Silêncio da Orquestra Mundial
por: Denis Nogueira
Na vida turbulenta que a humanidade vive, com tecnologia e seus avanços cada vez maiores, um humano virtual, contatos imediata via internet, com eletrônica e seus recursos, as máquinas, o transporte, as fábricas, dia e noite trabalhando para produzir nas linhas de montagem, e tanto outros ruídos e sons que acontecem ao nosso redor, eis um retrato do séc. XXI, turbulência, barulho e stress.
Parece que diante dessa realidade o silêncio, por um pouco, não existe. Certa feita Jonh Cage (compositor, estudioso e pesquisador em música) se colocou numa câmara onde havia um isolamento acústico sem nenhum som, depois de horas observando e ouvindo o som resultante, e eis que ele ouviu o som do bombeamento do sangue de seu corpo e o som de seu cérebro. Bem, se de fato ouviu ou não, o mais importante é quando foi que se ouviu o silêncio ou talvez o bombeamento de seu sangue interior?
Hoje nas igrejas, nas rotinas de departamentos, de aparelhagem, microfonação, mensagem musical, diáconos andando pelos corredores, nos sábados à tarde, alguns orando, outros ensaiando, preparando o J.As. da tarde e tantas outras atividades na igreja quando foi que se parou para ouvir o som do silêncio, ou pelo menos ter momentos de silêncio? O que acontece com a humanidade, será que essa realidade só acontece nas grandes cidades, (pois ao escrever este texto, estou em São Paulo na parte central onde vivo), será que nas igrejas do interior de outros paises são silenciosas e reflexivas? E se não acontece o que a humanidade está vivendo?
Eis o verso: “…os que esperam no Senhor renovarão as suas forças; subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; andarão, e não se fatigarão.” Salmos 40:31 Pare agora, e ouça o som do silêncio, pare por um momento, faça uma experiência, e pare e ouça os sons a sua volta. Sinta como anda seu mundo externo, veja quanto som acontece, ao mesmo tempo perceba como nosso campo de exteriorização da vida é barulhento, e pouco de nossa vida paramos, respire sinta o ar entrando em seus pulmões, o pulsar do coração, é necessário ter essa parada mais do que nunca.
Pegue uma folha de sulfite e movimente a folha sem deixar emitir nenhum som. Procure fazer movimentos leves e veja como é difícil fazer gestos sem som.
Na faculdade se música fizemos uma experiência semelhante, porém, com cinco músicos profissionais, para que entendêssemos a importância do silêncio e o som, um momento de extrema disciplina e concentração, cada gesto do folhear, e aos poucos iríamos gerando sons independentes e claros de cada um como um verdadeiro quinteto sonoro, com solistas de “folhas de sulfites”, poderíamos dizer diretamente como um verdadeiro quinteto de folhas de sulfite. Para nós, foi uma experiência do silêncio na vida, necessária e real.
Seja você músico ou não, pare pra sentir a voz de DEUS no vento do dia e da noite, no momento de solidão e à parte de toda turbulência da vida corriqueira. As manifestações de uma Deus real e presente mostrando raios de seu poder vivificador. Mas pare mesmo, não leia este texto por um instante… Sinta seu corpo onde estiver… Pare com o computador… Reflita sobre sua condição como ser e filho de Deus… Pare por 5 minutos somente…Ouvir é o inicio de tudo como músico e mais ainda como ser cristão, e humilde… A sabedoria emana do silêncio… Do pensar…
Voltemos a refletir…
Veja Elias na caverna sozinho dias e dias, noites e noites, sem ter com quem se comunicar além do “vento”, “ar” e a presença do Senhor. I Reis 9:11-13 diz:
E Deus lhe disse: Sai para fora, e põe-te neste monte perante o SENHOR. E eis que passava o SENHOR, como também um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante do SENHOR; porém o SENHOR não estava no vento; e depois do vento um terremoto; também o SENHOR não estava no terremoto; E depois do terremoto um fogo; porém também o SENHOR não estava no fogo; e depois do fogo uma voz mansa e delicada. E sucedeu que, ouvindo-a Elias, envolveu o seu rosto na sua capa, e saiu para fora, e pôs-se à entrada da caverna; e eis que veio a ele uma voz, que dizia: Que fazes aqui, Elias?
Como foi torturante pra ele, momentos de depressão, angustia, medo, aflição. Aparece a voz de Deus, e promove força alento num ser fraco e débil.
Em suas atividades na sua igreja imagine que você faz parte de uma grande orquestra onde, talvez, você será um tímpano de encerramento de uma grande sinfonia, mas ao mesmo tempo que você é essencial, ficará no decorrer da exposição em silêncio, sua presença é crucial pra o desfecho da peça como um todo, ou talvez na orquestra da vida você é um fagote (instrumento de madeira), que tocará somente no meio da música, e será um trecho de solo onde você transmitirá um pensamento sonoro (já pensou, onde numa peça completa de mais de trinta minutos, você tocará somente três ou quatro compassos!).
Uma orquestra tem vários eventos que acontecem num todo instrumental, resultando uma profundidade global, ao mesmo tempo cada um sabe o que deve ser feito, cada um sabe a sua entrada, a sua parte e está concentrado para fazer o seu melhor.
Cada músico estudou a semana inteira aquele trecho tão complexo que será crucial para que a sinfonia aconteça com integridade. Enfim, eis a apresentação, ele se concentrou, executou com esmero, foi um verdadeiro virtuoso, mostrou que sabia a sua parte como ninguém, mas o seu trecho já passou… Teremos mais quinze minutos de peça acontecendo o que você fará? Sairia do palco? Será que começará a se mover para ir embora no meio da execução ora acontecendo? Certamente que não!
Somos um corpo como igreja, uma orquestra onde cada instrumento ou membro tem uma parte na execução de nossa transmissão da mensagem, tanto dentro de nossas congregações, como fora.
Ao refletir sobre a questão do silêncio parece-nos que o parar é quase inconcebível, até mesmo quando alguém ira cantar ou tocar, e enquanto se preparam para tocar o CD do solista, do hinário que será cantado, pois naquela igreja não há músicos que possam tocar, e aqueles segundos, parecem uma eternidade um olhando para o outro, momentos cruciais, parece-nos que não se pode ter o silêncio, parar e sentir a atmosfera, o clima de reflexão, de meditar no que será exposto, o cantor mesmo às vezes sobe, quase correndo e não promove o silêncio. Parece que estão com pressa, terão de ser rápidos, não podem esperar um segundo.
Em atos 1:4 diz:
E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes.(grifo acrescentado)
O que você e eu podemos fazer pra que na igreja sejamos mais reflexivos, e recebamos o Espírito de Deus? Não com discórdia e correria, mas com uma vida calma, serena e tranqüila, recebendo a “calma e paz”, onde só “Jesus pode dar”, e fazer da igreja um momento onde em “oração em me entrego”, e “minha voz alcança o trono”, e possa sentir que “o Senhor está aqui”, e que a “graça de Jesus, o amor de Deus o Pai e a comunhão do Espírito habite em nós”, e que possa realmente transformar-nos da hora em que entramos no templo, num abrir e “fechar de olhos”, e em “momentos assim” onde “eu cante a canção, canção de amor para Cristo” promova em mim um “renovação do entendimento”, para que experimentemos “qual seja a perfeita e agradável vontade de Deus”. E que ao sairmos do lugar santo, “o melhor lugar do mundo”, tenhamos em mente, que devemos ser o “Sal da terra”, “a Luz do mundo”, e que “brilhe a nossa luz entre os homens”, e glorifiquemos “a Deus o Pai”, e a vontade dAquele que nos ama, se cumpra em nossas vidas, sendo verdadeiros obreiros em que “não tem em que se envergonhar”. Amém!
Denis Nogueira é formado em Composição/Regência e Licenciatura Plena em Música pela Faculdade de Música Carlos Gomes. Este artigo foi gentilmente cedido pelo autor ao Música Sacra e Adoração