Vamos Voltar um Pouco Para Trás

por: C. R. Stam

Não adianta insistir quando você está indo na direção errada. É melhor voltar e começar de novo.

Por mais de 60 anos no serviço para o Senhor tenho testemunhado uma triste mudança no evangelismo e pregação, e as grandes conferências bíblicas de outrora quase que sumiram. Na minha juventude não era incomum o evangelista ou pastor orar para que ele fosse escondido atrás da cruz. Isto é, era seu desejo que os seus ouvintes pudessem deixar o auditório dizendo, não, “Que pregador!” mas “Que Salvador!” O meu próprio pastor era um desses e, pela graça de Deus, teve sucesso em fazer justamente isto. Domingo após domingo saíamos das reuniões estupefatos com as riquezas da graça de Deus.

Mas as coisas mudaram desde aquela época, porque muitos dos líderes religiosos, como os líderes religiosos da época de nosso Senhor (Jo.12:43) amavam “mais a glória dos homens”. E os métodos modernos de pregação têm muito a ver com isto.

Eu apareci na TV apenas sete vezes. Quatro delas foram em Sioux Falls, Dakota do Sul, onde os crentes da graça tinham simplesmente telefonado para a estação de TV, informando-os que eu estaria pregando na Igreja Bíblica da Graça da cidade, e como resultado fui convidado, cada vez, a aparecer num programa. Todas as quatro vezes foram grandes oportunidades para testemunhar para Cristo.

Numa outra ocasião, entretanto, fui convidado a pregar, e para fazer isto tivemos que “ensaiar o show juntos” – realmente uma prática, para ter certeza de que seria interessante. “Segure a sua Bíblia assim”, alguém sugeriu. “Aponte para um versículo de vez em quando. Levante a Bíblia quando você a está lendo, então segure-a casualmente do seu lado ou ponha-a em cima da mesa, de vez em quando. E use diferentes expressões faciais. Sorria, franza a testa, aparente estar triste ou feliz conforme a sua mensagem sugerir.” Logo eu estava farto e perguntei, “Vocês queriam que eu viesse aqui como pregador ou ator?” Com isto eles cederam e fui permitido pregar do coração, e da minha maneira.

Isto foi no começo, mas agora – em muitas grandes reuniões religiosas televisionadas, o fundo precisa ser atraente ou impressionante, igual aos adereços num show de TV secular, geralmente de modo excessivo. A luz precisa ser perfeita, um holofote freqüentemente segue o pregador por todo canto da plataforma. Alguns não se preocupam em esconder o custo substancial de tudo isto ou, de fato, da sua própria influência. Ou a grande reunião precisa começar com meia hora ou mais de entretenimento; um bom entretenimento “cristão”, é lógico, mas entretenimento. Celebridades de quase todos os campos, muitos ainda novatos espiritualmente, ou ainda vivendo no mundo, são solicitados a participar; todos os tipos de música especial são fornecidos, etc. Tudo isto é feito para fazer com que as pessoas freqüentem as reuniões ou liguem a TV naquele canal, e “então pregamos o evangelho a eles”, é explicado.

Não existe qualquer precedente bíblico para isto, nem para os constantes aplausos para o pregador, quando ele fala alguma coisa que agrada a platéia. Isto apenas incha a carne.

Você sabe o que Crisostom (cerca 375 A.D.) disse quando as suas platéias aplaudiam as suas observações? “Eu sou um ator,” ele perguntou, “para vocês me interromperem constantemente com seus aplausos? Eu preferiria que vocês me escutassem com um desejo fervoroso de fazer o que digo.” E em outra ocasião: “Isto é um teatro, em que vocês não podem deixar-me terminar uma sentença sem me interromper com seus aplausos? Vocês realmente estão ouvindo o que estou dizendo?”

Não parece, às vezes, que estamos de volta à época e Crisostom? Os atores deste mundo adoram os aplausos, e não existe uma grande possibilidade de nós podermos estar tão suscetíveis a esta alegria de estar à vista de todos, e de gostar dos aplausos, do mesmo modo? Isto não é esconder-se atrás da cruz, não é mesmo?

A diferença básica entre, digamos, os anos 30 e os anos 80 neste aspecto, é que naquela época íamos à reuniões evangelísticas e conferências não para ficar meramente inspirados, muito menos entretidos, mas para ouvir o que o pregador tinha para ensinar-nos da Palavra. E isto tinha resultados profundos, espiritualmente.

Deus nos ajude para que não almejemos em “fazer coisas grandes”, e certamente para não ser grande, para ser visto e ouvido pelas grandes multidões. Para realmente gozar do poder do Espírito Santo em nossas pregações, precisamos colocar o “visto e ouvido” onde se deve:

“Respondendo… Pedro e João… não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido” (At.4:19-20).

“[Ananias] disse [a Paulo]… Porque hás de ser sua testemunha para com todos os homens do que tens visto e ouvido” (At.22:14-15).

Estas palavras de Pedro e Paulo respectivamente, explicam exatamente o que é o verdadeiro evangelismo. À testemunha no tribunal não é indagado o que ele acha, ou qual é a sua opinião, mas o que ele viu e ouviu: o que ele sabe ser a verdade. E assim é o nosso chamamento: para sermos testemunhas aos homens daquilo que Deus nos revelou na Sua Palavra como sendo a verdade. Se nós fizermos isto humilde e fielmente, podemos ser, como Paulo, “desconhecidos, mas sendo bem conhecidos”, mas quem desejaria por resultados maiores de seu ministério do que ele?

Quando leio as escritas de grandes homens de Deus de séculos passados, como J. S. Howson, Alexander Whyte, etc., freqüentemente falo para mim mesmo: “Como eu gostaria de ter freqüentado a sua igreja e participado das festas espirituais que ele colocava à frente de seus ouvintes!” Porque estes homens tornaram-se líderes espirituais, não porque eles eram pregadores fascinantes, ou tinham aprendido a fazer coisas dum modo grande, mas por causa do que eles diziam. É por isto que seus livros tornaram-se obras padrões. Pessoas, até mesmo de gerações sucessivas, queriam mais e mais dos ensinamentos deles da Palavra.

Que possa ser assim com você e comigo, caro pastor jovem, porque Deus quer que nós testemunhemos, de modo simples e sincero, a verdade que Ele nos revelou.


O presente artigo é o capítulo 15 do livro “Sugestões para Jovens Pastores” de C. R. Stam disponível originalmente em http://www.wordofgracemission.org