Os Louvores do Diabo

por: Pr. Wagner Antonio de Araújo

Ah, se o nosso discernimento fosse apurado! Quantos dissabores evitaríamos! Mas, que se há de fazer?

Jesus disse que Judas Iscariotes era filho do diabo. Chamou-o também de diabo e filho da perdição. Certa feita até Pedro foi identificado como Satanás, ao tentar convencer o Senhor de que o Seu sacrifício poderia ser evitado. Assim, não estou cometendo nenhum erro ao afirmar que o diabo está presente em nossa igreja. Aliás, em nossas igrejas, pois nenhuma é melhor ou pior, se for realmente igreja de Jesus. E o diabo assiste em todas elas, na qualidade de joio no meio do trigo e Judas no meio dos apóstolos.

E o que o diabo faz em nossa igreja?

O diabo está lá para tumultuar, para criar confusão, para iludir, para criar partidos, para corromper. É o seu papel tentar os filhos de Deus. E como tenta! Agora, a tentação, para ser tentação que preste, tem que ser apetitosa, gostosa, desejosa, pois, caso contrário, seria muito fácil resistir a ela. Então ele vem disfarçado. Disfarça-se de gente de Deus, de crente, de líder, de mulher, de adorador, e como se torna atuante!

Quais as coisas que o diabo gosta de fazer entre os crentes? Há coisas que ele faz para nos confundir. Coisas muito boas, que nós fazemos também.

Ele gosta de cantar. Ah, e como canta! Em igrejas tradicionais ele exige milimetricamente que os hinos sejam cantados e entoados corretamente. Ele canta, às vezes sabe tudo de cor! Em igrejas pentecostais ou comunidades, ele vibra, pula, canta, chora, ele é o mais entusiasmado do auditório. Às vezes até inventa novos cânticos. Nos momentos emotivos dos hinos, ele chora, levando as pessoas próximas também às lágrimas. Se for o dirigente, então, nem se fala: o louvor é fenomenal – todos ficam sensibilizados.

Ele gosta de falar. Ele conhece a bíblia muito bem, e sabe aplicá-la perfeitamente! Sabe o endereço de textos difíceis e sabe usá-los com extremo cuidado e sabedoria. Se aconselha a alguém, faz uma verdadeira pregação “a la carte”, distante, mas profunda. Ele gosta de concorrer em concursos bíblicos, gosta de decorar salmos inteiros, aprende com facilidade lições para ensinar na Escola Dominical, anota tudo para não esquecer. Sua bíblia é bem marcada e demonstra ser muito bem usada.

Ele está sempre pronto a fazer alguma coisa em prol da igreja ou em prol do líder. Se precisarem dele para trabalhar com favelados, ele é o primeirão da lista. Se tiver vigília, ele não faltará. Quando há reunião de líderes, ele está sempre presente. Não tem tempo ruim para o trabalho de departamento ou de igreja. Ele distribui folhetos, participa de cultos ao ar livre, ajuda a fazer palhaçadas nas atividades com a criançada do bairro, faz viagem missionária, coloca sua casa à disposição dos cultos, enfim, está ativo totalmente. Se canta, canta em todos os coros e conjuntos. Se fala, procura sempre uma brecha para dar uma palavrinha. Se ouve, é o mais atento de todos.

Ele chora, ah, como chora! É por demais emotivo! E são emoções fortes, sentidas! Quando ora, suas palavras calam fundo nos corações. Gosta de conversar com as pessoas. Ele é tido como alguém realmente tocado pela emoção, um animador! Nos cantos congregacionais, nos cultos da comunidade consegue dar um colorido especial às reuniões. Quem olha para ele diz: Que pessoa fabulosa!

Alguém me perguntaria: as pessoas que são assim são o diabo?

E eu responderia: Não. Pessoas assim são o sonho de toda igreja e o desejo de todo pastor. Eu só estou citando as coisas que o diabo TAMBÉM faz.

Para saber quem é o diabo em nossas igrejas precisamos avaliar O QUE O DIABO NÃO FAZ DE JEITO NENHUM, pois somente assim o descobriremos sem erro, com extrema precisão.

O diabo não vive o que canta. Ele canta bonito, canta afinado, canta com beleza, mas é um hipócrita. Ele canta que se deve amar, mas ele mesmo não ama. Todas as suas bondades são interesseiras, fruto da cobiça, visando interesses pessoais. Ele canta louvores, mas nunca agradeceu verdadeiramente a Deus nem uma xícara de café. Ele não é coerente. Canta que se deve ter fé e não tem. Canta que se deve perdoar e não perdoa. Ele é um mentiroso. Seus cânticos são para aparecer, para mostrar voz, para fazer sucesso, para gravar CDs, para ser louvado. Canta puramente por profissão, ou por costume. O seu cântico é bonito, mas não tem vida, não é louvor. Ele emociona o auditório, mas não muda corações, não transmite nada, não tem unção do Espírito Santo.

O diabo só fala e nada faz. Ele é um impostor. É muito bom na teoria; talvez não exista alguém mais bem preparado do que ele para falar de seitas, de doutrinas, de céu, de inferno, de usos e costumes. Ele tem uma lábia de fazer inveja. Fala e fala bonito. Num debate não tem pra ninguém – vence todos! Mas quem mora com ele sabe que tudo não passa de fachada, de mentira, de hipocrisia, de casca. Ele veste uma capa de cristão para ir à igreja e a tira quando retorna. Ele diz que não se deve beber, e bebe. Ele diz que não se deve amaldiçoar, e amaldiçoa. Ele diz que não se deve adulterar, e adultera. Ele diz que não se deve deixar de dizimar, e não dizima. Ele é um joio, um falsário, um farsante. Em teoria é 10, em prática é 0, e com louvor!

O diabo é um ativista, mas não é um servo. Ele faz muito sim, mas faz para si próprio, pois não tem a menor consciência de estar servindo ao Senhor. Ele serve à igreja, ao pastor, à diretoria, à família, ao programa, mas jamais serviu a Deus. Deus não faz parte de suas prioridades. Ele faz da igreja um palco, já que não obteve sucesso nos palcos da vida. Ele quer ser na igreja o que nunca pôde ser enquanto trabalhador ou membro da família. Quer provocar medo nos mais novos, espanto nos mais velhos, acha que ganhará respeito trabalhando como um doido, criticando os jovens, corrigindo os idosos, insultando ao ministro da igreja. Marta ainda fazia café para Jesus no dia em que o hospedou ao lado de sua irmã Maria, mas esse diabo nem sabe o que é ou quem é Jesus. Jesus é apenas um detalhe, um pretexto. Gosta de ver seu próprio nome nas listas de diretoria, nos jornais, nas revistas, gosta de ser citado e tudo faz para se destacar. Mas ele não conhece a Cristo, seu trabalho é absolutamente vão, ele já está recebendo a sua recompensa.

Por fim, suas lágrimas não são sinceras; são lágrimas de crocodilo, falsas como uma nota de 6 reais. Chora fácil, é capaz de fingir como um artista experiente. Ele é digno de um Oscar! Consegue simular muita emoção junto de um irmão e em seguida atender a um telefonema com completa alegria e desembaraço, como se nada tivesse acontecido. Ele mente. Mente o amor para com o cônjuge, pois é capaz de jurar amores e traí-lo em seguida. Mente para o namorado, fazendo juras e postando declarações ilusórias, para, em seguida, mostrar-se traiçoeira. Mente aos filhos, porque ordena-lhes que sejam o que nunca foram e nem serão. O diabo chora quando tem que pedir perdão, mas faz tudo igual em seguida, e cada vez pior. Sua mente está cauterizada, seu coração endurecido, sua alma perdida e sua vida estragada. O diabo é absoluta e totalmente INGRATO, e faz questão que o cônjuge (ou ex) saiba disso.

O diabo pode fingir os dons espirituais, mas jamais poderá simular o FRUTO DO ESPÍRITO. Ele pode simular os chamados dons de sinais, pode derrubar todo um auditório com o poder de um sopro ou fazer pessoas manifestarem supostos “encostos”, pode até curar supostas enfermidades, pode manifestar carismas imensos, mas é incapaz de amar de verdade, ter paz e transmitir a paz, desenvolver paciência, ser bom e benigno, ter domínio próprio ou ser fiel. Não, ele é um blefe. Ele é como um show pirotécnico, muitos efeitos, mas totalmente inócuos, sem a menor consistência, de nenhuma duração.

Não é nas coisas que faz que o diabo se faz conhecido. É NAQUELAS QUE NÃO FAZ! Por isso temos tanta dificuldade em identificá-lo, pois pensamos: ” Ele canta, ele ora, ele participa, ele chora…”, quando as perguntas deveriam ser: “Ele é real? Ele é sincero? Ele ama? Ele perdoa? Ele é leal? Ele é capaz de falar comigo olhando para os meus olhos? Ele reage como um crente? Ele é autêntico?”

Se você estiver procurando diabos em quem está fazendo alguma coisa, estará procurando no lugar errado e da forma errada. Jesus nos mandou não julgar, não procurar ciscos nos olhos dos outros. Mas leve a sua igreja à santificação, à consagração, leve o seu povo a um compromisso sério de ouvir e cumprir, de cantar e praticar, de sentir e agir, de ser carta aberta e gente sem segredos, e o diabo irá aparecer. Mais dia ou menos dia ele se manifestará. E não estrebuchará no chão, fazendo espetáculo: ele sairá fuzilando, irado, irritado, nervoso, atirando para todo lado. Pode ser que ele esteja disfarçado de linda e insinuante mulher, toda maquiada e perfumada. Ou num elegante homem de negócios, trajado socialmente dentro da mais fina moda. Talvez na pele de uma conceituada profetiza, de voz meiga e carinhosa, ou numa família dominadora. Pode surgir num jovem simulado, que faz muita pose no louvor, mas que é pura casca, ou mesmo num pastor, que fala bonito, mas que não vive o que prega, que só está interessado em fazer a igreja crescer, não fazê-la ser santa.

E se você ver o diabo, e estou falando do diabo-pessoa, diabo-gente, diabo-ser humano, como Jesus falou, ore por ele, para que seja convertido. Ele é servo do Diabo, o arqui-inimigo do povo de Deus. Os dias de Satanás estão contados, e ele faz tudo para destruir a Igreja do Senhor. Não vamos dar trégua – vamos resistir ao diabo, não com as armas das trevas, com ira, com ódio, com vingança, com maldições, com bate-bocas, com socos e pontapés. Vamos resistir ao Diabo sujeitando-nos a Deus, orando pelo próximo, não fazendo o seu jogo de hipocrisia. Agindo assim expulsaremos o Maligno. Não fazer a vontade do inimigo já é meio caminho andado. Se a tentação não tiver adeptos, ela murcha. Vamos secá-la!

“Sujeitai-vos a Deus, mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós” (Tiago 4,7)


Pr. Wagner Antonio de Araújo é o pastor da Igreja Batista Boas Novas, Osasco, SP