FIGURAS
DE LISSAJOUS EM 3 DIMENSÕES
Prof.
Luiz Ferraz Netto [Léo]
[email protected]
Introdução
As figuras de Lissajous,
em nível de 2o grau, ensino médio e técnico, são
estudadas como resultantes de superposições de dois movimentos harmônicos
simples que se desenvolvem em direções perpendiculares.
Dois
movimentos harmônicos simples coplanares e de direções
perpendiculares entre si, dando como resultante uma figura de
Lissajous.
Você pode obter tais figuras
projetadas em telas (imagens reais), por efeito de persistência
retiniana, de vários modos, tais como:
1
- Projeto com diapasões
Colar dois pequenos espelhos planos em uma das extremidades livres de
dois diapasões que vibram em planos perpendiculares e incidir sobre
eles um pincel de luz (de preferência , de laser) que, refletindo-se
em ambos, incida na tela.
Dois
diapasões vibrando em planos perpendiculares
2
- Projeto com alto falantes
Colar dois pequenos espelhos planos nos centros de dois cones de
alto-falantes, dispostos em planos perpendiculares, e incidir um
feixe de luz laser que, refletindo-se em ambos, atinge a tela. Os
alto-falantes devem ser excitados por dois pequenos amplificadores de
áudio (5 a 10 W) independentes e, cada um deles, por sua vez,
excitado por um gerador de áudio freqüência. Os devidos ajustes
das freqüências componentes, assim como suas amplitudes, permitem
visualizar na tela (duas dimensões) toda a gama de figuras de
Lissajous.
Dois
espelhos perpendiculares entre si, fixos aos cones de dois
alto-falantes
Nota:
Esse projeto foi posto, em detalhes, nessa Sala 10; clique AQUI
!
Nosso
novo projeto
Esse novo projeto, permite a visualização de tais figuras em três
dimensões. E' um trabalho audacioso para alunos do
segundo grau, que, porém, deve ser tentado. Vencer desafios é a
meta do ser humano culto e integrado na educação.
Vejamos a idéia básica do
projeto.
Você deve ver as tais figuras de
Lissajous, logo, a luz deve partir de algum lugar e incidir em seu
globo ocular. Então, necessitaremos de uma fonte de luz. Essa, pode
ser proveniente de um projetor de ‘slides’, um projetor de
‘loops’, ou qualquer outra fonte colimada (dotada de lentes que
permitam o ajuste da focalização).
Essa luz não poderá vir diretamente da fonte para os
nossos olhos, ela deverá ser refletida (ou melhor, difundida) por
alguém (superfície difusora) e daí seguir para os olhos de vários
observadores (e não só para os seus!). Além disso, essa luz
difundida para os vários observadores, deverá produzir, por persistência
retiniana, a figura de Lissajous em 3 dimensões;
logo, já deverá ser a resultante de movimentos harmônicos
perpendiculares entre si.
Eis como se pode obter tudo
isso:
Um pequeno motor elétrico,
cuja rotação possa ser controlada eletronicamente (ver comentários
adiante), leva em seu eixo um disco de madeira (pintado com tinta
preta opaca) de 10 a 12cm de diâmetro e 1cm de espessura. Próximo
à periferia desse disco, prende-se, perpendicularmente ao seu plano,
uma haste cilíndrica de madeira, de diâmetro 0,6 a 0,8cm e
comprimento de 10 a 12cm, pintada com tinta branca (tinta látex,
branco neve). Um lápis de cor, branco, pode ser usado, sem
problemas.
Eis
a ilustração dessa parte da
montagem:
Disposição
do motor (1), disco, haste e controle de velocidade.
Ligando-se o motor elétrico,
a haste branca põe-se a girar, descrevendo uma superfície cilíndrica,
em relação ao eixo de rotação. Se o período de rotação do eixo
do motor for menor que 1/10 do segundo, não veremos a haste
deslocando-se de uma posição para a outra e sim um ‘tubo
branco’, devido à persistência retiniana. Olhando-se tal
"tubo", de lado, tal como se observa na figura acima,
veremos apenas uma "faixa branca". Essa faixa branca nada
mais é que a projeção do movimento da haste, num plano vertical
(plano z O y), que é um movimento harmônico simples (MHS), de freqüência
f (igual à do rotor do motor) e amplitude r (distância do centro do
disco à haste). A figura a seguir mostra o movimento da haste, no
plano z O y.
MHS,
visto no plano vertical (zOy)
Vista desse plano, o movimento
de um ponto da haste, no eixo de referência
z é dado pela
equação:
z = r.cos(2.p.f.t)
(1)
onde r é a amplitude do
movimento , f sua freqüência e z a elongação do ponto da haste,
medida a partir do eixo de rotação. Assumimos fase inicial nula, ou
seja, a haste encontra-se na posição extrema A (+r), no instante ao
qual se associa t=0. Se olharmos o movimento da haste, por cima, ou
seja, visto no plano x O y , também teremos um MHS, de amplitude r,
freqüência f e defasado do movimento vertical [de equação (1)] em
p/2 radianos. Você
deslocou seus olhos do plano vertical
para o plano horizontal ¾ deslocou-se de p/2 radianos. Matematicamente, no instante inicial já
adotado, o ponto da haste encontra-se em O e não em B. A figura a
seguir ilustra tal situação.
MHS, visto no plano horizontal
(xOy)
A figura a seguir mostra, em perspectiva tais movimentos
harmônicos simples.
Perspectiva
dos movimentos componentes segundo (xOy) e (zOy)
Esse movimento, observado no
plano horizontal, tem equação:
x = r.cos(2. p.f.t - p/2)
ou
x
= r.sen(2. p.f.t)
(2)
Superpondo-se esses dois
movimentos harmônicos simples de direções perpendiculares, com
mesmas amplitudes, mesmas freqüências e defasados de p/2 radianos, tem-se como resultado um movimento circular
e uniforme, de raio r e freqüência f, que é o movimento de
qualquer ponto da haste branca, no espaço. A haste toda descreverá,
portanto, a superfície cilíndrica, vista por persistência
retiniana.
As equações (1) e (2) são
as equações paramétricas desse MCU.
A trajetória resultante, de cada
ponto da haste branca, tem equação obtida a partir de
(1) e (2), com a eliminação do parâmetro t.
x = r.sen(2. p.f.t)
z = r.cos(2. p.f.t)
elevando-se ao quadrado:
x2
= r2.sen2(2pt.f)
z2 = r2.cos2(2ptf)
somando-se, membro a membro:
x2 + z2 = r2
(3)
uma vez que sen2(2ptf) + cos2(2ptf) = 1
A (3) é a equação da
circunferência de raio r e centro na origem do sistema de
coordenadas (O).
Observe, portanto, que o
simples movimento da haste ao redor do centro do disco já é a
composição de dois movimentos harmônicos simples perpendiculares
entre si, dando como visual, em alta rotação, a superfície cilíndrica
branca.
A seguir, vamos introduzir o
terceiro movimento harmônico simples no sistema. Esse terceiro
movimento harmônico será o de uma estreita faixa luminosa vertical,
percorrendo a extensão da haste branca, horizontalmente. A figura
abaixo ilustra a inclusão desse movimento no sistema.
Movimento oscilatório da
faixa luminosa ao longo da haste branca
Essa faixa luminosa vertical,
em movimento harmônico horizontal é obtida a partir de um cartão
preto, que contém uma fresta de 2 a 3mm de largura por 5cm de
comprimento, que oscila na frente do feixe de luz proveniente do
projetor.
Esse movimento oscilatório do
cartão pode ser conseguido de vários modos. Vejamos alguns:
(a) Um deles, consiste em converter o movimento circular de um disco
(cuja periferia encosta-se ao eixo de um motor elétrico) em um
movimento 'quase' harmônico através da técnica manivela-biela. Você
saberia dizer porque tal movimento do cartão não é um perfeito
MHS?
Obtenção
do terceiro movimento oscilatório (quase) harmônico
(b)
Eis outra sugestão, que faz com que o cartão realize realmente um
MHS:
(c)
Uma boa versão da (b) é a seguinte:
(d) Mais possibilidades para fazer a fresta executar um vai-vem periódico:
(e) Outra solução, é
colocar guias para o movimento do cartão e ligar a biela diretamente
do disco ao cartão, como se ilustra a seguir.
Outro
modo de se obter o terceiro movimento
A rotação desse motor (cujo
eixo revestido de borracha toca na periferia do disco) também deve
ser controlada eletronicamente (ver comentários adiante).
Optei pela primeira das possibilidades apresentadas por já se
encontrar pronta na fase de desenvolvimento desse projeto. Com essa
montagem, a luz que passa pela fresta do cartão percorrerá a haste
branca, ao longo de sua extensão (eixo y), com equação:
y = b.cos(2. p.f’.t)
(4)
onde b é a amplitude do
movimento (cerca da metade do comprimento da haste; esse ajuste
faz-se através das posições relativas entre fresta, haste e
projetor) e f’ é a freqüência do movimento do cartão [ajustável,
no motor (2)].
A figura a seguir dá um visual geral da montagem:
Aspectos
gerais da montagem
Com
a haste branca em repouso [motor (1) desligado] e com o cartão em
movimento [motor (2) ligado] , a faixa luminosa vertical percorrerá
toda a extensão da haste branca num movimento de vai e vem [é o
movimento dado pela equação (4)] ; com o motor (1) ligado,
observar-se-á a superposição dos 3 movimentos, de equações (1) ,
(2) e (4), simultaneamente, pela luz difundida pela haste branca. Em
ambiente escurecido o visual é surpreendente.
O parafuso (1) que aciona a biela pode ser deslocado ao longo do raio do
disco e, com isso, ajustar a extensão do percurso horizontal (a) executado
pelo cartão. O parafuso (2) que fixa a fonte de luz pode permitir ajuste
da distância desta fonte até a fresta e, com isto, ajustar a largura da
faixa luminosa que atinge a vareta branca.
São as famosas figuras
de Lissajous,
vistas em três dimensões. A
figura exibe (se desculparem minha veia artística) dois desses
visuais.
Exemplos
de figuras de Lissajous observadas
As equações:
x = r.sen(2pt.f)
z = r.cos(2pt.f)
y = b.cos(2pf’.t)
são as equações paramétricas
da figura de Lissajous obtida, em 3 dimensões. Essa figura, estará
contida na superfície do cilindro com base de raio r e altura 2b,
como se ilustra na figura a seguir:
A figura
de Lissajous forma-se sobre a superfície cilíndrica
Veja, mais abaixo, algumas
figuras de Lissajous, em duas dimensões, em função das
defasagens dos dois movimentos componentes.
Nota:
Para o terceiro MHS poderíamos tentar a técnica de fazer uma
pequena caneta laser oscilar verticalmente na posição da fresta F. Que tal você
experimentar isso e contar-me o resultado?
Comentários
Alguns detalhes construtivos são
postos a seguir, no intuito de orientá-lo. Modificações técnicas são
sempre possíveis, dependentes sempre dos recursos à disposição. Não
se acanhe em pedir ajuda ao professor, aos familiares, ao marceneiro
de sua rua, ao torneiro conhecido. Basta que você e seus colegas
participantes do projeto conversem seriamente com tais pessoas,
destacando o projeto científico.
Pequenos motores elétricos
universais (dotados de escovas), para 110v, são os mais indicados
para o projeto (tipo motor de máquina de costura, furadeiras elétricas
portáteis, pequenos agitadores elétricos de cozinha etc.), por
admitirem ajuste eletrônico de velocidade. O circuito eletrônico
mais simples para tais controles é o ilustrado na figura a seguir:
Esquema do controle de potência
para motores universais
Para
a montagem do controle de velocidade (ou de potência), cuja esquema
apresentamos, o material é o seguinte:
1
TRIAC - TIC-226D, 1 DIAC comum, 1 potenciômetro linear 220K, 1
resistor 3K3/1W, 1
capacitor de poliéster (0,05 a 0,1 mF x 400V).
Esse controle, dado a sua
simplicidade e o número de componentes, pode ser montado numa barra
de terminais ou, para montadores mais experientes, em um circuito
impresso.
Dois "dimmers" de
luz, comerciais, também resolvem os problemas dos controles de
velocidade dos dois motores do Projeto.
O movimento do cartão, com
fresta vertical, não precisa ser exageradamente rápido; daí a redução
proposta, pela técnica de encostar o eixo do motor (2) na periferia
do disco de madeira. Um tubinho de borracha ou plástico encaixado
justo nesse eixo garante o atrito necessário ao não escorregamento.
Esse disco de madeira pode ter diâmetro em torno dos 12cm, desse
modo o pino da biela poderá ser ajustado para vários braços de
manivela (modificação do raio) e, com isso, ajustar a amplitude do
movimento.
Apresentamos,
a seguir, algumas Figuras de Lissajous,
à duas dimensões, em função das defasagens de dois movimentos
ortogonais.
Agradecimentos
e sugestões
Desejamos total sucesso nesse empreendimento científico.
Ele é recomendado, para Feiras Científicas, Trabalhos Escolares,
Exposições e estudos em vários níveis de profundidade. É
indispensável para alunos da 1a. série do 3o
grau, nas áreas de exatas.
O autor desenvolveu esse projeto em fins de junho de 1993, no Laboratório
de Demonstrações do Instituto de Física da Universidade de
São Paulo, setor esse então, sob a responsabilidade do Prof. Dr.
Ernst W. Hamburger, ao qual já agradeci a leitura e comentários
sobre esse artigo.
Colaboraram na elaboração do instrumental, à época, os técnicos
Cidemar Divanir Forcemo e Wilson Luís da Silva.
Em tempo:
Na época em que lá trabalhei (IFUSP), tal projeto (e mais de 100
outros de igual importância ao desenvolvimento da Física Clássica)
encontravam-se á disposição de alunos e interessados, de segunda a
sexta, das 8 ás 21h (IFUSP, Ed. Principal, Ala Central, Laboratório
de Demonstrações).
Além de uma visita a esse local de demonstrações, recomendo, também,
uma visita á Estação
Ciência, na Lapa - SP.
Nesse
texto, adaptado para a WWW, colaborou na revisão e indicou valiosas
sugestões, o Prof. Antonio Carlos M. de Queiroz (veja nossa Sala de
bons Links), ao qual acrescento meus agradecimentos. Como de praxe,
apreciaríamos suas sugestões e o relato de suas tentativas, erros e
sucessos. Tais comentários (com as devidas autorizações) serão
colocados em nossas páginas para orientação e ajuda aos demais
jovens que optarem por tal projeto.
Participe
com o processo da Educação.
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