O Pastor e os Rapazes do “Fazer Tudo Grande”
por: C. R. Stam
Estamos vivendo numa época de grande tentação para qualquer jovem pastor esperto.
Na minha breve vida temos passado da era “todo crente uma testemunha” à era de “fazer tudo grande”; da época quando a maioria dos pastores Fundamentalistas ensinavam a Palavra de Deus – freqüentemente em exposição versículo por versículo – aos dias dos grandes pregadores de TV que, freqüentemente se dirigem à milhares de pessoas, ensinam a Bíblia apenas da maneira mais superficial – e isto, parece, geralmente para promover as suas próprias causas, e com pastores comuns em todo o país querendo seguir o exemplo deles.
É certamente uma grande tentação para jovens pastores agressivos seguir o exemplo dos chamados rapazes do “Fazer Tudo Grande”, e é animador tornar-se “bem-sucedido” e ser nomeado entre eles.
Mas vamos olhar estas coisas à luz do que Deus fala sobre o assunto. Enquanto o fizermos, veremos que Deus quer que falemos como Paulo, “Senhor, que queres que faça?” sempre procurando a direção do Espírito Santo ao invés de procurar chegar a qualquer meta além de agradá-Lo. Nesta área a ambição é o inimigo de uma vida abençoada por Deus.
Quando eu era jovem, a grande maioria dos jovens das nossas igrejas Fundamentalistas (1) espalhadas através do país, levavam um Novo Testamento de bolso, saindo diariamente de manhã com a oração, “Senhor, leva-me a alguma alma hoje, que possa conduzir a Ti.” Estes pequenos Novos Testamentos, vendidos aos milhões naquela época, hoje quase nem tem saída. E quanto aos pastores, professores bíblicos e obreiros cristãos, como era familiar, algumas décadas atrás, a oração: “Senhor, me esconda atrás da cruz.” Como Paulo, muitos servos de Deus podiam sinceramente dizer, “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus” (II Coríntios 4:5).
Mas hoje em dia muito poucos são os que tem esta atitude. De fato, muitos dos nossos pregadores mais populares são conhecidos, não pelas verdades preciosas que proclamam, ou pela força do Espírito nas suas pregações, mas pelo interesse que podem criar neste ou naquele assunto popular ou preocupação.
Muitos deles são, francamente, representadores com todos os adornos e cenários usados no teatro moderno. As suas reuniões precisam começar com entretenimento. Freqüentemente esta parte da reunião é um “show” tão real quanto aos do mundo, exceto que é “bom entretenimento cristão”, e usam a justificação de que é feito com o propósito de trazer multidões, para as quais o pastor então pode proclamar o evangelho.
Quando o pregador toca em algum ponto que a platéia aprova ou aprecia, os ouvintes respondem com aplausos. E, a natureza humana sendo o que é, ele gosta; e não tem nada que o agrade tanto quanto um bom aplauso por algo que ele disse. Da mesma forma com atores incrédulos, o aplauso – uma expressão de apreciação – é o que o “mantém vivo”.
Quantos dos rapazes do “Fazer Tudo Grande”, como tem sido chamados, você já observou desencorajando este tipo de aplauso, ou pelo menos censurou-o? Neste aspecto, Crisostom (350 d.C.) foi melhor. Enquanto pregava, sua platéia enorme às vezes aplaudia, mas este poderoso homem de Deus censurava este tipo de “glória ao homem”. Não era estranho ouvi-lo dizer: “O que é isto, um teatro? Por que vocês constantemente interrompem a minha pregação com aplausos? Antes façam o que digo ao invés de me aplaudirem por tê-lo dito.”
Mas hoje! Hoje está se tornando comum ouvir um líder cristão apresentar outro na plataforma, com a solicitação: “Aplausos para ele.”
Tudo isto reflete um desejo de ser popular, em vez de uma determinação de ser fiel. Mas vamos nós, os quais Deus chamou para o ministério, dizer com Paulo:
“Mas como fomos aprovados de Deus para que o evangelho nos fosse confiado, assim falamos, não como para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos corações” (I Tessalonicenses 2:4).
“…se estivesse agradando aos homens, não seria servo de Cristo” (Gálatas.1:10).
Paulo não tinha, como tantos pastores, uma obsessão pela pergunta, “Como me saí com meus ouvintes? Eles gostaram?”
Como muitas das nossas modernas reuniões nas igrejas são distantes daquelas de algumas décadas atrás, quando o cantar vigoroso de hinos pela congregação e uma breve oração pedindo a bênção de Deus na reunião, eram seguidos pela pregação da Palavra! Isto não é para condenar todos as “números especiais” durante os preliminares, mas, sim, condenar a ênfase no entretenimento.
Será que existe um precedente bíblico para o argumento de que precisamos deste “bom entretenimento cristão” para atrair multidões para que então possamos dar-lhes o evangelho? A época de Paulo foi uma época em que o entretenimento grego tinha alcançado o seu auge; quando todas as formas de arte abundaram, junto com os jogos e competições que atraía espectadores de todos os pontos do Império Romano. Mas as pessoas saíram das reuniões de Paulo dizendo: “Como foi bom ver e ouvir este ou aquele gladiador ‘convertido’, ou este ou aquele político ‘convertido’ “? Ouça a resposta de seu próprio coração e mão:
“Porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza; como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós” (I Tessalonicenses 1:5).
Paulo tinha vindo a eles pregando o evangelho no poder do Espírito Santo e foi isto o que atraiu as multidões para as quais ele se dirigia, e ganhou muitos convertidos mesmo em Tessalônica – convertidos que de bom grado sustentavam uma perseguição amarga por causa da testemunha deles da graça salvadora de Cristo.
Que Deus nos restabeleça as bênçãos da época – de não muito tempo atrás – quando havia um reavivamento espiritual de verdade; quando não era qualquer forma de entretenimento, mas a verdade recuperada, pregada no poder do Espírito Santo, que atraía imensas multidões e enchia as igrejas dos Fundamentalistas.
A ênfase de tudo isto: Jovem irmão crente, se você quiser de ser verdadeiramente abençoado e usado por Deus, procure a Sua face e peça-Lhe que o conduza para um serviço mais completo para Ele. E quando suas platéias diminuírem em número, não consulte livros e revistas para métodos ou planos para inverter a tendência. Mas sim, fique de joelhos e peça-Lhe mais poder do Espírito Santo para sua pregação – e passe mais tempo na Palavra, cavando daquela mina inesgotável, as jóias preciosas espirituais que tanto encantará os corações de seus ouvintes.
Se ao invés disto tudo, você estabelecer uma meta para realizar alguma grande obra “para Ele”, você pode acabar se tornando um dos “Rapazes Fazer Tudo Grande”, encontrando-se constantemente na tentação de comprometer a verdade para manter seus adeptos, e sendo constantemente forçado a desonrar Deus, implorando quase que constantemente pelos milhões necessários para “suprir o déficit”, um déficit que já desonrou Deus, porque não traz glória alguma para Ele quando não podemos pagar as nossas contas. A este respeito, nós aqui na Berean Bible Society podemos dizer com gratidão a Deus que nunca tivemos dívida que não pudéssemos pagar, sempre procurando seguir Paulo na sua determinação de não “ir além das nossas condições”, mas indo em frente somente da maneira em que o povo de Deus, por contribuições fiéis, tornou isto possível (Ver II Coríntios 10:14-15).
Talvez, se alguns daqueles que agora são tão populares não tivessem sido tão ambiciosos, não estariam desonrando Deus e o Senhor Jesus Cristo que se tornou “nada” neste mundo para que Ele pudesse nos salvar e fazer de nós algo para o Pai.
Não importam os dons naturais que podemos ter, se nós os usarmos para promover a nós mesmos, sofreremos a perda no tribunal de Cristo – ou antes, porque como o Senhor disse dos fariseus que “amavam mais a glória dos homens”, Ele dirá de nós: “Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.”
Você se lembra da história dos 300 de Gideão? De 32.000 soldados apenas estes 300 foram escolhidos para lutarem com ele, e não foram vistos entre si, porque a batalha aconteceu à noite. Mas há mais; aproximaram-se do inimigo com tochas nas suas mãos dentro de cântaros de barro. E foi só quando os cântaros foram quebrados que a luz brilhou! A lição: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós” (II Coríntios 4:7). Ao permitirmos que Deus nos quebre com a Espada do Espírito, que possamos ter a certeza disto: a luz brilhará.
(1) Propositalmente usei o termo Fundamentalista em vez de evangélico. O último pode ser usado sem qualificações, enquanto que o primeiro, onde se trata de “religião”, claramente refere-se àqueles que defendem os fundamentos da fé cristã.
O presente artigo é o capítulo 8 do livro “Sugestões para Jovens Pastores” de C. R. Stam disponível originalmente em http://www.wordofgracemission.org