Interferência
sonora no diapasão
(e ... uma questão
de conceito!)
Prof.
Luiz Ferraz Netto
[email protected]
(original: 23/06/2001)
Apresentação
Os dois ramos de um diapasão
oscilam em oposição de fase, determinando uma interferência parcialmente
destrutiva do som produzido. Disso decorre a baixa eficiência do diapasão
(sem caixa de ressonância). Coloque um diapasão para oscilar (golpeie com
o martelo de borracha) e envolva um dos ramos com um tubo de plástico ou
vIdro. A intensidade do som produzido aumenta substancialmente. Desenvolva
assunto sobre interferência; mostre como ocorre a interferência
parcialmente destrutiva no ar envolvente, em diapasão, sem o tubo
proposto.
Nota
1: Em janeiro de 2003 recebi uma série de três perguntas
feitas por uma consulente desse 'site'. Na ordem:
(1a)
Como surgiu o diapasão? Gostaria de saber algo de sua história;
(2a) Tem jeito de aumentar o som que ele emite (sem exagerar na
pancada)? e
(3a) Quando encosto o diapasão na caixa de ressonância o som
fica mais forte; de onde vem essa energia extra?
A
primeira dessas respostas, discutida no Ciencialist
( ([email protected]),
uma excelente lista de discussão do Yahoo Grupos, foi gentilmente enviada
pelo amigo José Colucci Jr. Com sua autorização
para publicação, vamos a ela:
"A
física da música é um assunto fascinante, e poderia encher volumes. O
diapasão, como fonte de freqüência padrão -- 'som padrão' --, foi
inventado por John Shore, trombeteiro real
inglês, em 1711. Interessante notar que o piano foi inventado na mesma época.
A freqüência do diapasão foi se alterando através dos tempos. Quando
John Shore o inventou, era inicialmente de 419,9 Hz, a mais baixa da história.
Atingiu a freqüência mais alta, de 457,2 Hz, em 1879, no
diapasão proposto pelo fabricante de pianos Steinway
& Sons, de Nova York. A freqüência atual, de 440 Hz, foi
ratificada por Norma Internacional em 1987, na minha cidade adotiva de
Toronto.
Em abril de 1988, na Itália, durante a conferência "Música
e Estética Clássica", uma campanha mundial foi lançada para
restaurar a afinação original do diapasão, usada por compositores clássicos
da época de Bach
a Verdi. No sistema proposto, a referência seria um C
(dó) central cuja freqüência é de 256 Hz, o que conduziria a um A4
(lá da quarta oitava) de 432 Hz. Apesar do Instituto Schiller, um dos
proponentes da mudança, alegar razões que fariam um cético ranger os
dentes, a idéia é boa. A voz humana seria a
grande beneficiária da nova afinação. Boa parte da música clássica
vocal e instrumental foi desenvolvida no período em que o diapasão era
'mais baixo'. Não só a música vocal é mais fácil e natural de cantar
no
diapasão mais baixo, como os instrumentos acústicos soam melhor, pois
foram aperfeiçoados para ele. Há depoimentos de músicos de orquestra e
cantores de ópera sobre as vantagens da mudança."
As
outras duas perguntas da consulente em questão podem ser respondidas, uma
pelo experimento de abertura desse trabalho e outra pela questão
de conceito discutida abaixo.
Vamos
aqui levantar uma questão de conceito:
O
som emitido por um diapasão é tão débil que, de modo geral, é ouvido
apenas á pequena distância dele.
Não obstante, se o diapasão é fixado numa caixa de ressonância (caixa
retangular de madeira com dimensões apropriadas) seu som é ouvido numa
sala relativamente ampla.
De onde aparece, nesse segundo caso, a energia "sobrante"?
Não tropeçamos aqui com uma violação da conservação da energia?
Comentamos:
O som do diapasão amortece paulatinamente, já que a energia de suas
oscilações é transferida, pouco a pouco, para o meio circundante.
A dispersão aumenta e transcorre com maior rapidez se o diapasão
encontra-se fixado em um ressoador ou simplesmente encostado no tampo de
uma mesa, posto que, nesses casos, a transmissão ocorre não apenas via
ramos do diapasão como também pela superfície do ressoador ou da mesa.
Desse modo, ainda que nos casos citados se ouça um som mais intenso (reforço),
sua duração será menor e a energia
emitida resultará igual em ambos os experimentos (diapasão suspenso ou
encostado em algo).
O experimento que comprova isso é simples: um osciloscópio - traço duplo
- dotado de 2 pequenos amplificadores de áudio e 2 microfones; um
microfone é posto a alguns centímetros do diapasão (em ambos os
experimentos) e o outro a uns 5 metros de distância. Ajustam-se os ganhos
de modo que ambos os microfones sejam sempre sensibilizados.
Feitos os experimentos comprova-se facilmente que nos casos do diapasão
encostado em algo (ressoador, tampo de mesa etc.) o fenômeno têm menor
duração (vibra durante menor intervalo de tempo) que quando livre.
Nota
2: Sobre a 2a pergunta de nossa consulente, ainda na
mesma mensagem enviada ao Ciencialist, José Colucci
Jr. propões uma complementação bastante interessante:
"Em
adição ao experimento descrito no Feira de Ciências
--- envolver um dos ramos com um tubo de plástico ou vidro ---, um outro
experimento interessante pode ser feito girando-se o diapasão em torno de
seu eixo. Os padrões de interferência destrutiva, devido à geometria típica
do instrumento, são projetados segundo direção diagonais, em relação
às pernas do diapasão. Girando-se o diapasão perto do ouvido, ouve-se o
som aumentar e diminuir conforme estamos na região de interferência
destrutiva ou construtiva. Nenhum objeto, com exceção de uma esfera
cercada por ar de todos os lados, emite o mesmo padrão sonoro em todas as
direções. Esse é um problema bem conhecido pelos engenheiros de som
quando têm que posicionar um microfone para a gravação de instrumentos
acústicos."
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