Improviso no Culto

por: Diogo Cavalcanti

“Som, som” – alguém sussurra ao testar os microfones numa igreja lotada e ansiosa pelo início do culto, que já deveria ter começado. Mais tarde, já na adoração, um líder pergunta à igreja: “Teremos mensagem musical?’ ou algo como “Quem vai contar a história das crianças?” Enquanto isso, conversas vão e vem nos bancos.

Situações como essas deveriam ser exceções, mas, infelizmente, deixaram de ser raras. Tornaram-se comportamentos até aceitáveis em nosso meio. O fato é que muitos de nós estamos incorporando uma cultura de improviso na adoração, que não combina com nossa identidade e muito menos com Deus.

Confesso que essa improvisação vem me preocupando há algum tempo, não somente como pastor e editor, mas como um cristão que precisa de Deus e O busca em Sua casa. O improviso não só prejudica a ordem do culto ou a forma das coisas, mas também pode resultar da falta de dedicação, de amor, ou mesmo de respeito às coisas de Deus. Quando amamos uma pessoa, fazemos o melhor por ela. Com Deus não é diferente. Se O amamos, entregamos-Lhe tudo que temos, como o “preciosíssimo perfume de nardo puro” que uma mulher derramou sobre os pés de Cristo ou a oferta total da viúva pobre (Marcos 12:42; 14:3). O próprio Mestre disse: “Minha comida consiste em fazer a vontade dAquele que Me enviou e realizar a Sua obra” (João 4:34). Quando a obra de Deus está em nosso coração, fazemos o nosso melhor, ansiosos por manifestar honra e gratidão a Ele, que também deu tudo de Si por nós.

Antes de entrar na casa de culto, precisamos considerar quem é Deus. Ele é Pai (Isaías 63:16) e cabe dentro do nosso coração (Isaías 57:15), mas precisamos temê-Lo, pois Ele também é nosso Senhor (Sa1mos 39:4). Temer a Deus é respeitá-Lo e reverenciá-Lo. No passado, muitos O temiam por medo das chamas vingadoras do Juízo. Hoje, o cristianismo vive o oposto: a superênfase na proximidade com o divino criou um Deus surfista, uma divindade antrópica, cópia do nosso RG. Quando reverenciamos um ser igual ou inferior, nossa adoração e moralidade fatalmente decaem. Você tem visto isso por aí?

O verdadeiro temor brota de um coração perdoado e consagrado a Deus. É um sentimento de respeito filial, cheio de esperança e amor. No Antigo Testamento, a palavra “temor” resumia a verdadeira piedade religiosa (Provérbios 1:7; Jó 28:28; Salmos 19:9). No Novo Testamento, um dos sentidos de temor é a atitude que nos motiva a prosseguir na santificação (II Coríntios 7:1; Hebreus 12:28, 29). O temor do Senhor é “fonte de vida” (Provérbios 14:27). A igreja primitiva caminhava no “temor do Senhor” (Atos 9:31). Somente aqueles que temem a Deus O conhecem de fato (Provérbios 9:10; II Coríntios 5:11).

Como povo, fomos chamados a dizer ao mundo que o Criador deve ser temido e adorado (Apocalipse 14:6), e nossa pregação deve ser coerente com o que fazemos nos cultos. Não precisamos retroceder a uma adoração rígida e monótona. Sempre deve haver lugar para espontaneidade e expressão sincera (João 4:23), mas isso não significa que o culto deva ser conduzido de qualquer jeito e sem respeito Àquele que merece honra suprema (Apocalipse 7:12). Não podemos apresentar “fogo estranho” (Levítico 10:1).

Nossos cultos devem ser planejados e prestados a Deus com “decência e ordem” (I Coríntios 14:40), e isso requer dedicação, pontualidade e testes técnicos antes que tudo comece. Devemos reaprender a arte do silêncio, requisito básico na adoração (Habacuque 2:20). Todos os participantes do culto devem saber quando e o que devem fazer. Por trás de todos, deve haver uma mente coordenadora e pronta para suprir o que faltar, seja pessoalmente ou por delegação.

Acima de tudo, devemos criar na adoração o “clima” para uma experiência viva com Deus. “A cada reunião religiosa devemos levar a viva consciência espiritual de que Deus e os anjos ali estão presentes. […] Orai em favor da pessoa que dirigirá a reunião. Orai para que grande bênção advenha à congregação, por meio daquele que deve ministrar a palavra da vida. Esforçai-vos fervorosamente para alcançar vós mesmos uma bênção” (Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 3, p. 28, 29). Em outras palavras, em cada culto, lute por sua bênção, assim como Jacó lutou pela sua (Gênesis 32:26). Renove o significado da adoração em sua vida e em sua igreja, especialmente se você for um dos organizadores. E lembre-se de que Deus merece nosso melhor.


Diogo Cavalcanti é editor associado da revista Vida e Saúde e de outros periódicos da Casa Publicadora Brasileira.


Fonte: Revista Adventista, Setembro de 2010, p. 38