Acústica
(Parte 2)
Prof. Luiz Ferraz
Netto
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Fenômenos
compatíveis com a propagação da onda sonora
Na
propagação do som observam-se os fenômenos gerais da propagação
ondulatória. Dada sua natureza longitudinal,
o som não pode ser polarizado; sofre, entretanto, os demais fenômenos,
a saber: difração, reflexão,
refração, interferência
e efeito Doppler.
A
difração depende do comprimento
de onda; é a propriedade que a onda apresenta em contornar (devido
ao modelo de fontes secundárias, posto na teoria da ondulatória, no
princípio de Huyghens) os obstáculos que encontra durante sua
propagação. Como o comprimento de onda (l)
das ondas sonoras é bastante grande (enorme, em relação ao
comprimento de onda da luz), a difração sonora é intensa.
A
reflexão do som obedece às leis
da reflexão ondulatória nos meios materiais elásticos e suas
conseqüências. Convém frisar que a reflexão do som ocorre bem em
superfícies cuja extensão seja grande em comparação com o
comprimento de onda, determinando, por sua vez, novos fenômenos
subjetivos conhecidos como reforço,
reverberação e eco.
Esses fenômenos derivam do fato de que o ouvido humano discerne duas
excitações breves e sucessivas, apenas se, o intervalo de tempo que
as separa é maior ou igual a 1/10 do segundo (persistência
auditiva).
Suponhamos
que a fonte emita um som breve, que representaremos por (tá)
e siga dois raios sonoros; um que vai diretamente ao ouvido (D)
e outro que incide num anteparo A, reflete-se e dirige-se para o
ouvido do mesmo observador (R). Dependendo do intervalo de
tempo (Dt)
com que esses sons breves (D) e (R) atinge o ouvido, poderemos ter três
sensações distintas (reforço, reverberação e éco).
No
reforço, o som breve direto (D)(
tá ) atinge o tímpano e o excita-o e, antes de terminar sua
completa excitação, chega o som breve refletido (R)( tá ) e
reforça a ação do som direto. Isso ocorre porque o intervalo de
tempo que os separa é menor que 0,1 segundo.
Na reverberação o som breve
refletido (R)( tá ) chega ao ouvido antes que o tímpano, já
excitado pelo som direto, tenha tempo de se recuperar da excitação
(fase de persistência auditiva) e assim começa a ser excitado
novamente, combinando tais excitações. Isso ocorre quando o
intervalo de tempo entre o (D) e o (R) é maior ou igual a zero, porém
menor que 0,1 segundo. O resultado é uma 'confusão' auditiva o que
prejudica o discernimento tanto do som direto quanto do refletido. É
o que ocorre em auditórios acusticamente mal planejado.
No eco o som breve refletido
chega ao tímpano após esse ter sido excitado pelo som direto e se
recuperado dessa excitação voltando completamente ao seu estado
natural (completa a fase de persistência auditiva), e assim, começa
a ser excitado novamente, permitindo discernir perfeitamente as duas
excitações ( tá tá ).
Quando
o próprio observador é a fonte, como ilustramos acima, e pelo fato
da sensação sonora persistir por 0,1 segundo, sua distância ao
anteparo não pode ser inferior a 17 metros, caso queira ouvir o eco
de suas últimas sílabas.
Ainda
derivado do fenômeno da reflexão do som, temos a considerar a formação
de ondas estacionárias nos
campos ondulatórios limitados, como é o caso de colunas gasosas
aprisionadas em tubos. O tubo de Kundt,
abaixo ilustrado, permite visualizar através de montículos de pó
de cortiça a localização de nós (região isenta de vibração
--- e de som) no sistema de ondas estacionárias que se estabelece
como resultado da superposição da onda sonora direta e a onda
sonora refletida.
A
distância (d) entre dois nós consecutivos é de meio comprimento de
onda ( d = l/2
). Sendo Vgás = l.f
tem-se: Vgás = 2.f.d . Que resulta num processo que
permite calcular a velocidade de propagação do som em um gás
qualquer! A freqüência f é fornecida pelo oscilador de áudio-freqüência
que alimenta o auto-falante.
A
refração do som obedece às
leis da refração ondulatória, fenômeno que caracteriza o desvio
sofrido pela frente de onda, que geralmente ocorre, quando ela passa
de um campo ondulatório (por exemplo, ar) a outro de elasticidade
(ou compressibilidade, para as ondas longitudinais) diferente (por
exemplo, água).
Convém frisar que ao passar de um campo (meio) para outro (do ar
para a água, no exemplo), a característica do som que se mantém é
a sua altura (freqüência);
assim, tanto o comprimento de onda (l)
como sua velocidade de propagação (V) são diferentes em cada campo
ondulatório.
f
= V1/l1
= V2/l2
= V3/l3
.....
Cuidado!
... raio sonoro versus
raio de luz
a)
Som necessita de meio material para sua
propagação, pois é onda mecânica!
b) Luz dispensa um meio material (ordinário)
para a sua propagação, pois é onda eletromagnética!
c) Som e luz transportam apenas energia
--- conceito da ondulatória ---; o som (com suporte material, o
meio) leva energia mecânica; a luz (com ou sem suporte material)
leva energia dos campos elétrico e magnético.
d) Geralmente, apenas para as ondas eletromagnéticas, associa-se ao
meio uma característica traduzida pelo seu índice
de refração ( n = Vvácuo/Vmeio );
para as ondas mecânicas, a influência do meio é caracterizada pela
impedância característica ( Zmeio
= dmeio
x Vmeio ) expressa no S.I.U. em unidades rayls
(homenagem a Rayleigh) (kg/m2.s). entretanto, para a
uniformização das fórmulas, pode-se colocar o conceito de índice
de refração de um meio, para o som, fazendo nmeio
= Z/dmeio
.
A impedância característica do ar é de 420 rayles, o que significa
que há necessidade de uma pressão de 420 N/m2 para se
obter o deslocamento de 1 metro, em cada segundo, nas partículas do
meio.
Atente
bem para isso!
A
interferência é a conseqüência
da superposição de ondas sonoras; o trombone
de Quincke é um dispositivo que permite constatar o fen6omeno
da interferência sonora, além de permitir a determinação do
comprimento de onda. O processo consiste em encaminhar um som simples
produzido por uma dada fonte (diapasão, por exemplo) por duas vias
diferentes (denominados 'caminhos de marcha') e depois reuni-los
novamente em um receptor analisador (que pode ser o próprio ouvido).
Pela
ilustração:
1o
caminho de marcha = ABC = L1 ;
2o caminho de marcha = AB'C = L2 ;
DL = diferença
de marcha = L2 - L1 (valor lido no próprio
aparelho).
Análise do fenômeno
(casos
notáveis):
(a) Se
o DL = (2k +
1)(l/2), ou
seja, um número ímpar de meios comprimentos de onda, os dois sons
chegam ao ouvido em oposição de fase (detalhe 1. na ilustração
acima), o que determina o anulamento (extinção) delas; diz-se que
ocorre uma 'interferência
destrutiva'.
(b) Se o DL =
2k(l/2) = k.l
, ou seja, um número par de meios comprimentos de ondas ou um número
inteiro de comprimentos de onda, os dois sons chegam ao ouvido em
concordância de fase (detalhe 2. na ilustração acima), o que
determina um considerável reforço na intensidade do som; diz-se
que ocorre uma 'interferência
construtiva'.
Para
se determinar o comprimento de onda do som emitido pela fonte (diapasão)
no meio contido pelo trombone, basta procurar as posições da vareta
móvel (B') que correspondem a duas extinções sucessivas, assim:
1a
extinção do som ==> DLo
= l/2
(lido no aparelho, k = 0)
2a extinção do som ==> DL1
= 3.l/2
(lido no aparelho, k = 1)
DL1
- DLo
= 3.l/2
- l/2
= l
<== obtido
Conhecida
a freqüência f (da fonte, e portanto do som) pode-se calcular a
velocidade de propagação do som no gás contido no tubo: V
= l.f
.
Nota
- Dois sons de alturas iguais (freqüências iguais) se reforçam ou
se extinguem permanentemente conforme se superponham em concordância
ou em oposição de fase.
Se suas freqüências não forem rigorosamente iguais, ora eles se
superpõem em concordância de fase, ora em oposição de fase,
ocorrendo isso a intervalos de tempo iguais, isto é, periodicamente
se reforçam e se extinguem. É o fenômeno de batimento.
O
intervalo de tempo acima referido denomina-se 'período do batimento'
TB e a freqüência com que ele ocorre na unidade de tempo
é fB expresso por fB = | f2 - f1|,
sendo f1 e f2 as freqüências dos sons que se
superpõem. É fácil de observar batimentos acústicos
tocando-se simultaneamente, em um piano, uma tecla e a do
correspondente sustenido; o som percebido apresenta máximos e mínimos
de intensidade.
Os batimentos estorvam, em música, a utilização simultânea (de
maneira corrente) de poucas notas de freqüências muito próximas.
Entretanto, obtém-se um efeito excelente no órgão onde, pelo jogo
celeste (duas freqüências muito próximas), dá-se ao
som um andamento ondulante que é agradável ao ouvido.
O
efeito Doppler é a conseqüência
do movimento relativo entre o observador e a fonte sonora, o que
determina uma modificação aparente na altura do som recebido pelo
observador.
Convenção de sinais |
F : fonte
sonora
(a) em repouso, VF = 0;
(b) em movimento progressivo, VF > 0;
(c) em movimento retrógrado, VF < 0. |
O: observador
(a) em repouso, VO = 0;
(b) em movimento progressivo, VO > 0;
(c) em movimento retrógrado, VO < 0. |
Vsom
= velocidade do som em relação a R = constante;
Var = velocidade do ar em relação a R = constante;
VO = velocidade do observador em relação a R;
VF = velocidade da fonte em relação a R;
fap = freqüência aparente do som, percebida pelo
observador;
freal = freqüência real do som emitido pela fonte.
Nota:
Veja mais detalhes sobre o Efeito
Doppler <== clique aqui.
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