História da música (parte 02)

por: Desconhecido

A palavra música vem do grego: mousikê, que significa arte das musas e englobava a poesia, a dança, o canto, a declamação e a matemática. Do que foi possível reconstruir da cultura grega, apurou-se que sua música era essencialmente cantada, cabendo aos instrumentos a função de acompanhar. A finalidade continuava religiosa.
O sistema musical apoiava-se numa escala elementar de quatro sons - o tetracorde. Da união de dois tetracordes formaram-se escalas de oito notas, cuja riqueza sonora permitia traçar linhas melódicas. Essas escalas - os modos - tornaram o sistema musical grego conhecido como modal.
A múscia grega, também monódica, com os instrumentos acompanhando em uníssono ou uma oitava acima, deu origem a melodias padronizadas, de fácil assimilação - os nomoi, que eram acompanhados de cítara e aulo. Apesar do repertório grego ser bem vasto, pouca coisa pode ser recolhida: um coro para Orestes, de Eurípedes; dois hinos do século II a.C., dedicados a Apolo; o Hino ao Sol, composto por Mesomedes, de Creta; e, dos primeiros anos da Era Cristã, conhece-se um hino cristão de Oxirrinco.
Na múscia grega, os instrumentos tocavam partes mais agudas do que a das vozes que acompanhavam, ao contrário do que acontece hoje, em que o acompanhante é grave (baixo). As escalas eram cantadas em movimentos descencdentes, do agudo para o grave, ao contrário do que também fazemos hoje.

Os gregos criaram, ainda, um sistema de notação musical sumário e deixaram muitas de suas letras, que, juntamente com os escritos teóricos, permitem reconstituir um conjunto de músicas que dá uma idéia geral do repertório, que deve ter sido muito rico. A notação musical era alfabética, mas insuficiente: usavam letras em diversas posições para representar os sons.

Os gregos relacionavam intimamente música, psicologia, moral e educação. No âmbito da ética musical, dentre as posturas mais interessantes, destacam-se: - a de Pratinas, rígida e conservadora, extremamente reacionária, condenava o instrumentalismo; - a de Pídaro, mais positiva, expressa uma sincera crença no poder da influência musical no decorrer do processo educativo; - a de Platão, representante máximo da filosofia musical grega, apoiava-se na afirmação da essência psicológica da música. Segundo ele, a música poderia exercer sobre o homem poder maléfico ou benéfico, por imitar a harmonia das esferas celestes, da alma e das ações. Daí, a necessidade de se colocar a música sob a administração e a vigilância do Estado, sempre a serviço da edificação espiritual humana, voltada para o bem da polis, almejada como cidade justa; - e, finalmente, a de Aristóteles, onde se destaca o papel da poesia, da música e do teatro na purgação das paixões.

No período helenístico, a música grega desviara-se para a busca e o culto da virtuosidade, o que representou uma decadência do espírito nacional que a orientara na época áurea. Eram interessantes os diversos instrumentos de sopro utilizados nos exércitos, com variadas finalidades.

A música, como também a arte figurativa, representava a pura expressão do Teocentrismo reinante na Idade Média. Até o ano 1000, predominara religiosa e monódica (uma voz) dentro da atmosfera dos modos eclesiásticos, herdados indiretamente da música grega. Os modos eram escalas ascendentes, em que se baseava a música litúrgica, cada qual com uma sequência própria de tons e semintons, partindo de uma determinada nota denominada finalis ou final. Cada modo apresentava duas formas: a autêntica e a plagal.

Os modos autênticos eram: o dórico (protus), de ré a ré; o frígio (deuterus), de mi a mi; o lídio (tritus), de fá a fá; e o mixolídio (tetrardus), de sol a sol. Cada modo plagal se iniciava uma quarta abaixo da finalis do respectivo modo autêntico e tinha o mesmo nome, acrescentado do prefixo hipo: hipodórico (lá a lá), hipofrígio (si a si), hipolídio (dó a dó) e hipomixolídio (ré a ré). A notação musical, por volta do ano 1000, permanecia alfabética e neumática. Os neumas eram sinais escritos, com frequência, no sentido de uma linha horizontal, acima do texto religioso e indicavam, de forma muito vaga, o movimento ascendente ou descendente das melodias do cantochão. Os músicos, por sua vez, usavam pauta formadas por linhas coloridas, cujas alturas eram indicadas por letras, logo no seu início, constituindo a origem das claves.

O monge Hucbaldo (840-930), autor do tratado De Harmonica Institutione, estabeleceu a pauta de quatro linhas. Começava-se a inventar formas de notação musical. Em seguida, o beneditino italiano Guido DArezzo (995-1050) completou a pauta de quatro linhas atribuindo nomes aos sons musicais, tirados das sílabas iniciais de um hino: UT queant laxis / REssomare fibris / MIra gestorum / FAmuli tuorum / SOLve polluti / LAbii reatum / Sancte Ioannes . Dando impulso a escrita musical. No século XVII, o UT passou a ser DO, Doni, embore continue sendo chamado assim na França.

Dos diversos sistemas utilizados até hoje para escrever música, um deles - o da escrita sobre pauta ou pentagrama - monopolizou quase inteiramente a música ocidental, desde o seu aparecimento, cerca de mil anos atrás.

Por volta de 1650, esse sistema de notação encontrava-se plenamente desenvolvido, e só foi questionado recentemente por alguns compositores, que alegaram ser inadequado para a notação de gêneros de música mais contemporâneos - música que inclua elementos aleatórios, sons eletrônicos, etc. Mas, mesmo assim, eles ainda empregam variações desse sistema de escrita, e a maior parte dos compositores atuais ainda recorre a ele, seja em sua forma convencional ou com alguns acréscimos e alterações.

A notação sobre pauta recebe esse nome porque emprega um sistema de cinco linhas - a pauta ou pentagrama - onde as notas são distribuídas de acordo com sua altura. Antes que ele fosse inventado, foram tentados outros sistemas, que depois caíram em desuso.