A Síndrome de Nadabe e Abiu
por: Fábio Araújo Martins
“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2).
A história bíblica não registra se Nadabe e Abiú eram músicos ou conheciam música, de qualquer forma, os dois irmãos, sobrinhos de Moisés, deixaram uma síndrome que exerce sua influência até os dias de hoje. Para entendermos melhor o que é essa síndrome e como evitá-la, abordaremos alguns aspectos nela envolvidos, são eles: o zelo divino, a Santidade de Deus e a música cristã contemporânea. Comecemos pela questão do zelo.
I. Zelo
Um exemplo claro da seriedade e solenidade com que deve ser tratada a criação de música para o Senhor é mostrada no texto da Santa Lei, mais precisamente no segundo mandamento: “Não farás para ti imagem de escultura… Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem…” (Êxodo 20:4 e 5 – grifo nosso). A versão em inglês King James usa a palavra jealous para zeloso e uma das possíveis traduções para essa palavra é ciumento (de acordo com o dicionário Larousse Ática Inglês Português). Um dos significados da palavra ciúmes é: “Receio de perder alguma coisa; cuidado; zelo” (segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio). É preciso ressaltar que esse ciúme não deve ser entendido como o defeito humano, que pode ser sufocante, intolerante, doentio, desprovido de razão, etc., e sim como cuidado, solenidade, exclusivismo e, como diz o texto sagrado, zelo.
Ora, se em Sua lei o Senhor afirma ser um Deus ciumento (zeloso), aqueles que produzem arte para o louvor dEle, devem, então, ter cuidado e zelo redobrado (Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial. – Mateus 5:48). Produzir arte para alguém Santo e exclusivista (o Senhor Deus pode atribuir a Si mesmo essa característica, por ser o Único Deus Todo-Poderoso) deve (ou deveria) causar temor e tremor (“… assim também efetuais a vossa salvação com temor e tremor…” – Filipenses 2:12) nos encarregados dessa missão.
Ao estudarmos a história sacra, principalmente nos dias do Êxodo, vemos claramente o zelo divino nas instruções que confiou ao Seu povo para a Sua adoração. Nota-se, em todas as vezes, que cada parte do culto, ou dos participantes, ou até mesmo da mobília, era sempre algo exclusivo e separado, que seguia instruções detalhadas, dentre os inúmeros exemplos, podemos citar os seguintes:
- Os sacerdotes pertenciam a uma única tribo, a dos Levitas; oficiavam em tempo integral; tiravam o seu sustento desse trabalho. Como o Senhor lhes ordenara, (“Nesse tempo o Senhor separou a tribo de Levi para levar a arca da aliança do Senhor, para estar diante do Senhor, para o servir, e para abençoar em seu nome até o dia de hoje” – Deuteronômio 10:8).
- A forma como construir o tabernáculo e depois o templo, também foi, nos mínimos detalhes, instrução do Senhor. (“E me farão um santuário, para que eu habite no meio deles. Conforme tudo o que eu te mostrei para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus móveis, assim mesmo o fareis” – Êxodo 25:8 e 9).
- A forma como os móveis deveriam ser construídos e distribuídos no tabernáculo também foram instruídas pelo Senhor (Ver Êxodo capítulos 25 a 31 e 36 a 39).
- Como se não bastasse, a forma, a duração, os motivos dos sacrifícios, foram todos instruídos pelo Altíssimo (Ver Levítico capítulos 1 a 7).
Mesmo nos dias da igreja Cristã primitiva as ordens do Senhor eram proclamadas. O apóstolo Paulo, por exemplo, incita a manter sempre a ordem no culto e a seguir uma liturgia especifica (I Coríntios 14: 26 a 40).
Com os exemplos citados temos uma pálida visão do que vem a ser o zelo divino e também que o Senhor tem uma, digamos, “Filosofia de Adoração”. Consta dessa filosofia a ordem, instruções claras e bem definidas para o culto e, principalmente, que cabe ao homem executá-la, e apenas isso (aqui, ao contrário do que veremos mais adiante, não há liberdade criativa ao homem).
Dentro desta “filosofia”, além dos exemplos mostrados – implantados, como vimos, pelo próprio Deus – temos instruções dadas por Deus a Davi sobre quais instrumentos não usar no Templo a ser construído por Salomão (as quais podem, perfeitamente, ao contrário do que dizem alguns, servir de guia para o uso atual de instrumentos dentro das igrejas que professam adorar verdadeiramente ao Senhor. – Ver I Crônicas 15:16-24; I Crônicas 16:37-43; I Crônicas 23; I Crônicas 25). Todavia, por mais surpreendente que nos pareça, a “filosofia” de Deus para a música, encontrada em Sua Palavra revelada, não apresenta sequer uma letra ou nota acerca do estilo musical a ser adotado! Não parece intrigante que um Deus tão zeloso, o qual deixou tantos princípios sobre o uso da música no Templo e na vida do adorador, não apresente uma única indicação sobre estilo musical?
Portanto, a música (em seu estilo, não em seu uso, como vimos) é a área da adoração em que o homem pode ter certa liberdade criativa, que maravilha! Deus permite ao homem uma liberdade na composição não encontrada nas outras formas de adoração coletiva. Com a música, portanto, há diferença e, mesmo que para um fim especifico, pode-se criar uma imensa variedade de música aceitável pelo Senhor. Assim, ao homem é permitido desenvolver a criatividade, habilidade e talento conferidos pelo próprio Deus.
Assim, o motivo principal da arte sacra, em nosso caso a música, deve ser agradar a Deus, e nunca esperar que Deus se contente com uma “oferta musical” que o homem – consultando o seu próprio coração – considera correta, e assim oferece a Ele.
II. Santidade
Que terrível responsabilidade nos advém com tal liberdade criativa! Talvez fosse melhor apenas seguir certas instruções e assim não errar! Como vimos, o texto do segundo mandamento diz “Deus zeloso“, logo, Ele não aceitará nada que não for o melhor, o mais puro, o mais bem trabalhado, o mais separado das “mundanidades”. E não só tecnicamente, mas também espiritualmente, pois Ele pode ler os corações e mentes. Como Jacó exclamou – após ver uma escada que ligava o céu à terra -, deveríamos exclamar também nós: “… Quão temível é este lugar! É a Casa de Deus, a porta dos céus” – Gênesis 28:17. A santidade de Deus, em contrafação com a humanidade caída, torna o lugar onde Ele está em “lugar terrível”! Isaías passou por experiência semelhante e, após uma visão do trono de Deus, disse: “… Ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos!” – Isaías 6:5.
“Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor“. – Hebreus 12:28 e 29. Reverência e santo temor devem ser as principais atitudes ao executar-se a solene tarefa de criar arte para o Senhor, porque o nosso Deus é fogo consumidor, a sua santidade torna Santo também o lugar onde Ele está, mesmo quando revelado em uma sarça ardente como se revelou a Moisés no deserto: “… Não te chegues para cá. Tira as sandálias dos pés, pois o lugar em que estas é terra santa” – Êxodo 3:5. Não importa onde a presença do Senhor seja invocada, se ali Ele se manifestar, o lugar se torna Santo e Sua presença causa na raça caída perplexidade, temor e tremor. É só através de Sua infinita Graça que não somos consumidos ao invocarmos Sua Santa presença.
Em contrapartida à Santidade de Deus, a Palavra diz que: “Toda a carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Seca-se a erva, e cai a sua flor” – I Pedro 1:24. “Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” – Romanos 3:23. Assim é o homem que considera não necessitar da graça e do conhecimento de Deus: como a erva. Secam e morrem! Mas aqueles que reconhecem que “são justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Romanos 3:24), e que carecem da guia do Espírito Santo, ouvem Deus dizer: “fostes comprados por bom preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo [e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus]” – I Coríntios 6:20.
III. A Síndrome.
Acabamos de ter um panorama de como a Bíblia trata a santidade de Deus, da solenidade e reverência que devem ser prestadas no Seu culto e de como é vista por Ele a jactância humana. Assim, ora o Senhor Deus foi louvado, exaltado e glorificado de maneira magnificente; ora foi denegrido, rebaixado e escarnecido de maneira reles. Ora foi adorado através da música produzida por pessoas que conseguiram entender (mesmo com todas as limitações, fraquezas e imperfeições humanas) a Santidade Divina; ora foi adulterado por falsos adoradores que não se puseram em Suas mãos no momento da composição musical. Ora existiram pessoas que compreenderam o correto significado da palavra reverência e solenidade, pessoas que reconheceram que só através da graça não são consumidas ao entrar na presença do Senhor (pessoas como Davi, em seus salmos destinados ao serviço musical no templo); ora existiram pessoas como Nadabe, ou como Abiú, os quais perderam a verdadeira noção da santidade e da solenidade, trazendo ao altar do Senhor um fogo estranho, como veremos.
Da mesma forma, durante a história da igreja Cristã, a música utilizada para adorar a Deus oscila entre a preservação e separação do mundo e a profanação e mistura com o mundo. Entre o melhor que o homem poderia oferecer ao Senhor e o pior que poderia existir. Enfim, durante séculos, mesmo que a humanidade parecesse passar por trevas espirituais, a música para o Senhor, de alguma forma, era preservada. Enfim, durante séculos, mesmo que a humanidade pareça passar por luzes e esclarecimento, a música para o Senhor tem sido manchada. Não era de se esperar, contudo, que, com o avanço no conhecimento da verdade (após a reforma protestante e, mais tarde, com o movimento adventista), a música também se aperfeiçoasse em sua forma e estilos verdadeiramente sacros?
Entretanto, em nossos dias, a criatividade e liberdade concedida ao homem não têm sido efetivamente (nos preceitos divinos) postas em prática e a música (dita sacra) produzida hoje, em vez de acompanhar o aumento da luz do conhecimento do divino, tem andando em direção oposta! Estamos como que regredindo, caminhando em direção ao mundo e sua concupiscência! E fazendo assim, a benção torna-se maldição. A mais sublime forma de arte criada por Deus tem sido maculada por uma associação indiscriminada e perversa com o mundano; a arte produzida para o louvor ao Senhor, em nossos dias, não reflete a grandeza e perfeição do Criador do Universo. Sequer temos nos esforçado para tanto, pois a amizade com o mundo tem sido considerada mais proveitosa que o temor do Senhor.
A estes o apóstolo Tiago diz: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” – Tiago 4:4. Ora, se a amizade do mundo constitui inimizade de Deus, podemos afirmar, com base neste e em outros versos (Levítico 20:26; I Reis 18:21; Mateus 6:24; II Coríntios 6:14-20; Tito 2:12; Tiago 3:11-12; I João 2:15-17), que utilizar elementos musicais seculares para o Louvor do Senhor é também constituir uma inimizade contra Deus.
Quer-se louvar a Deus com letras sacras utilizando música profana! O melhor exemplo da reação divina para com os que utilizam o sacro misturado com o profano está em Levítico 10: “Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho perante a face do SENHOR“.
Imaginemos um possível dialogo entre os dois irmãos, momentos antes de entrar na presença do Senhor com o incensário. Nadabe fala para Abiú:
– Ei, Abiú, é sua vez de buscar fogo para o incensório.
– Ah, Nadabe, é longe, muito trabalhoso, façamos nosso próprio fogo por aqui mesmo, afinal, FOGO É FOGO, não existe isso de fogo santo, fogo profano, isso é capricho.
– É talvez, você tenha razão Abiú, então consiga o fogo para nós.
“… o que lhes não ordenara. Então, saiu fogo de diante do SENHOR e os consumiu; e morreram perante o SENHOR” – Levítico 10:1 e 2.
Foram consumidos na presença do Senhor! Porque ofereceram algo que o Senhor não ordenara e, logo, não permitira.
Quantas vezes já ouvimos: “Ah! Música é música, é amoral, não existe música santa nem profana!”. Essa postura lembra alguém? Talvez alguém que não ficou para contar a história de como desafiar uma ordem divina! Mostra-se, com essa postura, no mínimo ignorância (quando não, má vontade) sobre o Senhor Deus, sobre o que Ele espera da liberdade que nos concedeu para produzirmos arte para adorar e louvar Seu Santo nome.
Como exemplo, além de Nadabe e Abiú, citamos o caso do sacrifício oferecido por Caim e Abel: Caim ofereceu ao Senhor aquilo que, segundo seu coração, era considerado o seu melhor; Abel, por outro lado, ofereceu aquilo que o Senhor havia ordenado. O relato diz que a oferta de Abel foi aceita, a de Caim rejeitada (ver Gênesis capítulo 4).
Essa amizade com o mundo na forma de emprestar-lhe sua música ou seus estilos – os quais não apenas foram criados marcadamente com a intenção de satisfazer apenas a carne, como também possuem em sua estrutura melódica, harmônica e rítmica elementos que causam no ser humano não a solenidade e espírito de adoração, mas sim excitação e êxtase corporais (como, por exemplo, a valsa da música erudita, ou o R&B e o Jazz da música POP) – caracteriza-se fogo estranho. Fogo estranho como o fogo apresentado por Nadabe e Abiú. Portanto, “fogo estranho” é tudo aquilo que é apresentado ao Senhor maculado com mundanidade; ou seja, a representação de desrespeito a uma ordem ou principio especifico deixado pelo Senhor em Sua Palavra para a Sua adoração.
A Sra. Ellen White diz qual o responsável por essa mistura tão recorrente em nosso meio: “O uso que os homens têm feito de suas capacidades, fazendo mau emprego e abusando dos talentos que lhes foram dados por Deus, tem trazido confusão ao mundo. Eles substituíram a direção de Cristo pela direção do grande rebelde, o príncipe das trevas. Só o homem é responsável pelo fogo estranho que tem sido misturado com o fogo sagrado. O acúmulo de muitas coisas que promovem a concupiscência e a ambição tem trazido sobre o mundo o juízo de Deus” – Fundamentos da Educação Cristã, Pág 409.
Antes mesmo de White, disse Jesus: “Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito” – João 3:5 e 6 (grifo nosso).
Não há meio termo amigos, Jesus disse que o que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito, e Paulo, aos de Éfeso, diz algo semelhante: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, – pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” – Efésios 2:1-6.
Não existe referência na bíblia que nos oriente a, algumas vezes, deixar o homem da carne se satisfazer (mesmo que “só um pouquinho”), ou a deixá-lo à vontade para ouvir a mesma música a que estava acostumado antes de se render à graça de Cristo. Não existe, também, nenhuma citação dizendo que é aceitável ser nascido do Espírito, estar debaixo da graça de Deus, mas viver de acordo com a vida da carne. Disse João: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo“ – I João 2:15 e 16 (grifo nosso).
Fica claro, então, que aqueles que produzem música religiosa com influências de estilos seculares e profanos não o fazem recebendo a inspiração divina, mas sim sob o julgo do “príncipe desse mundo”, como diz Paulo: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras; e eu vos recebereis, serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso” – II Coríntios 6:14-18.
O resultado conseguido com esse híbrido (de música profana utilizada para o louvor a Deus) é uma música desprovida de poder; uma música que, ao invés de nos elevar a Deus, faz exatamente o inverso: nos remete às coisas mundanas (através do seu espírito sensual e frívolo). Ao invés de fixar as possíveis verdades transmitidas através da letra, a música acaba por atrapalhar, fixando-se ela mesma na mente do ouvinte e adorador. Uma música assim construída, facilmente agrada o gosto pessoal e popular, mas não se importa com as admoestações divinas sobre a arte a ser produzida para o Seu Culto.
IV. Um Antídoto
Não pode haver comunhão entre a luz e as trevas! Essa é a maior verdade a ser considerada por aqueles que desejam escrever música levando em conta o seu próprio gosto, ou o gosto dos seus ouvintes (que, muitas vezes, está corrompido e carente de conhecimento da verdade). Aqueles que lançam mão dos estilos mundanos estão, aos olhos do Senhor, utilizando fogo estranho, pois estes são estilos criados para a satisfação da carne, não do espírito.
O Senhor Deus criou a música para ser um instrumento de louvor a Ele. Logo, presume-se que seu uso deve acontecer de acordo com o Seu santo “gosto musical”, não o nosso. Assim como não comparamos ou vendemos no dia de sábado, porque, segundo a ordem do Senhor, esse é um dia Santo, nos é cobrado do mesmo Senhor que a música produzida para o Seu louvor e adoração siga os princípios deixados por Ele em sua palavra, que revelam, não o estilo ou a forma de escrever essa música, mas qual é Seu “gosto musical”.
Os músicos, intérpretes e ouvintes da verdadeira música sacra são aqueles que segundo Pedro: “Como filhos obedientes, não vos conformeis com as concupiscências que antes tínheis na vossa ignorância. Mas como é Santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento; pois está escrito: Sede santos, porque EU SOU Santo” – I Pedro 1:14-16.
A música produzida dentro dos moldes divinos (os quais são compreendidos apenas por aqueles “nascidos do Espírito“) é uma arte sublime que remete à contemplação do mesmo divino, que eleva a mente (e apenas a mente) às coisas Santas, que ajuda a fixar na mente do crente as verdades proferidas na letra, um estilo musical que pode ser entendido apenas por aqueles que investem no conhecimento do Senhor.
Sobre a verdadeira música sacra, como aquela feita na escola dos hebreus, diz a senhora White: “A arte da melodia sagrada era diligentemente cultivada. Não se ouviam valsas frívolas ou canções petulantes que elogiassem o homem e desviassem de Deus a atenção; ouviam-se, porém, sagrados e solenes salmos de louvor ao Criador, que engrandeciam Seu nome e relatavam Suas obras maravilhosas. Deste modo, fazia-se com que a música servisse a um santo propósito: erguer os pensamentos àquilo que é puro, nobre e elevador, e despertar na alma devoção e gratidão para com Deus” – Ellen White. Fundamentos da Educação Cristã, pág. 97.
“Na igreja cristã primitiva houve homens que foram verdadeiros discípulos de Cristo. Muitas vezes, eles se reuniam, e habitualmente oravam. Trabalhavam somente para promover aqueles princípios que traziam a aprovação do Céu. Primeiramente falaram com Deus, determinando que espírito os motivava; então podiam íntima e criticamente examinar cada ponto, cada método, cada princípio à luz refletida do Sol da Justiça. Eles não aceitaram fogo estranho. Apanharam seu fogo do altar divino. Para eles, os princípios santos e justos eram sagrados, e por acolhê-los se mantinham sem a contaminação do mundo” – Ellen White. “Olhando Para o Alto”, Meditações Matinais, pág 152. Esse é o exemplo a ser seguido por aqueles que desejam escrever música, executar música e até ouvir música. Só através de um relacionamento continuo com Deus é que nos será dado o conhecimento necessário para se criar e reconhecer a perfeita arte em louvor a Ele.
O Senhor concede graça àqueles que buscarem a inspiração necessária em humildade de espírito. Aquele que O buscar pedindo sabedoria para fazer a música que Lhe agrada, nos moldes que Ele deixou em sua palavra (completamente desprovida das mundanidades profanas e sensuais), servirá como um instrumento poderoso para a elevação dos crentes nascidos do espírito que a ouvirem e a cantarem. Uma grande mudança será sentida naqueles que buscarem essa música sacra – escrita de acordo com a vontade do divino mestre: mudança na forma de prestar culto enquanto individuo, e mudança na reverencia enquanto coletividade. Enfim, é ver pra crer!
“Buscai o SENHOR e o seu poder, buscai perpetuamente a sua presença. Lembrai-vos das maravilhas que fez, dos seus prodígios e dos juízos dos seus lábios, vós, descendentes de Israel, seu servo, vós, filhos de Jacó, seus escolhidos. Ele é o SENHOR, nosso Deus; os seus juízos permeiam toda a terra” – I Crônicas 16:11 e 14.