo e não trazer este estilo de música para dentro da igreja. A música gospel tem por objetivo agradar acomodando os jovens nas igrejas e explorar um mercado que cresce cada dia. O Evangelho tem o objetivo de salvar os jovens que estão ainda sem Cristo. Tal música disfarçada é para assegurar o contato com o mundo e criar conflito na igreja por um espaço jovem – louvorzão.
b) Pode encorajar o exibicionismo. Toda apresentação musical traz consigo a tentação embutida de se exibir.Veja o comportamento dos cantores e astros TV. O princípio do mundo é a auto-glorificação, o do crente é a auto-crucificação.
c) Pode produzir um cristianismo sem cruz. Não há evangelho sem Cristo. A cruz não faz cumplicidade com a moda, cultura, religiosidade. Produzir cânticos teologicamente impróprios, leva ao egoísmo e erro.
d) Pode gerar fãs e não discípulos de Cristo. Jesus a certa altura percebeu que tinha muitos fãs. Deus não quer ídolos ou fás na música que lhe é dirigida. Mas embaixadores da verdade.
Deus deseja que os jovens crentes sejam da envergadura de Daniel e seus companheiros. A música na Igreja por ser expressão espiritual não deve ter um caráter mundano, seguido de ritmos alucinantes. Pode tornar-se abuso, maldição e não bênção. Pois estimula a natureza e emoções carnais. O NT mantém o maior silêncio a respeito da existência de dança corporal no sentido literal durante o culto na Igreja. A roupa e a coreografia jamais farão o evangelho algo atraente.
Conclusão.
No ano 589, o rei Zedequias, fantoche de Babilônia, permitiu que o profeta Jeremias fosse preso na base de uma acusação forjada. Ao fugir foi preso. Lembrou do profeta e lhe perguntou: “Há alguma palavra do Senhor?” (Jeremias 37:17). A Bíblia não é o último recurso, mas o primeiro. O crente é gerado pela Palavra e deve se alimentar dela todos os dias.