Período
de oscilação
Prof. Luiz Ferraz
Netto
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Introdução
Considere a seguinte situação: uma partícula de massa m se desloca
com velocidade V entre duas paredes de grande massa, com as quais
ela experimenta colisões perfeitamente elásticas. O movimento
resultante, caso a velocidade mantenha-se sempre perpendicular às
paredes, será algo como um 'pingue-pongue' perpétuo. Abaixo
ilustramos a situação proposta e o gráfico s = s(t), de origem
centrada a igual distância das paredes. Nesse sistema, a coordenada
s coincide com a coordenada x.
Obviamente,
esse é o gráfico de um movimento periódico. O período do
movimento não se altera com o decorrer do tempo. Entretanto, não
podemos dizer que ele seja o período próprio do sistema,
pois com diferentes condições iniciais obteremos um período
diferente.
Basta, por exemplo, que aumentemos o módulo de V para obter um novo
movimento periódico cujo gráfico poderá ser algo assim:
Podemos
notar ainda que, se diminuirmos a distância entre as paredes,
mantendo a velocidade primitiva, o período diminuirá, e o gráfico
será algo como:
Portanto,
o período do movimento não depende apenas
do sistema, mas também das condições
iniciais. No exemplo acima, alterar a velocidade inicial da
bola, a distância entre as paredes ou ambos, afetará o período do
movimento.
O
mesmo ocorrerá com esse outro sistema: um pequeno bloco
desliza, sem atrito, sobre um duplo plano inclinado em forma de 'V'
(negligenciamos a descontinuidade na interseção). O bloco é
abandonado de uma particular altura h, sendo uniformemente
acelerado até o centro do "vale do potencial" e, em
seguida, desacelerado uniformemente até atingir a mesma altura
inicial no outro plano inclinado. Eis a situação e o correspondente
gráfico do movimento:
Cuidado!
A figura tem certas semelhanças qualitativas com uma senóide, mas
é formada com ramos de parábolas!
O período certamente depende
das condições iniciais: se soltarmos o bloco de uma altura
menor (h' < h), haverá menor distância a percorrer, o que
se efetuará em menor tempo (lembre-se que a aceleração tem módulo
constante a = g.senq).
O novo gráfico será algo como:
Novamente
temos em mãos um sistema que produz um movimento periódico, mas
cujo período depende das condições iniciais, e não apenas do
sistema considerado.
Pergunta: Será
que existem sistemas cujo período de movimento sejam
independentes das condições iniciais?
Resposta: Sim.
E isso nos trará conceitos importantes, que culminará com o
fenômeno da ressonância.
Imagine
a seguinte situação:
|
Duas
massas iguais estão ligadas à duas molas ideais, de
mesma constante elástica e mesmo comprimento natural. Não
existe atrito contra o plano horizontal que suporta a
massa m (não representado na ilustração).
Suponha que distendamos a segunda mola do dobro da
primeira. Em seguida, soltamos as duas massas
simultaneamente, de modo que elas "apostam
corrida" até a posição de equilíbrio xo
.
Qual das massas chegará primeiro?
|
Aparentemente,
existem dois fatores que atuam em sentidos opostos: a força de
restituição e a distância a ser percorrida. Na segunda situação,
a distância a ser percorrida até a posição de equilíbrio é
maior (2x), mas a força que atua na massa também é maior
(maior deformação da mola).
Qual dos fatores será predominante?
A
resposta experimental é: nenhum deles.
As duas massas chegam exatamente ao mesmo tempo.
O argumento matemático que ajuda a compreender o motivo dessa
coincidência é ilustrado abaixo:
A
um pequeno deslocamento inicial Dx
da massa com mola menos distendida corresponde um deslocamento duplo
2.Dx
da outra massa. Fácil ver que a força na segunda situação, em
cada posição até a posição de equilíbrio, é o dobro daquela da
primeira situação. Ao passarem pela posição de equilíbrio a
massa da segunda situação terá o dobro da velocidade da primeira.
Para
bem visualizar isso, poderemos usar de uma barra muito leve
interligando os dois sistemas e capaz de girar, sem atrito, sobre um
eixo colocado à altura da posição de equilíbrio. A barra
acompanhará a cada instante os movimentos das duas massas. Veja
isso:
Em
resumo, o tempo que qualquer das massas leva para voltar à posição
de equilíbrio (xo) é o mesmo, independente das condições
iniciais. Pela conservação da energia, e por um argumento de
simetria, pode-se mostrar que, após cruzar a 'linha de chegada' (xo),
as duas massas passarão a ser 'freadas' pela mola, parando após um
tempo igual ao necessário para acelerá-las
a uma distância igual à que seus pontos de partida tinham ao ponto
de equilíbrio, ou seja, uma das massas avançará x acima da posição
xo e a outra 2x.
Ilustramos isso abaixo, com deslocamentos iniciais d e D = 2d, com
molas no plano horizontal, sem atrito:
O
resultado é um movimento periódico cujo período independe
das condições iniciais, e que é o período
próprio do sistema massa-mola. Como sabemos, esse período é
expresso por:
Comprovação
experimental
Munido de uma mola de constante elástica K
conhecida e da massa m, também conhecida, meça o período
de oscilação própria do sistema massa-mola. Caso o período
seja muito pequeno para ser medido diretamente com um cronômetro, meça
o tempo necessário para que o sistema complete, por exemplo, dez
ciclos completos, o que aumentará sua precisão.
Faça o sistema oscilar com grande amplitude e meça o período. Em
seguida, repita a medida para oscilações bem pequenas,
comparando-os.
Procure
estabelecer a relação entre suas observações tiradas do sistema
massa-mola e o fato de que um objeto de metal dá sempre o
mesmo som quando percutido com forças diferentes (o que varia é a
intensidade do som, propriedade popularmente denominado por 'volume
do som'). Já imaginou se um sino desse um som diferente para cada
percutida com intensidade diferente? E o xilofone? E o piano?
Muita
atenção a isso!
Talvez, durante algumas experiências, você tenha estranhado o fato
da mola estar na vertical. A ação da
gravidade não deveria alterar a lei de força em função da posição?
Afinal, há uma nova força atuando.
Uma análise gráfica mostra que há realmente uma diferença, mas
verificamos que ela não altera essencialmente as características do
movimento. O período do sistema massa-mola não se altera, uma vez
que na 'nova lei de força' a resultante das duas forças
continua a ser de 'restituição do tipo elástica'.
Observe:
Assim,
um sistema massa-mola NÃO TEM seu período alterado pela ação
da gravidade.
Para
fazer experiências com isso basta você dispor de uma mola e um
carrinho dotado de rodas. Teste o experimento na horizontal e na
vertical. Compare seus períodos. Use o método de contagem
cumulativa dos ciclos completos, para melhorar a precisão.
Coloque uma carga extra no carrinho e experimente novamente, tanto na
horizontal como na vertical. compare os períodos. Mantenha o
carrinho, mas troque a mola. Repita tudo.
Constate que cada sistema massa-mola tem seu período próprio de
oscilação. Do que depende esse período? quais os parâmetros
relevantes?
Para
demonstrações aos alunos, recomendamos ao professor, adquirir uma
coleção de molas de constantes elásticas diferentes e massas
aferidas, montadas conforme se ilustra:
Lembre-se
de destacar aos alunos a seguinte observação 'intuitiva': 'as
coisas grandes e pesadas são lentas'. [Não leve essa observação
ao extremo, tá bem?].
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