Um Líder Musical Chamado Oséias
por: Jorge Luis Jesuino
Disse o Senhor a Oséias: Vai, toma por esposa uma mulher de prostituições, e terás filhos de prostituição; porque a terra se prostituiu, apartando-se do Senhor. Ele se foi, e tomou a Gomer, filha de Diblaim; e ela concebeu, e lhe deu um filho (OSÉIAS 1:2-3).
Sempre me impressiono com as palavras de Deus para com seu servo Oséias, já lemos muitos estudos e matérias trazendo aspectos verdadeiros sobre este texto, mas gostaria de escrever algo sobre um aspecto que muitas vezes fica escondido em nossos conceitos pré-fabricados, mas que é de tremenda importância para nossos Ministérios Musicais.
Deus convocou Oséias para se casar com Gomer, uma mulher que tinha toda uma vida de prostituição em seu coração. Casaram-se, e não demorou muito para a infidelidade dela tornar-se manifesta.
Ela era vista com diferentes homens nas festas da sociedade samaritana, e a nação inteira de Israel começou a acompanhar o desenrolar daquela novela, que acontecia diante de seus olhos. Aos olhos das pessoas, ela era depravada e fazia o marido de tolo. Todas as ações de Gomer deixavam bem claro que ela desprezava Oséias e desejava embaraçá-lo diante do vigilante povo de Israel.
Em seguida, os muitos amantes cansaram-se dela. E ela se viu obrigada a vender seu próprio corpo nas ruas e em palanques, onde era comprada pela oferta mais alta.
Penso em Oséias profundamente ferido, solitário e com lágrimas correndo seu rosto, em uma mistura de dúvida e vergonha do escândalo público em que se transformara seu casamento, escondido atrás de uma arvore olhando sua esposa sendo exposta como uma escrava. Malcolm Smith, em seu livro Esgotamento Espiritual, diz algo fantástico sobre isso: “Enquanto Oséias abria caminho pelas ruas de má fama de Samaria até chegar ao mercado de escravos, cada passo do profeta, demarcava na mente do povo de Israel a natureza do Amor de Deus para conosco“.
Esse tipo de amor incessante que Deus deu a Oséias para com sua esposa deveria tornar-se a principal mensagem de nossos Ministérios Musicais, um verdadeiro retrato composto de seu amor à humanidade.
Quando leio a história deste grande profeta, não consigo parar de pensar em como o AMOR de Deus pode ser tão grandioso e maravilhoso a ponto de alcançar uma prostituta como Gomer. Depois de tudo que ela fez, Oséias, mandado por Deus, teve uma das maiores atitudes cristãs de todos os tempos: “Assim eu comprei para mim tal mulher por quinze peças de prata, e um hômer e meio de cevada; e lhe disse: Por muitos dias tu ficarás esperando por mim; não te prostituirás, nem serás mulher de outro homem; assim também eu esperarei por ti“.
“Amai, porém a vossos inimigos, fazei bem e emprestai, nunca desanimado; e grande será a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os integrantes e maus” Lucas 6:35.
Vivemos num contexto de ministério em que o que mais encontramos em nossos bancos são pessoas cansadas e desesperadas, elas não compreendem como podem amar seus inimigos, ou uma prostituta, desta forma. Na verdade chegam a acreditar que este tipo de amor não exista, pois nunca conseguiram vivê-lo.
Vivem numa redoma religiosa de conceitos e pensamentos, que qualquer sentimento e atitude contrários a “pureza” que acham ter encontrado em sua religiosidade, lhes cheira como falsidade e interesse.
Precisamos em nossos ministérios musicais de líderes que se disponham a amar essas pessoas desta forma, que estejam dispostos a se expor (como Oséias), por amor daqueles que Deus lhe deu. O mesmo amor que fez Jesus chorar publicamente, sobre Jerusalém: “E quando chegou perto e viu a cidade, chorou sobre ela, dizendo: Ah! se tu conhecesses, ao menos neste dia, o que te poderia trazer a paz! mas agora isso está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão sobre ti em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te apertarão de todos os lados, e te derribarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo da tua visitação” (Lucas 19:41-44).
Cristo não chorou porque o povo iria insultá-lo, envergonhá-lo e crucificá-lo, mas porque, procedendo assim, o povo estaria prejudicando-se eternamente. Tinha em mente somente as conseqüências destes atos contra sua pessoa.
Jesus nos mostra como o amor de Deus abrange todas as pessoas, até mesmo os que se tornariam seus inimigos num futuro próximo, os maus e os ingratos, foi dada a graça de receber este amor, sem esperar retribuição alguma da parte destes. Deus ama porque ele é amor, não por causa de algum desempenho de nossa parte.
Esta é a principal saída para nossos ministérios musicais, devemos amar, e demonstrar este amor, de forma natural e sincera, assim ganharemos e ensinaremos todos a amar também. E então cumpriremos um pouco daquilo para o qual existimos.
“Compassivo e misericordioso é o Senhor; tardio em irar-se e grande em benignidade” SALMOS 103:8.
Creio realmente que quando Jesus sentou-se no meio da escória da Galiléia para comer com aquela corja imoral, a palavra amor (ágape) começava a ser cunhada e incluída no vocabulário humano com uma nova definição: graça.
A graça de Deus é muito mais profunda do que qualquer sentimento humano; você pode dizer que ama alguém, mas devemos entender que a definição de amor foi alargada em Cristo. Devemos compreender que não merecemos as dádivas de Deus, e nada que fizermos nos habilitará a recebê-las em retribuição. Porém, Deus nos concede mesmo assim – isso é graça. Precisamos perceber que isto se aplica tanto verticalmente (Deus – Homem), como horizontalmente (Homem – Homem).
Nós músicos e líderes musicais devemos aplicar este tipo de amor em nossas vidas. Infelizmente nossas ações dizem e teimam em dizer: “Eu te amo, porque preciso de ti!”, enquanto deveriam dizer: “Preciso de ti, porque te amo!”, precisamos mudar o enfoque principal de nossos ministérios, e a aplicação primária de nosso amor.
Temos que ter mais tempo na descoberta e aplicação destes propósitos de amor em nossos ministérios musicais. Quantos problemas teríamos evitado se tivéssemos exposto e aplicado claramente os propósitos de uma adoração consciente e sincera a Deus, para todos? Nossos “levitas” tendem a fugir daquilo que não compreendem, e nossos líderes musicais, muitas vezes, tendem a rotula-los de rebeldes.
Mas não creio que sejam rebeldes, nunca fugiram de Jesus e seu ministério. Eles fogem cansados e esgotados da religião que retrata Deus como um ser mesquinho, irado, que só ama as pessoas que a igreja considera boa. Realmente não fogem de Jesus, porque nunca o encontraram.
A simples troca do enfoque principal de nosso amor daria uma maior flexibilidade aos nossos grupos, uma maior vontade e interesse em nossos músicos, sem contar com uma total compreensão daquilo para o qual existem.
Jean Vanier, em seu livro Comunidade: lugar do perdão e da festa, diz algo que creio servir para a reflexão de todos: “Não se deve procurar a comunidade ideal. Trata-se de amar aqueles que Deus pôs ao nosso lado, hoje. São sinais da presença de Deus para nós. Talvez preferíssemos pessoas diferentes, mais alegres e mais inteligentes. Mas são estas que Deus nos deu e que escolheu para nós. É com elas que devemos criar a unidade e viver a aliança. Escolhemos sempre nossos amigos, mas não escolhemos nossos irmãos e irmãs: eles nos são dados. Assim é na comunidade”. Creio que se aprendêssemos a aplicar estas verdades na vida de nossos ministérios musicais, conseguiríamos ser mais eficientes em nosso trabalho para a obra do Senhor.
Não necessitamos de mais condições e leis para o recebimento destes “Levitas” em nossos ministérios musicais, já as temos em demasia. Sejam quais forem as razões, quando começamos a nos preocupar com estar regras, simultaneamente começamos nossa queda ao farisaísmo. Porque, nas entranhas de nossos sistemas teológicos de inclusão do “levita” ao ministério local, está embutido, muitas vezes, o orgulho. Infelizmente muitos líderes se dispõem a acreditar que tem o único sistema de regras que finalmente agrada a Deus e, por isso, considera o outro como tendo menos valor do que o dele próprio. Ignoram aquilo que Deus se deu o trabalho de escrever na vida de Oséias, Davi, Abraão, Paulo, Jesus Cristo e outros. Algo que ficaria marcado para o resto da história como um marco de amor e fidelidade para com Deus.
Necessitamos ter Líderes que se preocupem com o crescimento de seus “Adoradores”, tanto em números, quanto em qualidade. Ministérios que amem aqueles que Deus colocou em seu caminho, antes mesmo que possam encostar-se a um instrumento musical ou um microfone. Quando o enfoque principal de nossos ministérios musicais for este, sem dúvida nenhuma teremos a maior geração de adoradores da história humana.
“E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do mal” JOEL 2:13.
Existe uma “maldição” dentro de nossas igrejas de que se você esta crescendo ou tendo vitórias ministeriais, você está de alguma forma “vendendo” o evangelho de Cristo. Cresci ouvindo isso e creio que muitos de vocês também.
É claro que existem igrejas e ministérios musicais que tem crescido com teologias fracas, e um compromisso superficial com a verdade, mas isso não significa que todos os ministérios que crescem e tem vitórias sejam assim. O ministério de Jesus Cristo atraiu grandes multidões e nunca comprometeu a verdade de suas palavras e ações. Cristo nunca foi acusado de pregar uma mensagem fraca e sem consistência, ele nunca pregou o evangelho “água-com-açúcar”. Apenas os zelosos sacerdotes farisaicos o criticavam por pura inveja. Francamente, creio que esta mesma inveja ministerial ainda move alguns líderes musicais em nossos ministérios hoje em dia.
Líderes têm escolhido seus músicos como se escolhe uma fruta na feira, apenas as de boa qualidade passam pelo crivo do aceitável, as não tão boas assim, só servem na falta de algo superior.
Gosto muito do que Malcolm Smith diz: “Deus não esta a venda! As escadas que o homem constrói, e as regras que ele formula na tentativa de ascender a Deus – tudo isso constituem um insulto ao Deus-Agape que a si mesmo se dá graciosamente a todos“.
Muitos de nossos líderes musicais deveriam entender um pouco mais sobre a “graça” de Deus para com seu povo, pois, vivem debaixo de uma “lei” instituída por eles mesmos, que muitas vezes somente engessam a ação de Deus em seus ministérios.
Confundem excelência com um profissionalismo excessivo, e acabam por enterrar toda e qualquer ação divina na vida de qualquer pessoa que não se enquadra dentro desses conceitos pré-fabricados. Mas creio que a história de Oséias pode nos responder claramente esta questão
Sempre imagino Deus sentado em seu trono, olhando o povo de Israel, procurando uma mulher, para ser a esposa de seu mais proeminente profeta. Fico imaginando quais seriam as opções que teria para a escolha. Pergunto-me por que Oséias não se casou com a FILHA DO SACERDOTE, ou então com a FILHA DO IMPERADOR, teria também a FILHA DO MAIOR FAZENDEIRO da região, sem se esquecer da FILHA DE ALGUM LEVITA. Todas seriam aptas para se casar com um profeta, mas creio que Gomer (a prostituta) deveria ser a última escolha para os pais de Oséias. Para o sacerdote então era inaceitável a ideia de um profeta se casar com uma prostituta. Mas para Deus Gomer era perfeita, então ela foi à escolhida.
Não sei quanto a você, mas eu me intrigo com este quadro que Deus preparou para a vida de seu profeta.
Se perguntarmos para nossos irmãos em Cristo qual o nome da mulher que as casou com Oséias, muitos não saberão nos responder, por quê, como eu, lêem esta história de forma arbitrária (até certo ponto machista). Sempre temos em mente o sacrifício e luta de Oséias, mas são poucos os que se preocupam com Gomer, são poucos os que se dão o trabalho de tentar compreender a luta que ela deve ter tido quando se casou com o grande profeta de Israel. Os olhares de reprovação das mesmas pessoas que buscavam seu marido para ouvirem uma palavra do Senhor. Fico pensando na luta interior desta mulher, e na pressão por ela sofrida, por simplesmente não ser a escolha aceitável de uma época.
Da mesma forma penso em quantas “Gomer” estão sendo jogadas pelas janelas de nossos ministérios por não serem aceitável musicalmente e teologicamente por nossos “crivos” do que é bom ou não.
Quantas pessoas estão sendo rejeitadas por líderes que não querem se dar o trabalho de tratar essas pessoas. Mexer com “prostitutas musicais” não é um trabalho fácil, e não deve ser qualquer um a ter esta responsabilidade. Por isso mesmo é que nossos líderes Musicais devem ser os primeiros a se dispor a isso, afinal eles são os Líderes, foram separados para isso.
Agora, se não cumprem seu papel principal que é cuidar e auxiliar seus liderados em um crescimento saudável em seus ministérios, outras pessoas o fazem. Então também não podem reclamar depois.
Buscamos líderes em nossos ministérios musicais, que se disponham a amar seus músicos, que muitas vezes têm atitudes como as de Gomer. Líderes que tenham total conhecimento da graça de Deus em suas vidas. Que possam olhar para as pessoas e verem aquilo que elas podem ser, depois de tratadas, e não aquilo que são hoje.
Malcolm Smith ainda diz: “O evangelho é o convite para descansar em Cristo, para receber a dádiva não-merecida que Deus concedeu no Filho“.
Que possamos oferecer uma chance para esses adoradores desesperados e solitários que estão jogados nos bancos de nossas igrejas, ensina-los e amá-los, com a graça que Deus nos concedeu.
Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas ó a que seja boa para a necessária edificação, a fim de que ministre graça aos que a ouvem. Efésios 4:29